TEOLOGIA EM FOCO

terça-feira, 6 de agosto de 2024

A LIBERDADE CRISTÃ ROMANOS 7

 


Romanos 7.1-25 “Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? 2 Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. 3 De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for doutro marido. 4 Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. 5 Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. 6 Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra. 7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão peia lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. 8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado. 9 E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; 10 e o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. 11 Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. 12 Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. 13 Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno. 14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. 15 Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço. 16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. 19 Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. 20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. 21 Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. 22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. 23 Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. 24 Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 25 Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.” 

INTRODUÇÃO No capítulo 6, encontramos a ilustração da liberdade do pecado na figura do escravo e seu senhor. Este capítulo trata a respeito da libertação da lei. Para que seus leitores compreendessem o assunto, Paulo faz uma analogia sobre a lei e o casamento. Ele usa essa imagem para mostrar que a lei tem poder sobre a pessoa apenas enquanto ele está vivo. Uma vez morrendo para lei por meio de Cristo Jesus, estamos livres para servir a Deus. 

I. A LEI DE MOISÉS 

1. Definição. A palavra Tora do hebraico תּוֹרָה, significando Lei, instrução, orientação, conjunto de ensino profético ou doutrina. É o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh também chamados de Hamisha Humshei Torah, mas o termo Torá é aplicado igualmente ao Antigo Testamento como um todo.

A Torá possui 613 mandamentos (mitzov). A Lei de Deus é invariável e Eterna devido a sua origem Divina. 

2. A lei de Moisés. Na Bíblia, ao referir à lei de Moisés, para os judeus não se acha a distinção de lei “moral”, “cerimonial” ou “civil” mas somente: “Lei”, “Lei do Senhor” e “Lei de Moisés”. Nisso podemos entender que o Decálogo é só uma parte da Lei e não a sua totalidade.

É claro que o Decálogo tem as partes morais, cerimônias e civis. Essas partes, em si, não são distinguidas como sendo maior ou menor da “lei” mas, a própria lei. A parte cerimonial (sacrifícios) é chamada “lei” (Lc 2.27). A parte moral é chamada “lei” (1ª Tm 1.9). A parte civil é chamada “lei” (At 23.3).

Os judeus definem a Lei de Moisés como a expressão máxima da vontade de Deus. 

3. O que é aplicável aos nossos dias? A lei cerimonial já não se aplica mais. As leis civis se aplicam em princípios, mas não segundo o culturalismo hebraico da época. As leis morais continuam em vigor. Outro aspecto da lei veterotestamentária é que todas as leis se achavam no contexto da aliança que Deus tinha feito com Israel no monte Sinai. A função da lei era administrar ou superintender a aliança. 

4. Preceito moral fora do Decálogo. Há princípios que são imutáveis e universais. Não há para eles a questão de transculturação. Onde quer que o Evangelho for pregado tais princípios fazem-se presentes; são preceitos morais e éticos.

Os dois maiores mandamentos são preceitos morais (Mc 12.29-31). Entretanto, não constam no Decálogo; é uma combinação de Deuteronômio 6.4-5 com Levítico 19.18. Por outro lado, encontramos no Decálogo o quarto mandamento, que não é preceito moral. Jesus disse que o sacerdote podia violar o sábado e ficar sem culpa (Mt 12.5). 

5. Jesus e a Lei de Moisés (Mt 5.17,18). A lei não é contrária às promessas de Deus, mas foi adicionada por Deus devido às transgressões dos homens. A promessa foi feita a Abraão e a lei por Moisés, e a graça por Cristo. (Jo 1.17).

A nossa fé está baseada na lei de Cristo, que representa a graça de Deus em favor do homem caído, garantindo a nossa salvação. As leis e as cerimônias do Antigo Testamento, não foram capazes de salvar ninguém, conforme o Concílio Apostólico em At 15.11: “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram”. A lei estabelece a justificação pela fé, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (H 11.6) A fé estabelece a lei, pois em Cristo cumprimos a lei. 

II. A LEI E A ANALOGIA DO CASAMENTO 

1. A metáfora do casamento (v. 1-3). Os cristãos em Roma entendiam que a lei tinha domínio sobre eles por toda a vida. Por isso a liberdade da lei é ilustrada em termos da relação entre a esposa e seu marido. Paulo explica que enquanto o marido viver, a mulher está obrigada a ser fiel a ele. Mas morrendo o marido a viúva está livre da lei do marido para se casar com outro. Assim a lei tem domínio sobre o homem enquanto este viver, ou seja, assim como a morte dissolve o vínculo entre o marido e esposa, a morte do crente com Cristo rompe o jugo da lei. Ele está livre para unir-se com Cristo.

2. Mortos para a lei (vs. 4). O cristão ao morrer para o pecado e para a lei, é livre da lei e do pecado (Gl 5.1). Depois da morte do velho homem, a pessoa fica livre para entrar em um relacionamento com outro, o Cristo ressurreto. A morte liberta da vida anterior e de suas servidões. Agora, Cristo o novo marido, não morre (Rm 6.9), portanto, a nova união nunca mais será dissolvida. Da mesma forma que o liberto pertence ao seu novo Senhor, assim também o “novo ser” ressuscitado em Cristo não vive mais para si mesmo, mas para Cristo e para Deus (Gl 2.20). 

3. A caduquice da Lei (vs. 5-7). Neste verso 5 o apóstolo explica que a lei é um instrumento do “pecado e da morte” para aquele que vive “as paixões dos pecados, que são pela lei”. A lei, nesse caso, é a lei mosaica, que Deus entregou para que seu povo seguisse.

As paixões dos pecados dominam o velho homem e geravam este fruto para a morte. Ao morrermos com Cristo, nos livramos do poder que o pecado exercia sobre nós, tal qual a mulher se livra da obrigação com o marido na morte dele.

Mas, agora, estamos livres do pecado e da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na caduquice da letra. 

4. A lei do Espírito. O novo convertido muda de caminho e segue agora a lei do Espírito de vida, que opera na vida do crente. O Espírito entra no crente e o liberta do poder do pecado (Rm 7.23). A lei do Espírito entra em plena operação, à medida que os que creem se comprometem a obedecer ao Espírito Santo (vs. 4, 5, 13-14). Descobrem que um novo poder opera dentro deles; poder este que os capacita a vencer o pecado. A “lei do pecado e da morte”, neste versículo, é o poder dominante do pecado, que faz da pessoa uma escrava do pecado (Rm 7.14), reduzindo-a à miséria (Rm 7.24). 

III. A FUNÇÃO DA LEI 

1. A lei é pecado? (V. 7-8). Evidentemente que não. O culpado é a carne que se utilizou da Lei. Paulo vai dizer que: “Eu conheci o pecado pela lei”. (v. 7). Isto é, a lei nos deu consciência real de nosso pecado, nos fazendo sentir culpado. 

2. A lei veio revelar o pecado (v. 7). “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei...”. Paulo se refere quando era criança, mas quando se tornou adulto e conheceu a lei e o pecado eu morri. A lei não é pecado, mas ela veio revelar o pecado, isto é, tornar o pecado conhecido. Dos dez mandamentos, o apóstolo tomou o último: “Não cobiçarás” (Êx 20.17). 

3. A lei veio provocar o pecado (v. 8-9). Paulo explica que o conhecimento da lei, que foi confiado ao judeu, não lhe permitia viver de acordo com os preceitos divino. Somente o poder do Espírito Santo capacita à vida nova.

A lei traz a consciência do pecado (8-9) e é ligada à morte (10-11). Portanto, os legalistas que buscam a vida através da lei, terão que procurar em outra fonte, pois a lei não traz a salvação. 

4. A lei é santa. Pelo mandamento santo e bom, o pecado achou espaço (Gn 3.1-6), e matou o homem por causa da lei (Gn 2.17), que é santa (Rm 7.12).

Paulo nos ensina que o legado da lei é nos mostrar o certo e o errado. Dependendo da nossa atitude podemos agradar a Deus ou não.

