TEXTO
ÁUREO
“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e
ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do
SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.”(1º
Sm 16.13)
VERDADE
PRÁTICA
O propósito da unção é capacitar o obreiro
para desempenhar a obra de Deus e, com autoridade, vencer os gigantes.
LEITURA
BÍBLICA
1º
Samuel 16.1-13
“Então, disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu
rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem;
enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido
de um rei. 2 – Porém disse Samuel: Como irei eu? Pois, ouvindo-o Saul, me
matará. Então, disse o SENHOR: Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos e dize:
Vim para sacrificar ao SENHOR. 3 – E convidarás Jessé ao sacrifício; e eu te
farei saber o que hás de fazer, e ungir-me-ás a quem eu te disser. 4 – Fez,
pois, Samuel o que dissera o SENHOR e veio a Belém. Então, os anciãos da cidade
saíram ao encontro, tremendo, e disseram: De paz é a tua vinda? 5 - E disse
ele: É de paz; vim sacrificar ao SENHOR. Santificai-vos e vinde comigo ao
sacrifício. E santificou ele a Jessé e os seus filhos e os convidou ao
sacrifício.6- E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente,
está perante o SENHOR o seu ungido. 7 – Porém o SENHOR disse a Samuel: Não
atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho
rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está
diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração. 8 – Então, chamou Jessé a
Abinadabe e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem
escolhido o SENHOR. 9 – Então, Jessé fez passar a Samá, porém disse: Tampouco a
este tem escolhido o SENHOR. 10 – Assim, fez passar Jessé os seus sete filhos
diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O SENHOR não tem escolhido estes.
11- Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o
menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e
manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele
venha aqui. 12- Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso
de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque
este mesmo é. 13 – Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos
seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de
Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.
INTRODUÇÃO.
- Na sequência do estudo dos livros de
Samuel, estudaremos a respeito da escolha de Davi por Deus para ser o novo rei
de Israel.
- Davi era o homem segundo o coração de
Deus escolhido pelo Senhor para reinar sobre Israel.
- O conceito de unção é do Antigo Testamento;
destinava-se a sacerdotes, reis e profetas, para que estes exercessem com êxito
suas funções e ministérios (Êx 40.13-15;1º Sm 9.16); profetas também eram
ocasionalmente ungidos, segundo a determinação divina (1º Rs 19.16).
- A unção capacita o obreiro para
desempenhar a obra de Deus.
I. QUEM
ERA DAVI
- Davi era o filho mais novo de Jessé,
filho de Obede e da linhagem de Rute a moabita que casou com Boaz. A trajetória
normal de sua história seria uma vida pacata no campo e uma boa prestação de
serviços aos seus irmãos.
- Contudo, o Deus de Israel estava atento
ao estilo de vida do jovem pastor. A ponto, de o Senhor o escolher para ser o
segundo rei de seu povo e o mais amado e conhecido até os dias de hoje.
- No texto de 1º Samuel 16.11 – 13, fica
muito claro que nem Jessé seu pai, ou muito menos seus irmãos o viam de maneira
tão privilegiada.
II.
A ESCOLHA DE DAVI COMO REI DE ISRAEL
1. As
condições de Saul.
- O rei Saul apresentara-se como um
rebelde contra o Senhor e, diante disso, não poderia mais continuar reinando
sobre Israel, sob pena de levar todo o povo à perdição. Espiritualmente, pois,
o reino caminhava muito mal e Deus já revelara ao seu profeta, Samuel, o desejo
de escolher um outro rei, que fizesse a Sua vontade. Ciente desta disposição e
estando afeiçoado a Saul, Samuel começou a interceder pelo rei, a fim de que
Deus pudesse modificar a sua triste sorte (1º Sm 16.1).
