ESBOÇO DO LIVRO DE JÓ
I. Prólogo: A Crise 1.1 - 2.13
II. Diálogos entre Jó e Seus Amigos (Elifaz, Bildade e Zofar): A Busca de Resposta Humanista 3.1 - 31.40
III. Discursos de Eliú: O Começo do Entendimento 32.1 - 37.24
IV. O Senhor Responde a Jó diretamente 38.1 — 42.6
V. Epílogo: Desfecho da Prova 42.7-17.
TEXTO BÁSICO
2ª Timóteo 3.16 “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça.”
Ezequiel 14.14, 19-20 “ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor Jeová. 19 - Ou se eu enviar a peste sobre a tal terra e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para arrancar dela homens e animais; 20 - ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça.
Tiago 5.11 “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.”
INTRODUÇÃO
1. O
Livro de Jó é uma das obras mais fascinantes da Bíblia. Não há em toda
literatura bíblica outra obra semelhante. Diferente na sua estrutura, no estilo
e, sobretudo, no conteúdo, o Livro de Jó demonstra a grandeza de Deus diante da
finitude humana. É, portanto, uma obra que alimenta a nossa esperança quando
tudo mais parece ter perdido o sentido.
2. O
Livro de Jó é uma literatura bíblica única. Ele apresenta uma estrutura
diferente, um estilo singular e um conteúdo teológico em que põe em contraste a
grandeza de Deus com a pequenez humana. Estas são razões básicas para o nosso
interesse em estudar esse precioso livro. Entretanto, há uma razão maior: É a
Palavra de Deus que alimenta a nossa esperança diante de uma tragédia. Nesse
sentido, em algum momento de nossa história nos identificaremos com a de Jó.
Por isso, o livro nos traz consolo e esperança.
O Livro de Jó é uma poderosa resposta de Deus para grandes questões da vida.
O livro de Jó trata de um assunto permanente contemporâneo: Porque sofre o justo? Esta pergunta é uma das mais comuns dentre todas as que já foram feita desde a queda de Adão e Eva.
I. AUTORIA, LOCAL
E DATA DO LIVRO DE JÓ
1. O significado do nome de Jó. Jó no heb. iyõbh, que significa pesaroso.
2. A pessoa histórica de Jó. A Bíblia mesma atesta que Jó foi uma pessoa histórica. O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por exemplo, atesta a realidade histórica do principal personagem do livro, bem como sua autenticidade textual, quando destaca a perseverança de Jó (Tg 5.11).
2. Título do Livro. O Livro de Jó foi assim chamado em homenagem a seu herói, e não devido ao seu autor, embora Jó possa ter registrado nele muitos detalhes de sua vida.
3. Tema do Livro. O Livro mostra por que o justo sofre. Jó um homem descrito como perfeito, é despojado de riqueza, dos filhos e da saúde. Sofre estas aflições com paciência.
4. Autoria. O autor do Livro
de Jó é desconhecido, mas sua autenticidade é comprovada, bem como a realidade
histórica da terra de Uz no período patriarcal.
Os candidatos mais prováveis são Jó, Eliú, Moisés e Salomão. Acredita-se que
Eliú pode tê-lo escrito (ver Jó 32.16). Alguns Escritores, Historiadores
antigos, Teólogos e antigas traduções dão autoria do Livro a Moisés.
Se não foi o próprio Jó, o escritor deve ter obtido informações detalhadas, escritas ou orais, oriundas daqueles dias, as quais ele utilizou sob o impulso da inspiração Divina para escrever o livro na feição em que o temos. Certas partes do livro vieram evidentemente da revelação direta de Deus (Jó 1.1 - 2.10)” [Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995, p. 767].
5. Período. Tudo indica que Jó viveu na época dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó, aproximadamente em 2100-1800 a.C.). Dentre outros, alguns fatos contribuem para esse entendimento: O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a palavra hebraica qesitah, traduzida como “uma peça de dinheiro” (Jó 42.11), só aparece em outras duas ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis 33.19 e a outra em Josué 24.32.
6. Forma literária. A forma do livro é poesia, que trata de diversas questões antigas, dentre as quais, o sofrimento do justo. O Livro tem o nome da figura principal no poema, e foi classificado como um dos livros de sabedoria do Antigo Testamento. Outros livros dessa categoria incluem Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.
7. A terra de Jó. Já no início do
seu texto, o Livro de Jó destaca que ele era da “terra de Uz” (Jó 1.1). Como
Jó, Uz era uma terra real. A maioria dos eruditos crê que a terra de Uz situava ao sul de
Edom e a oeste do deserto da Arábia, se estendendo a leste, indo até a
Babilônia (Jr 4.21; 25.20), e a sudeste da Palestina e do mar Morto, ou ao norte da Arábia.
Por conseguinte, Jó nasceu depois do dilúvio, do qual faz referência (Jó 22.16), e antes dos primeiros ancestrais do povo judeu.
7. Síntese do
livro de Jó. Jó
sofre várias calamidades. Perde todos os seus bens, seus dez filhos e sua saúde
(ficando seu corpo cheio de chagas). Seus três amigos chegam para ajuda-lo,
porém com aconselhamentos à base da razão humana e argumentos sem amor e
piedade, o que piora a situação de Jó.
O
jovem Eliú chega por fim e suas palavras contêm um pouco de esperança para o patriarca.
Porém as razões deste amigo ajudam pouco, mas não responde à pergunta que mais
atormenta Jó. Finalmente Deus fala e o sofredor tem a solução que tanto anela.
A esperança, que no início não existia, começou a brotar quando as justas razões do problema foram abordadas. Essa esperança tornou-se realidade com a réplica majestosa e incomparável do Altíssimo. Jó se humilhou reverentemente ante a grandeza e sabedoria de Deus, e logo depois foi duplamente restaurado.
II. ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ
1. Prosa e poesia. O leitor que deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se conta de que diante dele há uma obra de natureza poética. Isso não torna o livro de Jó menos inspirado do que outros da Bíblia, mas revela que ele pertence a um diferente gênero literário. Jó precisa ser lido dessa forma. A estrutura dessa obra demonstra isso. O texto é uma combinação de prosa-poesia-prosa (nessa ordem). Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1 - 2.13) e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em prosa; o texto intermediário em poesia (Jó 3.1 - 42.6).
2. Organização. No texto em poesia há a seguinte organização: Um monólogo feito por Jó; três ciclos de diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofá); quatro outros discursos de um quarto amigo jovem, Eliú; seguido pela revelação de Deus onde Ele manifesta o seu poder e graça; e, finalmente, a humilhação de Jó diante da revelação divina e sua restauração completa.
3.
Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas. Esse recurso
estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade
e maior vivacidade ao texto. O autor almeja que seu texto seja “colorido” ao
invés de “preto e branco”. Jó, por exemplo, usa a figura do “vai-e-vem” do
Tecelão para demonstrar a brevidade da vida (Jó 7.6; cf. “vento” Jó 7.7;
“nuvem” 7.9; “sombra” 8.9; 14.2; “uma corrida”, “uma águia”, “uma flor”
9.25,26; 14.2). No livro também há o recurso estilístico de paralelismos onde
os elementos literários repetem-se na mesma ordem.
O livro apresenta uma estrutura literária de prosa-poesia-prosa. Há também uso de metáforas e paralelismos.
III. NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ
1.
Por que os justos sofrem? Algumas das questões mais importantes levantadas no
Livro de Jó são eminentemente de natureza teológica e, também, filosófica. A
questão do sofrimento do inocente é a principal delas. Por que sofre o justo?
Ou ainda, por que os ímpios prosperam enquanto o justo sofre?
Ao longo dos anos, tanto teólogos quanto filósofos têm procurado dar explicações para esse dilema humano. No contexto de Jó, a ideia que prevalece é a de que somente os maus sofriam em consequências de seus pecados. Se havia sofrimento era porque havia culpa do sofredor. Nesse aspecto, ao longo de seus 42 capítulos, o autor procura demonstrar um novo olhar sobre essa questão.
2. Existe bondade desinteressada? Para muitas pessoas qualquer prática religiosa não passa de barganha. Essa era também a tese do Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a Deus porque recebia benefício em troca: Jó era um homem agraciado com muitos bens; com uma família formidável; cercado de muitos amigos; e gozava de boa saúde. Nessas condições, como disse Satanás, todos são devotos. Todavia, vindo o infortúnio, a tragédia e a calamidade, será que esse fervor religioso permaneceria? Satanás estava disposto a apostar que a espiritualidade de Jó não subsistiria a uma prova de fogo. O livro mostra como Jó se comportou nessa prova.
3.
Pode o homem compreender Deus? Os últimos capítulos de Jó mostram os
impactos que a revelação divina tem sobre os homens. Como Paulo, que foi
verdadeiramente mudado quando contemplou o Senhor numa visão (At 9.1-17), assim
também Jó é totalmente transformado quando contempla a majestade do Senhor (Jó
38 — 42). A questão para Jó não foi tanto o entender Deus, mas experimentá-Lo.
Viver e experienciar Deus mudou completamente a vida de Jó! Eis uma grande
lição deixada por esse precioso livro.
A principal questão do Livro de Jó é o sofrimento do inocente. O livro mostra como Jó se comporta diante da prova.
4. “Sete
características principais assinalam o livro de Jó.
4.1. Jó, um habitante do norte da Arábia,
foi um não israelita justo e temente a Deus […] (1.1).4.2. Este livro é o mais
profundo que existe sobre o mistério do sofrimento do justo.
4.3. Revela uma dinâmica importante,
presente em toda prova severa dos santos: enquanto Satanás procura destruir a
fé dos santos, Deus está operando para depurá-la e aprofundá-la. A perseverança
de Jó na sua fé permitiu que o propósito de Deus prevalecesse sobre a
expectativa de Satanás (cf. Tg 5.11).
4.4. O livro é de valor inestimável pela
revelação bíblica que contém sobre assuntos-chaves tais como: Deus, a raça
humana, a criação de Satanás, o pecado, o sofrimento, a justiça, o
arrependimento e a fé.
4.5. Boa parte do livro ocupa-se da
avaliação teológica errônea no livro talvez indique tratar-se de um erro comum
entre o povo de Deus; erro este que exige correção.
4.6. O papel de Satanás como ‘adversário’
dos justos, o livro de Jó o demonstra mais do que em qualquer outro livro do
AT. Entre as dezenove referências nominais a Satanás no AT, quatorze ocorrem em
Jó.
4.7. Jó demonstra com toda clareza o princípio bíblico de que os crentes são transformados pela revelação, e não pela informação (42.5,6)” [Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995, p. 768].
CONCLUSÃO
Nesta lição apresentamos algumas informações básicas sobre o contexto histórico e literário de Jó. Quanto ao seu gênero o livro é de natureza poética. Isso é importante para a compreensão da própria estrutura como o livro foi organizado. Vimos que o livro apresenta princípios teológicos que transcendem o espaço e o tempo. Esses princípios são para todas as épocas e culturas. O que é demonstrado é que o conhecimento de Deus é o anseio de todo ser humano.
FONTE DE PESQUISA
José Gonçalves. O Livro de Jó. Lições
bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.