Infelizmente há muitos que ensinam que a santificação é o resultado do legalismo. Hoje há muitos que pregam regras humanas, hábitos e costumes como meios para santificação. Assim eram os fariseus nos dias de Jesus; que Deus nos livre desse espírito de religiosidade e legalista. 

5. A lei revela a natureza mortal do pecado (v. 13). Então o que é bom se tornou para mim morte? A culpa da minha morte está na boa lei? De maneira nenhuma. Segundo o apóstolo Tiago ele diz: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15).

A causa da minha morte é o pecado. A concupiscência até parece bom no primeiro momento, mas de pois de consumado o pecado ela nos prende e nos leva a destruição.

Na carta de Paulo aos Gálatas ele pergunta: “por que foi dada a lei? Foi ordenada por causa das transgressões...” (Gl 3.19). Paulo quer dizer que a lei foi escrita para fazer transgressões conhecidas e, dessa maneira, obrigar os homens a reconhecer sua culpa. 

IV. A LUTA INTERNA CONTRA O PECADO 

1. A fraqueza da carne e a espiritualidade da lei (v. 14). Aqui começa o conflito entre homem carnal e o homem interior. Paulo explica como a lei torna nosso corpo escravo do pecado por causa da nossa natureza humana, mesmo conhecendo a lei de Deus que é divina. Quando o homem é carnal vendido ao pecado, ele vive os desejos da carne (Gl 5.19-21), sem se preocupar com o pecado e suas consequências. Porém, quando o homem é espiritual, vive uma guerra entre a carne e o Espírito. “A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis.” (Gl 5.17). 

2. O conflito entre o quere fazer (vs. 15-20). Gálatas 2.20, Paulo diz que está crucificado com Cristo. Mas aqui ele esclarece que tem uma guerra interior. Esse conflito envolve o chamado velho homem, a velha natureza carnal e pecaminosa, voltada sempre para o mal. 

As armas espirituais. Na carta aos Corintos Paulo diz: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas.” (2ª Co 10.4).

Quais as armas da nossa milicia? A Palavra de Deus (2ª Tm 2.15; Ef 6.17); a oração (Ef 6.18); louvor e adoração (2º Crônicas 20.21) e estar em comunhão na casa de Deus (At 2.26).

Na verdade, o pecado nunca vai te abandonar, mas você deve estar revestido com as armas espirituais (Ef 6.10-17), para resistir o diabo. “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” (Tg 4.7). Para vencer essa a natureza pecaminosa, temos que colocar Jesus Cristo em primeiro lugar.

Com as armas espirituais, oração e vigilância você permanece firme. E essa luta só acaba quando partimos para a eternidade. 

3. A dualidade entre a lei interior e a lei do pecado (v. 21-23). Mesmo Paulo tendo profunda intimidade om Deus, tinha uma grande luta travada entre a carne e o espírito. Da mesma forma acontece com todos nós cristão que já entregaram as suas vidas nas mãos de Deus vivemos esta luta interior. 

A lei é boa (v. 16). A uma forte influência do pecado na vida do apóstolo porque, o pecado também habita nele (vs. 17, 20).

A maldade que exerce em nosso íntimo nos leva ao pecado, mesmo a lei sendo “santa, justa e boa”, não pode nos livrar desta situação. Mesmo quando somos rebelde e desobediente, o Espírito Santo revela a essencial bondade da lei. 

“não sou mais eu quem o faz (v. 17). A lei moral na mente de Paulo batalha contra a lei do pecado. “De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.” (v. 17). Paulo está dizendo que na sua carne não existe bem algum por causa do poder do pecado que é a desobediência.

Em primeiro momento parece que Paulo sede ao pecado: “mas o mal que não quero, esse faço.” Mas quando recorremos a outros textos ele esclarece que não. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.” (Rm 8.1). Andar segundo o Espírito é produzir o fruto do Espírito. E uma parte desse fruto é a “temperança” ou o domínio próprio. (Gl 5.22) que é o autocontrole, a renúncia e a moderação.

Nós temos o desejo de fazer o bem, mas não conseguimos fazê-lo, porque a nossa carne é pecaminosa. O bem que desejamos fazer é o desejo do homem regenerado, que decidiu servir a Deus e tem um coração voltado para Ele, mas a carne tem desejo contrário, e é terrena.

Nessa luta interior, muitos desistem e se entregam ao pecado, ao domínio do mal. Se você quer abandonar os desejos carnais, então, precisa aprender a guerrear. Portanto, não desista nunca, pois, “Aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo” (Mc 13.13), mas “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo.” (1ª Jo 2.1). 

4. O clamor não é um grito de desespero (24-25). Paulo reconhece sua miséria e faz a seguinte pergunta: “Quem me livrará do corpo desta morte?” Então ele encontra a solução e dá graças a Deus por causa de Jesus, que é nossa escolha. O livramento vem, não do esforço legalista, mas mediante a lei de Cristo. “Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à Lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.” (V.25). Paulo conclui que o problema não é a Lei; o problema é a carne. 

CONCLUSÃO. Mesmo o cristão vivendo debaixo da graça experimenta o conflito entre sua antiga natureza e sua nova vida em Cristo.

Aprendemos com Paulo que através do evangelho ele se tornou um homem mudado e teve poder sobre o pecado, que antes ele não tinha. O poder do Espírito Santo nos capacita para se alcançar a justiça em Cristo Jesus.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

SANTIFICAÇÃO UMA NOVA MANEIRA DE VIVER - ROMANOS 6

 

Romanos 6.1-23 “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? 2 De modo nenhum! Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? 3 Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? 4 De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. 5 Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; 6 sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado. 7 Porque aquele que está morto está justificado do pecado. 8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; 9 sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. 10 Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. 11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. 12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; 13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. 14 Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. 15 Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum! 16 Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? 17 Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. 18 E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. 19 Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. 20 Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. 21 E que fruto tínheis, então, das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. 22 Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e pôr fim a vida eterna. 23 Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor.” 

INTRODUÇÃO. Já sabemos que o homem é salvo pela graça sem as obras da lei (Rm 3.20,24). No capítulo 6, Paulo nos conduz a um pensamento profundo sobre a nova vida em Cristo. Ele ensina que a nova vida cristã requer santidade e um coração puro. 

I. NOVA VIDA EM CRISTO 

1. O cristão e o pecado vs. 1-2. Paulo escreve este capítulo para esclarecer uma interpretação errônea. Ele se preocupava com o fato do pecado estar presente na vida dos cristãos. Ele apresenta um problema que pode surgir dependendo da interpretação da nova posição diante de Deus. Se a salvação é pela fé, então cada um pode fazer o que quer e andar como quiser? O apóstolo responde: “de modo nenhum. Ele ensina que após a justificação, o salvo: deve morrer para o pecado e ocupar uma nova posição diante de Deus, andando em novidade de vida. 

2. A união com Cristo na sua morte e ressureição vs. 3-5. Paulo faz uma analogia entre o batismo e a morte de Cristo. Quando o cristão é submergido morre para o pecado, quando ele sai das águas ele é justificado e reconciliado com Deus. O ato do batismo significa uma nova posição com Cristo. É um símbolo da união espiritual de Cristo com o cristão. Assim como Cristo morreu e ressuscitou, da mesma forma o crente morre para o mundo e renasce para Cristo. O batismo é uma a nossa identificação na morte de Cristo Jesus, e, “se um morreu por todos, logo todos morreram.” (2ª Co 5.14). 

3. O velho homem crucificado com Cristo vs. 6-7. O cristão que nasce de novo está morto para o mundo, isto é, ele crucifica sua carne quando se torna de Cristo, para que o Espírito possa produzir nele, “o fruto do Espírito” (Gl 5.22). Observe que Paulo diz: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” (Gl 5.24). Se seu corpo está crucificado ela não pode mais ter domínio sobre sua vida. “Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Rm 6.7).

Um homem morto não ouve nada, não vê nada, e nada o afeta ao seu redor. Aos Gálatas 2.19-20, Paulo vai dizer que: “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.

Observe, quando você nasce de novo, já nasce crucificado com Cristo. E se realmente nasceu de novo, é Cristo que vive em você e a sua vida agora é pautada pela fé em Cristo Jesus. 