- Estes fatos mostram-nos como devemos ter
muito cuidado na obra do Senhor. Assim como Deus queria o bem-estar espiritual
de Seu povo e isto não era possível com Saul à frente, diante de seu espírito
rebelde, do mesmo modo, nos dias hodiernos, Deus também não tem prazer em ver
“líderes” rebeldes à frente da Igreja do Senhor. Não é por outro motivo, aliás,
que o apóstolo Paulo diz que os que presidem devem fazê-lo com muito cuidado
(Rm 12.8), pois o Senhor a tudo observa e não admite que rebeldes fiquem à
frente de Seu povo.
2. A
ordem de Deus a Samuel.
- Em resposta à oração intercessória de
Samuel, o Senhor lhe manda até a casa de Jessé, em Belém de Judá, pois ali Se
tinha provido de um rei entre os filhos de Jessé. Samuel, numa lição que nos
dá, ao saber qual tinha sido a resposta de Deus a seus pedidos por Saul,
prontamente obedeceu, não ficou insistindo nem teimando. Que possamos todos, ao
receber de Deus uma resposta a nossas súplicas, conformarmo-nos à Sua vontade,
pois não se ganha coisa alguma em contender contra o Senhor.
2.1.
A estratégia de Deus- Samuel, porém, sabia que Saul era um rei duro e
impiedoso.
Ao receber a ordem divina para ungir a um dos filhos de Jessé, o profeta, que
desfrutava de intimidade com Deus, temeu por sua vida, pois sabia que Saul não
hesitaria em mandar matá-lo, caso soubesse que ele havia ungido outrem para
reinar sobre Israel. O Senhor, então, dá-lhe uma estratégia, qual seja, a de
fosse realizar um sacrifício pacífico em Belém e que convidasse a Jessé e a sua
família e, após o sacrifício, quando estivessem todos para comer a refeição,
Deus indicaria quem deveria ser ungido (1º Sm 16.2,3).
2.2.
Vemos como Deus trabalha. O receio de Samuel era justificado. Saul já dera
mostra de sua impulsividade e de seu caráter violento, o que muito explicava a
sua rebeldia contra o Senhor. No entanto, Deus não Se irou contra Samuel nem
viu nesta atitude do profeta uma recusa a realizar a Sua vontade. Prontamente,
deu-lhe uma estratégia em que a ordem divina seria prontamente cumprida e o
risco de perseguição por parte de Saul senão completamente, sensivelmente
diminuído.
2.3.
O mesmo hoje ainda acontece. Devemos levar ao Senhor as nossas dúvidas
e dificuldades quando somos convocados para o Senhor para realizarmos alguma
obra. O que não podemos é desprezar as reais circunstâncias que se apresentam
como obstáculos à realização da vontade de Deus como também, por conta de tais
dificuldades, deixar de fazer a vontade do Senhor. Muitos hoje ou deixam de
lado a prudência e querem cumprir a vontade de Deus sem o devido cuidado e,
diante disto, saem prejudicados, ou, então, o que é pior, simplesmente desobedecem a
Deus por conta dos problemas que se apresentam. Samuel não fez nem uma coisa,
nem outra. Correu aos pés do Senhor e lhe pediu uma estratégia, exatamente o
que Tiago nos conclama a fazer: “e, se algum de vós tem falta de sabedoria,
peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não lança em rosto, e lhe será
dada” (Tg.1.5).
3. Um
sacrifício de paz. Ao
chegar a Belém, uma pequena cidade de Judá (Mq 5.2), Samuel causou não pequeno
alvoroço entre os anciãos da cidade, pois a presença do homem de Deus nunca era
despropositada ou gratuita. Samuel, porém, apazigua a todos e diz que sua vinda
é de paz e que deveria oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, convidando Jessé
e sua família para a efeméride, o que significava que, após o sacrifício,
tomaria a refeição na residência de Jessé (1º Sm 16.4,5).
4. As
aparências nos enganam. Após o sacrifício e já na hora da refeição que se lhe
seguia (Lv 7.15-17), Samuel, então, em obediência à ordem divina, mandou que se
lhe trouxessem os filhos de Jessé, pois o Senhor havia dito que, dentre eles,
tinha Se provido de um rei (1º Sm 16.1).
- Chegou, então, o primogênito de Jessé,
Eliabe. Além de ser o primogênito e, portanto, ser, por força da lei de Moisés,
não só aquele que pertencia ao Senhor (Êx 13.2; Nm 3.13; 8.17), como também o
mais abençoado dentre todos os filhos, tanto que fazia jus à porção dobrada na
herança (Dt 21.17), Eliabe era de porte atlético, guerreiro (1º Sm 17.13) e,
diante de tantas “evidências”, Samuel não teve dúvida de que, diante dele,
estava o novo rei de Israel (1º Sm 16.6).
- No entanto, se Samuel via o exterior e
fazia suas avaliações com relação às convenções humanas e, até mesmo, diante
das conclusões humanas diante da lei divina, Deus conhecia o coração de Eliabe
e sabia que ele era um homem covarde e invejoso, apesar de sua aparência e
altura (cf. I Sm.17:28), motivo pelo qual não era o escolhido do Senhor para
reinar sobre Israel (1º Sm 16.7). Mesmo Samuel, o homem de Deus daquele tempo,
o homem em que habitava o Espírito Santo (o Espírito, embora ainda estivesse
sobre Saulnaquele instante, já não mais operava no
rei, o que fazia de Samuel a única pessoa, que temos conhecimento, naquele
instante, a ter o Espírito de Deus em Israel), não era capaz de conhecer o
coração humano, pois só Deus pode fazê-lo. Por isso, ante esta história da
rejeição de Eliabe, sejamos cuidadosos e não façamos julgamentos precipitados
sobre A ou B, pois não temos condição de saber o que há no interior do homem, o
que existe em seu coração enquanto não convivermos com ele o suficiente para
vermos os seus frutos e, então, sabermos quem ele é (cf. Mt 7.15-20).
- Ante estas palavras do Senhor a Samuel,
o profeta mandou que passasse diante dele os outros filhos de Jessé. Passaram
diante de Samuel, então, os sete filhos que ali estavam (1º Sm 16.10), tendo
Deus rejeitado a todos eles, inclusive os dois outros guerreiros, Abinadabe e
Samá (por isso, os únicos nomeados no texto sagrado, nessa ocasião – 1º Sm 16.8-10).
5. O
convidado de honra. Quando
passou diante dele o sétimo moço e o Senhor o recusou, Samuel, certamente,
ficou atônito. Deus havia lhe dito que de um dos filhos de Jessé havia Se
provido de um rei e o último acabara de ser rejeitado.
- Como Samuel, porém, sabia em quem cria,
indagou a Jessé se havia ainda outro filho. Foi, então, que Jessé deu notícia
da existência de um oitavo, o menor, que estava a apascentar as ovelhas. Davi
era o menor, aquele que nem sequer era considerado a ponto de ser convidado
para participar do sacrifício e da refeição que lhe seguiria (1 Sm 16.11).
- Mais uma vez vemos como Deus vê
diferentemente do homem. Aquele que havia sido desprezado, desconsiderado, de
que ninguém sentiu a falta, era o escolhido de Deus. Isto ainda continua a
acontecer, pois “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as
sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes,
e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são
para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (1ª Co
1.27-29). Temos a visão divina para ver e compreender estas coisas, ou temos
nos prendido às coisas deste mundo e nos tornado cegos ante a obra do Senhor?
- Diante desta notícia, Samuel, já sabedor
de que se trava do escolhido de Deus, mandou que se enviasse alguém para chamar
o filho que restava, pois ninguém se assentaria em roda da mesa enquanto ele
não chegasse. Deus já começava ali a honrar Davi, pois, de não-convidado,
passara a ser o convidado de honra.
- De desprezado pelo próprio pai e pela
família, passara a ser o homenageado do profeta e ex-juiz de Israel.
- De rejeitado pelos homens, passara a ser
o escolhido de Deus. Davi, mesmo antes de ter conhecimento do seu chamado, já
prefigurava o Cristo que, de rejeitado pelos homens e por Israel (Is 53.3; Jo
1.11), foi o escolhido de Deus para ser posto acima de todos (Fp 2.9-11), a
pedra rejeitada que foi posta por cabeça da esquina (At 4.11).
- Os parâmetros e critérios para as
escolhas que Deus faz são frontalmente opostos aos nossos. Isto porque Ele não
se guia pela aparência efêmera do ser humano ou as circunstâncias superiores
que envolvem sua vida. Nenhum de nós jamais pela nossa lógica escolheria um
pastor de ovelhas para ser Rei de uma nação. O eliminaríamos sem cerimônias.
Contudo, não foi assim com o jovem perseguido pelos seus irmãos. Deus o elegera
“o homem segundo o seu coração.” Digno de ocupar o posto mais elevado em
Israel. Mas, porque?
- Muito se discute sobre o número dos
filhos de Jessé. O texto de 1º Sm.16 fala-nos que havia sete filhos no banquete
e que, depois, Davi foi chamado, o que faz com que o número de filhos seja de
oito, o que é confirmado por 1º Sm 17.12. Em 1 Cr 2.13-15, entretanto, Davi é
apontado como o sétimo filho de Jessé, como se Jessé tivesse apenas sete filhos
e não oito como constou em 1º Sm, em 1º Cr, aliás, são dados os nomes de todos
os filhos de Jessé, o que não ocorre em 1º Sm, que apenas dá o nome dos três
mais velhos (Eliabe, Abinadabe e Simeia ou Samá), que eram os filhos de Jessé
que faziam parte do exército de Israel (1º Sm 17.13). Ali ficamos sabemos os
nomes dos outros três, a saber: Netanel, Radai e Ozem (1º Cr 2.14,15).
- Davi
é apresentado como “o filho menor”, que é o objetivo da revelação divina, ou
seja, mostrar que a escolha de Davi foi divina e fora de quaisquer parâmetros
humanos, o que é relevantíssimo no que toca ao desenvolvimento do plano de Deus
para a salvação do homem.
- Quando Davi chegou, a Bíblia diz que ele
era ruivo, formoso de semblante e de boa presença. Esta descrição física do
jovem mostra-nos claramente que Davi não era rejeitado porque fosse defeituoso
ou uma pessoa feia, mas, única e exclusivamente, porque era “o filho menor”, em
virtude das convenções sociais de seu tempo. Era um rapaz bonito, bem-apessoado,
simpático e educado, mas que era desprezado por conta de sua qualidade de filho caçula. Isto também
impede que se diga que Davi era um filho bastardo ou algo semelhante, como se
chegou mesmo a apregoar. Se o fosse, isto, certamente, não impediria a escolha
da parte de Deus, mas não podemos inferir tal afirmação pois o texto sagrado
não nos permite fazê-lo, visto que a Bíblia jamais omitiria tal dado, caso ele
existisse, como, por exemplo, vemos no caso de Jefté (Jz.11:1,2).
- Discute-se se Davi era “ruivo” mesmo ou
se o termo não foi corretamente traduzido, querendo dizer “loiro” ou “claro” em
relação aos seus irmãos, que deveriam ser mais escuros. Muitos acham que a expressão
revela que Davi era “bronzeado” ou “moreno” (como traduziu a Nova Versão
Internacional), em virtude de sua exposição ao sol. De qualquer maneira, ele se
distinguia dos seus irmãos na sua aparência física. Não tinha o corpo atlético
e “sarado” de seus irmãos mais velhos, mas era de “gentil aspecto”, ou seja,
uma pessoa simpática que transmitia ternura e dulçor, algo bem diferente da
imagem que Israel tinha para um rei e que tanto havia se adaptado à aparência
física de Saul. Como os olhos humanos se enganam.
6. A
unção de Davi por Samuel.
- Quando Davi chegou, Samuel somente o
ungiu depois que o Senhor lhe mandou, prova de que aprendera a lição de que só
Deus conhece o coração do homem. Apesar das evidências, o profeta se manteve obediente
à voz do Senhor e, quando o Senhor confirmou que aquele era o escolhido, tomou
o vaso de azeite e ungiu Davi no meio de seus irmãos. Este ato, apesar de
solene, foi sobretudo um ato espiritual, que teve efeito imediato tão somente
no interior de Davi, pois a Bíblia diz que, a partir daquele instante, o Espírito
de Deus Se apoderou de Davi (1º Sm 16.13).
- Do ponto-de-vista exterior, após aquela
unção, todos tomaram a refeição e Samuel, como nos diz o texto sagrado,
levantou-se e tornou a Ramá. Enquanto isto, “o novo rei”, no dia seguinte,
voltou a apascentar as ovelhas de seu pai. Nada, aparentemente, havia mudado,
tudo como antes.
- Na verdade, porém, Davi não era mais o
mesmo. Assim como Saul, quando ungido, tornou-se um outro homem (1º Sm 10.6),
Davi também teve alterado o seu estado espiritual. No entanto, se Saul
profetizou logo em seguida ao apossamento do Espírito, o mesmo não se deu com
Davi. No entanto, diz-nos a Bíblia, o Espírito do Senhor se retirou de Saul,
como resultado direto da unção de Davi e, a partir de então, Saul ficou à mercê
de um espírito maligno, enviado da parte do Senhor, ou seja, por Sua vontade
permissiva (1º Sm 16.14).
- Como estávamos ainda na dispensação da
lei, vemos que o Espírito operava sob medida e, diante da rejeição divina a
Saul, não podia mais o Espírito habitar em Saul quando se ungiu um novo rei.
Por isso, o Espírito Se apoderou de Davi e, simultaneamente, se retirou de
Saul. Espiritualmente, pois, já havia ocorrido a sucessão. Davi só viria a
ocupar o trono muitos anos depois, mas, diante de Deus, a sucessão já se fizera.
Havia um novo rei, um novo ungido em Israel.
- O
mesmo ocorre nos dias hodiernos. Quando somos salvos pelo Senhor, o Espírito
Santo vem habitar em nós (Jo 14.17; Rm 8.9), sem que, para isso, porém, tenha
de sair de ninguém mais. Agora o Espírito Santo atua livremente, não mais por
medida (Jo.3:34), de sorte que podemos desfrutar da condição de templos do Espírito
Santo independentemente da conduta dos demais (1ª Co 6.19). No entanto, se
entristecermos o Espírito Santo e, em mantendo nossa conduta
pecaminosa, O agravarmos (Ef 4.30; Hb 10.29), corremos sério risco de cairmos
na mesma situação de Saul, quando não um, mas até mesmo oito espíritos malignos
podem nos causar enorme e, por vezes, irremediável prejuízo espiritual em
nossas vidas (Mt 12:43-45; Lc.11.25-26; Hb 10.30,31).
III.
AS CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE DAVI FOI CHAMADO
1.
Em meio a uma crise espiritual. De certa forma, a vocação ou o chamado de
Davi por parte de Deus externou-se a partir da rejeição de Saul pelo Senhor (1º
Sm 13.13,14; 15.26-28). É preciso lembrar-se que, antes de ter um rei, o povo
de Israel possuía uma liderança teocrática, formada por juízes escolhidos por
Deus, os quais defendiam suas causas (Jz 2.16-19). Não obstante, a vontade de
Israel manifestada publicamente naqueles dias (cf. 1º Sm 8.1-22), foi
esquivar-se do sistema político da teocracia para se tornar uma monarquia como
as nações incrédulas vizinhas (1º Sm 8.1-7, 19-22). A vontade do povo não era
apenas a de ter um rei, mas de se tornar “como as outras nações” (v. 20). Não
era, portanto, apenas por uma simples mudança de regime que o povo estava
ansiando, mas por uma troca de governante. Aquela má escolha deixou o profeta
Samuel alarmado e triste (1º Sm 8.6).
- É nesse contexto que vemos, na história
bíblica, surgir Saul (1º Sm 9.1-27), alguém que preenchia os requisitos e as
expectativas do povo (1º Sm 8.4-6). Muito cedo em seu governo Saul demonstra
não ser um homem disposto a buscar a direção de Deus para dirigir Israel (1º Sm
13). Samuel logo observou ser Saul um rei carnal, fraco, desobediente e sem
espiritualidade, e, portanto, desqualificado como líder do povo eleito de Deus
(1º Sm 13.14; 15.26-28). O maior problema era que um fracasso iminente do rei
significava a derrocada de toda a nação. E isso, infelizmente, não tardou
acontecer. Saul assemelhava-se a uma árvore, cujas raízes foram cortadas,
permanecendo com sua folhagem verde por algum tempo. E é neste contexto que o
Senhor buscou “para si um homem” que lhe agradasse e que se tornaria príncipe
sobre o seu povo (1º Sm 13.14). E Davi era esse homem escolhido (1º Sm
16.12,13).
- Hoje, assim como naquela época, a obra
de Deus sofre, em certos lugares, por desobediência de alguns que chegam a
“ensinar” somente por obrigação e vontade humana sem, contudo, ter a aprovação
de Deus. Entretanto, não é possível alguém permanecer à frente da obra Deus e
ir muito longe se os seus fundamentos espirituais foram derrubados.
2. A
gravidade da crise.
Diante de uma crise de tal gravidade que se abateu sobre a liderança do povo de
Deus, Samuel chorava não somente a queda de Saul, mas também se preocupava com
a lacuna gerada por sua rejeição definitiva. Deus, que controla as situações,
declarou a Samuel que já havia se provido de um rei (1º Sm 16.1).
- Em toda a história bíblica, é possível
verificar esta forma de Deus tratar com o seu povo. Durante a peregrinação no
deserto, vemos como o Senhor não aceitou a desobediência de Moisés, impedindo
sua entrada na Terra Prometida (Nm 20.11,12; Dt 32.51,52). Mesmo não permitindo
que Moisés em sua rebeldia continuasse a governar o seu povo e entrasse em
Canaã, o Todo-Poderoso não desamparou a sua Tribo Nômade, pois já havia provido
outro líder para finalmente introduzi-la na Terra Prometida (Dt 1.37,38).
III.
A NATUREZA DA VOCAÇÃO DE DAVI
1.
Um desígnio divino.
No ensino revelado na Palavra de Deus, a vocação divina é um fato declarado e
demonstrado entre o povo de Deus. Ele chama a quem quer, quando quer e capacita
como quer e para o que quer. Essa verdade é demonstrada na vida do sucessor de
Saul. Quando lemos o Salmo 89.20: “Achei a Davi, meu servo; com o meu santo
óleo o ungi”, vemos claramente que Davi foi escolhido por Deus. Ele foi chamado
ou “recebeu uma vocação” da parte do Senhor.
- Em um contexto maior, é importante
entender que o Messias prometido ao povo de Deus seria um descendente da tribo
de Judá e, portanto, Davi é parte direta do cumprimento das promessas divinas a
Israel (Is 11.1,2; Jr 23.5,6; At 2.29,30; Rm 1.3). O primeiro versículo do Novo
Testamento (Mt 1.1) enuncia o cumprimento desta profecia messiânica. No último
livro da Bíblia, o próprio Senhor Jesus, o Messias prometido declara: “[…] Eu
sou a Raiz e a Geração de Davi” (Ap 22.16). Tais textos são uma evidência do
cumprimento da Aliança Davídica: “Porém a tua casa e o teu reino serão firmados
para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre” (2º Sm 7.16).
2. A
resposta humana. Um
dos princípios da vocação divina é a soberania de Deus (1º Cr 28.4,5). Todavia,
isso não significa que o Eterno não leve em conta a responsabilidade humana na
realização de seus propósitos (1º Cr 28.6,7).
- Saul subiu ao trono em resposta à
pretensão do povo (1º Sm 8.4-6), que, após ouvir a “descrição” divina do perfil
do rei (1º Sm 8.9-18), respondeu categoricamente: “Não, mas haverá sobre nós um
rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos
julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras” (vv.19b, 20). Assim,
de acordo com o discurso do apóstolo Paulo na sinagoga de Antioquia, o Eterno
deu Saul em resposta ao injusto clamor do povo e segundo o que eles idealizaram
(At 13.21). Em seguida, Paulo declara que Deus “levantou como rei a Davi” (At
13.22). Enquanto Davi foi levantado em decorrência da vontade divina (1º Sm
13.13; 15.26-28; 16.1), Saul foi dado por Deus segundo o desejo de Israel de
ter alguém com o perfil desse rei (1º Sm 9.14-20; 10.17-27).
- Isso mostra que a escolha divina de
homens para o seu serviço leva também em conta a liberdade humana e não a
invalida. Saul não estava predestinado ao fracasso (1º Sm 13.13), tampouco Davi
estava destinado ao sucesso continuamente (1º Rs 11.38). Contrastando a vida de
ambos, observamos que os dois foram ungidos da parte de Deus por Samuel sob
iguais condições de conduzirem o reino de Israel. Mas a forma como cada um
procedeu ante a esse chamado foi muito diferente.
IV.
DAVI, O REI UNGIDO
1.
Significado e propósito da unção. No hebraico, há duas palavras para unção
− suk e mashah. A palavra suk
aponta para a unção com o óleo sobre o corpo ou a cabeça de um convidado (Dt
28.40; Rt 3.3). A palavra grega que corresponde ao hebraico suk é aleipho (Lc 7.38,46), que pode referir-se ao ato de ungir os
enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14). Quanto à palavra mashah, a ideia é a de cobrir ou untar. Dela deriva o substantivo mashiah (Messias). A palavra grega chrio se relaciona com mashah, daí o nome “Cristo”. No Antigo
Testamento, a palavra preferível para a prática da unção religiosa é mashah: unção de pedra (Gn 31.13); dos
sacerdotes (Êx 28.41; 29.7,36), dos reis (1º Sm 9.16), dos profetas (1º Rs
19.16) e de objetos diversos (Êx 30.26-28). Nesse sentido, o ato da unção busca
mostrar que a pessoa ou o objeto ungido fora especialmente separado para o serviço
de Deus, tornando-se assim, intocável (1º Sm 24.6).
2. O
simbolismo da unção.
Como um ato ordenado por Deus, a unção passou a simbolizar o derramamento do
Espírito do Senhor (1º Sm 10.9; Is 61.1). O termo mashah do Antigo Testamento, que no Novo é chrio, refere-se à unção do Messias que viria (Sl 45.7; Dn 9.24).
Assim, o Novo Testamento mostra que essa unção estava sobre Jesus (Lc 4.18).
Pedro fez menção dessa unção sobre o Filho de Deus (At 10.38); e Paulo
descreveu essa mesma unção sobre os cristãos (2ª Co 1.21,22). A unção no Antigo
Testamento destinava-se à separação de alguém está relacionada a Cristo, como
Filho de Deus e Salvador do Mundo, e aos cristãos, no sentido de dotar-nos de
poder para testemunhar as verdades do Evangelho (At 1.8; 1º Jo 2.20,27). A
verdadeira unção é ordeira, decente e tem como alvo a glória divina e a
expansão do Reino de Deus.
3. A
unção sobre Davi.
Alguns detalhes importantes cercam 1º Samuel 16.1-13 por ocasião da unção de
Davi por Samuel. O autor sagrado destaca o sentimento humano de Samuel, o qual
gostava muito de Saul, mas o profeta estava no querer de Deus. Devido a seus
pecados, Saul não poderia continuar como rei. Então Deus busca na casa de
Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute, um de seus filhos para reinar (Rt
4.17). Conhecendo bem Saul, Samuel tinha consciência de que a missão de ungir
um novo rei seria difícil. Por isso, ele foi orientado por Deus a fazer um
banquete e um sacrifício naquela região. Como representante de Deus, muitos o
temeram, mas Samuel relatou que sua ida era de paz. Os filhos de Jessé passaram
diante do profeta, mas nenhum deles foi escolhido, embora Samuel se
impressionasse com a postura e aparência dos jovens. Entretanto, um estava
ausente, cuidando dos haveres da família. Davi foi ungido em meio aos seus
irmãos e, a partir daí o Espírito do Senhor se apoderou de Davi, concedendo-lhe
sabedoria, poder, orientação, para que pudesse cumprir os propósitos divinos.
V.
DAVI, O REI QUE ERA SERVO
1. O
ungido servindo.
A unção de Deus não tira a nossa atitude de servos. Davi, sendo ungido, não
abandonou sua posição de servo e fez isso até que chegasse o momento de assumir
o trono. Sua atitude de servo foi estratégica, para que Deus o colocasse na
corte de Saul, local de onde os planos divinos seriam executados. No relato do
encontro de Davi com Saul, deve-se entender que tais acontecimentos não se seguem
em ordem cronológica. Todavia, o mais importante é vislumbrar a promessa divina
em curso, pois Davi crescia enquanto Saul decrescia.
2. O
Espírito do Senhor se retira de Saul. O Espírito de Deus se afastou de Saul.
Este, por sua vez, passou a ser assombrado por um espírito mau que ali estava
por expressa permissão do Senhor. Para acalmar essa profunda melancolia na
alma, o servo Davi foi convidado e levado à corte pela graça de Deus e por suas
virtudes: tinha boa aparência, talento, capacidade de aprender e compreender as
coisas; era bom guerreiro e o Senhor era com Ele (1º Sm 16.18).
3.
Deus levanta autoridades. Davi esteve muito tempo com Saul, mas em momento
algum relatou a unção de Samuel sobre sua vida; ou tentou aproveitar-se da
vulnerabilidade do rei para matá-lo e assumir o reinado; antes, participou de
lutas em seu favor. Só no momento certo é que foi aclamado rei. É Deus que
levanta e dá a autoridade. Deus pode levar crentes a grandes postos.
Entretanto, é preciso aprender a servir, ter atitude de servo, pois foi esse o
exemplo que Jesus nos deixou: servir a todos (Mc 10.45; Fp 2.7).
CONCLUSÃO.
- Vimos, pois, que a vocação de Davi fez
parte da vontade de Deus, que na sua soberania e presciência escolhe a quem
quer para a realização dos seus desígnios. Nada está fora do seu controle e
nada acontece sem a sua permissão. Mesmo em meio às crises e reveses da vida,
Ele continua sendo Senhor da história.
- Quando Deus está no caso, portas se
abrem sem nem ao menos sabermos de onde e como foi aberta, mas abre. E onde vai
parar o futuro rei de Israel? Justamente junto, na intimidade, do atual rei de
Israel. Saul mandou uma comitiva à casa de Jessé convocando seu filho Davi para
um encargo real.
- Era como se fosse um estágio supervisionado,
uma escola para Davi, um treinamento de primeira linha. Saul se encanta com
Davi e se sente muito aliviado quando lhe sobrevém as crises e assim torna ele
seu escudeiro e lhe dá lugar de destaque no reino.
À princípio, ninguém o invejou, nem o temeu,
pois, sua entrada foi tão sutil e tão agradável que também logo conquistou toda
família de Saul e os principais dos guardas e líderes de Saul. Ele não
representava uma ameaça!