TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

PRECISAMOS DE VIGILÂNCIA ESPIRITUAL



Mt 24.45-51 “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? 46 Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. 47 Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. 48 Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; 49 E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, 50 Virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, 51 E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.”

INTRODUÇÃO
- A presente lição tratará da parábola dos “dois servos” registrada em dois evangelhos sinóticos: o de Mateus e o de Lucas; destacaremos desta narrativa o seu contexto e objetivo; veremos quais os personagens que a compõe e o que eles significam; pontuaremos a palavra-chave desta parábola que é a vigilância; e, concluiremos pontuando pelo menos três motivos pelos quais devemos vigiar para aguardar a vinda do Senhor.

- Esta parábola se refere a um servo que recebe a responsabilidade de administrar a casa, na ausência de seu senhor. Se ele provar ser fiel e prudente, o senhor o recompensará generosamente ao regressar. Mas, se for preguiçoso, indigno e descuidado, o senhor voltará quando não estiver sendo esperado e lhe infligirá severa punição.

- Esta parábola foi proferida no sermão escatológico ou profético de Jesus, sermão proferido logo após os discípulos terem provocado o Senhor a respeito da beleza e majestade do templo de Jerusalém, quando Cristo lhes disse, para espanto deles, que não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derribada daquela edificação que tanto orgulho dava aos judeus (Mt.24:1,2).

- Diante de tal declaração, o Senhor, então, é indagado pelos discípulos, quando já se encontrava no monte das Oliveiras, quando aconteceria o que Ele havia profetizado e que sinal haveria da vinda d’Ele e do fim do mundo (Mt.24:3), ocasião, então, em que Jesus começa a revelar os fatos que ocorreriam no final dos tempos.

I. A PARÁBOLA DE MATEUS 24.45-51

Sobre esta parábola é interessante destacar que ela:
A. Consta no evangelho conforme Mateus 24.45-51 e Lucas 12.42-46.

B. Foi intitulada de parábola dos “dois servos” o “fiel e o infiel”.

C. é uma parábola de cunho escatológico.

D. É extremamente exortativa quanto a necessidade da vigilância para o retorno de Cristo.

Vejamos mais algumas informações a respeito desta parábola:

1. Contexto. O contexto que levou a Jesus a contar esta parábola, foi quando saindo do templo profetizou a queda deste (Mt 24.1,2); e, quando interrogado pelos discípulos acerca dos acontecimentos futuros, o Mestre lhes falou da Sua segunda vinda a terra (Mt 24.3-44).

2. Objetivo. Quando contou esta parábola aos seus discípulos, Jesus tinha como propósito exortá-los a aguardar o Seu retorno a terra em vigilância, visto que será em um dia e em uma hora em que eles não imaginam (Mt 24.36,42). Daí porque contou uma parábola enfatizando a importância da fidelidade e da vigilância.

II. OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA

Abaixo destacaremos algumas informações sobre os personagens desta parábola. Vejamos:

1. O senhor da parábola. O senhor desta parábola é uma figura utilizada por Jesus para referir a si mesmo. A ausência deste senhor e seu retorno repentino para seus servos (Mt 24.50), ilustra perfeitamente o retorno imprevisível de Cristo para buscar o seu povo: “porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24.44). Na linguagem bíblica, a surpresa da volta de Cristo é ilustrada como o ataque de um ladrão (Mt 24.43,44; 1 Ts 5.2,4; 2ª Pd 3.10; Ap 3.3; 16.15). O Senhor espera encontrar os seus servos aptos para recebê-lo, como consideração por Sua pessoa (Lc 21.36).

2. Os servos da parábola. Mateus usa da palavra “servo” no grego “doulos” que quer dizer: “escravo” para falar do funcionário do senhor desta parábola. Já Lucas usa a palavra “mordomo” no grego “oikonomos” que significa: “pessoa que administra os assuntos domésticos de uma família” (VINE, 2001, p. 447).

- Todos aqueles que aceitaram a Cristo como Salvador são chamados de servos (Rm 1.1; 6.22; 1ª Co 7.22; 1ª Pd 2.16). A estes o Senhor chamou, justificou, regenerou e santificou (1ª Co 6.11). Portanto, se exige dos tais que aguardem o Seu retorno em fidelidade e vigilância (Mt 25.21; 1ª Tm 4.10). Aos que procederem impiamente ainda que professem-no como Senhor (Mt 7.21,22), ouvirão d’Ele, naquele dia, a seguinte frase: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7.23); e serão condenados por sua rebeldia, ao castigo eterno (Mt 8.12; 13.42,50; 22.13; 25.30; Lc 13.28). No entanto, será bem-aventurado aquele que for achado fiel e vigilante: “Bem aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim” (Mt 24.46). Segue o alerta para todos nós que “se cremos em Sua vinda, devemos nos portar de acordo com o que acreditamos. Essa esperança deve governar a nossa vida no lar e impedir-nos de viver uma vida sem moderação e sem disciplina. Se nos conscientizarmos da volta do Mestre, e deixarmos que essa conscientização impere em todos os aspectos da nossa vida, então viveremos” (LOCKYER, 2006, p. 300).

- Nos tempos antigos era um costume comum que os senhores deixassem um servo encarregado de todos os assuntos da família. O servo, descrito como fiel e prudente, corresponde aos discípulos, aos quais foi atribuída por Jesus uma responsabilidade sem precedentes.

2.1. O servo fiel (Mt 24.45). É dito que, se este servo ou mordomo foi fiel e prudente no exercício da função que lhe foi confiada até ao retorno do seu patrão. A fidelidade e a prudência são virtudes destacadas na Bíblia (Pv 12.22; 14.33; 14.35; 28.20; Mt 7.24; 25.23; 1ª Co 4.2; Ef 5.15).
- O servo que agir assim será tido por “bem-aventurado” e, como recompensa, receberá privilégios e responsabilidades aumentados: “Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens” (Mt 24.47).

2.2. O servo infiel (Mt 24.48). Com a partida de seu senhor, este servo, em seu coração, imaginou que, porque o seu patrão estava ausente e ia demorar a voltar, decidiu comportar-se de forma violenta e pecaminosa. Sua deficiência se mostrou tanto doutrinária “o meu senhor tarde virá” (Mt 24.48-b); quanto moral, pois começou a “espancar os seus conservos, e a comer e a beber com ébrios” (Mt 24.49). Tal atitude revela-o como um “mau servo” (Mt 24.48). Quando da volta do seu senhor, este servo infiel será punido severamente: “e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 24.51).

III. O SERVO FIEL (Mt 24.45).


- Nos tempos antigos era um costume comum que os senhores deixassem um servo encarregado de todos os assuntos da família. O servo, descrito como fiel e prudente, corresponde aos discípulos, aos quais foi atribuída por Jesus uma responsabilidade sem precedentes.

1. Significado de servo fiel.
- Significa que o servo tem constância, perseverança; não pode desviar da tarefa a sua atenção. Seu conhecimento se fundamenta na sabedoria do Senhor, que se demora em sua viagem. Sua sabedoria não é apenas teórica, mas também é prática. Esse tipo de sabedoria se expressa em atividades e ensinos positivos, em ajuda positiva a outros, em sua inquirição espiritual. Assim sendo, ele ensinará, buscará, crerá e praticará a verdade, encorajando os demais a fazerem o mesmo.

2. Bem aventurança do servo fiel (Mt 24.46).
- Bem-aventurado aquele servo... Esta palavra, bem-aventurado, com seus cognatos, é usada cerca de cinquenta e cinco vezes no Novo Testamento, sendo uma das palavras que o Novo Testamento expandiu, para dar-lhe um sentido mais alto e mais significativo. Sua raiz, no grego clássico original, significa grande, e também era usada como sinônimo de rico; mas quase sempre visava à prosperidade externa, e não a prosperidade espiritual.

- Os filósofos gregos empregavam o vocábulo com o sentido de elemento moral, e algumas vezes indicaram, por meio dele, aquela felicidade que resulta da bondade interior de caráter. Alguns intérpretes acreditam que ouso que Jesus fez aqui reflete mais as ideias e expressões hebraicas como aquelas que se encontram em Sl 1.1; 32.1 e 112.1, e que o termo hebraico ashrê ou “quão feliz” indica a condição de felicidade tencionada aqui. Pelo menos o Senhor Jesus elevou todo o terreno da “felicidade” para um ambiente espiritual. A verdadeira felicidade está associada à correta posição espiritual diante de Deus. Esse mesmo termo é aplicado aos mortos que morrem no Senhor (Ap 14.13), e esse uso do vocábulo é intensamente instrutivo. Assim sendo, o servo que se ocupa de coisas espirituais, tanto para seu próprio benefício espiritual como para alimentar os seus conservos, é um homem verdadeiramente feliz, pois em certa medida está participando da vida de Deus.

3. Responsabilidades futuras ao servo fiel (Mt 24.47).
- Este versículo reflete, bem definidamente, a crença que aparece em várias porções do Novo Testamento, de que àqueles que forem fiéis em seus deveres terrenos, receberão poderes especiais de governo, além de outros altos privilégios, no reino de Cristo ou no estado eterno.

- Os discípulos mostraram que tinham tal conhecimento ao indagarem entre si quem seria o maior no reino de Deus e quando requereram exaltadas posições, isto é, quando solicitaram o direito de se assentar à direita ou à esquerda do rei Jesus, quando ele estivesse reinando. O trecho de 1ª Co 6.2-3 reflete a mesma crença; “Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo...? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos...?” A passagem de Ap 20.4 ensina as mesmas verdades concernentes à participação do crente no reino milenar de Cristo.

- O servo fiel é dedicado e “dedicação” significa “consagração aos deuses, proclamação ou dito em público o destinatário de”. Assim sendo, o servo fiel é aquele que demonstra publicamente que todas as suas atitudes são destinadas à glória do Senhor, que tudo faz para a glória de Deus (1ª Co 10.31). O servo está consagrado a Deus, vive em função do Senhor.

- O servo também é dito ser “prudente”. A palavra grega “phronimos” (φρόνιμος), cujo significado é “ponderado, considerado, sagaz ou cuidadoso, indicando um caráter cauteloso”. Este servo é uma pessoa cuidadosa, que toma atitudes ou ações que revelam cautela, passos dados visando sempre atingir objetivos bem delineados na sua vida.

- Esta cautela, esta prudência só é possível porque o servo tem o conhecimento do Santo, pois a prudência nada mais é que a “ciência do Santo” (Pv 9.10). Não se pode conduzir com cautela nos termos da vida se não tivermos conhecimento do Santo, se não conhecermos ao Senhor Deus, pois Ele é proclamado como santo ininterruptamente nos céus pelos serafins (Is 6.3), alguém que tenha comunhão com o Senhor Jesus, que é o Santo (Lc 1.35).

- Este servo fiel e prudente foi constituído pelo Senhor sobre a Sua casa, ou seja, não estava ali por poder próprio, por merecimento. Muito pelo contrário, ele foi constituído pelo Senhor. Ser “servo” é um privilégio, não é algo automático, nem que decorra da existência da pessoa. Para se tornar servo, é preciso ser “constituído pelo Senhor”.

- “Constituído” é a palavra grega “kathistemi” (καθίστημι), que significa “designado, nomeado, conduzido, ordenado”. Somente podemos nos tornar servos do Senhor se Ele nos nomear, se Ele nos designar para tanto. Cristo diz ter nos nomeado para que vamos e produzamos fruto permanente (Jo 15.16).

- O servo é designado para a casa do Senhor, ou seja, deve servir na casa do Senhor, a nos mostrar, portanto, que não se pode ser servo do Senhor sem que se esteja na casa d’Ele, casa que somos nós, ou seja, o corpo de Cristo (Hb 3.6; 1ª Co 12.27). Precisamos, portanto, no servir a Deus, estar na igreja, exercendo a função para a qual fomos vocacionais em prol dos conservos.

- A constituição na casa tinha uma finalidade, um objetivo, qual seja, o de “dar sustento a seu tempo”.

O servo deve dar “sustento”, que é a palavra grega “trophe” (τροφή), cujo significado é “alimento, rações, comida”. O servo tem de alimentar os seus conservos, manter a alimentação na casa do Senhor e tal alimentação tem como elemento primordial a “palavra que sai da boca de Deus” (Lc 4.4; Mt 4.4).

- É sinal de prudência, portanto, dar o devido valor à Palavra do Senhor, às Escrituras Sagradas. Quem conhece a verdade é liberto (Jo 8:32) e a verdade outra coisa não é senão a Palavra de Deus (Jo 17.17).
Quem é liberto permanece na Palavra e só os que assim se portam são verdadeiramente discípulos do Senhor (Jo 8.31).

- Mas esta alimentação não é tão somente a observância da Palavra de Deus ou até a sua distribuição aos conservos. É também a execução de ações que confirmam esta observância da Palavra, o que Nosso Senhor e Salvador denominou de “dar fruto permanente” (Jo 15.16).

- O propósito da nomeação do Senhor Jesus é o de “dar fruto permanente” e sabemos que este fruto é o “fruto do Espírito” (Gl 5.22), “fruto de justiça” (Fp 1.11), o fruto que nos faz ser conhecidos como servos do Senhor (Mt 7.16-20).

- A permanência e a constância são características deste servo, por isso, quando o Senhor vier, achá-lo-á servindo e, por estar servindo, e de modo agradável ao Senhor, será bem-aventurado.

- Este servo, diz o Senhor Jesus, é o que agrada a Deus, pois Nosso Senhor diz que este servo é bem-aventurado pois, quando o Senhor vier, achá-lo-á servindo assim (Mt 24:46).

IV. O SERVO INFIEL (Mt 24.48-51)


1. Características do servo mau.
1.1. Despreocupação.
- Ele está dizendo alguma coisa “em seu coração”, isto é, a si mesmo (Mt 24.48b). Ora, o que um homem diz a si mesmo é às vezes muito mais importante do que o que ele diz publicamente. Ver Provérbios 23.7; Mateus 9.3,21; Lucas 12.17; 15.17-19.
- Dentro dos recessos mais íntimos de seu ser, porém, esse homem em particular está conversando perversidade, irresponsabilidade. Somos lembrados de 1ª Pedro 3.20 e 2ª Pedro 3.4. Ele está dizendo: “Vai transcorrer um tempo muito longo antes que o senhor volte. Nesse meio tempo desfrutarei de alguma diversão mundana.”

1.2. Crueldade.
- Que homem sádico é esse servo. Ele começa a espancar os seus conservos. O contexto explica a palavra: o homem mau não vai muito longe, porque de repente, e quando menos esperava, o senhor volta (v. 50).

- A parábola contém uma advertência especial para os crentes que têm cargos de responsabilidade que dizem respeito ao cuidado dos outros, mas que usam a sua posição para adquirir vantagens pessoais, tentando ser senhores, em vez de servos, exercendo uma tirania sobre os que não os apoiam, e sendo indulgentes para com os que os apoiam.

1.3. Leviandade no agir.
E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios (Mt 24.49).

O pastor Orlando Boyer, falando sobre o mau servo, faz as seguintes observações.

O mau servo.
1. Não é descrente, nem é agnóstico; é, por profissão, um servo de Jesus Cristo. E crente que se refere a Cristo como “Meu Senhor”;

2. Acredita na segunda vinda de Cristo. A sua falta não consiste em negar a volta de Jesus, nem em dizer que é para ser considerada figuradamente, mas em declarar: “Meu Senhor demora-se”, ou: “Que meu Senhor virá é certo, mas não é necessário preocuparmo-nos com tal evento agora”;

3. Não diz abertamente com a boca que o seu Senhor demora-se, mas o diz “no seu coração”. Exteriormente, pretende crer na iminência da vinda do Senhor, mas no coração diz: “Não será por muito tempo, talvez; não preciso preocupar-me sobre isso agora”. Não é uma negação declarada, mas uma negação na prática. O resultado na sua vida é: “Como imaginou na sua alma, assim é”; ele passa a conformar-se com o mundo.

2. A recompensa do servo mau (Mt 24.50,51).
- O julgamento do senhor contra o seu mau será extremamente severo. Ainda pior do que esse horrível castigo será o destino eterno do servo. Ele será designado a um lugar onde haverá pranto e ranger de dentes (referência ao lago de fogo – Mt 13.42; 22.13; 24.51; Ap Ap 20.15). O julgamento futuro de Deus é tão certo quanto à volta de Jesus a terra.

A Bíblia ensina que a existência do homem não termina com a morte, mas que continua para sempre, ou na presença de Deus, ou num lugar de tormento. A respeito do estado dos perdidos, na outra vida, devemos notar os seguintes fatos:

2.1. Jesus ensinou que há um lugar de castigo eterno para aqueles que são condenados por rejeitarem a salvação (5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc 10.16, 12.5; 2ª Ts 1.8,9).
- Trata-se da terrível realidade do inferno, como o lugar onde o fogo nunca se apaga (Mc 9.43); O fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (25.41); um lugar de pranto e ranger de dentes (13.42,50); um lugar onde os perdidos ficarão aprisionados nas trevas (22.13); e um lugar de tormento e angústia e de separação do céu (Lc 16.23).

2.2. O ensino nas Epístolas é do mesmo teor. Fala de um julgamento vindouro da parte de Deus. Da sua vingança sobre os que desobedecem ao evangelho (2 Ts 1.5-9). Fala de uma separação da presença e da glória do Senhor (2 Ts 1.9), e da destruição dos inimigos de Deus (Fp 3.18,19; ver também Rm 9.22; 1 Co 16.22; Gl 1.9; Hb 10.27; Jd 7; 2 Pe 2.4; Ap 14.10; 19.20; 20.10, 14).

2.3. A Bíblia ensina que é inevitável o castigo dos malfeitores. O fato predominante é a condenação, o sofrimento e a separação de Deus, eternamente. O cristão sabe que essa doutrina não é agradável, nem de fácil entendimento. Mesmo assim, ele deve submeter-se à autoridade da Palavra de Deus e confiar na decisão e na justiça divinas.

2.4. Devemos sempre ter em mente que Deus enviou seu Filho para morrer por nós, para que ninguém pereça (Jo 3.16). É intenção e desejo de Deus que ninguém vá para o inferno. Quem for para o inferno é porque rejeitou a salvação provida por Deus (Rm 1.16; 2.10). O fato e a realidade do inferno devem levar todo o povo de Deus a aborrecer e repelir o pecado com toda veemência; a buscar continuamente a salvação dos perdidos, e a advertir todos os homens a respeito do futuro e justo juízo de Deus.

3. O destino dos perdidos.
A Bíblia descreve um quadro terrível do destino dos perdidos.

3.1. Fala de “tribulação e angústia” (Rm 2.9), “pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13; 25.30), “eterna perdição” (2ª Ts 1.9) e “fornalha de fogo” (Mt 13.42,50). “Fala das “cadeias da escuridão” (2ª Pe 2.4), do “tormento eterno” (Mt 25.46), de um “inferno” e de um “fogo que nunca se apaga” (Mc 9.43), de um ardente lago de fogo e de enxofre” (19.20) e onde “a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia nem de noite" (Ap 14.11). Realmente, "horrenda coisa é cair nas mãos de Deus vivo” (Hb 10.31); “bom seria para esse homem se não houvera nascido” (Mt 26.24; ver também Mt 10.28).

3.2. Os crentes do Novo Testamento tinham nítida consciência do destino de quem vive no pecado. Por essa razão eles pregavam com lágrimas (ver Mc 9.24; At 20.19 nota) e defendiam a Palavra infalível de Deus e o evangelho da salvação contra todas as distorções e as falsas doutrinas.

3.3. O sinistro fato do castigo eterno para os ímpios é a maior razão para levar o evangelho a todo o mundo, e fazer o máximo possível para persuadir as pessoas a arrependerem-se e a aceitarem a Cristo antes que seja tarde demais.

V. VIVENDO COM DISCERNIMENTO

1. Vida dissoluta.
O versículo 49 chama a atenção para a falta de prudência de alguém que começou a conduzir sua vida de maneira dissoluta. Infelizmente, a postura do servo infiel de espancar os conservos, além de comer e beber com os bêbados, revela um desejo que precisava apenas de uma oportunidade para se manifestar. Tal comportamento nos lembra de um momento anterior, no mesmo sermão, quando Jesus falou sobre os dias de Noé. O Senhor disse que, naquele tempo, as pessoas “comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca” (Mt 24.38). Em outras palavras, as pessoas do tempo do “pregoeiro da justiça (2ª Pe 2.5), viviam sem compromisso algum com Deus, e foram surpreendidas pelo juízo divino (Mt 24.38,39). De igual forma, a vida dissoluta do mau servo, e de pessoas que se comportam como ele, terão como destino um lugar onde haverá choro e ranger de dentes (v.51).

2. Vida santa.
Desde os tempos de Moisés, o povo de Deus é exortado a viver uma vida de santidade (Lv 11.44,45), isto é, uma vida separada e consagrada totalmente ao Senhor. Para o povo da nova aliança - a Igreja -, a mesma vida de santidade também é requerida (1ª Pe 1.16), pois temos mais luz e conhecimento em relação às coisas de Deus do que o próprio povo de Israel. Por isso, precisamos viver uma vida com discernimento, sabendo separar aquilo que, como santos e filhos de Deus, convém, ou não, fazer (1ª Co 6.12; 10.23). Hoje, mais do que em qualquer outra geração de cristãos, precisamos nos lembrar de que, sem santificação, “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Devemos ter isso muito claro em nossos corações, lembrando também que o Senhor Jesus Cristo pode voltar a qualquer momento (Mt 24.42).

3. Administrando os bens.
Jesus contou a parábola dos dois servos para que os ouvintes, e todos nós, optássemos em seguir o exemplo do servo fiel e prudente, evitando o trágico fim dos hipócritas (v.51). A postura do servo bom e fiel, que administra os bens de seu senhor conforme a justiça faz jus à própria expressão "servo", visto que esta retrata o perfil de um ministro dedicado, alguém que se sente satisfeito em cumprir o seu dever, que é servir ao seu senhor. De forma semelhante, a Bíblia nos chama de despenseiros de Deus e diz que devemos ser “bons” (1ª Pe 4.10), ou seja, eficientes e dedicados. O apóstolo Paulo também falou sobre este assunto dizendo ser necessário que “os homens nos considerem como ministros”, ou seja, “servos e despenseiros”, isto é, administradores daquilo que Cristo coloca sob nossa responsabilidade, requerendo apenas que cada um se ache, seja encontrado, fiel (1ª Co 4.1,2). Portanto, mais que fidelidade e prudência, o Senhor requer de nós que sejamos bons e fiéis administradores do que não é nosso (1ª Pe 5.2).

VI. VIGILÂNCIA: A PALAVRA CHAVE DA PARÁBOLA

A palavra-chave desta parábola é “vigiar”. Maclaren (apud Beacon, 2008, p. 169) observa que:
A. A ordem de vigiar, é reforçada pela nossa ignorância da ocasião da Sua vinda (Mt 24.42-44).

B. A imagem e a recompensa de vigiar (Mt 24.45-47).

C. A imagem e a condenação do servo que não vigiou (Mt 24.48-51).
O verbo “vigiar” quer dizer: “observar com atenção; estar atento a; velar” (HOUAISS, 2001, p. 2860).

No hebraico o verbo é “shamar” que significa: “vigiar, guardar”. No grego o termo é “gregoreo” que significa literalmente “vigiar” e é encontrado em 1ª Ts 5.6,10 e em mais 21 outros lugares nos quais ocorre no Novo Testamento (por exemplo, em 1ª Pe 5.8).

É usado acerca de:
A “Manter-se acordado” (Mt 24.43; 26.38.40.41).
B. “Vigilância espiritual” (At 20.31; 1ª Co 16.13; Cl 4.2; 1ª Ts 5.6.10; 1ª Pe 5.8; Ap 3.2.3; 16.15) (VINE, 2002, p. 323 – acréscimo nosso).

A palavra “vigiar” tem conotação exortativa, visando chamar a atenção dos ouvintes a estarem prontos para o retorno do Messias (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33-35; Lc 21.36; 1ª Pe 4.7).

VII. QUAIS AS CAUSAS DA EXORTAÇÃO A VIGILÂNCIA PARA A VOLTA DE JESUS

A Bíblia nos exorta a prática da vigilância por, pelo menos, três motivos. Vejamos:

1. A fragilidade humana. Sabendo da fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos a estarem vigilantes, para vencerem as tentações (Mt 26.41; Mc 14.38).

- Fomos perdoados e libertos dos nossos pecados (1 Jo 2.12; Rm 6.22), todavia, ainda não estamos livres da presença do pecado na nossa natureza humana. Isto somente se dará quando nosso corpo for glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja (1ª Co 15.51-54). Até este acontecimento, precisamos viver vigilantes, a fim de não sermos vencidos pelo pecado (Rm 6.11,12; 1 Co 15.34). “Quem quiser ter um discipulado produtivo, precisa disciplinar o corpo para não ceder às paixões” (ADEYEMO, 2010, p. 1192).

2. A astúcia do Diabo. Além da fragilidade humana, o crente precisa vigiar também porque “[...] o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1ª Pe 5.8). Toda tentação é proveniente da própria natureza humana (1 Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1 Ts 3.5; Tg 4.7).

- Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18).

- Jesus exortou os crentes de Esmirna a serem fiéis até a morte, mesmo diante das tentações do diabo (Ap 2.10).

- Da mesma forma, falou aos crentes de Filadélfia, dizendo: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11).

3. A vinda do Senhor será repentina. A necessidade da vigilância para o retorno de Cristo se dá também pelo fato de ser um evento repentino. Diversas vezes, Jesus exortou os seus discípulos sobre isso (Mt 24.36,42,44; 25.13; Mc 13.33; Lc 12.46). Infelizmente, não são poucos aqueles que têm a promessa do Senhor como tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2ª Pe 3.4). Todavia, Jesus nos assegurou que viria sem demora (Ap 3.11; 22.12,20). Estejamos vigilantes para não sermos pegos de surpresa e sermos achados dormindo naquele dia (Mc 13.36; Lc 21.34).

CONCLUSÃO. A vinda do Senhor é certa. Devemos, portanto, aguardá-la vigiando em todo tempo, demonstrando a nossa fé em obediência e prudência, afastando-nos do pecado que antes praticávamos, a fim de não mancharmos as nossas vestes espirituais. Vigiemos pois aquele dia e hora ninguém sabe.

Há pessoas que estão se conduzindo de modo dissoluto e fazendo mau uso dos bens que o Senhor deixou em suas mãos. São maus servos. Correm o risco de serem pegos de surpresa e acabarem lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Por outro lado, o servo vigilante está preparado para a vinda de Jesus. Ele não apenas está vigilante como prega sobre a vinda de Jesus, pois como bom ministro e despenseiro sabe que é seu dever anunciar a vinda de Cristo. O vigilante guarda o que tem, exercitando seus talentos. Ele administra com fidelidade os bens de seu Senhor, sabendo que um dia será promovido às mansões celestiais.

FONTE DE PESQUISA

1. ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
2. HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
3. GABI, Wagner Tadeu dos Santos. Liçoes bíblicas. 4º Trimestre 2018. CPAD.

4. LOCKYER, John. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA.
5. TOKUMBOH, Adeyemo. Comentário Bíblico Africano. MUNDO CRISTÃO.
6. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
7. VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O PERIGO DA INDIFERENÇA ESPIRITUAL



INTRODUÇÃO. Nesta lição veremos o contexto e o objetivo que o Mestre amado contou esta parábola; pontuaremos seus personagens e quem eles representam; analisaremos qual o contraste entre os dois filhos; e por fim, estudaremos o que Jesus quis ensinar com esta parábola.

I. UMA PARÁBOLA DISTINTA
Em Mateus 21.28-32 encontramos a “parábola dos dois filhos”. Esta parábola possui as seguintes características:
A. Ela consta somente no evangelho conforme Mateus.
B. Têm apenas três versículos.
C. Foi pronunciada na última visita de Cristo a Jerusalém, antes de Sua morte.
D. Tem o intuito de enfatizar que Deus chama a todos os homens para a salvação, no entanto, cabe aos homens aceitarem tal chamado (Mt 21.32). Vejamos algumas outras informações sobre esta parábola:

1. Contexto. Em Mateus 21 encontramos o registro da entrada triunfal de Jesus sobre um jumentinho, na famosa cidade de Jerusalém, para cumprir o que dele estava escrito (Zc 9.9; Mt 21.4,5). A multidão louvou ao Mestre trazendo consigo ramos de árvores que espalhavam pelo chão junto com as suas próprias vestes e diziam: “Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” (Mt 21.9-b). Esta parábola está estreitamente conectada com o relato imediatamente precedente em relação a atitude das autoridades para com João Batista (Mt 21.23-27). Jesus questionou porque eles não reagiram a mensagem de arrependimento pregada pelo profeta (Mt 21.32).

2. Objetivo. O principal objetivo da parábola é mostrar como os publicanos e as meretrizes, que não professavam crê no Messias e do Seu reino, ainda assim aceitavam a doutrina e se sujeitavam à disciplina de João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3.5,6), ao passo que os sacerdotes e os anciãos, que estavam cheios de expectativas do Messias, e pareciam muito dispostos a estar de acordo com o que Ele determinava, desprezaram João Batista, e foram contrários aos desígnios da missão de Jesus (Mt 3.7-10; 21.32; Mc 1.5). A parábola tem um outro alcance; os gentios, que eram desobedientes, tendo sido, por muito tempo, filhos da ira (Ef 2.3); porém, quando o Evangelho lhes foi pregado, eles se tornaram obedientes à fé, enquanto os judeus, que diziam: “eu vou, Senhor”, faziam boas promessas (Êx 24.7; Js 24.24), mas não iam; eles somente “lisonjeavam a Deus com os seus lábios” (Sl 78.36,37).

II. OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA

1. O Pai (Mt 21.28). O pai desta parábola é uma representação perfeita da pessoa de Deus como nosso amado Pai (Sl 103.13; Ef 1.5; Gl 4.4,5; Rm 8.15-17; Jo 1.12; 2ª Co 6. 18; Rm 8.15; 23; Gl 4.6; Hb 12.6; Hb 6.12; 1ª Pe 1.3,4; Hb 1.14). O status de filhos traz-nos privilégios como:

1.1. Tratar a Deus como Pai nas nossas orações: “Pai nosso, que estás nos céus” (Mt 6.9).

1.2. Ter o testemunho do Espírito acerca da nossa salvação, o qual clama “Aba, Pai” (Rm 8.15,16).

1.3. Sermos amados por ele: “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus” (1ª Jo 3.1); “Amados, agora somos filhos de Deus…” (1ª Jo 3.2).

2. O primeiro filho (Mt 21.28,29). Os publicanos e as meretrizes de quem se esperava pouca religiosidade são representados pelo primeiro filho na parábola (Mt 21.31,32). Eles não prometiam nenhum bem, e aqueles que os conheciam não esperavam deles nada de bom; ainda assim, muitos deles foram transformados: “Mas, depois, arrependendo-se, foi” (Mt 21.29-b ver ainda Lc 7.29,30). Estes impuros representavam também o mundo gentílico; pois, os judeus, em geral, classificavam os publicanos junto com os pagãos; e os pagãos eram representados, pelos judeus, como meretrizes, e homens nascidos de prostituição (Jo 8.41).

3. O segundo filho (Mt 21.30). O segundo filho é representado por muitos da nação judaica quando ao ser proclamada a Lei no monte Sinai, pela voz de Deus, se comprometeu a obedecer e disseram: “Tudo o que o Senhor tem falado faremos”, porém
não fizeram (Êx 19.8; 24.3,7; Dt 5.27). Eles faziam uma profissão especial da religião; ainda assim, quando o reino do Messias lhes foi trazido, pelo batismo de João, eles o desprezaram (Mt 3.7-10), deram-lhe as costas e lhe rejeitaram (Jo 1.11; Lc 19.14; At 13.46). Por causa do seu orgulho, eles não procuravam seguir a Deus e a Cristo. Por isso, o filho que disse: “Eu vou, senhor”, e não foi, revelou perfeitamente o caráter dos judeus fariseus (Lv 26.41; Dt 10.16; Jr 4.4; 6.10; Ez 44.9; At 7.51; Hb 4.7).

III. CONTRASTES ENTRE OS DOIS FILHOS
É digno de nota, nesse contexto, que esses publicanos e prostitutas arrependidos haviam dito: “não queremos”, mas depois se arrependeram, e então creram. Ao contrário, os líderes religiosos dos judeus, homens considerados como bem familiarizados com a Lei de Deus e que exteriormente se conduziam de uma forma tal como se estivessem dizendo constantemente: “sim, Senhor, fazemos tudo quanto requeres de nós, e faremos tudo quanto queres que façamos”, porém não faziam. Era acerca deles que Jesus declararia: “Dizem sim, e não fazem” (Mt 23.3 ver Êx 19.8; 32.1; Is 29.13). Notemos então alguns aspectos representados por estes dois filhos. Vejamos:

O PRIMEIRO FILHO O SEGUNDO FILHO
- Foi convocado pelo pai para trabalhar (Mt 21.28) Foi convocado pelo pai para trabalhar (Mt 21.30-a).
- Disse ao pai que não ia, mas foi (Mt 21.29) Disse ao pai que ia, mas não foi (Mt 21.30-b)
- Mostrou-se rude, mas foi sincero (Mt 21.29-b) Mostrou-se flexível, mas foi falso (Mt 21.30-b)
- Mostrou arrependimento (Mt 21.29-c) Não mostrou arrependimento (Mt 21.32)

IV. O QUE JESUS QUIS ENSINAR COM ESTA PARÁBOLA

1.  Dizer “não” e viver o “sim” é uma prova de arrependimento (Mt 21.29). Quanto ao primeiro filho as suas ações foram melhores que as suas palavras, e o seu final, melhor que o seu começo. Vemos aqui a feliz mudança de ideia, e da conduta do primeiro filho, depois de pensar um pouco: “Mas, depois, arrependendo-se, foi”. Observemos que há muitas pessoas que no início dizem “não”, são teimosas, e pouco promissoras, mas que posteriormente se arrependem e se corrigem, “e caem em si” (Lc 15.15.17), como diz o provérbio popular: “Antes tarde do que nunca”. Observemos que quando ele se arrependeu, ele foi; este é um “fruto digno de arrependimento” (Mt 3.8). A única evidência do arrependimento da nossa resistência anterior é concordar imediatamente e partir para o contrário; e então, o que passou será perdoado, e tudo ficará bem. Aquele que disse ao seu pai, face a face, que “não faria o que ele lhe pedia”, merecia ser atirado para fora de casa e deserdado; mas o nosso Pai “espera para ter misericórdia”, e, apesar das nossas antigas tolices, se nos arrependermos e nos corrigirmos, Ele irá nos aceitar de uma forma bastante favorável (Pv 28.13). É muito melhor lidar com alguém que, na prática, será melhor que a sua palavra, do que com alguém que não será capaz de cumprir o que prometeu.

2. Dizer “sim” e viver o “não” é uma prova de hipocrisia (Mt 21.30). É impressionante a quantidade de pessoas que dizem “sim” e vive o “não” (Tt 1.16). Existe uma abissal distância entre o discurso e a prática: “Não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” (Mt 23.3). O segundo filho mencionado disse melhor do que fez, prometeu ser melhor do que provou ser; a sua resposta foi boa, mas as suas ações, más. Ele professou uma obediência imediata: “eu vou”; ele não disse: “eu irei daqui a pouco”, mas infelizmente ele ficou apenas na teoria e não partiu para prática. Existem muitos que proferem boas palavras, e fazem boas promessas, que se originam de boas motivações; porém, ficam apenas nisso, não vão mais além. Dizer e fazer são duas coisas diametralmente diferentes e distintas, e há muitos que dizem e nunca fazem o que prometem (Is 29.13; Ez 33.31). Muitos, com a sua boca, até confessam, mas os seus corações vão em outra direção (Mt 15.8; Mc 7.6). A prova de sinceridade não está nas palavras, mas nos atos (Mt 7.21). As palavras não são de valor algum se não forem acompanhadas de atos equivalentes: “Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (Jo 13.17). Existe uma diferença categórica entre arrependimento (2Co 7.9), e remorso como no caso de Judas (Mt 27.3).

3. O “sim” e o “não” é uma prova do nosso caráter. O tempo vai dizer quem é quem e revelará se o que dissemos condiz com o que somos. Às vezes o “não” honesto hoje pode colocar o homem em uma posição de reflexão, de arrependimento e mais tarde gerar mudanças movendo-o a prática de atitudes coerente com o “sim”. O verdadeiro “sim” é aquele marcado pela consciência profunda do pecado, arrependimento e conversão (Mt 21.31-32). Os publicanos e as meretrizes eram os que inicialmente haviam virado as costas para Deus, mas se arrependeram e creram; ao passo que os judeus fariseus que haviam pretensamente crido, no fundo endureceram o coração e rejeitaram a oferta do Evangelho. Intenções precisam ser acompanhadas por ações, pois a fé sem obras é morta (Tg 2.26), e o arrependimento sem frutos não agrada a Deus (Mt 3.8).

4. O “sim” e o “não” é uma questão de livre-arbítrio. Na história, os dois filhos mudaram de ideia, um para pior e outro para melhor. O pecador pode se arrepender e ser perdoado, e o justo pode se desviar e ser condenado (Ez 18.21-24). Por isso, é imprescindível permanecer firmes até ao fim (Hb 3.12-13; 4.11). O chamado do Evangelho, é, na realidade, o mesmo para todos, e nos é transmitido com o mesmo teor. Na parábola, o pai falou a mesma coisa para os dois filhos e sua vontade para os dois foi a mesma. Deus deseja a salvação de todos (1ª Tm 2.3-4). Como cada filho na parábola tomou sua própria decisão, nós decidimos obedecer a Deus ou não. Os dois filhos receberam a mesma oportunidade: “[…] Filho, vai trabalhar […] E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo” (Mt 21.28,29). Jesus não lhes disse: “vós não podeis entrar no reino do céu”; porém, mostrou que eles mesmos criavam o obstáculo que lhes embargava a entrada (Mt 23.37-38). A porta ainda estava aberta para esses guias judeus; o convite ainda era mantido.

CONCLUSÃO. Reino de Deus é formado por pessoas que vão além das palavras, que entenderam seu pecado, sua inadequação, arrependeram-se e se colocaram na direção do caminho correto. De pessoas que aprenderam que o “não” não é o melhor caminho e se prontificaram a viver o “sim”. Gente que aprendeu que o que agrada a Deus de verdade é vida e não discurso; é ação e não promessas; é verdade prática e não mentira poética: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a Sua obra” (Jo 4.34), assim devemos servir ao Senhor.

FONTE DE PESQUISA.
1. GILBERTO, Antônio. Lições Bíblicas Maturidade Cristã. CPAD
2. HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
3. LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA
4. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
5. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento. GEOGRÁFICA


ENCONTRANDO O NOSSO PRÓXIMO




Lucas 10.25-37 “E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26 E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? 27 E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29 Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? 30 E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. 31 E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. 32 E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. 33 Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; 34 E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; 35 E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. 36 Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37 E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.

INTRODUÇÃO. Amar ao próximo inclui amar até mesmo aqueles que nos aborrecem, pois encontramos em Deus o maior exemplo de que tal amor é possível.

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

1. Uma parábola com diversas interpretações.

1.1. Ela tem sido alvo das mais diversas interpretações. Revelando objetivos que ela não tem. (Ex:) A caminhada humana ao sair do Éden (Jerusalém) e tomar o caminho do mundo (Jericó).

2. Pondo Jesus à prova ou “tentando-o”.

2.1. Era um doutor que queria pôr Jesus à prova (Lc 10.25)

2.2. A intenção por trás deste doutor:

- Colocar à prova o caráter de Cristo.

- Procurava colocar o Mestre em situação difícil.

- Quem sabe queria receber um elogio.

3. “Como lês?”

3.1. Jesus responde ao homem com outra pergunta (Lc 10.26).

- Sobre o conteúdo do mandamento.

- Jesus quer saber como o doutor lê, como o interpreta e de que forma olha para o mandamento.

- O homem não compreendendo limita-se a responder recitando o mandamento tal como está escrito (v.27).

- Jesus, então, o chama para a prática do mandamento (Lc 10.28).

4. Questão principal.

4.1. Não satisfeito, o doutor da Lei quer saber de Jesus "quem" seria o seu próximo (v.29).

4.2. É nesse contexto que a parábola é contada pelo Senhor Jesus (Lc 10.30-33).

- Jamais aquele doutor veria num samaritano um próximo seu (Jo 4.9; 8.48).

- Jesus mostra que aquele doutor da Lei também precisa ver o samaritano como próximo (comp. Mt 18.33).

II. COMPAIXÃO E CARIDADE SÃO INTRÍNSECAS À FÉ SALVADORA

1. Compaixão.

1.1. Jesus revela que o Bom Samaritano teve ‘compaixão’ (Lc 10.33).

1.2. A compaixão é um sentimento intenso que faz com que a pessoa ‘mova-se’ (Lv 10.33; Êx 2.6).

2. Cuidado.

2.1. A parábola revela o aspecto prático do amor, ‘o cuidado’ (Lc 10.34).

2.2. Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lc 10.27; Lv 19.18).

- Esse amor não é retórico.

- Esse amor é na prática (Jo 3.16; 1ª Jo 3.16-18).

3. Caridade.

3.1. O samaritano decidi curar (Lc 10.34).

3.2. O samaritano decidi gastar para ajudar (Lc 10.35).

3.3. Essas atitudes revelam a caridade do samaritano.

- Toda caridade é uma doação de si mesmo (1ª Pe 2.21)

III. O NOSSO PRÓXIMO É QUALQUER PESSOA NECESSITADA

1. O “próximo”.

1.1. No caso da parábola,-o próximo do doutor da lei era quem ele odiava, o samaritano (Jo 4.9; 8.48).

- Era um exemplo doloroso.

1.2. Jesus pergunta qual foi o próximo daquele homem que sofria (Lc 10.36).

. O homem limitou-se a dizer foi o que eu sou de misericórdia (Lc 10.37).

- Ele não falou que foi o samaritano

1.3. Com essa história Jesus respondeu a pergunta do doutor da lei (Lc 10.25).

1.4. A hipocrisia humana já existia na época de Jesus, por isso haviam diversos embates com os doutores da lei (Mt 21.1-36).

2. Ajudar ao próximo não salva, mas é algo que deve ser feito por quem é salvo.

2.1. Nessa parábola Jesus não afirma que o samaritano é salvo por haver feito bem ao próximo.

2.2. Fazer obras de caridade não leva ninguém a salvação (Ef 2.8,9).

2.3. Os verdadeiros filhos de Deus fazem boas obras foram chamados para isso (Ef 2.10; Tg 2.14,17).

2.4. Jesus ensina ao mestre da lei que essa questão pode ser resolvida.

3. A medida do amor para com o necessitado.

3.1. A medida do amor ao próximo pode ser medida com base na necessidade do outro

3.2. Algumas barreiras que nos levam a não ajudar o nosso próximo.

- Diferenças de nacionalidade.

- Religiosidade.

- Grupo social.

3.3. Devemos ter ações concretas (Tg 2.14-16).

4. Sendo o próximo.

4.1. O doutor pergunta quem é o próximo (Lc 10.29).

- Nessa pergunta o doutor da lei não tinha interesse algum em ajudar.

4.2. Na resposta de Jesus é dito o contrário: de quem eu posso ser o próximo (Lc 10.36).

- Nessa resposta o doutor da lei tinha que pensar em ajudar alguém.

4.3. De quem eu posso ser o próximo?

CONCLUSÃO. Aqui aprendemos que o amor não aceita limites na definição de quem é o próximo. Enquanto todas as sociedades e seus segmentos sociais acabam levantando barreiras para separá-las das demais pessoas, os discípulos de Cristo devem olhar para os seres humanos com igualdade, pois o próprio Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34).