4. Vivos para Cristo 8-11. Paulo expressa uma certeza dizendo: “se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.” (Rm 6.8). Mortos para um mundo de pecado, para viver uma nova vida em santificação, até que nossa salvação seja completa.

Cristo sendo a primícia dos mortos, a morte não tem poder sobre Ele, assim também o cristão, pois Jesus afirma dizendo: “aquele que vive e crê em mim nunca morrerá.” (Jo 11.26).

O que Jesus quis dizer “nunca morrerá.” De fato, Ele nos ensina que a morte não tem domínio sobre nós, o corpo pode morrer, mas o nosso espirito vai para a eternidade sem ver o espírito da morte. Por conta da morte e ressurreição de Cristo, seus seguidores não precisam jamais temer a morte. 

II. UMA VIDA DE SANTIDADE 

1. O significado do terno. A palavra santificação é substantivo grego hagiasmos, do verbo hagios e no hebraico קדש - qadosh, é mais aplicado para se referir à santificação e santidade. É o estado de pureza; o ato de consagrar ao Senhor. Portanto, a santificação envolve a separação ao mundo e a sua completa dedicação ao serviço de Deus (2ª Tm 2.21). 

1.1. Santo é a separação do pecado. Mas o que é pecado? “Do hebraico hattah; do grego hamartios; do latim peccatum e significa: erro, iniquidade, transgressão, corrupção, maldade, fazer mal, ofender, impiedade, engano, sedução, rebelião, violência, perversão, orgulho, malícia, concupiscência, imoralidade, injustiça etc. Muitos desses termos, e outros similares, estão na sombria lista apresentada pelo apóstolo Paulo (Rm 1.29-32; Gl 5.19-21).

Deus é santo (Lv 19.2) e ordena que sejamos santos (1ª Pe 1.16). Sem santificação ninguém verá a Deus (Hb 12.14).

1.2. As três áreas que o pecado atinge no ser humano. 1ª João 2.16 “Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede de Pai, mas procede do mundo”.

Quando nos tornamos cristãos, pode ser difícil, a princípio, discernir o que é certo e o que é errado. Porém, a Palavra de Deus é luz para nosso caminho (Sl 119.105), por isso o salmista disse: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” (Sl 119.11). Quando meditamos as Sagradas Escrituras, o Espírito Santo ilumina nossa mente para não pecarmos. 

2. Não permitir que o pecado reine no corpo mortal 11-12. Ainda que o salvo em Cristo tenha morrido para o pecado, a influência do pecado ainda está presente no corpo mortal. A diferença que o pecado não tem mais domínio sobre ele. Ainda somos escravos, mas agora temos um novo Rei, Jesus Cristo. (1ª Jo 1.8).

Na carta aos Tessalonicenses Paulo instrui a se prepararem inteiramente para servirem a Deus, dizendo: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1ª Ts 5.23). 

3. Oferecer-se a Deus como instrumento de justiça. O cristão do novo reino não deve mais apresentar o seu corpo como instrumento para o pecado. Nós cristãos estamos unidos a Cristo (1ª Jo 15.5), é abominável levar os membros de Cristo e sujeitá-los ao pecado, porque somos agora, “membros do corpo de Cristo, e nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos.” (1ª Co 6.15-17). “Portanto devemos apresentar o nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional.” (Rm 12.1). 

4. O domínio da graça sobre o pecado - v. 14. “Pois não estais debaixo da Lei.” Isto é, o cristão agora não está sob a lei do pecado. Apenas sob a Lei de Deus, que é imutável (Rm 3.31; 13.8-10). O pecado estará sempre em nossa frente para nos incitar, no entanto, não terá domínio sobre o verdadeiro cristão.

Nos versículos 1-2, Paulo argumenta dizendo que: “de modo nenhum devemos permanecer no pecado para que a graça seja mais abundante”, porque o cristão está morto para o pecado. Portanto, ao reconhecer que seu pecado merece pena de morte, jamais ele deve dar liberdade para o pecado. 

III. ESCRAVOS DA JUSTIÇA 

1. A liberdade e o pecado – v. 15. Não debaixo da lei como meio de salvação. A lei revela o pecado (3.20). A lei foi dada por Moisés para revelar o quanto o homem é pecador e merecedor de condenação. Por isso, os israelitas da Antiga Aliança deveriam cumprir a lei com base em obras, que incluíam as festas anuais (Páscoa, Tabernáculos e Pentecostes), sacrifícios de animais e a dependência do ministério dos sacerdotes levíticos.

A graça não anula a lei moral de Deus. A graça e a lei não se contradizem, na verdade, elas se complementam mutuamente. Porém a graça está acima da lei. Paulo explica que se o cristão não está sob a lei, que proíbe todos os pecados, mas está sob a graça, que perdoa o pecado. Portanto, “estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.” (Gl 5.1).

A nossa liberdade baseia na redenção de Cristo, e não mais na lei e sua maldição que exigia a pena de morte. Agora, portanto, estamos livres em Cristo Jesus. Mas essa liberdade não nos dá o direito de pecar. O pecado nos escraviza assim como a lei). Portanto, “não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13). 

2. Escravos da justiça - vs. 16-18. Nos versos 15-23, Paulo faz uma comparação entre a redenção e o mercado de escravos tão conhecido nos tempos do NT. Na verdade, o escravo em si, está sob a obrigação de servir o seu senhor até a morte. Mas uma vez morto, o dono não consegue mandar mais nele. É igual com o cristão, ou seja, o crente quando morre para o pecado, ele não tem mais domínio sobre ele.

Para explicar melhor esse ponto, Paulo compara o pecado a um senhor, ou amo, que paga um salário. Assim como o trabalhador sabe que vai receber um salário por causa do seu trabalho, os humanos sabem que vão morrer por causa da sua imperfeição.

Nós devemos oferecer o nosso corpo como escravo da Justiça, mas isto não significa que a carne é perfeita. Nós devemos oferecer os nossos membros para as obras justas sempre, apesar de a nossa carne possuir a tendência de fazer o que a agrada. Nós normalmente vamos por um caminho conhecido, mas isso depende de a quem oferecemos o nosso corpo como escravo. 

3. O fruto da santificação – 20-22. Apesar de nosso coração estar santificado, a influência do pecado age na nossa mente. Todavia, pela graça, deixamos de ser dominados pelo pecado, para nos tornarmos servos que se submetem voluntariamente à justiça de Cristo.

Na verdade, a vida cristã é uma luta diária contra o próprio eu, que é a maior de todas as batalhas. A pessoa deve se submeter ao senhorio de Cristo e produzir fruto de santificação. O cristão é salvo para produzir fruto de santificação. 

4. O salário do pecado e o dom de Deus vs. 23. O termo grego original para salário é ὀψώνιον opsonion, e se refere ao pagamento de um soldado durante o Império Romano.

Paulo estabelece um contraste direto entre o salário do pecado e o dom gratuito de Deus.

Quando Adão desobedeceu a ordem divina: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17), com essa afirmação compreende não apenas a morte física, mas principalmente a morte espiritual. Essa morte espiritual é basicamente a perda da comunhão com Deus e condenação eterna.

O apostolo relata que o pecado leva à morte, mas Deus oferece a vida através de Jesus Cristo. Há dois caminhos e dois destinos (Mt 7.13-14), vida ou morte (Dt 30.19). 

CONCLUSÃO. O brado da reforma protestante de Sola Scriptura, Sola Gracia, Solo Cristus e Sola Fides, somos lembrados da importância de retornar sempre às Escrituras como nossa autoridade suprema, confiando unicamente na graça de Deus manifestada em Cristo Jesus.

Essa doutrina, porém, mostra que não somos servos da lei, mas servos voluntários de Cristo. Somos livres do pecado para servir à justiça de Deus (Rm 6.18).

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

segunda-feira, 29 de julho de 2024

AS BÊNÇÃOS DA JUSTIFICAÇÃO EM CRISTO JESUS - ROMANOS 5

 


Romanos 5.1-21. “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; 2 pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. 3 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; 4 e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. 5 E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6 Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. 7 Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. 9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. 10 Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. 11 E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação. 12 Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. 13 Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. 14 No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. 15 Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. 16 E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou; porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. 17 Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. 18 Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. 19 Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos. 20 Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; 21 para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor.” 

INTRODUÇÃO No capítulo 4 de romanos, Paulo explicou sobre a doutrina justificação pela fé sem as obras, agora no capítulo 5, ele enfoca os benefícios da justificação pela fé em Jesus Cristo.

Os capítulos 5 a 8 de Romanos registram os privilégios dos que são justificados pela fé: paz com Deus (Rm 5): união com Cristo (Rm 6); libertação da lei (Rm 7) e vida abundante no Espírito (Rm 8). 

I. FRUTOS DA JUSTIFICAÇÃO 

1. Paz com Deus (v. 1). A palavra paz no hebraico é shalom, e a grega, eirene, que significa “completo”. Essa palavra descreve a harmonia integridade, saúde e bem-estar entre a humanidade e toda a criação de Deus. No dicionário Aurélio significa: tranquilidade, sossego, descanso da alma.

Pela desobediência de Adão o pecado entrou no mundo, e pelo pecado, a morte. Com a transgressão de Adão, toda a humanidade caiu em pecado e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3.23). O pecado tornou o homem inimigo de Deus (Rm 5.10), pois todos se extraviaram e se fizeram inúteis (Rm 3.10-12), o homem perdeu a paz com Deus. Hoje humanidade busca a paz nas coisas efêmera do mundo, porém não encontra. Mas Deus pelo Seu infinito amor providenciou um meio para trazer novamente a paz aos homens.

A verdadeira paz só pode ser encontrada na pessoa de Jesus Cristo (Jo 14.27; Jo 16.33ª), mediante Sua morte vicária (Hb 13.20). 

2. Temos entrada pela fé a esta graça (v. 2). Além de perdeu a paz, o homem ficou separado e distante de Seu Criador, mas pelo sangue de Cristo, Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava. Agora temos acesso a esta graça. É Cristo quem introduz o pecador à presença de Deus (v. 2), “por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.” 

3. Na qual estamos firmes. “Estamos firmes” como um navio que tem firme acesso para ancorar num porto seguro. Isso significa o efeito contínuo da justificação. 

4. Temos esperança na glória futura. V. 2b “... e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” O crente não precisa ter medo do futuro; não precisa ter medo da eternidade; não precisa ter medo da morte; Morrer é entrar na glória de Cristo.

“Glória de Deus” é o mesmo que a manifestação de Deus. Aqui, é uma expressão que significa o céu, lugar da habitação de Deus e de sua manifestação. 

II. O SOFRIMENTO 

1. O que significa tribulação. A palavra tribulação no grego βάσανο basano e significa: aflição, sofrimento, dissabor, provação. Pressão opressão, debaixo de um peso.

A palavra tribulação no latim é “tribulum”. O “tribulum” era um instrumento de madeira coberto de cravos usado pelos agricultores para, por exemplo, separar a palha do milho. Com força o agricultor batia a espiga no “tribulum” até separar completamente a palha ou a casca do grão. Assim as nossas aflições tribulum, é como o agricultor estivesse passando o tribulum sobre nós.

Existe propósito nas tribulações, e o resultado é benéfico para todo aquele que persevera em fé na confiança de Cristo, pois o caráter cristão é produzido em meio aos sofrimentos.

Quando Paulo pede ao Senhor para lhe tirar um espinho na carne que lhe afligia, o Senhor lhe responde: “o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2ª Co 12.9). Com isso aprendemos que é o poder de Cristo e não o poder humano, ou seja, a suficiência da graça de Deus e seu caráter independente da força humana que nos fortalece.

Na tribulação não temos controle da situação, não podemos fazer nada para alterar este momento. Não sabemos de onde vem o vento. O Mestre Jesus nos ensina dizendo que “aquele escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” (Mt 7.24-25). Se você estiver firmado na Rocha, nada te acontece, a tempestade vem e passa. 

1.1. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações. “Gloriamos” revela o regozijo e o gozo inefável do crente como antecipação das bênçãos futuras. O quadro glorioso registrado nos versículos 1 e 2 não significa uma vida totalmente isenta de tribulações. Jesus disse: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Mc 8.34).

1.2. As tribulações tem uma a finalidade. Aprender os mandamentos do Senhor. Sl 119.71 “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.” 

2. A tribulação produz paciência V. 3. A palavra paciência, no grego, é υπομένη hypomene, que vem de duas palavras gregas hypo, “sob” e o verbo meno, “permanecer”. O referido vocábulo significa: “paciência, perseverança, firmeza, fortaleza”.

As tribulações desta vida são as batalhas espirituais, aflições do dia, enfermidade, altos e baixos da vida. Jesus disse: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (Jo 16.33). É difícil para o homem sem Deus entender como um crente em aflição consegue ter paz, porque Ele não conhece o príncipe da paz. (Is 9.6).

As promessas do Senhor para os seus filhos é que Ele está conosco nos momentos mais difíceis da nova vida: “Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” (Is 43.2). 

3. A paciência produz a experiência (v. 4a). A palavra experiência no grego εμπειρία empeiria e significa: conhecimento ou aprendizado obtido através da prática ou da vivência: experiência de vida; experiência de trabalho.

A experiência é o aprendizado ou amadurecimento em nossa caminhada de fé. A paciência nas perseguições torna o cristão aprovado e vitorioso (2ª Ts 1.4,5). As tribulações trazem experiência, e, essa experiência te leva mais perto de Deus. 

4. A experiência produz a esperança (vs. 4b). Paulo conclui falando do último degrau começando com a tribulação e encerra dizendo que a experiência produz a esperança. Na verdade, a experiência é o resultado da perseverança.

“A palavra “esperança” em hebraico é תקווה tiqvah. Vem do verbo hebraico gavah que significa: “Olhar esperançosamente em uma direção particular” ou “esticar uma corda” (Strong 08615). Essa foi a esperança realizada na vida de Raabe (Js 2.18-21) e que aparece cerca de 33 vezes somente no Antigo Testamento. Esperança era o cordão na cor vermelha esticado na porta da casa de Raabe, para livrar a ela e a toda família da morte. E em acordo com a afirmação de que Jesus era a esperança tanto dos antigos, como das novas gerações, Ele é essa Tiqvah na porta da casa de Raabe em semelhança ao sangue espargido na entrada das tendas dos israelitas ao serem resgatados da servidão do Egito: Êxodo 12.13 “O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito.” Profeta Oseias confessou olhar atentamente para Deus a espera de um resgate para nação de Israel. É linda a oração desse profeta cheio de esperança: “E lhe darei as suas vinhas dali e o Vale de Acor por porta de esperança; e ali cantará como nos dias de sua mocidade, e como no dia em que subiu do Egito” Oseias 2.15.” [Blog: A Tenda da Rocha https://www.atendanarocha.com/2013/07/tres-significados-biblicos-para.html – acesso dia 26/07/2024].

A palavra esperança no grego é ελπίδα, designava a atitude de quem espera ou aguarda qualquer acontecimento. É uma firme convicção, uma expectativa confiante de que coisas boas estão vindo da parte de Deus. A esperança bíblica é expectativa e confiante pelo qual a Igreja aguarda a volta de Cristo. 

IV. A RECONCILIAÇÃO DOS PECADORES

1. O amor de Deus. No grego tem várias palavras que são traduzidas como amor.

1. Eros, o amor romântico, afetivo, de relacionamento íntimo.

2. Filos, o amor fraterno, de irmão e de amigos.

3. Storge. É o amor conjugal, familiar, doméstico. Longe de ser interesseiro, esse amor é humilde, objetivo e sacrificial. É o amor que une o marido à sua mulher bem como os pais aos filhos. Logo, em um lar onde reina a harmonia, está em ação o amor “storge”.

4. Ágape, é o amor Deus pela humanidade. Esse amor é incondicional. Ou seja, não espera nada em troca. Não preciso esperar que alguém me ame para amá-lo. Aliás, com esse amor é possível amarmos até os nossos inimigos (Mt 5.44). Ele também é infalível e eterno, (1ª Co 13.8,13). Portanto, esse amor é baseado em fidelidade, bondade, perdão, paciência, tolerância, e boa vontade.

Quando nos tornamos crentes, sabemos que Deus nos amou com um tipo especial de amor incondicional. Seu amor por nós não se baseia em nada que fizemos, mas flui de quem Deus é, porque “enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5.9). 

2. Deus prova Seu amor. Paulo expressa três coisas que nós éramos no passado. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. V. 8 “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. 10 Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” Rm 5.6,8,10).

O apóstolo relata o sacrifício de Cristo estando nós “fracos”, “ímpios” e pecadores”, isso demonstra o grande amor de Deus por nós, pois, raramente o justo morreria pelo injusto. (Jo 3.16; Jo 15.9-10). Portanto Deus provou Seu grande amor quando enviou o Seu Filho, Jesus Cristo, para morrer e salvar todo a humanidade pecadora. (Jo 3.16; 1ª Jo 2.2).

Para a Igreja de coríntios Paulo expressa dizendo: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.” (2ª Co 5.14).

Observe Jesus não se entregou por homens justos e bons. Ele Se sacrificou por pecadores, por inimigos, por pessoas que rejeitaram Sua vontade e orgulhosamente escolheram o pecado.

O apóstolo João relata que o amor de Deus é sem motivo: “Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1ª Jo 4.10).

O amor filo entre duas pessoas é despertado por alguma coisa encontrado entre si, isto é, porque escolheram a se amar, mas o amor divino é voluntário e espontâneo não provocado. É por isso que João vai dizer que Deus nos amou primeiro (1ª Jo 4.19). O Senhor nos amou n’Ele no amado, antes da fundação do mundo (Ef 1.4, 6).

O homem havia quebrado a lei divina, sua natureza estava completamente corrompida e estávamos destinados a condenação eterna, mesmo assim Ele nos amou enviando Jesus para nos salvar. Esse amor tem a natureza da graça e da misericórdia. Deus não viu nada em nós que o atraia, ou qualquer merecimento. 

3. Deus é amor, mas odeia o pecado (Pv 15.9). Deus criou o homem com amor e cuidado (Gn 2.27), mas Ele odeia o mal e não tolera o pecado (Gn 3.1-6).

Na verdade, o pecador está morto em seus pecados (Ef 2.1). “Os pensamentos e desígnios de seu coração são continuamente maus” (Gn 6.5). Ele é escravo do pecado (Jo 8.34) e um servo do diabo (Ef 2.2).

“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu filho...” (Jo 3.16), “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (2ª Pe 3.9), e “não tem prazer na morte o ímpio” (Ez 33.1). Isso significa que é um amor de boa vontade ou benevolente. Entenda que Deus faz o bem a todos: “porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” (Mt 5.45).

Na verdade Deus só pode salvar o pecador que se converte e se arrepende de seus pecados.” (At 3.19). O amor é benevolente para o pecador arrependido, ou seja, “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 3.16). Mas, quem não crer em Jesus como Seu único salvador, e permanece em seus pecados, de fato Ele tem ódio: “Aborreço-os com ódio completo; tenho-os por inimigos.” (Sl 139.22). 

4. Reconciliação (v. 11). O termo reconciliação vem do grego καταλλασσω katallasso, e significa mudar de inimizade para amizade e só aparece quatro vezes no Novo Testamento.

O pecado ofende a Deus, por isso o pecador não pode sair ileso. Deus exigiu sacrifício (Gn 3.15), porém o homem era incapaz se salvar ele mesmo. Sendo assim o Pai enviou o Seu único Filho para reconciliar e salvar a humanidade. No verso 10 Paulo afirma que nós sendo inimigos de Deus, fomos reconciliados pela morte de Cristo, um único sacrifício ele resolveu o problema do pecado (Hb 10.10).

No verso 2, Paulo fala da alegria nas tribulações e na esperança da glória de Deus. Agora ele acrescenta que nos regozijamos no próprio Deus por ter derramado o Seu amor em nosso favor, derrubando a parede de separação que existia entre nós e Deus (Ef 2.14), “e, pela cruz, reconciliou ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” (Ef 2.16) e nos deu o ministério da reconciliação. (2ª Co 5.18-20). 

V. A MORTE DE CRISTO PELOS PECADORES 

1. A entrada do pecado no mundo. (v. 12). Paulo conclui esse capítulo fazendo uma analogia entre dois Adãos. O primeiro Adão do Éden e da queda e o segundo Adão, do céu e da cruz, Jesus Cristo. Adão e Cristo representando duas humanidades: a velha e a nova. Adão, sendo o responsável pelo pecado e morte a obra expiatória de Cristo, vida e salvação.

A expressão “um só homem” (Adão ou Cristo) ao longo de toda a passagem (vs. 12, 15-17,19) indica que ele via tanto Adão quanto Cristo como indivíduos históricos.

O apóstolo relata que o pecado e a morte estão no mundo através de um homem Adão. Assim a morte entrou no mundo por causa do pecado. A morte é a penalidade do pecado e pelo pecado de Adão toda humanidade pecou, ou seja, herdamos a natureza do pecado. 

2. A lei estava no pecado. Mesmo antes da Lei de Moisés já havia pecado. Evidentemente a morte reinou após o pecado original. A lei não deve ser entendida como o criador do pecado, mas como o revelador do pecado (v. 13).

No Éden Deus ordenou: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn 2.16-17).

No Éden havia apenas um mandamento: não comer da “arvore da ciência do bem e do mal.”

Quando Adão e Eva foram colocados no Éden, não havia morte. Por terem transgredido esse mandamento e comido do fruto proibido, foram separados do Criador e sofreram a morte espiritual e também se tornaram mortais, ou seja, sujeitos à morte física. Essa morte espiritual e física é chamada de Queda ou pecado original.

No verso 13, Paulo afirma que o pecado já existia, mesmo sem o conhecimento da lei. O pecado já estava no mundo. Portanto, antes de Moisés, não havia uma lei escrita em detalhes de modo a fornecer uma regra unificada e clara e um guia para Israel como nação. Embora o pecado não fosse levado em conta por não existir a lei, a morte tinha reinado desde o princípio. 

3. Por um homem vieram o pecado e a morte; por um homem também veio a graça.

Todas as pessoas agora nascem espiritualmente mortas (Ef 2.1-3). Mediante a morte de Cristo, foi removida a barreira do pecado e aberto um caminho para a volta do pecador a Deus (2ª Co 5.19; Rm 5.25).

Se pelo pecado de um só homem veio o julgamento que trouxe a condenação, também por intermédio de um só homem, Jesus Cristo, recebemos o dom gratuito que resultou na nossa justificação. 

4. “Para que a ofensa abundasse” (v. 20). A Lei amplificou o pecado. Ela não entrou no mundo para salvar, mas para revelar o pecado.

As leis escritas em pedras por Moisés foram direcionadas para guiar Israel à justiça (Dt 6.24-25). Entretanto, a Lei veio para que aumentasse as faltas da humanidade caída de Adão. Mas “onde o pecado abundou, superabundou a graça.” 

CONCLUSÃO. Se a desobediência de Adão fez com que todos se tornassem pecadores, a obediência de Jesus é a causa da justificação de muitos, a saber de todos os que estão unidos a Ele pela fé. Todos estavam condenados, portanto, agora, todos os que creem encontram a salvação e tem a paz com o Pai.

Pr. Elias Ribas - Dr. em teologia

Assembleia de Deus

Blumenau -SC

segunda-feira, 22 de julho de 2024

A JUSTIÇA SEM OBRAS - ROMANOS 4

 


Romanos 4.1-16. Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? 2 Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. 3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. 4 Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. 5 Mas, àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. 6 Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: 7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. 8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado. 9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos que a fé foi imputada como justiça a Abraão. 10 Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão. 11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem (estando eles também na incircuncisão, a fim de que também a justiça lhes seja imputada), 12 e fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé de Abraão, nosso pai, que tivera na incircuncisão. 13 Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé. 14 Pois, se os que são da lei são herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é aniquilada. 15 Porque a lei opera a ira; porque onde não há lei também não há transgressão. 16 Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé de Abraão, o qual é pai de todos nós. 17 (como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos e chama as coisas que não são como se já fossem. 18 O qual, em esperança, creu contra a esperança que seria feito pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. 19 E não enfraqueceu na fé, nem atentou para o seu próprio corpo já amortecido (pois era já de quase cem anos), nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. 20 E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus; 21 e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer. 22 Pelo que isso lhe foi também imputado como justiça. 23 Ora, não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta, 24 mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, 25 o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação.” 

INTRODUÇÃO. O tema da Epístola aos Romanos: “O justo viverá da fé” (Rm 1.17) é revelado no capítulo 4 dessa epístola. Agora Paulo vai explicar sobre a fé de Abraão e sua relação com a justificação pela fé.

A doutrina da justificação pela fé não é encontrada apenas no Novo Testamento, mas também no Antigo Testamento. Gênesis 15 fala sobre a promessa de Deus feita a Abraão de que ele seria o pai de uma grande descendência. Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça.

Portanto, esse capítulo é fundamental para entendermos que a verdadeira justiça vem de Deus, através da fé e não por obras. 

I. O PATRIARCA ABRAÃO 

1. A fé de Abraão (v. 1). Deus chamou a Abraão do meio de um povo idolatra. Por meio dele seriam “benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Abraão obedeceu à ordem divina, deixou sua terra, sua parentela e iniciou sua peregrinação à terra prometida.

Abraão estava com 75 anos quando partiu de Harã. Naquela época Abraão não tinha filhos. Ele e sua esposa eram tão velhos que era impossível ter filhos. O patriarca teve que esperar 25 anos para finalmente ter um filho. Abraão creu porque “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11.1). Essa fé em Deus foi-lhe imputada como justiça. Paulo está mostrando que Abraão foi justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras. 

2. Os judeus se orgulhavam de serem chamados filhos de Abraão. Abraão, era pai Isaac e avô de Jacó, é o patriarca do povo israelita. O pacto que Deus fez com Abraão foi passada a todas suas gerações.

No Novo Testamento, Abraão é mencionado como um exemplo de fé: “Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia.” (Hb 11.)

Os judeus citavam Abraão como exemplo da justificação pelas obras Lei, de modo que ele tivesse algo para se gloriar. Mas Paulo diz que não mostrando que Abraão foi justificado pela fé e não tinha de que se gloriar. 

3. Paulo descreve dois tipos básicos de religião. (V. 4-5).

Paulo faz uma analogia dizendo:

3.1. Aquele que vê a salvação como uma recompensa ou salário. Observe que Paulo diz que aquele que trabalha o salário não é considerado como favor, e sim como dívida (v. 4).

3.2. O outro que a vê a salvação como um presente imerecido, graça. 5 Mas, àquele que não trabalha, “porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” (V. 5).

Por que então Paulo diz que somos justificados pela nossa fé? Porque a nossa fé é aquilo que nos apoia é a crença na verdade do evangelho, é o que nos une a Cristo ressuscitado. 

II. O REI DAVI 

Paulo agora vai citar o rei Davi, o maior rei de Israel. No Salmo 32, ele cantou a respeito da bem-aventurança que Deus lhe deu no perdão de seus pecados deliberados;

“o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras”. O verbo imputar é creditar ou lançar na conta de uma pessoa. Deus credita a justiça na conta do pecador. Isto é: Deus considera uma pessoa justa e merecedor de todas de todas as recompensas a que tem direito por causa da fé e não por causa de suas obras.

Aquele que não pecou se fez pecado por nós (2ª Co 5.17), isto é, os nossos pecados foram imputados em Cristo Jesus, por isto Ele sofreu e morreu na cruz (1ª Pd 2.24; 2ª Co 5.21). 

1. A bem-aventurança do perdão (vs. 6,7). O apóstolo aproveitou a oportunidade para citar o Salmo 32, que corresponde ao mesmo contexto. O verbo “imputar” no Salmo 32 é o mesmo de Gn 15.6. “Imputar” é creditar ou lançar na conta de uma pessoa. Deus credita a justiça na conta do pecador. Isto é: Deus “conta” os homens como justos por causa do que creem e não por causa de suas obras. Assim, diante de Deus o cristão, embora pecador na condição humana seja posto na posição (imputado) de justo. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que obtém o perdão de Deus. O perdão é gratuito, depende de o pecador buscar e crer na bondade de Deus.

2. Pecados cobertos. Na antiga Aliança, os sacrifícios no Dia da Expiação o sangue de animais provia uma “cobertura” pelo pecado, e não a remoção do pecado. (Lv 4.1-5.13; 6.4-30; 8.14-17; 16.3-22). Mas, agora na dispensação da graça o sangue de Cristo derramado na cruz, no entanto, é a expiação plena e definitiva que Deus oferece à raça humana; expiação esta que remove o pecado de modo permanente por meio da fé (cf. Hb 10.4, 10, 11). Cristo como sacrifício perfeito (Hb 9.26; 10.5-10) pagou a inteira penalidade dos nossos pecados (Rm 3.25,26; 6.23; Gl 3.13; 2ª Co 5.21) e levou a efeito o sacrifício expiador que afasta a ira de Deus, que nos reconcilia com Ele e que restaura nossa comunhão com Ele (Rm 5.6-11; 2ª Co 5.18,19; 1ª Pe 1.18,19; 1ª Jo 2.2). 

IV. A CIRCUNCISÃO 

1. No Antigo Testamento. A circuncisão é uma espécie de cirurgia que envolve a remoção do prepúcio dos meninos. No Antigo Testamento era uma prática obrigatória para nação israelita, entendida como um rito de purificação e identidade nacional.

Quando Abraão tinha 99 anos de idade, Deus apareceu a ele e o instruiu a circuncidar a si mesmo e todos os membros de sua família. Essa prática, portanto, era um sinal de uma aliança especial entre Deus e o povo de Israel. (Gn 17.11-14). 

2. Novo Testamento. Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm efeito algum, mas sim a fé que atua pelo amor. (Gl 5.6). Na Nova Aliança estabelecida por Cristo, tanto gentios como judeus, estão desobrigados dessa prática (At 15.3-21; Rm 2.29; Cl 2.17). Não faz diferença se um homem é circuncidado ou não. No cristianismo os ritos e cerimônias foram abolidos por Cristo na sua morte, agora o caminho de salvação está aberto para toda a humanidade e a circuncisão não é mais necessária. (Gl 3.2). 

3. Significado da circuncisão de Abraão (vs. 9, 12). Paulo agora argumenta que Abraão é o pai dos judeus, segundo a carne (v. 1), isso significa que a justificação pela fé é só para os judeus? É claro que não! Ele explica dizendo que aqueles que são justificados pela fé são herdeiros da promessa que Deus fez a Abraão, e que essa promessa é cumprida por meio de Jesus Cristo. Ele também observa que a fé é necessária para a salvação, “porque sem fé é impossível agradar a Deus.” (Hb 11.6). 

5. Selo da justiça da fé. Paulo conclui o capítulo dizendo que Abraão recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, “quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem (estando eles também na incircuncisão, a fim de que também a justiça lhes seja imputada)” (v. 11). Observe que Abraão era incircunciso quando creu em Deus e mesmo assim foi justificado pela fé, ou seja, Abraão foi justificado pela fé em Gn 12.1-3; 15:6, e somente 14 anos depois foi instituída a circuncisão (Gn 17.10-13). O selo não é a essência de algo que foi selado, mas a sua confirmação ou aprovação oficial do que se acha escrito. 

CONCLUSÃO. Portanto, não adianta pensar que o fazer boas obras é o que nos levará ao céu. Somos salvos pelo sacrifício vicário que Cristo fez por nós, pagando o preço dos nossos pecados e satisfazendo a justiça de Deus. A nossa fé n’Ele é que nos torna justos diante de Deus. e não dos méritos humanos (Is 64.6)

Pr. Elias Ribas - Dr. em teologia 

Assembleia de Deus

Blumenau -SC

quinta-feira, 18 de julho de 2024

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ EM JESUS CRISTO - ROMANOS 3

 


Romanos 3.21-31 “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas, 22- isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. 23- Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, 24- sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, 25- ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; 26- para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. 27- Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé. 28- Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei. 29- É, porventura, Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. 30- Se Deus é um só, que justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão, 31- anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei.” 

INTRODUÇÃO

No capítulo 4 e 5, a teologia paulina vai tratar da justificação pela fé em Jesus Cristo. Essa doutrina é uma das mais sublimes das Sagradas Escrituras. Assim como a regeneração leva a efeito uma mudança em nossa natureza, a justificação modifica a nossa situação diante de Deus. Ela não é apenas uma consequência da Obra de Cristo a nosso favor, mas um tema doutrinário central na Salvação e fundamental para a essência do cristianismo. 

I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA JUSTIFICAÇÃO 

A palavra justificação no grego δικαίωσις. “dikaiosis”, significa “declarar justo” o pecador diante de Deus. No Antigo Testamento, o termo hebraico para justificação é tsadaq, é o ato de Deus que declara o pecador livre de culpa. (cf. Dt 25.1; Pv 17.15).

Na regeneração, o homem recebe uma nova vida e uma nova natureza; na justificação ele recebe uma nova posição. O réu está perante Deus, o Justo Juiz, porém, ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição. A justificação é um ato declarativo de Deus. Isso não significa que uma pessoa, ao ser declarada justa, seja absolutamente sem falhas, mas que a partir desse momento ela é declarada justa, ou livre de culpa do pecado. Não é algo operado no homem, mas sim algo declarado no Homem.

A justificação pode ser definida como ato de Deus pelo qual Ele declara justo todo aquele que crê em Cristo. 

II. GRAÇA - FONTE DA JUSTIFICAÇÃO 

1. A realidade humana. Somente a graça do Pai tem o poder de nos justificar, isto é, de perdoar nossos pecados e de nos comunicar a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo. O homem é incapaz de auto justificar diante de Deus por mérito próprio (Jr 13.23; Is 64.6; Rm 3.10,11; Rm 3.20). 

2. A iniciativa de Deus. O apóstolo afirma que: “Ninguém será justificado por obras da lei” (Rm 3.20), a expressão “obras da lei” também aparece na carta de Paulo Gálatas 2.16, e descreve um sistema por meio do qual alguns cristãos tentavam obter a justificação. Tudo o que o homem não consegue por esforço próprio, Deus lhe concede de graça (Ef 2.8,9).

O propósito da Lei de Deus foi mostrar ao homem que ele é um pecador. A Lei não veio para salvar o homem por meio dela. Mas a Lei, no entanto condenava o homem, pois ela dizia que o homem deveria ser condenado, deveria morrer e deveria perecer. 

3. A manifestação da justiça divina. V. 21 “Mas agora, sem lei se manifestou a justiça de Deus.” Agora” parece ser uma referência marcada por três dimensões: Passado: “A justiça de Deus foi originalmente manifestada na lei”. Mas se esse fosse o caso agora, estaríamos condenados. Presente: “sem lei se manifestou a justiça de Deus.” Por meio de Sua graça. Terceiro escatológica: todos podem alcançar por meio da fé. Assim como o pecado tornou-se universal, a justificação destina-se a todos quantos queiram ser salvos (Tt 2.11). A expressão “para que todo aquele que nele crê não pereça” (Jo 3.16) abrange a todos, indistintamente.

Paulo começa dizendo que agora tinha se manifestado a justiça que provém de Deus, independentemente da lei, da qual deram testemunhos a Lei e os Profetas. Essa expressão, “mas agora” tem um significado especial nos escritos de Paulo. É um modo simplificado de dizer: “Mas agora que Cristo veio”.

Na verdade, a lei mosaica não tinha a intenção de alcançar a justiça pelo esforço humano, mas de revelar a justiça de Deus (Rm 8.4; 10.4,10; At 10.39). A justiça de Deus não se refere ao atributo divino, mas ao ato divino através do qual Deus declara um pecador íntegro. No entanto, ninguém pode ser aceito como justo com base na obediência à lei, pois não há quem alcance a perfeição. A exceção está unicamente na pessoa de Jesus Cristo que plenamente a cumpriu. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2ª Co 5.21). 

II. A FÉ - O MEIO DA JUSTIFICAÇÃO 

3.21-22 “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas. 22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença.” 

Paulo, tendo mostrado todo o fracasso de todas as tentativas de ser justificado pela Lei, traz uma revelação totalmente nova, centralizada em Cristo Jesus, se bem que dela “testemunham a Lei e os Profetas” (21b). E assim Paulo compara a injustiça de uns e a auto justificação de outros com a justiça de Deus. Em contraposição à ira de Deus sobre quem pratica o mal (1.18; 2.5; 3.5) ele anuncia a graça de Deus, que envolve os pecadores que creem no Seu evangelho. Diante do julgamento, apresenta-nos a justificação.

Paulo explica que a justiça de Deus “agora se manifestou”, no pretérito perfeito, uma referência ao sacrifício de Cristo válida até hoje. Enquanto que em Rm 1.17, a justiça de Deus é revelada, toda vez que o evangelho é pregado. 

1. É somente pela fé! “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem.” (Hb 11.1). Esse versículo merece toda nossa atenção, porque contém toda a doutrina fundamental do evangelho.

A justiça de Deus se manifesta mediante a fé em Jesus Cristo, independente da lei para todos os que creem, tanto judeus quanto gentios, e esta justificação é um dom da graça de Deus e não algo que pode ser conquistado por boas ações ou obediência à lei. Portanto, a justiça de Deus é exclusivamente para aqueles que têm fé; e “não há distinção, pois todos pecaram”, seja judeu ou gentio (cf. 1.16-17).

A fé à qual a Bíblia se refere não é uma crença cega ou uma submissão passiva a uma igreja ou grupo religioso. Teologicamente podemos classificar à fé em três dimensões:

A primeira é chamada de fé comum ou natural (todos os seres humanos tem essa fé). Muitos dizem ter fé em Deus ou em Cristo, mas nada sabem a respeito deles. Para esses Jesus é apenas um símbolo religioso do que o Salvador;

A segunda é a fé salvífica ou salvadora (é aquela que uma pessoa recebe quando crê em Jesus Cristo). Jesus mesmo disse que “a vida eterna era conhecê-lo e conhecer o único Deus verdadeiro” (Jo 17.3). Só podemos crer em quem conhecemos. Antes do evangelho chegar ao nosso coração, o seu conteúdo tem de passar pela nossa mente.

A terceira e a última fé, é a sobre natural (quando o crente recebe mediante o poder do Espírito Santo para operações de milagres e maravilhas).

A fé para salvação precisa estar ligada a três elementos. Primeiro elemento é aceitação ou convicção de que a mensagem do evangelho é algo pessoal. Devo não somente conhecer o evangelho, mas crer que ele é verdadeiro. O segundo elementos é a obediência aos mandamentos (Jo 14.21,23; 15.10,14), sendo Seus discípulos (Mt 28.19,20) e o terceiro elemento é submeter a Ele como Senhor e Salvador (Mt 6.24). Portanto, o evangelho envolve mudança de valores, compromisso com o reino de Deus e o desejo intenso de seguir e obedecer a Jesus. 

2. Todos os homens são pecadores. Finalmente, Paulo mostrou que os dois grupos gentios e judeus tinham uma coisa em comum: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” (V. 23).

Deus criou o primeiro casal sem pecado, e glória de Deus se manifestava sobre eles, a ponto de não ver sua nudez. Mas, no dia em que pecaram e viram que estavam nus, a manifestação da glória se retirou deles por causa do pecado consumado, ou seja, eles perderam a glória do Senhor. Agora a justiça de Deus se manifestou em Cristo Jesus, trazendo novamente a glória aos que creem em Seu nome.

A necessidade vem do fato de que a Lei perfeita de Deus condenou toda a humanidade, pois ninguém a guardou perfeitamente. Todos, sem distinção, carecem de buscar justiça em Cristo, como se dissesse: Não há outro caminho para a obtenção desta justiça. Não existe atalho ou método diferenciado para justificar a humanidade, senão que todos igualmente têm de ser justificados por meio da fé em Jesus Cristo, já que todos são pecadores, e ninguém tem como justificar-se diante de Deus. 

3. Deus e Sua graça, fonte da nossa justificação. V. 24 “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”.

O termo graça no original grego é Χάρις - charis, a qual tem por significado: Amor incondicional; dom gratuito; favor concedido a alguém; generosidade incondicional.

A palavra graça significa um dom gratuito e imerecido aos homens através da graça, isto é, alguma coisa dada ao homem sem trabalho nem merecimento, algo que vem da graça de Deus e que nunca poderia ter sido realizado, galgado ou possuído pelo esforço do próprio homem.

Uma verdade fundamental no evangelho da salvação consiste em que a iniciativa da salvação foi planejada, do início ao fim, a Deus, antes da fundação do mundo. (Ef 1.3-5).

A segunda verdade é que é a fonte da nossa justificação é concedida por Jesus Cristo, através da fé. Ou seja, não é por obras que recebemos a salvação, a libertação.

Paulo está dizendo que através de Jesus, nós que éramos escravos do pecado, da morte e do julgamento e que nunca poderíamos pagar o que devíamos para nós a redenção, mas recebemos através da graça. Na carta de Tito ele diz: “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.” (Tt 2.11-14).

Jamais o homem é capaz de alcançar a glória de Deus por sua obediência, todos são culpados: e, para serem salvos, devem ser livremente perdoados pela graça de Deus; que é mostrado aos que creem, através da redenção, o preço do resgate, que está no sacrifício de Cristo Jesus. 

4. Cristo e Sua cruz, a base da nossa justificação. V. 25 “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus. 26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” 

“Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue...”. A palavra propiciação é o sinônimo de expiação que no hebraico tem o mesmo significado. Expiação implica cobrir as culpas, mediante um sacrifício exigido, cobrir, purificar, fazer expiação, fazer reconciliação. No verbo (Piel) encobrir, pacificar, propiciar, expiar pelo pecado e por pessoas através de ritos legais.

No Novo Testamento usa a palavra expiação do grego “hilasterion”, embora tenha o mesmo significado com o sacrifício do Antigo Testamento, porém no N.T., trata-se do sacrifício vicário de Cristo em expiação pelos nossos pecados. A propiciação é um ato de duas partes que envolve apaziguar a ira de uma pessoa ofendida e se reconciliar com ela.

Deus Pai pela Sua infinita graça e misericórdia ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a Sua justiça. Cristo morreu como um sacrifício propiciatório, isto é, “oferta pelo pecado” (Is 53.10), que satisfez a ira de Deus, ou seja, tem proporcionado uma maneira de apaziguar a Sua ira e nos reconciliar com Ele. Além disso, ela é oferecida para todos porque todos têm necessidade dela. 

5. A jactância. V. 27-28 “Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé. 28 “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.

Jactância é uma atitude interior, mas difícil de esconder. Aparece no que a Bíblia chama de “olhar altivo”, em palavras curtas, em não importar em ouvir e em virar a cara ou as costas. Há sinais visíveis de jactância. A jactância é aquilo que você é ou faz que gera um sentimento de orgulho. Eu sou alguém porque tenho isto. Eu posso vencer tudo porque eu sou isto. Naquilo que você se ostenta é o que fundamentalmente define você, é da onde você tira sua segurança e identidade.

Ninguém, nem mesmo os judeus, tem base para se gloriar (4.2-3). Agora, Paulo está dizendo que a jactância (ou ostentação, presunção) está excluída. Por que? Porque agora o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. E acima de tudo, é Deus que fez a justiça disponível para os judeus e para os gentios. Apenas conseguiremos excluir a jactância quando nós entendermos que as nossas melhores conquistas não podem fazer nada para nos justificar. Então, nunca iremos nos gloriar em nós mesmos, ou em nossa religião, apenas nos gloriar em Cristo como diz Paulo em Gl 6.14: “Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.” 

6. A lei não significa nada. Vs. 29-31 “É, porventura, Deus é somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. 30- Se Deus é um só, que justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão, 31- anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei. 30- Se Deus é um só, que justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão, 31- anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei.” 

6.1. Paulo apelou para a confissão fundamental da religião do Antigo Testamento: Deus é o único Senhor (veja Dt 6.4).

Paulo volta, mais uma vez, à igualdade de judeus e gentios (29-30). Se a lei não justifica, Deus não é o Deus somente dos judeus. Ele oferece a salvação a todos nos mesmos termos. A lei e os profetas olharam para a justiça de Deus, mas ela se manifestou sem lei. Mas a lei não traz a salvação, pois ninguém consegue se justificar por obras de mérito. Ele oferece a salvação a todos (judeus e gentios) nos mesmos termos (29-30). O mesmo Deus que se revelou a Israel no Monte Sinai, se manifestou no Calvário através de Seu Filho amado. Portanto, nem a lei nem a circuncisão justificará alguém. Deus justifica mediante a fé. O mesmo Deus que lidou com Israel também lida com os gentios, e ele o faz segundo a sua própria justiça e misericórdia. Todavia, só há um único meio para salvação, tanto para judeus como para gentios. É Cristo quem justifica, pela fé, o circunciso e também pela fé, o incircunciso. Por isso, então, alguém pode dizer que há uma lei pela qual os homens são justificados, mas não é a lei dada aos judeus. Embora rejeitasse guardar a lei como uma base pessoal para a salvação, ele fundamentou a sua doutrina da justificação pela fé em Jesus Cristo; isto é, somente uma regra deve ser obedecida para o perdão, a crença em Cristo. Se por acaso haja uma lei que faz os homens aceitáveis ao ver de Deus, Paulo conclui que é “a lei da fé” (v. 27).

Além disso, Paulo argumentou que ela continuava com poder de condenar aqueles que não estavam em Cristo. Ao fazer isso, ele afirmou a autoridade duradoura da lei, tanto no tocante à condenação como à salvação. O apóstolo nunca teria aceitado o evangelho cristão se não pudesse apoiá-lo no ensino do Antigo Testamento.

Uma pessoa que crê no Evangelho, que é salva sem a lei, entende e ama a lei mais do que alguém que busca ser salvo pela lei. Porque apesar de guardar a lei para buscar a salvação é impossível, a lei não deve ser posta de lado ou seus mandamentos serem alterados. A lei deve ser obedecida, todavia, “Qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos.” (Tiago 2.10). 

CONCLUSÃO

A teologia paulina mostra porque o homem precisava de salvação. O apóstolo deseja convencer tanto os judeus quanto os gentios, de que ambos eram culpados diante de Deus e que nada podem fazer para se salvarem. O caminho da justificação é somente pela fé na obra expiatória de Jesus Cristo e que ninguém pode ser justificado diante de Deus pela Lei ou pelas obras da carne. Para isso ele os confrontou com a Lei de Deus, seja a lei moral que havia no coração dos gentios e a lei entregue por Moisés, da qual os judeus eram conhecedores. A única conclusão possível foi que todos eram pecadores, portanto, culpados e separados da glória de Deus (Rm 3.23) e carecem da misericórdia de Deus.

A solução é a justificação pela fé em Cristo. Tudo o que não tínhamos condição de fazer, Ele fez por nós. A Sua obra consumada na cruz satisfez a justiça de Deus e desviou de sobre nós a sua ira, levando-a ele mesmo sobre si. Portanto, só podemos chegar a Deus por meio da fé em Jesus, pela qual somos declarados por Deus como justificados.

Pr. Elias Ribas Dr. em teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC