TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A TOLERÂNCIA PARA COM OS FRACOS NA FÉ - Romanos 14

 


Romanos 14.1-23 “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. 2 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. 3 O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. 4 Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. 5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. 6 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. 7 Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si. 8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. 9 Foi para isto que morreu Cristo e tornou a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. 10 Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. 11 Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. 12 De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. 13 Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. 14 Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. 15 Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu. 16 Não seja, pois, blasfemado o vosso bem; 17 porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. 18 Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens. 19 Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. 20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. 21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. 22 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. 23 Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.” 

INTRODUÇÃO. No capítulo 14 de Romanos, Paulo discorre sobre a vida cristão, a liberdade em Cristo e o amor fraternal. Ele ensina como lidar com as diferenças de opiniões e práticas entre os irmãos. 

I. JUDEUS E GENTIOS FORMANDO A IGREJA 

1. A ética judaica. O termo ética no hebraico é מוּסַר - musar e significa conduta moral, disciplina ou instrução. Ela tem origem no livro de Provérbios 1.2. A ética judaica está presente na Bíblia e está relacionada à religião, sendo inseparável desta. A ética judaica valoriza a justiça (Êx 23.1-2; Dt 16.18-20); evitar subornos (Êx 23.8), roubos e opressão (Êx 22.20; Dt 24.14); ao cuidado da viúva e do órfão; o comportamento demonstrando compaixão para com o escravo. Eles se reúnem todos os sábados nas sinagogas para aprendem as Sagradas Escrituras (At 15.21). Cultivam a prescrição dietética da lei de Moisés, que os judeus ainda hoje chamam de kash'rut (At 15.20,28). 

2. Salvação pelas obras? A seita dos fariseus ensinavam aos novos convertidos assim: “Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” Aplicar essa conduta judaica aos gentios era o mesmo que afirmar que a graça do Senhor não era suficiente. Isso reduziria o cristianismo a uma mera seita do judaísmo e além disso confundiria aquele com a identidade judaica. 

3. A ética dos gentios. A Igreja primitiva teve uma composição inicial de judeus, mas a inclusão de gentios se tornou um problema, pois eles tinham cultura, origens e étnicas diferentes. Eles foram transformados pelo poder do Espírito Santo, portanto deviam mudar sua maneira de viver, mas nem por isso estavam obrigados a viver como judeus (At 15.10,11). 

II. RESPEITABDO AS DIFERENÇAS 

1. Irmãs fortes e fracos na fé (v. 1). A Igreja em Roma estava dividida, porque havia irmãos fortes na fé e irmãos fracos na fé. Isto é, havia diferença entre vários tipos de crentes na igreja em Roma. Isto significa que há, entre os filhos de Deus, diferentes níveis de conhecimento e de fé. Há os crentes meninos, os maduros, os carnais, os espirituais, os fracos, os fortes etc. (Ef 4.14; 1ª Co 3.11; 1ª Co 8.11).

Os fortes na fé tinham maturidade na Palavra, mas eram tentados a desprezar os fracos; e os fracos, a julgar e condenar os fortes. Os fracos na fé tinham dificuldades de distinguir o certo do errado por falta do conhecimento. O “débil na fé” ou “fraco na fé”, de que Paulo falou, era aquele que ainda não tinha maturidade na fé. Na verdade, Paulo exorta os irmãos poque havia divergência entre eles.

A expressão “fraco na fé”, segundo Paulo, “atesta a falta ou incapacidade de compreender o princípio fundamental da fé e da justificação”, ou seja, a imaturidade.

[...] Segundo o professor Dunn, as tensões em Roma aconteciam “entre aqueles que se consideravam parte de um movimento essencialmente judaico – e consequentemente, viam-se obrigados a observar os costumes característicos e distintivos a um judeu e aqueles que compartilhavam a compreensão de Paulo sobre um evangelho que transcendia a particularidade judaica”. Portanto conclui James Dunn, caracterizar Romanos 14-15 como “uma discussão de ‘coisas não essenciais’.... é perder a centralidade e a natureza crucial da questão da auto compreensão do cristianismo primitivo” [STOTT. Pg. 432]. 

2. Quanto ao alimento (v. 2). A discussão na Igreja de Roma nos dias de Paulo era entre os irmãos que ainda estavam apegados as tradições judaicas como doutrina. Os legalistas consideravam a observância e as abstenções de alimentos e boas obras, seriam necessárias para a salvação. Mas na carta aos Gálatas (1.8-9) Paulo emite um anátema solene contra qualquer um que ouse distorcer dessa forma o evangelho da graça.

Paulo olha para aqueles que se recusam a comer carne por uma razão espiritual. Talvez eles tenham recusado a comer carne porque não era permitido na lei, e eles seguiram os regulamentos e tradições dietéticas judaicas. Assim o comer alimentos impuros e o violar o sábado encontrava-se no mesmo nível como as duas grandes marcas que denotavam a deslealdade com à aliança. Alguns irmãos estavam resolvidos a comer de tudo, pois a liberdade que Cristo lhe proporciona libertou-o de escrúpulos desnecessário com relação à comida; já outro, cuja fé é fraca, come apenas legumes. Paulo dirige-se a ambos com palavras sábias e precisas a respeito de um assunto que os dividia, a ingestão de certos alimentos tidos como imundos. Paulo declara que o ato de comer, em si, não é problema moral, mas a nossa atitude pessoal sobre o que se come, pode levar ao injusto julgamento de uns com os outros. O que o apóstolo desejava, em outras palavras, é que os cristãos romanos não julgassem uns aos outros por causa dessas coisas, mas se aceitassem mutuamente conforme Cristo ensinara. Cristo nos aceita do modo que somos. Paulo ensina que judeus e gentios devem amar uns aos outros, como também Cristo nos amou (Rm 15.7).

Alguns “líderes espirituais” hodierno com seu estilo ascético de conduzir a Igreja demonstra a falta de humildade e, uma falsa sabedoria que por sua vez provoca discórdias no meio da Igreja, destruindo assim a obra de Deus. Tudo que você comer, beber ou vestir, vem de Deus e devemos fazer com ações de graça e para engrandecer Sua glória: “Portanto, quer, comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a Glória de Deus” (1ª Co 10.31).

Somos imperfeitos. Se desejarmos, de fato, crescer e alcançar a perfeição exigida pela Palavra de Deus devemos acrescentar diariamente a nossa fé a virtude, e a virtude o conhecimento (2ª Pe 1.5). Ora, se ainda não chegamos à estatura de varões perfeitos, como poderemos julgar nossos irmãos por causa de coisas insignificantes como acontecia os crentes romanos? 

3. Outra marca era observância do sábado (vs. 5-6). “Um faz diferença...” (v. 5a). Esta expressão no grego κρίνει krinei, que significa que alguém consideraria um dia mais sagrado do que o outro. Isto acontecia com os judeus em Roma, que consideravam os dias de festas, lua nova, e sábados como especialmente sagrados. Eles mantinham, mesmo depois de se converterem ao cristianismo. Os judeus foram chamados para ser um povo santo e preparar a nação para a “realidade”, da qual seus ritos eram apenas a sombra até que viesse o Messias. Nos dias de Paulo alguns legalistas guardavam dias especiais. Tratava-se de dias especiais de festas segundo as leis cerimoniais do Antigo Testamento (Lv 23). Portanto, a páscoa, a festa de tabernáculos e as outras festas especiais dos judeus, é claro, desapareceram, e é perfeitamente claro que os apóstolos nunca tiveram a intenção de ensinar a guardar os dias de festas.

“outro considera iguais todos os dias.” (v. 5b). O apóstolo diz que “aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz.” Isto é, ele considera “todos os dias” como consagrado ao Senhor. Observe que Paulo também advertiu os irmãos em colosso dizendo: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados.” (Cl 2.16). As datas para observar as festas do Velho Testamento são determinadas por um calendário lunar. Portanto, as luas novas que marcam o início dos meses são importantes para estabelecer as datas corretas das festas. Para judeus, a ordem “dias de festa, lua nova e sábados” se refere as festas judaicas já mencionadas acima. Ao que tudo indica, a raiz principal do problema em Colossos foi com tradições e crenças judaicas e também algumas filosofias (Cl 2.8). Eles haviam confundido os cristãos em Colossos e queriam impor certos dias e festas como parte obrigatória do calendário da Igreja para serem considerados fiéis e aceitáveis diante de Deus. 

4. Vivendo um novo concerto. O profeta Jeremias já havia profetizado a chegada de um novo concerto (Jr 31.31) e o fim do sábado que se cumpriu em Jesus (Cl 2.14-17). Jesus afirmou “O sábado foi feito para o homem (Mc 2.27). O Senhorio de Cristo sobre o sábado abriu o caminho para a Igreja primitiva abandonar a obrigação de guardar o sábado. Afirmar que o Imperador Constantino, substituiu o sábado pelo domingo é um erro. A palavra domingo significa dia do Senhor, isto porque Jesus ressuscitou neste dia (Mc 16.9). Os cultos de adoração a Deus aconteciam no primeiro dia da semana (At 20.7; 1ª Co 16.2). 

5. Não contender. Os cristãos em Roma tinham opiniões diferentes sobre determinadas práticas, pois eles vinham de vários contextos. Paulo mostra que essas diferenças não poderiam dividir a comunidade cristã. Nosso dever é aceitar uns aos outros como irmãos na fé. Também não nos compete julgar o outro, pois quem nos julga é o Senhor. Paulo ordenou que os cristãos aceitassem os crentes fracos, mas não para discutir assuntos duvidosos. “Recebei-o” significa que devemos receber a cada irmão como ele é e não como queremos que ele seja. Não temos o direito de impor a ele a nossa maneira de ver o cristianismo, nem discutir na tentativa de convencê-lo do contrário (1ª Co 11.16; 1ª Tm 6.4). Devemos recebê-lo com amor sincero dentro da fraternidade cristã. 

III. PRATICANDO A LIBERDADE 

1. O que o apóstolo condena? (Vs. 4,10). Quem és tu que julgas o servo alheio?” (Vs. 10-12). O termo julgar no grego é κρίνω kríno que significa achar falta, ou condenar; julgar. Paulo não está condenando todo tipo de julgamento é evidente pelo contexto. Ele está ensinando como lidar com diferenças a respeito de doutrinas 'secundárias' dentro da Igreja, e ainda que devemos receber bem e não julgar ou menosprezar aqueles que têm opinião diferente sobre alguns que são fracos na fé.

“Nem o crente enfermo ou fraco e nem o mais esclarecido espiritualmente são a preocupação do apóstolo. Isso porque ambos agiam de forma diferente com o propósito de servir a Deus (vs. 6,7). O que ele condena é a crítica e não essas práticas: “Quem és tu que julgas o servo alheio?” (v. 4) “Mas, tu, por que julgas teu irmão?” (v. 10). A preocupação do apóstolo era evitar divisões na Igreja por causa de assuntos secundários.” [Esequias Soares da Silva. A tolerância para com os fracos na fé. Lições Bíblicas CPAD 2º Trimestre de 1998. CPAD]. 

2. Não colocar tropeço diante do irmão (vs. 13-15). Paulo sabe que nem um alimento é imundo, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. Porém, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (v. 13). No verso 14, ele faz alusão às coisas proibidas pela lei cerimonial dos judeus. 

3. Justiça, paz e alegria (vs. 16-17). Paulo relata dizendo que o reino de Deus não é comida e bebida. Não será pelo comer ou deixar de comer algo, que seremos santificados. As leis dietéticas não podem se transformar num meio de salvação. O próprio Jesus disse: “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.” (Mt 15.11). O reino de Deus não é a liberdade de comer ou beber alguma coisa, e sim a de participar da justiça e alegria no Espírito Santo (v. 17). 

4. Buscar o que contribui para a paz (v. 19). Quando servimos a Deus, agradamos ao Senhor e aos homens (v. 18). Desta maneira, promovemos a paz e a edificação da Igreja (v. 19). Nossas ações devem servir a Cristo e contribuir para o crescimento e desenvolvimento de outros cristãos. 

5. Tenhamos união e comunhão. “Não destruas por causa da comida a obra de Deus.” (v. 20). Não destruas quer dizer, não pôr abaixo ou demolir. Sejam maduros, não criem escândalo. Na verdade, para Paulo todas as coisas são puras: “Porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças” (1ª Tm 4.4).

Tens fé? Tem-na para ti mesmo.” Paulo não requer que o cristão forte abandone suas convicções sobre aquilo que não é condenado pela Lei. Ele ensina que cada cristão tenha um padrão inteligente e correto para sua consciência. Por outro lado, tudo que for feito com dúvida e sem convicção é pecado (v. 23).Embora os cristãos maduros tivessem de se abster de comer carne diante dos cristãos mais fracos, eles ainda podiam acreditar que Cristo lhes havia concedido a liberdade para comerem todos os tipos de alimentos (v. 2), ainda que reservadamente perante Deus (v. 6). 

CONCLUSÃO Neste capítulo Paulo nos ensinou a compreender os costumes e princípios, falando com amor com os irmãos que ainda são fracos na fé e que de maneira alguma nós, maduros na fé, devemos colocar pedras de tropeço no caminho desses pequeninos.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

terça-feira, 3 de setembro de 2024

O CRISTÃO E O ESTADO - ROMANOS 13

 


Romanos 13.1-14 “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. 2 Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. 3 Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. 4 Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal. 5 Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. 6 Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. 7 Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. O amor ao próximo, a vigilância, a pureza 8 A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. 9 Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 10 O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. 11 E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. 12 A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. 13 Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. 14 Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.” 

INTRODUÇÃO. No capítulo 12 da carta aos Romanos, Paulo abordou sobre a santificação e a vida no corpo de Cristo para os novos cristãos em Roma. No capítulo 13 de Romanos, ele nos conduz a analise detalha sobre o papel do cristão na sociedade. Ele nos ensina quanto ao seu relacionamento com Estado e a submissão a ele. O cristão deve ter compromisso com os deveres cívicos, pois é chamado a respeitar as autoridades governamentais reconhecendo que são designadas por Deus para manter a paz e a justiça. 

I. SBMISSÃO AS AUTORIDADE 

1. As leis romanas. Os judeus passaram sob o domínio de vários impérios mundiais e, no período do Novo Testamento, estava sob o jugo de Roma. Diante do cenário político, os judeus possuíam um profundo sentimento de revolta contra o governo romano por causa de seu domínio sobre as terras de Israel e porque eles eram pagãos, idólatras, cruéis e adversários da fé cristã. Paulo era um cidadão romano de nascimento, e chegou até mesmo a usar sua cidadania a seu favor em uma ocasião em Atos 25.9-11. Ainda assim, ele era judeu zeloso da lei de Deus (Fl 3.5). No entanto, o apóstolo parece ser bastante positivo em relação ao domínio romano. 

2. Autoridades instituídas por Deus (vs. 1-2). O contexto cultural era totalmente diferente em que os irmãos estavam vivendo em Roma. Em seus dias, os seguidores de Cristo viviam sob a opressão do Império Romano e muitos eram mortos, torturados ou lançados aos leões nas arenas para divertir ao povo. Mesmo assim, Paulo exorta a comunidade cristã, a sujeitar às autoridades superiores. Ele declara a razão por que devemos nos submeter às autoridades: “porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.” (v. 1). Esta palavra “ordenado” denota o “ordenamento” ou “arranjo” que subsiste em uma companhia “militar” ou exército. As autoridades, portanto, foram ordenadas para o bem social. “Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus.” (v. 2). Isto é, aqueles que se levantam contra o próprio governo, que procuram anarquia e confusão e que se opõem à execução regular das leis. É dito que estes resistem à ordem de Deus. Está claro, entretanto, que essas leis não devem violar os direitos de consciência ou se opor às leis de Deus. 

2. O propósito da autoridade (vs. 3-5). Mas como se sujeitar a Nero e a Herodes? Lembra que Paulo ensinou seu filho Timóteo dizendo: “sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores...” (1ª Tm 1.9a). Nero e Herodes não devem ser temidos, a não ser por aqueles que praticam o mal. Como seguidores de Cristo, somos chamados a respeitar e submeter-nos as autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. O apóstolo declara que a autoridade civil é ministro de Deus (v. 4), por isso, o crente deve orar a Deus pelas autoridades constituídas e submeter-se a elas (v. 5). A obediência às autoridades governamentais visava 3 coisas:

1º São nomeadas para o bem da sociedade; 2º Para punir os malfeitores; 3º e promover a paz e a ordem. 

3. O dever de submissão (vs. 6-7). “Não apenas esteja sujeito ao Império Romano (v. 5), mas pague o que for necessário para sustentar o governo. Paulo ensina os irmãos nada mais nada menos que obediência às leis, pagamento de impostos para o sustento das autoridades. Para Paulo o cristianismo e a cidadania andam de mãos dadas. O Mestre Jesus ensinou sobre isso, dizendo: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”. (Mt 22.21). No evangelho segundo Mateus 17.24-27, está escrito que os cobradores de impostos para o templo perguntaram a Pedro se o seu mestre não pagava o imposto. Pedro respondeu que sim, e Jesus pediu a Pedro para ir ao mar, lançar o anzol e tirar o primeiro peixe que subisse. Jesus disse que Pedro deveria abrir a boca do peixe e encontrar um estáter, que deveria ser dado por ele e por Jesus. Portanto, Jesus pagou impostos porque era esperado que todos os homens adultos em Israel o fizessem. O imposto anual do templo, era de duas dracmas, ou meio siclo, e era destinado a pagar as atividades e a manutenção do templo. É por isso que os cristãos devem pagar imposto, pois eles estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.” (v. 7). 

II. O AMOR AO PRÓXIMO, A VIGILÂNCIA, A PUREZA 

1. A dívida do amor (vs. 8-9). O cristão é ensinado a pagar todas suas obrigações, porém, existe uma dívida que nunca podemos pagar. Essa é a dívida de amor ágape. A raiz da palavra αγάπη é aγαπάω que é um verbo que significa amor altruísta ou amor elevado. É o tipo de amor que Deus tem pela humanidade. Este amor é incondicional, sacrificial e busca o bem estar do próximo. Este é o mandamento de Jesus que disse: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (Jo 15.12-13). Portanto, enquanto você viver neste mundo cultive o amor ágape, pois é a única dívida que o cristão nunca conseguirá quitá-la. O amor é a obrigação contínua de amar uns aos outros: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1ª Jo 4.19). 

2. O resumo da lei (v. 10). A lei de Moisés é composta por 613 mandamentos. Paulo resumiu em apenas um, o amor. Quando um doutor da lei pergunto a Jesus qual era o maior mandamento Ele disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-40). Jesus apresenta para o fariseu o único mandamento que está lidado “toda a lei e os profetas”, ou seja, a lei do amor está acima de tudo nesta vida. Paulo disse “toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Gl 5.14); está no cerne da lei de Cristo: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl 6.2). Na última ceia com os doze, Jesus diz o seguinte: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.” (Jo 13.34). João o apóstolo do amor diz nas Sagradas Escrituras: “Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo.” (1ª Jo 2.9-10). 

III. O DESPERTA DO SONO 

1. O tempo do despertar (vs. 11-12). “Conhecendo o tempo”. Paulo se refere ao tempo “anterior”, ou tempo da ignorância e escuridão, quando os judeus estavam na lei, agora é o tempo do “evangelho”, quando Deus “revelou” ao povo a Sua vontade de que eles sejam santos. Paulo retrata os cristãos em Roma, como pessoas que adormeceram, e que estão em estado de inercia.

A noite é passada...”. Ou seja, o amanhecer chegou, portanto, “desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.” (Ef 5.14). Os crentes precisam de um despertar espiritual em suas vidas. Diante da eminência volta de Cristo, precisamos de uma maneira diferente de pensar, de agir e de estar neste mundo. Paulo já havia explica a não se conformar com este mundo e ter uma mente renova (Rm 12.2). Portanto, acordem do sono da negligência. 

2. A conduta apropriada (vs. 13-14). “como de dia.” O homem sem Jesus está em trevas, anda segundo os desejos de sua carne, vivem “em glutonarias, bebedeiras, desonestidades, dissoluções, contendas e inveja.” (13.13). Mas quando ele tem um encontro com Jesus há uma mudança de reino: “Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor.” (Cl 1.13). Saiu das trevas, agora vive na luz, porque Jesus é luz é a luz do mundo (Jo 8.12). Paulo diz: “porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. 6 Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 7 Porque os que dormem dormem de noite, e os que se embebedam embebedam-se de noite. 8 Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor e tendo por capacete a esperança da salvação. (1ª Ts 5.5-8).

A teologia paulina ensina que, “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2ª 5.17) e o “todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.” (Gl 5.27). “Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Ef 5.8). 

CONCLUSÃO. O cristão é chamado à submissão e obediência as autoridades e ao cumprimento de seus deveres, não deve ser por medo, mas por amor Àquele que já nos salvou. Paulo destaca que o amor é o cumprimento da lei e que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Ele nos adverte a rejeitar as obras das trevas e a nos revestirmos das armas da luz, pois somos “a luz do mundo e o sal da terra” (Mt 5.13-14).

Pr. Elias Ribas - Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau -SC

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

VIVENDO UMA VIDA DE CONSAGRAÇÃO – ROMANOS 12

 


Romanos 12.1-21. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. 3 Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. 4 Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, 5 assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. 6 De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; 7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; 8 ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. O amor, o fervor, a humildade, a beneficência. 9 O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. 10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. 11 Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; 12 alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; 13 comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; 14 abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. 15 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. 16 Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos. 17 A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. 18 Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. 19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. 20 Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” 

INTRODUÇÃO. A carta aos Romanos é dividida em duas partes. Uma parte doutrinária (capítulos 1 ao 12), e a segunda (capítulos 12 ao 16), tratando da parte prática. O capítulo 12, Paulo enfoca a aplicação prática da mensagem do evangelho em nossa vida diária. É um apelo a fim de que os cristãos vivam uma vida de consagração a Deus. Também contém lições sobre como viver para agradar a Deus, servir ao próximo e praticar a doutrina da justificação pela fé. 

I. O CULTO DE ADORAÇÃO 

1. “Rogo-vos”. A palavra rogo conforme aparece no original grego, traduz parakaleo, que vem de duas palavras “para” “ao lado de”; e kaleo, o verbo “chamar”, traduzido no Novo Testamento por “exortar, apelar, recomendar, solicitar”. Paulo inicia o capítulo 12, exortando os irmãos a viver uma vida de santificação. 

2. “Apresenteis o vosso corpo (v. 1). Paulo exorta o crente a oferecer o seu corpo (que é o templo do Espírito Santo (1ª Co 6.19)), como sacrifício ao Senhor. Isto significa que o apóstolo está nos exortando a apresentar tudo de nós a Deus. “Nem, tampouco, apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade.” (Rm 6.13).

O corpo é o instrumento da alma e do espírito, é o elemento exterior, é o meio pelo qual revelamos o nosso interior (2ª Co 5.10). A vida espiritual não pode estar desassociada de seu corpo: “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1ª Co 6.20). O mesmo corpo que no passado era instrumento para o pecado, agora é o templo do Espírito Santo (1ª Co 3.16,17), para servir à justiça (Rm 6.13). 

3. “como sacrifício vivo.” (v. 1). Ele faz alusão ao culto levítico do Velho Testamento, onde o israelita escolhia o melhor para sacrifício e oferecia a Deus. Não se trata de sacrifícios de animais, pois Cristo os invalidou (Hb 10.4,9,10). Trata-se de uma ilustração (sacrifício de louvor (Hb 13.15; Sl 50.14) e ação de graças (Sl 95.2; 147.7). O apóstolo Paulo explica a importância dessa prática cristã. Ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, é colocar tudo o que somos no altar do Senhor como uma adoração espiritual. 

4. Culto. A palavra “culto” no grego é latreia e significa “serviço sagrado, adoração”, de onde vem a palavra “liturgia”. O culto raciona é feito com entendimento, é a entrega total do crente em adoração ao Senhor. É muito diferente do culto do Antigo Testamento, onde se ofereciam criaturas irracionais.

A palavra racional no grego é logikos, derivado do logos, pode ser entendido como culto espiritual. Assim devemos oferecer a Deus um culto vivo e espiritual, isso significa que devemos servir a Deus com obediência e devoção. 

II. O MUNDO NÃO É PADRÃO PARA A IGREJA 

1. O cristão e o mundo (v. 2). O termo mundo no grego são kosmos e aion, que significa este século. O mundo é o sistema onde o “deus deste século” atua (2ª Co 4.4), pois é dito “que todo o mundo está no maligno (1ª Jo 5.19). 

2. Renovação da mente e discernimento da vontade de Deus (v. 2). Conformar no original grego é suschematizo que quer dizer: conformar-se com a mente e caráter de alguém; ao padrão de outro; moldar-se de acordo com.

Paulo exorta a não formar ou moldar na forma deste mundo onde o maligno atua. O cristão não deve ser moldado pelos valores do mundo, mas é dito é dito transformai-vos, ou seja, eles devem mudar pela renovação do entendimento.

A regeneração é obra do Espírito Santo no interior do homem, ou seja, “no espírito da vossa mente.” A regeneração do crente é uma mudança de pensamento ou uma mudança de opinião. E só pode ser verdadeiro se tiver uma genuína conversão e um verdadeiro arrependimento.

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano. E vos renoveis no espírito da vossa mente. 24- E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4.22-32).

“.... quanto ao trato passado...”. Refere se à sua conduta anterior ou hábitos de vida, deixe de lado tudo o que pertence à natureza corrupta e decaída. Tudo o que procedeu do pecado; todo hábito, costume e modo de falar e de conduta resultantes da depravação devem ser deixados de lado.

“E vos revistais do novo homem...”. O novo homem se refere à natureza nova, ou nova criatura, ou a nova criação” (2ª Co 5.17), e refere-se à condição depois que recebe um novo coração.

3. É uma mudança radical. Tudo se faz novo (2ª Co 5.17); nova vida (Jo 3.3-5); novidade de vida (Rm 6.4); novo alvo (Fp 3.14); novo testemunho (Gl 1.23-24); novo cântico (Sl 40.4); novo homem (Ef 2.15); novas bênçãos (At 3.19); nova incumbência (Lc 22.32). 

4. A vontade de Deus. Paulo destaca nesta parte do versículo é para que você possa provar, boa, agradável e perfeita” a vontade de Deus. Ele prescreve o que é agradável a Ele, e provê um padrão que é eticamente santo” (Mt 5.48). A vontade de Deus é que as pessoas vivam de forma santa, e em obediência a Palavra de Deus. Se tua mente for renovado, então está apto para conhecer e fazer a vontade do Senhor, pois este tipo de coração e mente é o que vai entender e provar, a vontade de Deus. 

II. O CORPO DE CRISTO (12.3-8). 

1. Os dons (Vs. 3-8). A palavra dom no grego dõron significa uma dádiva, um presente que nos é dado por Deus. Dõrea, presente grátis, charisma.

Nos versículos 1 e 2, o apóstolo está fazendo um apelo à consagração do cristão a Deus. Este é o assunto a respeito do qual o apóstolo está falando, para entrar no assunto “dons”. Ele passa a demonstrar os resultados práticos da mente renovada.

A humildade e a sobriedade de espírito convêm ao crente consagrado para poder exercer dos dons espirituais que o Senhor concedeu a cada um conforme a medida da fé. 

2. O cristão e o corpo de Cristo (vs. 4-5). O apóstolo nos ensina a importância da diversidade e da unidade dentro do corpo de Cristo. Ele faz alusão ao corpo humano que possui diversos membros com distintas funções e todos os membros formam um só corpo, “mas individualmente somos membros uns dos outros.” Isto é, a Igreja de Cristo é um corpo com diversidades de operações (1ª Co 12.6). Ele nos ensina que cada um de nós possui dons espirituais dados por Deus para edificação da Igreja. O Espírito Santo pode dar a uma pessoa fé, a outra o poder de curar, ou ainda o poder de fazer milagres ou de anunciar a mensagem de Deus. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (1ª Co 12.11). 

3. Dons de serviço ou da graça (charismata) (vs. 3, 6). No vs. 6 ele diz: “tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada”. São os dons dados a Igreja, ao corpo de Cristo, não a denominação, não exclusivamente à pessoa, mas ao corpo e para edificação da mesma (Ef 4.11-15). São vocações, inclinação, dons natos. São meios de cada personalidade e de cada temperamento.

A lista que Paulo escreve sobre os dons da graça devem ser um exemplário e não a totalidade deles, pois são inúmeros e não estão aqui sua totalidade. Neste capítulo de Romanos Paulo cita alguns dons de realizações incluindo alguns ministeriais. 

3.1. Profecia. “se é profecia, seja ela segundo a medida da fé” (v. 6). A palavra profecia no original grego προφητεία prophetia, que significa capacidade de interpretar o desejo dos deuses e é formada pela junção das palavras prophetes (à frente) e phanai (falar).

Como dom do ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na Igreja como ministros profetas. O profeta portador da mensagem pode ser definido como a capacidade de receber e transmitir uma mensagem imediata de Deus por meio de uma palavra divinamente ungida para uma situação específica. 

3.2. Ministério. “se é ministério, seja em ministrar” (v. 7). Do grego diaconia. Significa: “ministério, serviço”. A palavra diakonia aparece traduzida como ministério em 2ª Co 4.1; 5.18; 1ª Tm 1.12. O diácono é aquele que tem capacidade dada por Deus para ver as necessidades dos outros e supri-las. Assim como o pastor, eles são chamados para servir à Igreja do Senhor.

A palavra de Deus diz em 1ª Pedro 4.10-11 “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!”

A diaconia foi instituída para cuidar das necessidades físicas e logísticas da igreja, de modo que os presbíteros possam se concentrar no seu chamado da Palavra.

3.3. Ensino. “Se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (v. 7).” A palavra ensino do grego didaquê. Daqui vem a palavra didático. É a capacidade dada por Deus para expormos com clareza e convicção as verdades do ensino de Cristo. O ensinador que a Bíblia chama de mestre é um dom ministerial (cf. Ef 4.11) e também podemos classificar como um dom natural. Natural porque tem que desenvolver as técnicas de didáticas, para que os que escutam possam assimilar o e aprender o seu ensino. Por isso podemos também enquadrar como dom natural. 

3.4. Exortar. “O que exorta, use esse dom em exortar” (v. 8). A palavra παράκλητος deriva do verbo παρακαλεω (parakaleu), que literalmente quer dizer “chamar para o lado”; e segundo o dicionário Strong significa: chamar para o (meu) lado, chamar, convocar, dirigir-se a, falar a (recorrer a, apelar a), conforto, instruir, exortar, pedir, encorajar, fortalecer e consolar.

A palavra exortar no latim Exhortationem significa: aconselhar; animar; encorajar. O verbo “exortar”, não significa repreender alguém ou reprimir. Antes de tudo, é o fortalecimento espiritual dos santos através da ministração de palavras de ânimo e encorajamento. Exortar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o crente proclamar a Palavra de Deus de maneira que ela atinja o coração, a consciência e a vontade dos ouvintes, estimule a fé e produza nas pessoas uma dedicação mais profunda a Cristo e uma separação completa do pecado. 

3.5. Contribuir. “O que reparte, faça-o com liberalidade” (v. 8). Do grego metadídomi, significa: “doar, compartilhar, investir”. É a capacidade dada por Deus para sabermos administrar bem nossas finanças e contribuir na obra de Deus. Todos nós devemos contribuir: “Cada um contribua…” (2ª Co 9.7), mas muitos têm este dom de contribuir (Rm 12.8) com liberalidade (com simplicidade) e de todo o seu coração. 

3.6. Presidir. “O que preside, com cuidado” (v. 8). Do grego próistemi, significa “ficar de pé na frente”. Aqui Paulo se refere ao dom ministerial na Igreja, também mencionado em Ef 4.11. Presidir ou liderar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o obreiro pastorear, conduzir e administrar as várias atividades da Igreja, visando o bem espiritual de todos. 

3.7. Misericórdia. “O que exercita misericórdia, com alegria” (v. 8). Do grego έλεος éleos da palavra hebraica hésèd. A palavra “misericórdia” tem origem latina e é formada pela junção de “miserere” (ter compaixão) e “cordis” (coração). A misericórdia, ou a compaixão, é aqui o amor profundo, a afeição de uma mãe pelo seu filho (Is 49.15), a ternura de um pai pelos filhos (Sl 103.13), um amor fraternal intenso (Gn 43.30). É a motivação de identificar-se com, e de responder às carências de pessoas aflitas ou necessitadas. “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).

Sua particularidade é que este dom revela o caráter de Deus. Deus é misericordioso. E nós, como seus filhos, também devemos ser.

Mas muitos têm este dom em sua vida (Romanos 12). A parábola do bom samaritano demonstra com clareza o dom de misericórdia (Lucas 10.29-37). Jesus o bom Pastor tinha misericórdia, o evangelista Marcos relata que: “E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Mc 6.34) 

III. O AMOR FRATERNAL EM AÇÃO 

1. O amor sem hipocrisia (v. 9). A segunda parte de Romanos 12, Paulo trata do amor fraternal, profundo, sincero e prático, sem hipocrisia, que deve existir no corpo de Cristo, isto é, um amor sem máscara, sem falsidade. “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.” (1ª Jo 3.18). O amor é a principal qualidade do verdadeiro cristão. “De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13.10). O amor é o maior mandamento: “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. 39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 40 Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-40). Este mandamento é uma referência à Shemá Israel, que diz “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4-5). 

2. A fraternidade (v. 10). Do gr. philadelphia, é a junção de duas palavras φίλος - philos significa “amor”, e αδελφός - adelphos, “irmão”. O termo descreve o vínculo estreito que deve existir entre os membros da Igreja de Cristo (1ª Ts 4.9; Hb 13.1; 1ª Pe 1.22; 2ª Pe 1.7). O amor no cuidado pelos necessitados e na hospitalidade que constituem-se no padrão para a família cristã. Todos seguidores de Cristo (judeus e gentios), que foram justificados pela graça, devem as suas vidas à misericórdia de Deus. Portanto, devemos viver como servos gratos, dedicando-nos ao amor fraternal. 

3.O amor cordial e humilde (v. 10).O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e diante da honra vai a humildade.” (Pv 15.33). Quão importante é a humildade para se obter honra. Você não obterá à verdadeira honra sem ela (Pv 11.2; 16.18; 18.12; 29.23). Quando você é humilde, você pensa antes de falar e você fala mansa e bondosamente, isto significa demonstrar apreço e consideração, com boa educação e gentileza. Filipenses 2.3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 

4. Entusiasmo divino (v. 11). A seara do Senhor é grande, os ceifeiros são poucos (Mt 9.37), precisamos trabalhar enquanto é dia antes que venha a noite (Jo 9.4). Não devemos, portanto, mostrar-nos lentos ou preguiçosos, para fazer a obra daquele que nos comissionou. O objetivo final do zelo capacitado pelo Espírito é servir ao Senhor. 

5. Trabalhar com alegria (v. 12). O crente não deve ficar perturbado com as aflições da vida, isto não pode ser empecilho para o trabalho cristão. O cristão deve trabalhar com animo e alegria. Deve ser pacientes na tribulação e perseverante na oração porque encontrará consolo, bem como de ajuda divina.

6. Praticai a hospitalidade (v. 13). O termo para hospitalidade é φιλοξενία philoxenia, que é uma combinação das palavras philos (amar alguém como a um amigo) e xenos (estrangeiro). A palavra philoxenia significa literalmente “amor a estranhos” e era um conceito muito importante para os antigos gregos, sendo considerada um princípio sagrado. No Novo Testamento, a hospitalidade é uma virtude ordenada e recomendada em toda a Escritura, e no Antigo Testamento foi especificamente ordenada por Deus. Hb 13.2 “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”. Gn 18.1-16 (Abraão hospedou a anjos) 1º Rs 17.9-24 (Viúva hospedou Elias) Lc 24.13-33 (Caminho de Emaús, os discípulos não sabendo hospedaram Jesus). 

IV. RESPOSTA CRISTÃ AS PROVOCAÇÕES 

1. Abençoem os que vos perseguem (v.14). Abençoai, do grego εὐλογία eulogia, que deu origem a palavra “elogio”, literalmente “falar bem de” alguém. No hebraico, a palavra bênção é ברכה barakeh que significa ajoelhar, abençoar, exaltar, louvar, agradecer, felicitar, saudar. Tanto no hebraico quanto no grego (eulogia) apresenta um sentido de concessão de alguma coisa material.

O homem carnal amaldiçoa, mas o crente em Jesus, abençoa, aqueles que nos prejudicam e nos fazem o mal. Em Lucas 6.28, Jesus nos ensina: “bendizei (eulogeó) aos que vos maldizem (kataraomai = amaldiçoar, execrar, condenar), orai pelos que vos caluniam”. 

2. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (v. 15). É um convite a colocar-se na pele do outro como expressão de caridade verdadeira. Regozijar-se com a alegria de outra pessoa, se alegre quando ele receber uma benção. Quando você realmente se alegra com a irmão que está se regozijando, você declara ao mundo que você ama realmente este irmão. Chorar com aqueles que choram, isto significa participar da tristeza de nossos irmãos e ajudar a carregar seus fardos. O grande sábio Salomão disse: “há tempo de chorar e tempo de rir.” Ou seja, haverá um tempo em que as pessoas enfrentarão dificuldades, situações que podem trazê-las aflição e lágrimas. O que fazer então? Devemos em primeiro lugar orar juntos e também chorar juntos. Quando os três amigos de Jó foram vê-lo, eles rasgaram suas vestes e choraram com ele (Jó 2.11-13). Quando Jesus foi visitar a família de Lázaro, ele chorou (Jo 11.35). 

3. Não sejam orgulhosos (v.16). O apóstolo relata aos Corintos que: “O amor não se ufana, não se ensoberbece” (1ª Co 13.4). A palavra ufana significa sentir-se ou tornar alguém orgulhoso, envaidecido ou ufano. O verdadeiro cristão não se orgulha de ter feito o bem, não fica contando seus feitos para todo mundo, não procura ser visto, mas alegra-se pelo fato de ter exercido o mandamento do Senhor, sabendo que a recompensa vem de cima. “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra.” (Ap 22.12).

Paulo ensina que o amor é um conjunto de características a saber: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1ª Co 13.4-7). Onde há respeito há amor, onde as qualidades descritas acima estão presentes, há amor, e onde há esse tipo de amor há Deus. 

4. Não paguem mal por mal (v. 17). A Bíblia diz que toda a humanidade nasce com uma natureza pecaminosa por causa da desobediência de Adão e Eva e todos tem esta tendência de fazer o mal. Quando alguém faz o mal é comum termos a vontade de pagar com o mal. Embora a vontade de se vingar tenha raízes profundas, os verdadeiros cristãos resistem a ela. 

5. Façam o possível para ter paz com todos (v. 18). Existem pessoas nervosas e atribuladas que fazem uma tormenta com um copo de água. Porém o cristão deve manter a paz e a sobriedade, porque a paz é fruto do Espírito.

O ensinamento do apóstolo para nós é para garantir que qualquer conflito contínuo em nossa vida, o cristão não deve perder o equilíbrio, mas fazer tudo que puder para manter a paz. Se a humanidade agir de acordo com os princípios do evangelho, o mundo logo estará em paz. 

6. Se tiver com fome, dê comida a ele (v. 20). Este versículo é retirado quase literalmente de Provérbios 25.21-22. Se seu inimigo é carente, tenha fome e sede, faça-o bem e supra suas necessidades, pois é mandamento do Senhor Jesus: “Faça o bem aos que te odeiam.” (Mt 5.44). Paulo ensina que os irmãos não devem se vingar de quem lhes fez algum mal, a quem ele chama de “inimigo”, mas pagar o mal com o bem. 

“amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.” A linguagem figurada, de acordo com os comentários da Bíblia de Estudo Shedd, quer dizer “fazer o inimigo reconhecer o seu pecado, ficar envergonhado e, por fim, arrepender-se”. A Bíblia na versão “Nova Tradução na Linguagem de Hoje” traz um termo ainda mais esclarecedor para a metáfora: “porque assim você fará o inimigo ‘queimar’ de remorso e vergonha”. Portanto, agindo assim, estarás amontoando brasas de fogo sobre a cabeça dele. Retribuir o bem pelo mal (12.21) é a vingança do verdadeiro cristão; destrói o seu inimigo, fazendo com que ele se arrependa da sua maldade. 

7. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (v. 21). Este versículo segue exortações como “abençoai os que vos perseguem” (v. 14) e “não torneis a ninguém mal por mal” (v. 17). Jesus foi o exemplo perfeito de vencer o mal com o bem: “... pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1ª Pd 2.23). Jesus foi acusado de ser um homem sedicioso; falado como um enganador; acusado de estar em aliança com Belzebu, o “príncipe dos demônios” e condenado como blasfemador contra Deus, Ele não insultou aqueles que o censuraram, Ele não ameaçou punição, Ele não invocou a ira do céu. Ele nem sequer previu que eles seriam punidos; ele não expressou desejo de que fossem. Porém Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). A vingança não é um sinal de força, mas de fraqueza. O teu bem faz com que o inimigo, constrangido, deixe de agir malignamente contra ti e se torne teu amigo. 

CONCLUSÃO. Quando experimentamos a bondade e a misericórdia de Deus, a culpa é substituída pela graça abundante e a força do pecado pelo poder do Espírito Santo.

Vivemos no mundo sem ser do mundo, temos que ser “sal e luz”, de maneira que Jesus seja visto em nós e glorificado. E mais do que isso, com o nosso testemunho de fidelidade ao Senhor, conquistarmos os não-crentes para Cristo.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO - ROMANSO 11

 


Romanos 11.1-36 “Digo, pois: porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. 2 Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: 3 Senhor, mataram os teus profetas e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? 4 Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal. 5 Assim, pois, também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça. 6 Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. 7 Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. 8 Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono: olhos para não verem e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. 9 E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição; 10 escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e encurvem-se-lhes continuamente as costas. 11 Digo, pois: porventura, tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. 12 E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! 13 Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; 14 para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. 15 Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? 16 E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. 17 E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, 18 não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. 19 Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. 20 Está bem! Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. 21 Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. 22 Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado. 23 E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. 24 Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! 25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. 26 E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. 27 E este será o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados. 28 Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. 29 Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. 30 Porque assim como vós também, antigamente, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles, 31 assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. 32 Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. Hino de adoração. 33 Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 35 Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? 36 Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” 

INTRODUÇÃO O capítulo 11 de Romanos, Paulo conclui seu apelo evangélico à nação judaica. Ele ensina o relacionamento entre Israel, os gentios e o plano de salvação de Deus e que todos tenham a oportunidade de aceitar ou rejeitar o evangelho. 

I. A REJEIÇÃO DE ISRAELNÃO É COMPLETA 

1. Deus não rejeitou Seu povo (vs. 1-2). O próprio Paulo era a prova que Deus não havia rejeitado total e definitivamente o seu povo. “Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.” Essa afirmação estabelece a base que, apesar da aparente rejeição, Deus não rejeitou inteiramente Seu povo, mas preservou o remanescente israelita que permanecerem fiel a Ele. Os que creem são parte do povo da graça de Deus, isto é, este remanescente é evidência de que a aliança de Deus com Israel continua em vigor. 

2. O remanescente fiel (vs. 2b-5). Deus nunca expulsou Israel da aliança; pois Ele sempre teve entre eles um conhecido Israel de Deus.

Paulo cita 1º Reis 19.10 a 18, onde ele faz um paralelo com a passagem do clamor de Elias, contra toda a nação; e o ato de matar os profetas ele considerou como expressão do caráter do povo. O profeta acreditava que apenas ele havia sobrado e Deus lhe mostra que ainda existiam outros sete mil que não haviam se dobrado. O apóstolo explica que, assim como nos dias de Elias, também agora há um remanescente que crê. Ele aponta que, mesmo em meio à desobediência, há um remanescente fiel segundo a eleição da graça. 

3. A eleição da graça (v. 6-7). Paulo volta então a falar sobre a salvação pela graça, afirmando que Israel, buscando a justificação pelas obras da lei, não consegue alcançar (Rm 9.31-10.3). Os eleitos são os que alcançaram a justiça mediante a fé, enquanto que os judeus foram endurecidos temporariamente para que a salvação chegasse até eles por meio da graça de Deus. 

4. A cegueira parcial de Israel (vs. 7-11). Deus queria usar os Israel para um propósito maior, levar o evangelho ao nações. Mas eles rejeitaram essa missão. Então, Deus abriu a porta para os gentios, a fim de torna-los em vasos de honra, purificando e preparando-os para a pregação do evangelho. Os judeus adormeceram pela sua rebeldia e rejeição a Cristo.  Paulo afirma que eles tropeçaram, mas não caíram e que esse tropeço deles foi para levar a salvação aos gentios. 

II. A INCLUSÃO DOS GENTIOS E A RESTAURAÇÃO DE ISAREL 

1. A queda de Israel e a salvação dos gentios (vs. 11-12). Os israelitas foram chamados para serem missionários de Deus ao mundo, mas tropeçara, porém, não para ficar totalmente caída. Sua queda tinha um propósito, trazer salvação aos gentios. A salvação veio para os gentios, com o propósito de provocar o ciúme de Israel (At 13.45-51).

“E, se a sua queda é a riqueza do mundo.” A palavra “mundo” diz respeito à igreja, que veio a ser composta de povos gentílicos, e a sua incredulidade, a riqueza dos gentios. O cumprimento das exigências divinas por parte dos judeus enriquecerá o mundo, pois a porta da graça foi aberta a todos! 

2. A missão de Paulo aos gentios (vs. 13-15). Paulo glorifica seu ministério por sido escolhidos para aos gentios, com isso, ele sabia que provocava ciúmes em muitos dos seus irmãos na carne e salvar alguns deles. Portanto, o evangelho deve ser pregado aos gentios, que a barreira entre eles e os judeus deve ser quebrada, para que o evangelho possa ser pregado a todas as pessoas.

“Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo” (v. 15a). Paulo é o único escritor neotestamentário que emprega o termo καταλλαγή katallagē. Esta palavra é aplicada à reconciliação ou pacificação produzida entre o homem e Deus pelo evangelho. Eles são levados à união, à amizade, à paz, pela intervenção do Senhor Jesus Cristo. Israel desfrutou das bênçãos espirituais das promessas oferecida a eles no Antigo Pacto. Pela rejeição por parte dos judeus, eles caíram, e foram rejeitados, abrindo acesso aos gentios. 

“senão a vida dentre os mortos?” (v. 15b). Paulo usa estes termos para produzir recuperação dos judeus, e nenhuma linguagem comum poderia transmitir sua ideia. Portanto, ele usa, uma figura significativa e marcante. O apóstolo se refere à recuperação das nações da morte do pecado que ocorrerá quando os judeus forem convertidos à fé cristã na plenitude dos tempos. 

3. A analogia da oliveira (vs. 16-18). Paulo aponta para três estágios na história redentora: “ramos naturais quebrados”; “ramos da oliveira brava enxertados”; “ramos naturais” enxertados de volta.

A oliveira é o símbolo de Israel, Paulo usa neste contexto como uma ilustração de Deus com judeus e gentios. A oliveira é da família oléaceas e se originou na região do mediterrâneo, podendo chegar no máximo 10 metros. Sobrevivem por muito tempo, mais de mil anos. Em Israel existem oliveiras de 2.500 e que provavelmente presenciaram a passagem de Jesus na terra.

Neste texto Paulo usa duas metáforas: as primícias e a massa, e a raiz com os ramos.

“E, se as primícias são santas (v. 16).” Os israelitas eram obrigados a oferecer a Deus as primícias da terra, tanto em seu estado bruto, em um molho de grãos recém-colhidos (Lv 23.10-11). As primícias referem-se a Abraão e aos outros patriarcas, (Rm 9.5; 11.28). Toda a massa e os ramos referem-se a Israel.

“se a raiz é santa, também os ramos o são.” Os patriarcas são representados pela raiz da árvore. “A raiz é santa”, refere-se a todos, a raiz e os ramos é a consagração, dedicação, separação de Israel para Deus. 

4. Os ramos quebrados e enxertados (vs. 17-21). O zambujeiro da mesma família da oliveira, é também chamado de oliveira-brava, por não dar frutos ou por eles serem impróprios para o consumo.

Nós os gentios somos os ramos da oliveira brava, mas pelo infinito amor do Pai, fomos “enxertados” na Oliveira boa que é Cristo; em que Deus pagou pelos nossos pecados no Calvário e nos ofereceu comunhão com Ele sem a participação de Israel.

A Igreja eleita substituí a nação eleita e todos os que creem nas boas novas da salvação, recebem as bençãos da eleição. “E, pela cruz, reconciliar ambos (judeus e gentios) com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. 17 E, vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; 18 porque, por ele, ambos (judeus e gentio), temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.” (Ef 2.16-17).

5. A bondade e a severidade de Deus (vs. 22-24). Paulo persiste com os gentios individualmente a permanecer na bondade de Deus. Isto, é claro, envolve sua continuação na fé (v. 20). Se aqueles que foram enxertados na oliveira verdadeira, não continuarem na esfera da bondade de Deus, também serão cortados. Estas palavras do apóstolo fazem nos lembrar as palavras de Jesus: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta” (Jo 15.2a); “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora a semelhança do ramo” (Jo 15.6a). Portanto, devemos permanecer e dar frutos para não sermos cortados. 

“serão enxertados na sua própria oliveira!” Paulo se refere aqui aos judeus, se eles se converterem a Cristo, serão enxertados na própria Oliveira que é Jesus. Como sua incredulidade foi a única causa de sua rejeição, então, se isso for removido, eles podem ser novamente restaurados ao favor divino. 

III. O MISTÉRIO DA SALVAÇÃO DE ISRAEL 

1. A cegueira temporária de Israel (v. 25). Paulo escreve neste versículo 25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério”, ele deseja que eles compreendam um “mistério”. “mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gl 4.4-5).

“até que a plenitude dos gentios haja entrado.” Paulo trata agora de uma doutrina escatológica. O “mistério” é que a restauração de Israel se segue à salvação dos gentios no tempo do fim. O fim não poderá ocorrer enquanto isso não acontecer. Paulo diz “até que a plenitude dos gentios haja entrado”, isto é, até que Deus tenha completado, nesse mundo, os planos para a propagação das boas novas e cumprir-se-ão os seus propósitos entre as nações. O Senhor Jesus nos diz em Mateus 24.14 que o evangelho do reino deve primeiro ser pregado e, então, o reino dos céus virá, para que então Cristo implante seu reinado com Sua Igreja. 

2. A salvação futura de Israel (vs. 26-27). No versículo 26, Paulo continua a sentença iniciada no versículo 25. “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades”. Paulo citou a profecia do profeta Isaías, ele vai apontar aqui, para consumação do Reino de Cristo, o qual o remanescente de Israel, será libertado quando clamar por Cristo no monte das Oliveiras (Zc 14.4). Portanto, a expressão “todo o Israel” significa “toda a nação de Israel”. Este Israel parcialmente endurecido é distinto dos gentios (v. 25) e é, também, distinto do atual remanescente de crentes judeus, no futuro. Deus irá trazer uma salvação tão ampla ao povo de Israel a ponto de se poder dizer que “todo o Israel será salvo”.

Paulo relata que o endurecimento de Israel tem acontecido até que chegue a plenitude dos gentios; assim, todo o Israel será salvo. 

3. A aliança de Deus com Israel (vs. 28-29). Nos versículos 26-27, Paulo falo do novo pacto que o Messias inaugurará (Jr 31.31). Paulo continua a citando o texto de Isaías 59.21, entretanto faz também a citação da promessa de Jeremias 31.31, que indica que Deus fará um novo concerto com Israel. “Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias...” (Jr 31.33). Daqueles dias, se refere ao tempo do fim, quando a plenitude dos gentios tiver entrado.

“são inimigos por causa de vós”. A rejeição do evangelho pela nação judaica fez que eles se tornassem inimigos de Deus. Por causa dos pais é uma menção às promessas que Deus fez aos patriarcas. Deus não se arrepende de ter chamado a descendência de Abraão e lhe ter dado dons. Os homens podem ser infiéis, mas Deus nunca abandona Seu propósito. 

4. A misericórdia de Deus para todos (vs. 30-32). Seja um judeu ou gentio, todos carecem da misericórdia de Deus porque todos pecaram.

“os dons de Deus” aqui denotam os bens da aliança que Deus fez com Abraão e que constituíram a verdadeira distinção entre sua família e todas as outras famílias da terra.

Deus não rejeitou os Israel, porém, os gentios alcançaram a misericórdia por causa da desobediência da nação. A conclusão de Paulo é que Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. Portanto, não há diferença entre judeu e gentio e Deus tem misericórdia de ambos. O caminho da salvação está aberto para todos que desejam o dom da vida. É um dom que não se esgota no tempo e no espaço, mas sim para toda a eternidade. 

IV. DOXOLOGIA A SABEDORIA E O CONHECIMENTO DE DEUS 

1. A profundidade das riquezas de Deus (v. 33). O apóstolo descreve os atributos e propósito de Deus numa doxologia. As riquezas, sabedoria e ciência de Deus são insondáveis. 

2. A incompreensibilidade dos caminhos de Deus (vs. 34-35). Tudo isso ainda é difícil de compreender. Nenhum homem é suficientemente grande para observar todas as ações de Deus e segui-las uma a uma. Ele criou o plano da salvação pela fé, tanto para os judeus como também para os gentios. Paulo nos lembra que todas as coisas vêm D’Ele, por Ele e para Ele. Àquele que “opera tudo em todos”. 

3. A glória de Deus para sempre (v. 36). E todas as coisas acontecem conforme a vontade de Seus propósitos sendo assim, Ele deve ser louvado e, eternamente, glorificado.

Pr. Elias Ribas Dr. em trologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

OS JUDEUS REJEITAM A JUSTIÇA DE DEUS - ROMANOS 10

 


Romanos 10.1-21 “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. 2 Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. 3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. 4 Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. 5 Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. 6 Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu (isto é, a trazer do alto a Cristo)? 7 Ou: Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)? 8 Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, 9 a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. 10 Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. 11 Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. 12 Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. 13 Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! 16 Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? 17 De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. 18 Mas digo: Porventura, não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo. 19 Mas digo: Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. 20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam. 21 Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” 

INTRODUÇÃO Em Romanos 10 Paulo continua o seu argumento de Romanos 9, dessa vez Paulo vai ensinar sobre a justiça que provem da fé. Ele explica a diferença entre a justiça que provem da lei e a justiça que provem da fé em Cristo Jesus e pela confissão Dele como Senhor. 

I. O DESEJO DE PAULO PELA SALVAÇÃO DE ISRAEL 

1. A oração de Paulo pela salvação de Israel (v. 1). Paulo expressa o desejo de seu coração pela salvação de Israel. Paulo intercede a Deus pedindo para que o povo judeu que não reconhece a Jesus como o Messias Salvador, sejam salvos.

Paulo reconhece o zelo que os judeus tem por Deus, mas não é o zelo digno que Deus reconhece como zelo, pois o que Deus quer é que sejam salvos pela fé, não pelas obras da lei. O que Deus quer é que reconheçam a Cristo e conheçam a justiça da fé preparada por Deus. O apóstolo não quer ver seus irmãos judeus correndo por justiça própria através das obras sem o reconhecimento de Jesus como o Messias salvador. 

2. O zelo de Israel sem conhecimento (v. 2). Paulo reconhece o zelo que os judeus tem por Deus, mas é o zelo sem conhecimento da verdade, em razão de que ignorando a justiça de Deus baseada na fé em Cristo, estabeleciam a sua própria justiça oriunda da lei e, deste modo, demonstravam um zelo diferente do zelo de Deus e tropeçavam na pedra de tropeço.

O zelo dos judaizantes pela lei, não dava o direito de serem salvos, por isto Paulo ainda suplicava a Deus por eles. Essa descrição dos judeus se aplica bem a muitas pessoas religiosas hoje. Dá-se o mesmo com certos irmãos que, de certo modo, demonstram zelo por Deus, porém desprezam, ao mesmo tempo, a justiça de Deus manifestada na lei e, lamentavelmente, ficam separados de Cristo. 

3. A tentativa de estabelecer a sua própria justiça (v. 3). Este termo “estabelecera própria justiça”, também pode ser interpretado no original como “causar a permanência como um monumento”, não para a glória de Deus, mas para a sua própria. A justiça própria é uma armadura que enclausura o crente. Arrancar esta armadura é algo doloroso. Dificilmente ele admite estar errado. Frequentemente age de forma inquestionável. Se existe uma falha com certeza está nos outros, não nele. Isto glorifica o orgulho humano, trazendo um sentimento carnal de realização, que por sua vez, vem acompanhado de um espírito de engano.

A justiça própria anda de mãos dadas com a soberba, o que dificulta muito a tarefa do Espírito Santo em revelar a justiça divina. Como o profeta Obadias testifica: “A soberba do teu coração te enganou” (Ob 1.3). Os judeus eram inflexíveis, se colocavam como donos da razão. Sua referência de justiça está corrompida pela soberba e presunção. O grande drama do fariseu de hoje é acreditar que está praticando a justiça, quando na verdade está agindo contrariamente a ela, com a incoerência cega, coando um mosquito e engolindo um camelo, limpado o exterior do copo, mas deixando o interior sujo. Corações orgulhosos e mentes fechadas impedem a salvação de muitos.

Na igreja dos Gálatas o zelo dos fariseus estava além da Palavra. “Eles têm zelo por vós, não como convêm; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles. É bom ter zelo, mas sempre do bem e não somente quando estou presente convosco” (Gl 4.17, 18). Quando Paulo encontrou Jesus, desistiu de seus esforços pessoais para justificar a si mesmo, reconhecendo ser isso futilmente total. Invés disto, ele aceitou com alívio a verdadeira justificação que tem lugar somente através da fé em Cristo (Fl 3.9). 

4. Cristo é o fim da lei para a justiça (v. 4). A palavra fim no grego é telos que significa término ou fim. Muitos judeus não compreenderam a relação de Cristo à lei. Jesus veio em cumprimento da lei, isto é, Cristo era o motivo para o qual a lei conduzia e apenas aqueles conduzidos a ele serão salvos.

“Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um” (Gl 3.19-20).

A afirmação de Paulo, limita o tempo em que a lei deveria agir assim, foi adicionada até que Cristo viesse”. O descendente é Cristo, que veio para finalizar a lei; “Porque o fim da lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).

A lei foi adicionada (interpolada, introduzida, alterada), para que os judeus reconhecessem as transgressões. “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20). A Lei revelou o pecado e mostrou que as pessoas não podiam ter a esperança de cumpri-la integralmente. Cristo veio e cumpriu-a, então nos ofereceu a sua retidão pela fé N’ele. 

II. A JUSTIÇA PELA LEI E A JUSTIÇA PELA FÉ

1. A justiça baseada na lei (v. 5). A Lei veio como aio para compreensão da justiça e se a lei ainda vigorar, a morte de Cristo foi é vã (2.21). Em Lucas 16.16, Jesus disse: “A Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele.” Segundo o ensino de Jesus, até à chegada de João, a lei de Moisés e a mensagem dos profetas eram guias para os judeus. A partir de então, o evangelho do reino de Deus é anunciado e todos se esforçam por entrar nele.

Se não tivéssemos a posição firme do apóstolo Paulo, colocando a lei no seu devido lugar e explicando a superioridade do evangelho, o cristianismo, além de não ser religião distinta do judaísmo, não poderia ensinar a verdade da justificação dos pecados pela graça. 

2. A justiça baseada na fé (vs. 6-7). O tema da mensagem é: pelas obras da lei ou pela pregação da fé. Eu estou mostrando que é pela pregação da fé. “O homem não é justificado pelas obras da lei e sim mediante a fé. Também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Gl 2.16). Mas quando você toma a decisão de crer no Senhor Jesus Cristo, você entra em um sistema que depende inteiramente de Deus. É por isso que Efésios 2.8-9 Paulo diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. 9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

Graça significa que depende inteiramente de Deus. Graça significa que Deus não está se expondo desnecessariamente quando dá a você algo, independente do seu mérito, independente da sua habilidade, independentemente de suas obras. Portanto graça se torna a questão principal na doutrina da eterna segurança. Da mesma forma, vamos considerar Romanos 11.6: “Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça”.

A justificação pela fé, que ás assusta até aos crentes em Jesus, pela maneira simples de o homem ser salvo pela graça de Deus, pois a tendência humana é complicar o que Deus simplificou, revela uma entrega total e irrestrita a Deus. Não se trata de uma fé intelectual e superficial, mas algo que torna a pessoa em nova criatura por um milagre de Deus, o novo nascimento (2ª Co 5.17), produzindo frutos de arrependimento como decorrência da salvação (Gl 5.22). 

3. A Palavra da fé que pregamos (v. 8-9).

Porém, o que diz? O apóstolo faz uma citação de Deuteronômio 30.14.

A palavra está perto de ti. O que está perto de nós pode ser facilmente obtido. O que é longe, com dificuldade. O ensino de Moisés e do evangelho estava próxima; isto é, foi facilmente obtido, adotado e compreendido. Assim facilmente acessível. 

4. Confessar e crer para a salvação (vs. 9-10).

“com a tua boca, confessares”. O ensino de Moisés já era tão familiar e tão bem entendido que estava realmente na boca deles, ou seja, na linguagem deles, na conversa comum.

Na época em que Paulo escreveu a carta aos Romanos, aceitar Cristo e confessá-lo como Senhor caracterizava em perseguição, prisão e morte do novo convertido. Confessar a Cristo como Senhor, é uma indicação da verdadeira salvação e da obra do Espírito Santo.

“e no teu coração – quando creres n’Ele. Em toda a Bíblia o coração denota o centro da personalidade incluindo a razão, a volição, e as emoções. Crer com o coração e confessar com os lábios são os dois elementos que o apóstolo afirma como necessários para que o homem alcance a justificação e a salvação em Cristo. A condição para justiça, para que alguém seja justificado, é a fé interior. A confissão de fé e crer em seu coração que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e está a direita de Deus Pai. Crer na ressurreição significa confiar em todas as promessas de vida, esperança e justiça, que são sustentadas por ela. 

5. Não distinção entre o judeu e o grego (vs. 11-13). “Todo aquele que crer” (v. 11), inclui o judeu e o grego. “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (v. 13).

Portanto, se a salvação passou a estar disponível para todo o mundo, Deus deve enviar os pregadores para que as pessoas possam ouvir o evangelho e crer nele, atendendo à sua mensagem “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10.13).

III. A NECESSIDADE DA PREGAÇÃO DO EVANGELHO 

Os textos bíblicos, onde Paulo faz uma breve abordagem sobre o desejo de ver seu povo sendo alcançado pelo evangelho, contém quatro perguntas desafiadoras e que devem nos levar a mais profunda reflexão. 

1. Como invocarão se não creram (v. 14). Aqueles que são salvos confessarão Cristo como Senhor porque Ele já tem incutido fé em seus corações. A partir do novo nascimento o cristão verdadeiro passa a invocar, ou seja, clama por ajuda e, portanto, orar, então será salvo. 

2. Como crerão sem ouvir (v. 14). A Igreja foi chamada para fora, chamados para pregarmos o Cristo crucificado e que ressuscitou e não devemos deixar de cumprir esta missão. A ordenança de Jesus para Sua Igreja é: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Lc 16.15). Onde você tem pregado? No templo, em casa, na rua, no bairro, no escritório ou na escola e onde estivermos para mostrar e contar aos outros as Boas Novas, enfim, “...pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (2ª Tm 4.2). A pregação do evangelho consiste em: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. 24 Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1ª Co 1.23-24). 

3. Como pregaram se não forem enviados (v. 15). Como está escrito: “Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7).

O Senhor já nos comissionou: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (Jo 9.4). “Somos embaixadores da parte de Cristo, o qual pôs em nós a palavra da reconciliação. (2ª Co 5.19-20). Isto significa que somos chamados e escolhidos pelo Pai para representá-lo em todos os lugares em que estivermos e levarmos a Palavra da cruz ao mundo perdido. 

4. A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (v. 17). O apóstolo Paulo, ao escrever este versículo, diz que a fé que vem pelo ouvir isto mostra a importância de pregar a Palavra de Deus. Somente encontramos fé para sermos salvos quando ouvimos, ou entramos em contato, com a verdade de Jesus. A Palavra de Deus desperta a nossa fé que estava morta. O ouvir a Palavra é um meio fundamental para adquirir a fé e, consequentemente, a salvação. No entanto, para adquirir a fé, não basta apenas ler a Bíblia, é necessário ouvi-la com o coração aberto e disposto a aprender. Em Provérbio de Salomão 2.1-5, ele diz: “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, 2 para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao entendimento, 3 e, se clamares por entendimento, e por inteligência alçares a tua voz, 4 se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, 5 então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus.”

Esta passagem nos ensina as condições que precisam ser cumpridas quando tentamos nos aproximar de Deus. Salomão nos apresenta quatro requisitos que devem ser cumpridos, estes são: 1. Ouvir a Palavra de Deus e guardar seus mandamentos; 3. inclinar o nosso coração ao entendimento; 3. clamar por entendimento; 4. e buscar como a tesouros escondidos. 

IV. A REJEIÇÃO DE ISRAEL 

1. A mensagem foi ouvida por toda Terra (v. 18). O apóstolo vem agora para responder as perguntas que fez nos versículos anteriores. “Mas digo: Porventura, não ouviram?” A Igreja deve assumir o papel evangelizadora. O evangelho deve ser pregado “por todo o mundo”. “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).

A Igreja foi eleita antes da fundação do mundo para louvor de Sua glória (Ef 1.4-6). Ela assumiu o sacerdócio universal. O sacerdócio universal era para ser cumprido por meio de Israel, entre as nações (Êx 19.5-6), mas foi negligente, o papel era especial, e Deus já havia revelado ao patriarca Abraão (Gn 12,1-3), pois por este sacerdócio, todas as famílias da Terra seriam abençoadas. Por causa deste desleixo, o propósito foi mudado. Então Deus escolheu a Igreja (gentios) para executar este sacerdócio entre as nações (At 1.8), até a obediência de Israel no tempo do fim.

“Eles não ouviram?” O apóstolo afirma fortemente que sim, eles ouviram. A palavra “eles”, neste lugar, tomo para me referir aos gentios. Judeus e gregos que ouviram o chamado (Mt 11.28), fazem parte da Igreja evangelizadora. “Pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo.” Paulo cita o Salmo 119.4, onde o salmista declara que eles declaram ou proclama o poder de Deus por toda a Terra. 

2. Israel não compreendeu (vs. 19-20). O que Israel deixou de ser antes (Êx 19.5-6), a saber, uma nação santa sacerdotal, Deus O cumpriu por intermédio de Cristo Jesus (Hb 5.1-10) e pela Igreja (1ª Pe 2.9; At 1.8). Israel não entendeu o chamado, então Deus escolheu aqueles que não são povo para ser Seu povo.

Israel não sabia? “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho.” (Hb 1.1). Os judeus não tinham motivo para não crer, pois eles ouviram os profetas, e “nestes últimos dias” o Messias lhe fora enviado. Paulo mostrou a eles que o profeta Isaías disse: “Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” (Is 65.1). Portanto, eles não são inescusáveis diante de Deus (Rm 2.1). 

3. Deus estendeu as mãos a um povo desobediente (v. 21). Romanos 10.14 a 21, o apóstolo explica que, apesar de ouvir e compreender o evangelho, Israel continua a desobedecer. Eles se mostraram rebeldes e esqueceram de Deus. Portanto, não devem se admirar que Deus tenha oferecido a salvação aos gentios.

CONCLUSÃO

Para os judeus que procuravam ser justificados pela lei, a justiça ficou fora de seu alcance (Rm 9.31). Mas em Cristo, a justiça chega perto e pode ser alcançada pela fé. Paulo deseja a salvação dos israelitas, mas entende que é possível somente por meio de Jesus. (Mc 16.16).

Pr. Elias Ribas - Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC