TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O SISTEMA DE SACRIFÍCIOS



TEXTO ÁUREO
“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus.” (Rm 3.25).

Verdade Prática
Jesus Cristo executou, na cruz, o sacrifício perfeito, obtendo, por meio de seu sangue, e de uma vez por todas, a redenção eterna para todos os que creem nEle.

LEITURA BÍBLICA
Levítico 1.1-3; 2.1-3; 3.1,2; 7.1,2; 1 João 2.1,2
Levítico 1.1-3: “E chamou o SENHOR a Moisés e falou com ele da tenda da congregação, dizendo: 2 - Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR, oferecereis as vossas ofertas de gado, de vacas e de ovelhas.
3 - Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem mancha; à porta da tenda da congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o SENHOR.”

2.1-3: “E, quando alguma pessoa oferecer oferta de manjares ao SENHOR, a sua oferta será de flor de farinha; nela, deitará azeite e porá o incenso sobre ela 2 - E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao SENHOR. 3 - E o que sobejar da oferta de manjares será de Arão e de seus filhos; coisa santíssima é, de ofertas queimadas ao SENHOR.

3.1,2: “E, se a sua oferta for sacrifício pacífico, se a oferecer de gado macho ou fêmea, a oferecerá sem mancha diante do SENHOR. 2 - E porá a sua mão sobre a cabeça da sua oferta e a degolará diante da porta da tenda da congregação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar, em roda.”

7.1,2: “E esta é a lei da expiação da culpa; coisa santíssima é. 2 - No lugar onde degolam o holocausto, degolarão a oferta pela expiação da culpa, e o seu sangue se espargirá sobre o altar em redor.”

1ª João 2.1,2 “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. 2 - E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”

INTRODUÇÃO.
- Nesta lição, veremos como esse sistema foi praticado e desenvolvido até que chegasse ao supremo e suficiente sacrifício de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo: a expiação do Calvário. Portanto os sacrifícios da lei tipificam o sacrifício único de Cristo e o culto a Deus.
- Antes de ser uma resolução de Moisés, o sistema de sacrifícios estabelecido em Israel foi ordenado por Deus. Os livros de Êxodo e Levítico apresentam, com precisão, as instruções sobre como eles deveriam ser apresentados a Deus dentro do Tabernáculo.

I. A NECESSIDADE DE SACRIFÍCIOS

1. Israel a nação eleita para adorar a Deus.
- No estudo sobre o tabernáculo, torna-se inevitável que façamos alguma incursão no sistema de sacrifícios, uma vez que, conforme já visto, a maior peça do tabernáculo era o altar de cobre ou altar de sacrifícios, e era por meio dos sacrifícios que o povo de Israel iniciava o seu relacionamento com o Senhor.

- Se o tabernáculo se apresentava como santuário e habitação de Deus no meio do povo (Êx 25.8), tal presença não era apenas para que o povo de Israel soubesse que o Senhor estava no meio deles, mas, antes, para que houvesse um relacionamento entre Deus e Israel.

- A proposta divina era de que Israel se tornasse o Seu povo e a propriedade peculiar dentre os povos, povo santo e reino sacerdotal (Êx 19.5,6). Isto implicava, naturalmente, que Deus Se fizesse rei de Israel, o que já estabelecia uma relação entre o Senhor e os israelitas e não só isto, que eles fossem sacerdotes do próprio Deus, a exigir, portanto, que eles tivessem um relacionamento com Deus e se fizessem mediadores entre Deus e as demais nações.

- Aproximadamente no ano de 2000 a.C., Deus escolheu para o Seu propósito um homem de Ur na Caldeia, chamado Abrão. O objetivo do Senhor com isso foi criar a partir de Abrão um povo para Si. Deus queria fazer história não apenas com Abrão, mas também com seus descendentes. Esse povo proveniente de Abraão teria a função de glorificar no mundo o único Deus verdadeiro (Is 43.21). Seria de certa forma o representante ou embaixador de Deus na terra, por meio do qual o restante do mundo enxergaria quem é Deus (Is 49.3).

- Este relacionamento com Deus já estava previsto desde o momento da chamada de Moisés. Se os israelitas clamavam ao Senhor por libertação no Egito, o Senhor tinha em mente que eles passassem a adorá-l’O, a servi-l’O no monte Sinai (Êx 3.12) e, como prova disso, faz questão de identificar-Se a Moisés como o Auto existente (“Eu sou o que sou”), pois o primeiro gesto de quem quer estabelecer um relacionamento é a identificação (Êx 3.13-15).

- No momento mesmo da libertação, Deus fez questão de instituir um culto, a Páscoa (Êx 12.25-27), instituindo um novo calendário (Êx 12.1,2), precisamente para marcar este “novo tempo”, o tempo em que Israel passaria a Se relacionar com o seu Deus, a adotar o Senhor como seu rei, que foi tornado pelo Senhor como Seu povo e ovelhas do Seu pasto (Sl 100.3).

- O homem foi criado para ter um relacionamento com Deus, o seu Criador, foi feito um ser relacional, advindo daí, aliás, a sua religiosidade, que tem se verificado como uma característica inerente à natureza humana. Tal religiosidade nada mais é que uma demonstração de que o homem precisa se ligar a Deus, tem em seu relacionamento com o Senhor a sua completude, a sua própria realização.

2. O pecado separou o homem com Deus.
- Tanto assim é que o Senhor, em toda viração do dia, vinha ao encontro de sua mais excelente criatura terrena no jardim do Éden (Gn 3.8), relacionamento que se deteriorou quando da entrada do pecado no mundo, quando se perdeu a comunhão que havia entre Deus e a humanidade.

3. A figura do sacrifício.
- É neste momento em que o pecado gerou a morte (Tg 1.15), ou seja, a separação entre Deus e o homem (Is 59.2), que surge a figura do sacrifício, do derramamento de sangue como um meio pelo qual se poderia restabelecer tal contato.

- O próprio Deus, ao anunciar a salvação do homem, no dia mesmo da queda, disse que a semente da mulher haveria de proporcionar o retorno da amizade entre o Criador e a Sua coroa da criação terrena, mas que tal restauração teria o custo do “ferimento do calcanhar”, expressão que já prenunciava a necessidade de sofrimento e de derramamento de sangue.

- Em seguida, a fim de poder fornecer vestes para o primeiro casal, Deus faz o primeiro sacrifício, pois, para fazer túnicas de peles, teve de matar um animal, derramando-lhe o sangue (Gn 3.21).

- Advém daí o ensinamento ao primeiro casal da necessidade de sacrifício para que se pudesse chegar à presença de Deus. Tal ensino foi acolhido pelo primeiro casal, que os transmitiu a seus filhos, tanto que vemos Caim e Abel oferecendo sacrifícios a Deus quando buscaram relacionar-se com o Senhor (Gn 4.3,4).

- Temos, então, logo no limiar da história da humanidade, este ensinamento divino, de que era necessário oferecer algo a Deus quando houvesse a intenção de se Lhe dirigir culto, de se voltar a Ele, já que havia um impedimento para um relacionamento perfeito diante da problemática do pecado, aguardando-se o dia em que “ferido o calcanhar”, pudesse ser restabelecida a amizade perdida entre Deus e o homem.

- A palavra “sacrifício” tem origem na palavra “sacer” que significa “sagrado”, ou seja, “santo”, “conexo com o divino”. O sacrifício, segundo o Dicionário Houaiss da Língua portuguesa, é a “oferenda ritual a uma divindade que se caracteriza pela imolação real ou simbólica de uma vítima ou pela entrega da coisa ofertada”. Por meio do “sacrifício”, algo se torna “sagrado”, algo é entregue a Deus.

- Na ideia do sacrifício, portanto, estava embutida a necessidade de se relacionar com Deus dentro de duas premissas básicas: a de que o relacionamento com Deus é assimétrico, ou seja, Deus é maior do que o homem e o homem precisa se chegar ao Senhor reconhecer a sua inferioridade, devendo, pois, agradar à divindade, adotar uma postura de reverência e subserviência. Por segundo, reconhecer que, por causa do pecado, há uma falta para com Deus e, por isso mesmo, é preciso assumir a sua culpa e reconhecer que há necessidade do pagamento de um preço pelo pecado cometido.

- Não é, portanto, coincidência que a história sagrada demonstre a existência de sacrifícios desde os primórdios da humanidade e que todos os homens de Deus tenham ofertado sacrifícios a Deus seja para reconhecer sua culpa diante do Senhor, seja para adorá-l’O, como vemos nos casos de Abel, Noé, Jó, Melquisedeque, Abraão, Isaque e Jacó.

- Se os patriarcas já ofereciam sacrifícios ao Senhor, não seria diferente com o povo de Israel e o tabernáculo, lugar da presença de Deus no meio dos filhos de Israel, teria necessariamente de ser um lugar de sacrifícios.

4. A Função dos Sacerdotes.
- Por isso, assim que se entrava no tabernáculo, pelo lado oriental, já se divisava, proeminente no pátio do tabernáculo, o altar de cobre, onde os israelitas, sem exceção, poderiam trazer seus sacrifícios para serem ofertados pelos sacerdotes. Aliás, “sacerdote” nada mais é, segundo o mesmo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, do que “sacrificador, aquele que oferecia vítimas à divindade, entre os povos antigos”, etimologicamente “aquele que faz algo sagrado, que torna algo sagrado”.

- Daí porque os sacrifícios serem uma constante em todas as religiões existentes na humanidade, em todos os tempos, ainda que, circunstancialmente, o sacrifício não seja, em algumas delas, a oferta de um bem ou a matança de um animal, mas “renúncia voluntária ou privação voluntária por razões religiosas, morais ou práticas” ou “privação financeira em proveito de alguém”, que, como vemos no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, nada mais são que outros significados de “sacrifício”.

5. As normas de Deus para os sacrifícios.
- Ao mandar construir o tabernáculo, o Senhor, também, tratou de dar a Moisés todas as normas a respeito dos sacrifícios que deveriam ser celebrados neste local que era, também, um lugar de culto, pois era o lugar onde Deus fizesse para ali habitar Seu nome que deveriam ser trazidos todos os sacrifícios e ofertas (Dt.12:11,13,14).

- Encontramos, então, principalmente no livro de Levítico, que deve ter sido redigido por Moisés durante o tempo da construção do tabernáculo pelos artesãos, toda a sistemática dos sacrifícios, que, certamente, como parte importante da lei, são sombras da nossa vida espiritual em Cristo (Hb 10.1-4).

II. A OFERTA VOLUNTÁRIA - O HOLOCAUSTO (Lv 1.1-3)

- Para bem entendermos o sistema de sacrifícios estabelecido na lei, temos de observar que eram cinco os tipos de ofertas ou sacrifícios instituídos no culto levítico: holocausto ou oferta queimada, oferta de manjares, ofertas pacíficas ou sacrifícios pacíficos, ofertas pelo pecado e ofertas pelas transgressões.

1. O conceito de holocausto.
- A primeira era a “oferta queimada” ou “holocausto”. - A palavra “holocausto” é de origem grega (“olokautoma” – ολοκαυτωμα), cujo significado é “totalmente queimado”, utilizada na Septuaginta (a primeira versão do texto bíblico para o grego), que traduz a palavra hebraica “’olah” (עלה ,(cujo significado é “aquilo que sobe”, “oferta queimada”, querendo, com isto, indicar algo que, por ter sido totalmente queimado, sobe como fumaça.

No altar do holocausto a oferta era apresentada pelo sacerdote no altar, de onde um “cheiro suave” subia “às narinas de Deus”. Era um modo antropomórfico; isto é, uma figura tipicamente humana para referir-se a Deus. Portanto, o sacrifício de holocausto era uma oferta que seria totalmente queimada no altar, uma oferta integral, em que tudo seria consumido pelo fogo, tornando-se em “fumaça” que subiria à presença de Deus.

2. O primeiro sacrifício instituído por Deus.
- Antes, porém, dos sacrifícios estabelecidos para o local de culto, tivemos o estabelecimento do sacrifício da Páscoa, o primeiro sacrifício instituído por Deus ao povo de Israel (Êx 12.27), sendo que aqui a palavra “sacrifício” é a palavra hebraica “zebhah” (חַ בֶז), (propriamente) matança, a carne de um animal; (por implicação) um sacrifício a vítima ou o ato. (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 2077, pg. 1611).

- Este sacrifício, que não era feito no tabernáculo, mas, sim, em família, foi o primeiro tipo de Cristo em matéria de sacrifício. O cordeiro ou cabrito posto sob observação por três dias e meio e, achado sem defeito, sacrificado e assado para ser consumido pela família seja, na primeira Páscoa, enquanto o sangue do animal posto na verga da porta impedia a morte dos primogênitos, seja nas demais páscoas, em comemoração a este livramento que pôs fim à escravidão no Egito, é tipo de Cristo.

- Cristo é a nossa Páscoa (1ª Co 5.7), o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29) e que nos livrou do pecado (Jo 8.34-36) e, por isso, também tivemos uma “passagem” da morte para a vida (Jo 5.24; 1ª Jo.3.14). Teve um ministério de três anos e meio, em que pôde ser visto como um homem sem pecado, inocente e, portanto, em condições de derramar o Seu sangue em prol da humanidade (Jo 8.46; Mt 27.23; Mc 15.14; Lc 23.22; Jo 19.4).

3. O que era a oferta de holocausto?
- A oferta de holocausto, quando fosse de gado, deveria ser de macho sem mancha, que deveria ser trazido à porta da tenda da congregação de forma voluntária e espontânea pelo ofertante, que punha sua mão sobre a cabeça do holocausto para que fosse aceito por ele, para sua expiação. Aí o animal era degolado perante o Senhor e os filhos de Arão, os sacerdotes ofereciam o sangue e o espargiam à roda sobre l altar de cobre. O holocausto, então, era esfolado e partido em pedaços. Os sacerdotes, então, punham fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo, punham, também, em ordem os pedaços, a cabeça e o redenho sobre a lenha, mas a fressura e as suas pernas lavavam com água e tudo era queimado sobre o altar (Lv 1.3-9). Cada vítima era queimada no altar. Era um tipo de sacrifício que apontava para a vítima perfeita: o Cordeiro de Deus “que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29 cf. Is 52.13-15; Fp 2.5-8; Hb 12.2,3).

3.1. Por primeiro o holocausto de gado deveria ser feito com um animal macho sem mancha.
- Ora, isto nos fala claramente do Senhor Jesus, que foi o varão sem pecado que viveu sobre a face da Terra (At 17.31; Jo 8:46; Lc 23.4; Hb 4.15).

- Jesus Se humanizou e, como tal, tinha de ser sexuado, pois Deus criou o ser humano em tal condição (Gn 1.27) e o Senhor nasceu como varão, como homem do sexo masculino, motivo por que, na oferta de holocausto, o animal a ser sacrificado necessariamente deveria ser um macho.

- No entanto, Jesus, embora tenha Se humanizado, foi gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc 1.34,35), sendo, assim, o último Adão (1ª Co 15.45), o homem reto saído diretamente das mãos de Deus (Ec.7.29), daí porque ser o macho sem mancha a oferta do sacrifício de holocausto.

- Não é por outro motivo, aliás, que a Igreja, que é o corpo de Cristo (1ª Co 12.27), deve se apresentar a Deus imaculada, ou seja, sem mancha (Ef 5.27).

3.2. Por segundo, a oferta tinha de ser levada até a porta da tenda da congregação.
- A tenda da congregação era a parte coberta seja do tabernáculo, seja dos dois locais, onde ficavam os dois compartimentos – os lugares santo e santíssimo. A tenda da congregação também era chamada de “santuário”, porque era o lugar separado do local de adoração, o local onde o povo não tinha acesso.

- Na porta da tenda da congregação, ficava o altar de cobre, o altar de sacrifícios, peça que representa o juízo de Deus sobre o pecado do homem, daí o material ser coberto de cobre (ou bronze), que simboliza, precisamente, o juízo divino. Não há como se poder entrar no santuário se não se passa, antes, pelo altar de sacrifícios, se não há, previamente, derramamento de sangue, pois sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9.22). A entrega de uma vida, uma morte se fazia necessária para pôr fim à inimizade que existia entre Deus e a humanidade por causa do pecado, para que se voltasse a ter comunhão entre o Criador e a sua mais sublime criatura sobre a face da Terra. É preciso uma vida pura (e o sangue simboliza a vida – Gn.9:4) para resgatar a morte gerada pelo pecado (Rm.6:23).

- Já na revelação da promessa da salvação, feita pelo próprio Deus no Éden para o primeiro casal, o derramamento do sangue se mostrou uma necessidade. Deus, ao anunciar a promessa, disse que a semente da mulher, que promoveria o restabelecimento da amizade do homem com Deus, teria ferido o seu calcanhar (Gn.3:15), isto já mostrando que se derramaria sangue para que se restabelecesse a comunhão entre o Senhor e a humanidade.

3.3. A oferta tinha um caráter voluntário (Lv 1.3).
- O ofertante deveria levar o animal de livre e espontânea vontade, ou seja, a oferta teria de ser voluntária. Isto nos fala do caráter voluntário do sacrifício de Cristo. O Senhor Jesus entregou-Se, deu a Sua vida, veio para ser morto em nosso lugar, veio para morrer por nós (Jo 10.15-18;12.23-27).

- O objetivo do holocausto era que Deus aceitasse o ofertante. Essa aceitação dependia de a oferta apresentada pelo sacerdote ser aceita diante de Deus. Assim, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça da vítima a ser sacrificada, transferindo, para si, os benefícios do sacrifício: a expiação dos pecados. O animal era imolado fora da tenda e, em seguida, conduzido ao altar dos holocaustos.

3.4. O ritual do ofertante.
- Por quarto, o ofertante, trazendo o animal até a porta da tenda da congregação, deveria pôr a sua mão sobre a cabeça do animal, para que fosse aceito por ele, para a sua expiação. Temos aqui a indicação clara do caráter vicário do sacrifício de Cristo, ou seja, o Senhor Jesus assumiria o lugar do pecador, morreria no lugar do pecador, para alcançar a sua redenção, a sua salvação.

- Jesus tomou o lugar do pecador, foi a oferta substitutiva do pecador e a isto que se chama “morte vicária”, pois “vicário” significa “substituto”, “no lugar de”. O macho sem mancha assumia o lugar do ofertante. Ao se pôr a mão sobre a cabeça do animal, o pecador estava a dizer que ele é que mereceria morrer, mas o animal morreria em seu lugar. Ele como que transferia os seus pecados para o animal, que, então, derramava seu sangue para cobrir o pecado cometido.

- O Senhor Jesus era o justo que tomou o lugar dos injustos, o santo que tomou o lugar dos pecadores e morreu em nosso lugar (Rm 5.6-8; 1ª Pe 3.18), pagando o preço da redenção dos nossos pecados, o preço incomparável, muito maior que ouro e prata (1ª Pe 1.18-20).

3.5. Por quinto, o animal era degolado e o sangue era totalmente derramado no altar.
- Jesus derramou todo o Seu sangue na cruz do Calvário, tanto que, quando ressuscitou, tinha carne e ossos, mas não tinha sangue, porque ele todo foi vertido por nós em Seu sacrifício (Lc 24.39).

3.6. Por sexto, o animal era esfolado e partido em pedaços.
- Isto poderá trazer algum espanto, já que, sabemos, que o corpo de Cristo não foi partido, foi mantido íntegro (Jo 19.33-36), como, aliás, estava profetizado (Sl 34.20). Como, então, a vítima do holocausto poderia representar Cristo?

- Neste ponto, devemos lembrar o que nos ensina o próprio Jesus Cristo, que disse que seria como o grão de trigo que, caindo na terra, morre e dá muito fruto (Jo .12.24-26). A oferta do holocausto de gado, assim que era morta, era esfolada e partida em pedaços, e isto significa precisamente o que fez o Senhor Jesus. Ao morrer, Cristo fez surgir a Igreja, esta multidão composta de pessoas de todas as tribos e nações (Ap 5.9,10).

3.7. Por sétimo, os sacerdotes punham fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo.
- Isto nos fala a respeito de duas coisas basicamente. A primeira, é que a lenha, sendo madeira, representa a humanidade de Cristo. Cristo Se fez homem, humilhando-Se até a morte e morte de cruz, para nos salvar (Fp 2.7,8). Se não tivesse Se humanizado, o Senhor jamais poderia morrer e assumir nosso lugar. A encarnação de Cristo é uma demonstração de humildade e uma necessidade para que pudesse haver a salvação da humanidade.

- De igual maneira, nossa conformação à imagem de Cristo (Rm 8.29) é necessária para que atinjamos o estágio último do processo da salvação, que é a glorificação. Jesus tomou a forma de homem para nos salvar, nós somente seremos salvos se buscarmos ter a imagem de Cristo, se formos imagem e semelhança de Deus, que é a nova criatura gerada por Deus (Ef 4.24; 2ª Co 5.17; Gl 6.15; 1ª Pe 1.23).

- A outra coisa a que nos remete a lenha é a circunstância de que a morte de cruz representa uma maldição, pois maldito era aquele que morria no madeiro (Dt 21.23; Gl 3:13). Jesus Se tornou maldito por nós, assumiu a nossa maldição, tomou sobre si o castigo divino reservado aos pecadores (Is 53.5).

3.8. Por oitavo, as partes e os pedaços do animal eram ordenados sobre a lenha que estava no fogo em cima do altar.
- Isto nos mostra que o corpo de Cristo está fundado sobre o sacrifício do Calvário, ou seja, toda a base da Igreja se encontra na salvação operada por Jesus. Por isso, aliás, o apóstolo Paulo fazia questão de dizer que não se propunha saber senão Cristo e Este, crucificado (1ª Co 2.2). A Igreja deve pregar o Evangelho e o Evangelho é a palavra da cruz (1ª Co 1.18,23,24).

- Mas isto também nos mostra que há uma ordem na Igreja de Cristo, que não se pode agradar a Deus se tudo não for feito com ordem e decência, pois nosso Deus não é Deus de confusão (1ª Co 14.33). Se o altar não estiver em ordem, Deus não Se agrada do sacrifício, como podemos ver no exemplo do desafio entre Elias e os profetas de Baal e Asera (1º Rs 18 30).

- A Igreja é um povo adquirido pelo Senhor Jesus (1ª Pe 2.9), aquisição ocorrida precisamente quando do pagamento do preço de nossos pecados no sacrifício da cruz do Calvário (1ª Co 6.20; 7.23), e, como tal, foi organizado a partir da sua cabeça, que é o Senhor Jesus (Ef 1.22; 5.23), que constituiu ministros para ela (Ef 4.11). Destarte, a ordem constante do altar fala-nos desta ordem que deve ter a Igreja e como ela é fundamental para que tenhamos a manifestação da glória de Deus por meio do povo de Deus.

3.9. Por nono, a fressura e as pernas do animal eram lavados com água, pois era precisamente o que seria oferecido.
- Esta lavagem com água fala-nos da Palavra de Deus, pois é ela que nos limpa, como afirmou o Senhor Jesus (Jo 15.3), a “lavagem da água pela Palavra” (Ef 5.26), a lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo (Tt 3.5).

- Se não nascermos da água e do Espírito, jamais entraremos no reino de Deus (Jo 3.5), de modo que se faz necessário que sempre sejamos lavados pela Palavra e fortalecidos pelo Espírito Santo em nossa jornada para o céu, até porque, se assim não se fizer, jamais poderemos oferecer ao Senhor um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional (Rm 12.1), pois, antes de haver a queima do sacrifício e subir ele como cheiro suave ao Senhor (Lv 1.9), era necessária esta lavagem com água da fressura e das pernas do animal.

- Veja-se que o que era lavado era a fressura do animal, ou seja, as suas vísceras, o que nos fala a respeito do interior. Devemos iniciar a nossa santificação a partir do espírito e da alma, que são o homem interior. Este homem interior tem de ter prazer na lei do Senhor, bem como deve ser corroborado com poder pelo Espírito Santo (1ª Ts 5.23; Rm 7.22; Ef 3.16), devendo renovar-se de dia em dia (2ª Co 4.16), O homem interior precisa cada dia se renovar mais e mais mediante a lavagem da água, pela Palavra, e a regeneração e renovação do Espírito Santo.

- Para que o sacrifício se apresentasse como cheiro suave ao Senhor, antes a fressura e as pernas deveriam ser lavadas com água.

- A fressura, como já dissemos, representa o interior do homem, o que, às vezes, a Bíblia denomina de “coração”. O homem tem um coração mau, onde está a fonte de todos os pecados (Mt 15.19,20). Do coração procedem as saídas da vida (Pv 4.23), de modo que temos de purificar o nosso coração, purificação que se dá única e exclusivamente pela Palavra de Deus e pela atuação do Espírito Santo (At 15.8; 2ª Co 1.21,22; Gl 4.6; Tg 4.8).

- As pernas do animal falam-nos das nossas atitudes, porquanto, com as pernas, os animais ofertados se locomoviam, andavam e nós devemos andar segundo o espírito (Rm 8.1), andar em Espírito (Gl 5.16), em amor (Ef 5.2), como filhos da luz (Ef 5.8), em Cristo Jesus (Cl 2.6), com sabedoria (Cl 4.5), para agradar a Deus (1ª Ts 4.1), em temor (1ª Pe 1.17).

- Este proceder de forma agradável a Deus somente é possível se nos submetermos à “lavagem da água pela Palavra” e a “lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo”. Por isso, antes de subir como cheiro suave ao Senhor, a oferta do holocausto deveria ter a fressura e as pernas do animal devidamente lavadas com água.

3.10. Por décimo, o sacerdote tudo queimava sobre o altar.
- Tem-se aqui, propriamente, o “holocausto”, ou seja, a queima total. Todo o animal deveria ser consumido no altar, devia tornar-se em “nada”, em “fumaça que subia” à presença de Deus.

- Esta queima total simboliza a entrega total de Cristo para a nossa salvação. Cristo Se deu por nós, como já dissemos supra. A queima dos pedaços do animal, já esfolado e partido, significa a necessidade que cada salvo na pessoa de Jesus Cristo tem de se entregar totalmente ao Senhor, de viver única e exclusivamente para a glorificação do nome do Senhor.

- Quando celebramos a ceia do Senhor e tomamos o pão, que é partido para nosso consumo (1ª Co 11.23,24), estamos a relembrar esta mesma situação tipificada na oferta do holocausto, pois cada pedaço de pão é, também, consumido pelos que participam da ceia, pão que simboliza o corpo de Cristo, ou seja, a Sua Igreja (1ª Co 11.24), representando o amor fraternal que deve haver entre cada participante deste corpo, de cada membro em particular (1ª Co 12.27).

- O amor fraternal, absolutamente necessário para os salvos (Rm 12.10; 1ª Ts 4.9; Hb 13.1; 1ª Pe 1.22; 2ª Pe 1.7), revela esta imperiosa entrega que cada cristã deve ter, numa vida de total entrega ao Senhor, inclusive para fazer bem e servir aos demais, a exemplo do Senhor Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt 20.28; Mc 10.45).

- Por isso mesmo, o apóstolo Paulo afirmou estar se gastando e se deixando gastar pelos crentes de Corinto, ainda que, amando-os cada vez mais, fosse cada vez menos amado (2ª Co 12.15), fazendo isto de muito boa vontade, como deve agir todo servo de Cristo Jesus.

- O amor fraternal leva-nos a entregar nossas vidas pelos nossos irmãos, porque o primogênito dentre os irmãos (Rm 8.29) o fez por nós, pois é aí que se mostra o amor de Deus em nós, pois ninguém tem maior amor do que este, de dar a sua vida pelos seus amigos (Jo 15.13).

- Somente seremos verdadeiros discípulos de Cristo se nos amarmos uns aos outros (Jo 13.35), este é a verdadeira credencial de quem se diz integrante do corpo de Cristo e esta queima total dos pedaços do animal ofertado simboliza esta entrega, este amor fraternal, que nada mais é que seguir o exemplo do maior amor, o amor de Cristo por nós.

3.11. Por décimo primeiro, a fumaça subia como cheiro suave ao Senhor.
- Cumpridos todos os requisitos, este consumo total agradava a Deus, era-Lhe agradável, como, aliás, foi o sacrifício de gratidão efetuado por Noé após o dilúvio, sacrifício que atingiu o coração de Deus (Gn 8.20-22).

- Quando apresentamos a entrega total de nossas vidas ao Senhor, isto Lhe é agradável, quando passamos a nos amar uns aos outros, a servir e a não ser servidos, não resta dúvida de que agradamos a Deus e a nossa missão é aqui agradar ao Senhor, pois não poderemos nos qualificar como servos de Cristo se não o fizermos (Gl 1.10). O nosso culto racional somente será aceito pelo Senhor se nosso sacrifício for agradável e nesta agradabilidade se encontra o amor fraternal.

- O sacrifício de holocausto simboliza a submissão à vontade divina, aquela mesma disposição que o Senhor Jesus tinha, a ponto de dizer que fazer a vontade do Pai era a Sua própria comida (Jo. 4.34). Não podemos ter qualquer reserva em relação ao Senhor, devemos nos sujeitar a Ele plenamente, fazendo única e exclusivamente a Sua vontade, temos de nos renunciar a nós mesmos.

3.12. Por décimo segundo, verdade é que o sacrifício de holocausto tem uma diferença essencial com relação ao sacrifício de Cristo.
- É que o sacrifício de holocausto servia única e exclusivamente para aquela finalidade, para aquele pecado cometido, e, ademais, cobria o pecado (Sl 32.1), que não era retirado, pois o sangue de animais jamais poderia fazê-lo (Hb 9.11-14).

- O sacrifício de Cristo, único e perfeito, foi imediatamente aceito por Deus, tanto que o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45). Seu sacrifício subiu como cheiro suave ao Senhor e o pecado foi retirado, o que não se dava com os sacrifícios continuamente oferecidos durante o culto levítico (Hb 9.24-28).

4. O sacrifício de Cristo foi um “holocausto” agradável ao Pai.
- Dois textos bíblicos expressam essa verdade. Efésios 5.2 diz: “Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”. E também Hebreus 9.13,14: “porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?”. Trata-se, pois, de uma imagem perfeita de como fomos reconciliados com o Pai mediante o sacrifício de seu amado Filho (2ª Co 5.19).

III. A OFERTA DE MANJARES (Lv 2.1-3)

1. O significado da oferta.
- Outro sacrifício previsto era a oferta de manjares ou oferta de alimentos, que é a palavra hebraica “qorbān” (ןָ בְ רָ ק), que significa: alguma coisa trazida perto do altar; uma oferta sacrifical: — oferta, oferecimento, fornecimento. Substantivo masculino que significa oferta, presente. Este é o termo mais geral, usado oitenta vezes no Antigo Testamento, para ofertas e dádivas de todos os tipos…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 7133, pg.1911).

- Essa oferta representava a gratidão do hebreu pela fecundidade da terra. Ele tirava os cereais comestíveis e oferecia-os ao Senhor como “um sacrifício de manjares”. Essa imagem nos fala de como devemos apresentar o fruto do nosso trabalho diante de Deus. Não podemos nos apresentar perante Ele de mãos vazias (Mt 25.14-30).

2. Como era a oferta de manjares?
Essa oferta também era chamada de “Festa das Primícias” (2.12-16). Ela compunha-se de grãos novos e macios colhidos na primeira colheita. Essa oferta também era feita de farinha fina misturada com azeite. Sabemos, pela Bíblia, que o azeite é um dos símbolos do Espírito Santo (Zc 4.2-6; Êx 30.31). Essa oferta faz-nos lembrar da importância de vivermos uma vida dependente do Espírito Santo. Que possamos, na força do Espírito, fazer as mesmas obras que o nosso Senhor fez (At 10.38).

3. Os elementos desta oferta.
3.1. Farinha. As ofertas de manjares deviam ser de flor de farinha e nela se devia deitar azeite e se pôr incenso sobre ela (Lv 2.1).

- Por primeiro, a oferta deveria ser de “flor de farinha”, ou seja, se deveria oferecer farinha e a farinha é a matéria-prima do pão, o principal alimento e que nos faz lembrar da Palavra de Deus, que é o pão espiritual (Mt 4.4; Lc 4.4), símbolo do próprio Cristo, que Se autodenominou pão da vida (Jo 6.35,48).

- Não há como mantermos um verdadeiro relacionamento com o Senhor se não nos alimentarmos da Sua Palavra, se não formos santificados pela Palavra (Jo 17.17). A Palavra de Deus é indispensável para a nossa sobrevivência espiritual, pois, assim como o alimento é absolutamente necessário para que sobrevivamos fisicamente, a Palavra de Deus é essencial para que prossigamos vivos, ou seja, em comunhão com o Senhor, até o momento de adentrarmos os portões eternos e, sem esta perseverança até o final não alcançaremos a salvação (Mt 24.13).

3.2. Esta farinha tinha de ser misturada com azeite.
- O azeite é símbolo do Espírito Santo. Quando estamos em comunhão com Deus, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo 14.17), um privilégio que os homens não tinham até a morte e ressurreição de Cristo (Jo 7.38,39; 20.22).

- No culto levítico, o azeite era deitado sobre a flor de farinha, a indicar que, até a morte e ressurreição de Cristo, o Espírito Santo viria sobre aqueles que fizessem uso da Palavra de Deus, profetas, sacerdotes e reis, por meio dos quais orientariam e dirigiriam o povo de Israel e todos quantos se chegassem a Deus.

- Após a retirada do pecado do mundo pelo Cordeiro de Deus, o acesso ao Senhor ficou livre e todos quantos crerem em Jesus receberão, em si mesmos, o Espírito Santo, que os dirigirá, guiará, ensinará e intercederá, estando conosco até o momento em que nos levará até Cristo no dia do arrebatamento da Igreja.

- A presença do azeite na oferta de manjares revela que não é possível um relacionamento entre Deus e os homens sem o Espírito Santo. É Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), é Ele quem nos guia a ponto de nos tornar agradáveis ao Senhor (Rm 8.14).

- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que os salvos não só são filhos de Deus (e têm certeza desta filiação precisamente por causa do testemunho do Espírito Santo – Rm 8.15), como também, tornamse homens espirituais, tudo discernindo e de ninguém sendo discernido (1ª Co 2.11-16), podendo, então, compreender as “coisas de cima”, tendo acesso às revelações sobrenaturais da parte de Deus.

3.3. A oferta aponta para um alimento espiritual.
- A Palavra de Deus diz que o nosso Senhor é o “pão vivo que desceu do céu”, o trigo que foi moído para se tornar o nosso alimento espiritual (Jo 6.33-35). Logo, da mesma forma que Israel obedeceu à ordenança divina de apresentar a oferta de manjares diante de Deus, nós somos instados, por Cristo, a alimentar-nos dEle. O testemunho do Senhor é verdadeiro (Jo 5.30; 8.28).

- Recebendo a flor de farinha, o sacerdote pegava um punhado dela, deitava azeite sobre esta porção, acrescia incenso e o queimava integralmente sobre o altar, que subia, assim, como cheiro suave ao Senhor (Lv 2.2). O restante da oferta ficava com os sacerdotes, como sua porção, podendo, assim, tal farinha ser utilizada para alimentação dos sacerdotes, sendo coisa santíssima, a que somente os sacerdotes e seus familiares tinham acesso.

- A comunhão existente entre Deus e o Seu povo é algo peculiar, privativo daqueles que servem ao Senhor. Por isso, é absolutamente imprescindível que haja a comunhão entre os irmãos, peculiaridade que é evidenciada logo quando o historiador Lucas passa a falar da igreja.

- A Igreja é um povo que se caracteriza por perseverar na doutrina dos apóstolos, representada pela “flor de farinha”, pela comunhão, pelo partir do pão e pelas orações (At 2:42). O corpo de Cristo, aqueles que vivem em comunhão com o Senhor, não podem, assim, ter outra conduta senão seguir a Palavra de Deus (flor de farinha), estar em comunhão com Deus e com os irmãos (o azeite, que é o Espírito Santo que a todos dirige e põe todos em comunhão, pois junta a farinha), o partir do pão (a porção destinada à refeição) e as orações (o incenso).

3.4. Pães asmo.
- Além da oferta de flor de farinha, podiam, também, ser oferecidos bolos asmos de flor de farinha, ou seja, era possível trazer-se bolo cozido no forno, em vez de farinha crua. Aqui já se tem uma diferença com o sacrifício pelo pecado, que, necessariamente, devia ser cru e ser cozido no altar. A oferta de manjares permitia que o cozimento se fizesse pelo próprio ofertante.

- Isto é importante, porque nos mostra que a santidade é levada para casa, enquanto que o pecado somente poderia ser remido com o derramamento do sangue no altar. Não há como se alcançar a salvação a não ser através de Jesus Cristo que, para nos salvar, teve de entregar a Sua vida na cruz do Calvário, mas, uma vez perdoados, carregamos a santidade em todo o lugar, pois somos santos em toda a nossa maneira de viver (1ª Pe 1.15).

- O cozimento podia ser tanto no forno quanto na caçoula (ou seja, na panela) e os bolos deveriam ser asmos e amassados com azeite e untados com azeite. Percebamos todos que a primeira exigência é que não fosse posto fermento no bolo, que deveria ser asmo. O uso do fermento era terminantemente proibido (Lv 2.11).

- O fermento simboliza a corrupção, representa o pecado, pois, como sabemos, “…tecnicamente, a fermentação é assim: o ar contém uma quantidade enorme de microrganismos, nomeadamente esporos de fungos de levedura (Saccharomyces cerevisiae), que encontram nas massas de pão as condições adequadas para se alimentar do amido da farinha. Em consequência da ação desses microrganismos, o amido divide-se em anidrido carbônico (CO2) e álcool. As bolhas do gás carbônico não conseguem escapar através da superfície e fazem inchar (crescer) a massa, tornando-a fofa. Durante a cozedura, ácido carbônico e álcool saem da massa, mas a porosidade, sabor e aroma se mantêm.…” (SABORES do Sul. Entenda as diferenças entre fermento químico e biológico. Disponível em: https://revistasaboresdosul.com.br/entenda-asdiferencas-entre-fermento-quimico-e-biologico/ Acesso em 17 maio 2018).

- O fermento, portanto, é uma deterioração da massa do pão, é uma alteração da sua substância, é uma “distorção”, uma “corrupção”, uma “degeneração” e, por isso, simboliza o pecado, que gerou esta corrupção, esta degeneração do ser humano, que o transformou de imagem e semelhança de Deus em imagem e semelhança de um Adão decaído, um ser destituído da glória de Deus (Rm 3.23). Jesus, mesmo, chamou a doutrina dos fariseus, uma doutrina distorcida da Palavra de Deus, de fermento (Mt 16.6-12).

- Não se pode louvar e adorar a Deus com o pecado, com a prática da iniquidade, com a nossa natureza pecaminosa. O velho homem, o homem nascido em pecado, a nossa carne jamais podem ser instrumentos para louvarmos ou bendizermos o Senhor. Elemento carnal algum pode compor o nosso louvor e a nossa adoração a Deus.

- Lamentavelmente, nos dias hodiernos, não são poucos que querem agradar a Deus se utilizando de elementos que são verdadeiro “fermento velho”, do qual nós devemos nos alimpar (1ª Co 5.7), sendo vedado a nós fazer qualquer festa com aquilo que é proveniente do pecado (1ª Co 5.8).

- Devemos ser intolerantes com qualquer presença de fermento na adoração e no louvor ao Senhor, pois um pouco de fermento leveda toda a massa (Gl 5.9). Não há meio termo e, por isso, as normas do culto levítico eram bem claras, objetivas, curtas e grossas: “Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento” (Lv 2.11a).

- A única exceção de ofertas que poderia ter fermento era a oferta das primícias (Lv.2:12), a oferta de gratidão pelo fruto da terra, quando o uso do fermento era autorizado, exatamente porque se tratava de agradecer a Deus por tudo o que havia sido dado ao povo na colheita, o que incluía o pão, que tinha fermento, já que o pão sem fermento, o pão asmo, somente era de consumo obrigatório durante a festa dos pães asmos (Êx 23.19; 34.26; Lv 23.10-20). Todavia, tais ofertas não eram levadas sobre o altar.

- Os bolos ou coscorões asmos tinham de ser amassados com azeite e untados com azeite, a reforçar a necessidade de estarmos dirigidos e guiados pelo Espírito Santo para podermos efetivamente cultuar a Deus e ser-Lhe agradáveis.

- Tais bolos eram partidos em pedaços, devendo os sacerdotes deitar azeite sobre tais bolos, levando a oferta ao altar, queimando parte dos pedaços e o restante retendo para si, a fim de ser utilizado nas refeições dos sacerdotes e seus familiares.

3.5. Estas ofertas de manjares tinham, ainda, de ser salgadas com sal, o sal do concerto de Deus (Lv 2.13).
- O sal era um elemento indispensável na alimentação, não só no preparo dos alimentos, mas, também, na sua conservação, para impedir ou retardar a degeneração, a corrupção. Assim, ao mesmo tempo que se proibia fermento e mel, se mandava adicionar sal, sal que era considerado como o “sal do concerto de Deus”.

- Isto nos mostra que o nosso relacionamento com o Senhor é algo que deve ser preservado, mantido, que não pode sofrer degeneração, decaimento. A oferta pacífica fazia cada israelita lembrar que deveria se manter em comunhão com Deus, que não poderia permitir que o tempo tornasse prejudicado aquele relacionamento.

- O sal também nos remete à inviolabilidade e santidade do concerto com Deus, pois, como o sal era um elemento que conservava os alimentos, a utilização dele lembraria o caráter perpétuo da aliança de Deus com Israel e a própria eternidade divina que garantiria a manutenção do pacto para sempre (Nm 18.19; 2º Cr 13.5), pois a Palavra de Deus permanece para sempre (1º Pe 1.25).

- Esta importância era tanta que os doutores da lei sempre consideraram que o sal era essencial em todo e qualquer sacrifício, mesmo que não se tratasse de oferta de manjares, o que, aliás, tem base bíblica, já que, em Ezequiel, nos sacrifícios que ocorrerão no quarto templo, a presença do sal é salientada em sacrifícios que não as ofertas de manjares (Ez 43.24), sendo esta a prática já vigente no segundo templo, consoante nos dá conta Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas III, 10, 131.

- Jesus disse que Seus discípulos são “o sal da terra”, ou seja, somos a própria demonstração da inviolabilidade e da santidade do pacto que Deus estabeleceu com a humanidade através da aliança firmada no sangue de Cristo. Temos a missão de conservarmos os valores divinos em meio a uma geração corrompida e perversa; temos a tarefa de mostrar ao mundo a seriedade, a sinceridade e a verdade da Palavra de Deus e do perdão que Ele está a oferecer a todo ser humano mediante o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.

- Nós, como ofertas vivas ao Senhor, temos de manter e preservar a santidade que adquirimos pelo perdão dos nossos pecados e pela nossa libertação do maligno. Somos postos separados do pecado (Sl 40 2), somos libertos por Cristo (Jo 8.36) e assumimos o compromisso de servir ao Senhor até o fim, morrendo para o mundo e vivendo única e exclusivamente para o Senhor (Rm 6.4-11; Gl 2.20).

- O sacrifício sem sal não era aceito, porque se tratava de um sacrifício que não salientava o compromisso que havia de Deus para com o ofertante e entre o ofertante e Deus. Precisamos, igualmente, ser comprometidos com o Senhor para que, efetivamente, tenhamos um relacionamento com Ele, para que seja aceita a nossa adoração.

- Quem é tão somente simpatizante do Evangelho, não se compromete com o Senhor, quando é exigida a tomada de uma atitude de renúncia e de sacrifício, imediatamente deixa de servir a Deus, passa a agir como agem todos os que não creem em Cristo, não podendo, assim, querer agradar a Deus, pois seu intuito é, sim, agradar aos homens e quem assim atua não pode ser considerado servo de Cristo Jesus (Gl 1.10).

- A importância do sal no sacrifício é salientada por Nosso Senhor e Salvador, que disse que nós deveríamos ter sal em nós mesmos e paz uns com os outros, a indicar a necessidade do compromisso que temos de ter com Deus e com os nossos irmãos (Mc 9.50).

4. O terceiro elemento era o incenso.
- O incenso simboliza as orações dos santos (Ap 5.8; 8.4). Não se pode falar em relacionamento com Deus, em comunhão com Deus, se não houver oração. Como já se disse, se a Palavra de Deus é o alimento sem o que não podemos sobreviver, a oração é o ar espiritual que respiramos, é o “oxigênio da alma”, de modo que, se não tivermos uma vida de oração, igualmente pereceremos, já que não é possível sobreviver sem a respiração.

- O apóstolo Paulo foi claro neste ponto, ao dizer, no primeiro escrito seu e do Novo Testamento, que foi a primeira epístola aos tessalonicenses, que devemos orar sem cessar (1ª Ts 5.17).

- Jesus deu-nos o exemplo da importância da oração em nossa vida espiritual, pois entrou no mundo orando (Hb 10.5-7), viveu orando (Mt 14.23; 26.36,42,44; Mc1.35;6:46; 14.35,39; Lc 3.21;5.16; 6.12; 9.18,28,29; 11.1; 22.41,44) e morreu orando (Lc 23.46), sendo que, hoje, incessantemente ora por nós à direita do Pai (Is 53.12; Hb 7.25).

- Para que a oração seja ouvida por Deus, é necessário que a pessoa esteja em comunhão com Ele (Is 59.2; Jo 931). A única oração ouvida por Deus da parte de quem está em pecado é, precisamente, a oração em que se confessa o pecado e se pede perdão pela sua prática crendo em Cristo Jesus.

- É importante observar que o azeite e o incenso eram manipulados pelos sacerdotes, pois se tratavam de produtos de uso exclusivo no culto, especialmente preparados para tanto, sendo coisas santas, ou seja, separadas, inacessíveis a qualquer israelita, que, assim, trazia apenas a flor de farinha (Ex 30:22-38).

- O Espírito Santo provém de Deus, é mandado tanto pelo Pai quanto pelo Filho (Lc 24.49; Jo 14.16; 20.22; At 14; 1ª Co 2.12), sendo certo que a oração somente se torna eficaz a partir do instante em que entramos em comunhão com o Senhor, por força da obra salvífica de Cristo, que nos traz assim este “fôlego de vida” espiritual.

IV. A OFERTA PACÍFICA, O SACRIFÍCIO PELO PECADO E O DIA DA EXPIAÇÃO (Lv 3.1,2; 7.1,2)

1. O que era a oferta pacífica?
- Era um sacrifício em que o ofertante imolava o animal, tirando porções especiais e separando-as do sangue e da gordura do animal. Em seguida, o sacerdote espargia o sangue do animal imolado ao redor do altar, em sinal da propiciação pela vida do pecador. Depois, os miúdos do animal eram queimados no fogo do altar e, assim, tanto o sacerdote quanto o ofertante, e sua família, comiam a carne nobre do animal imolado (Lv 2.8,13,16,17). Essa oferta significava, literalmente, “um presente oferecido a Deus”, e denotava a comunhão e a felicidade do ofertante com o Pai.

- A oferta pacífica era um sacrifício oferecido sempre que alguém buscava a bênção de Deus ou celebrava as bênçãos recebidas. O sacrifício era oferecido:
1. Para enfatizar uma oração solene – como um voto.
2. Quando essa oração era respondida.
3. Ou, simplesmente pela gratidão – 7.16.

- A melhor parte do sacrifício – a gordura e os dois rins, vs. 3 e 4 - deveriam ser entregues totalmente a Deus para serem queimadas.

- Devido às suas características, muitos sacrifícios pacíficos eram oferecidos durante as festas anuais de Israel – Êx 23.14-17, festa dos pães ázimos, a festa da sega e a festa da colheita.

- Conforme Lv 17.3, todo animal abatido para alimento deveria, primeiro, ser oferecido como sacrifício, de modo que pelo menos no período em que o povo vagou pelo deserto (Dt 12.15-16), para prescrições na Terra Prometida, todas as refeições que continham carne eram antecedidas de uma “oferta pacífica”.

- Deus mesmo não comia de fato dos sacrifícios oferecidos (Sl 50.12-14). A descrição metafórica do sacrifício como manjar – vs. 11 – indicava que Deus se agradava do sacrifício da mesma maneira como os seres humanos desfrutam o alimento. Além disso, sugere a intimidade entre Deus e o seu povo por meio da imagem da comunhão à mesa.

2. A simbologia da oferta pacífica.
- A oferta pacífica aponta para a nossa reconciliação com o Pai. A Palavra de Deus mostra que o nosso Senhor proveu a paz entre o homem e o Criador: “porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl 1.19,20). Isso demonstra que o Senhor foi a oferta pacífica para reconciliar-nos com o Pai, tornando-se assim, a nossa Paz (Is 9.6).

3. O que era a oferta pelo pecado?
- Havia, também, prescrição sobre os sacrifícios decorrentes da prática de pecado e transgressão por parte de várias pessoas, desde um israelita comum até um príncipe e de um sacerdote.

- Vamos observar as quatro classes de pessoas que cometem pecados que estão relacionadas aqui em Levítico.

- Diferentemente das outras oferendas, as ofertas pelo pecado e pela culpa eram obrigatórias. Elas identificavam a natureza pecaminosa do homem; alguém que necessitava apresentar a Deus algo por seus pecados. O sacrifício pelo pecado deveria ser oferecido fora do arraial, isto é, fora dos limites do acampamento. Uma clara referência a morte de Jesus, que foi crucificado fora dos limites de Jerusalém.

- O animal teria de ser imolado fora do acampamento hebreu. A Bíblia mostra que Nosso Senhor Jesus foi morto fora de Jerusalém, fazendo-se pecado por nós (1ª Pe 2.24).

- Isso nos faz lembrar as palavras do escritor aos Hebreus, que nos diz que para nos santificar através de Seu sangue, Ele entregou sua vida “fora da porta” (Hebreus 13.13).

- Dessa forma, devemos nos achegar a Cristo por meio de um arrependimento sincero e cheio de fé. Nada do legalismo judaica, ou da religiosidade estéril de nossos dias.

- A cruz de Cristo é o altar espiritual para onde devemos nos dirigir, é onde os remidos se reúnem e oferecem sacrifícios espirituais vivos e agradáveis ao Senhor (Hebreus 13.15).

1. Oferta pelo pecado do sacerdote – Lv 4.1-12.
- Assim, havia, por exemplo, regra sobre o sacrifício de holocausto que se fazia por conta do pecado involuntário de um sacerdote (Lv 4.1-12). Quando um sacerdote pecasse, gerando escândalo para o povo, deveria oferecer pelo seu pecado um novilho sem mancha ao Senhor por expiação do pecado, trazendo o novilho à porta da tenda da congregação, pondo a sua mão sobre a cabeça do novilho e degolando o novilho perante o Senhor, ou seja, exatamente como a oferta de holocausto de gado, a mostrar que o sacerdote, embora fosse sacerdote, era igual a qualquer outro israelita e, até mais do que qualquer outro israelita, tinha o dever de apresentar um novilho, enquanto os demais israelitas poderiam apresentar outros animais consoante a sua própria condição social.

- Isto nos ensina que aqueles que causam escândalo ao povo, por terem pecado estando à frente do povo de Deus, em posição de proeminência, devem publicamente pedir perdão pelos seus pecados, ou seja, quem está em posição de proeminência sempre causam escândalo quando pecam, quando cometem alguma transgressão, de forma que todos devem pedir perdão à igreja local quando caírem em pecado, seja qual for o pecado cometido, algo que, lamentavelmente, tem sido esquecido em muitos lugares, o que contribui para o descrédito da obra de Deus.

- O apóstolo Paulo, ao ensinar a Timóteo como deveria exercer o ministério pastoral, não se esqueceu desta peculiaridade, mandando que a repreensão aos presbíteros, ou seja, aos ministros que estavam a apascentar o povo de Deus, deveria ser pública para gerar temor, ou seja, para que todos compreendam a seriedade e a necessidade de se observar a Palavra de Deus para chegarmos aos céus (1ª Tm 5.20).

- Mas este sacrifício tinha uma peculiaridade: o sacerdote deveria molhar o seu dedo no sangue e daquele sangue deveria espargir sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santuário, pondo também daquele sangue sobre as pontas do altar de incenso perante o Senhor, que estava na tenda da congregação e todo o restante do sangue derramaria à base do altar de cobre.

- Tal peculiaridade mostra, claramente, que, em se tratando de alguém que tem posição de proeminência no meio do povo de Deus, é mister que haja também a purificação do próprio exercício do ministério, representado aqui pelo fato de se ter de espargir o sangue no véu do tabernáculo, lembrando que o sacerdote tinha o direito de entrar no lugar santo, o que era vedado aos demais israelitas. Tendo ele pecado, não poderia lá entrar se o sangue do animal ofertado, que cobria o seu pecado, não fosse espargido no véu do tabernáculo, como que a cobrir o próprio pecador quando ele novamente adentrasse no lugar santo, como também este sangue fosse posto no altar de incenso, onde o referido sacerdote iria queimar o incenso ao Senhor.

- Os demais israelitas não participavam da atividade no lugar santo e, por isso, o sangue derramado para a cobertura de seus pecados ficava tão somente no altar de cobre. Já com relação aos sacerdotes, era preciso que também se estendesse a purificação até os lugares onde ele exerceria o seu ministério.

- Isto nos mostra que, embora todos sejamos sacerdotes na dispensação da graça, é inegável que aqueles que estão à testa do povo devem ter, no tratamento do pecado, um rigor maior. Faz-se necessário não só que publicamente confesse a transgressão e obtenha o perdão da comunidade, como também que sejam tomadas efetivas medidas para que seu ministério seja purificado.

- Tal disposição da lei mosaica, inclusive, também mostra, com clareza, que é, sim, extensivo ao exercício do ministério o perdão dos pecados, pois há aqueles que, equivocadamente, entendem que o ministro, tendo pecado e causado escândalo, pode, sim, obter o perdão, mas nunca mais poderá exercer o ministério. O sangue do animal, no culto levítico, também cobria o exercício do ofício sacerdotal e, portanto, não há como poder afirmar que o sangue de Cristo, que tira e não apenas cobre o pecado, não seja eficaz para restaurar o ministério de alguém que tenha pecado e causado escândalo.

- No mais, o sacrifício pelos erros do sacerdote seguia os ditames dos demais sacrifícios, inclusive com a queima total do animal, com exceção do couro, da carne com a sua cabeça, as pernas e entranhas e o esterco, que deveriam ser levados fora do arraial, para um lugar limpo, onde se lança a cinza, e queimado com fogo sobre a lenha, onde se lança a cinza.

2. Toda a comunidade – Lv 4.13-21.
- Este pecado é aquele que toda nação comete. É o pecado coletivo. Essa transgressão leva toda a nação a ruína, a miséria, desgraça e pobreza. Quando uma nação se volta para Deus e confessa seus pecados, o Senhor estende suas mãos para abençoar.

3. Um líder – Lv 4.22-26.
- Os reis e governantes também pecam contra Deus e quando são conscientizados devem se prostrar diante de Deus confessando seus pecados. Um exemplo bíblico é o pecado de Davi, quando cometeu adultério com Bate Seba. Na ocasião o profeta Natã o conscientizou do seu erro e o levou a confessar seus erros perante Deus.

4. Qualquer pessoa – Lv 4.27-35.
- Uma pessoa comum da sociedade. Vemos com isso que, para Deus não tem classe social. Pecado é sempre pecado e todos estão sujeitos a cometê-los.

- Para todas essas pessoas se livrarem do pecado era necessário cumprirem todo ritual explicado na lei, só assim poderiam, através da morte de um animal, ter o seu pecado perdoado.

4. O grande dia da expiação.
- Levítico 16 narra o mais importante dia para o povo judeu: o dia da Expiação. O dia em que todo judeu devia observar um jejum e não fazer qualquer trabalho. Esse dia é ainda hoje observado por eles como Yom Kippur, o “Dia do Perdão”.

- O dia da Expiação era a data em que o Sumo Sacerdote apresentava um novilho por si mesmo e por sua família (Lv 16.6) e um bode pelo povo (Lv 16.710) no Santo dos Santos, aspergindo o sangue das vítimas sobre o propiciatório (Lv 16.11-19). O rito representava a mais importante oferta pelo pecado de toda a nação.

- Esse rito aponta para o nosso grande dia da Expiação, no Calvário, quando Jesus Cristo, nosso Senhor, exclamou na cruz: “Está consumado” (Jo 19.30).

CONCLUSÃO.
Nesta lição, vimos o quanto era complexo o sistema de apresentação de ofertas para diversos pecados, e o dia anual de expiação, em que o Sumo Sacerdote apresentava a oferta pela nação inteira. Mas a Palavra de Deus mostra-nos que o sacrifício único de Cristo, no Calvário, foi suficiente para apagar os nossos pecados (2ª Co 5.21; 1ª Pe 3.18).

FONTE DE PESQUISA
1. ANDRADE Claudionor de. Lições Bíblica. Lição 13 do trimestre sobre “Adoração, Santidade e Serviço”. CPAD.
2. Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento.
3. SABORES do Sul. Entenda as diferenças entre fermento químico e biológico. Disponível em: https://revistasaboresdosul.com.br/entenda-asdiferencas-entre-fermento-quimico-e-biologico/ Acesso em 17 maio 2018

Pr. Elias Ribas

domingo, 2 de junho de 2019

A CHAMADA DE DEUS




2ª Tm 1.9:Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.

I. CHAMADA É ELEIÇÃO OU VOCAÇÃO
1. Desde o dia em que Cristo nos salvou, Ele colocou uma chamada em nossas vidas que, com o passar do tempo de Deus, sairá para a luz.
1.1. A chamada de Deus é superior a todas as coisas de nossa vida (Fl 3.14; Mt 10.37).
1.2. A chamada é uma dignidade que nos faz dignos (2ª Ts 1.11).
1.3. A chamada não nasce no homem; ela é totalmente divina (Hb 3.1).
1.4. A chamada de Deus é irrevogável (Rm 11.29).
1.5. A Bíblia fala sobre três chamadas importantes para os cristãos:
A. Chamado a pertencer a Cristo.
B. Chamado a viver uma vida de santificação.
C. Chamado a servir a Cristo com sua vida.

2. Chamado a pertencer a Cristo (Rm 1.6; 1ª Ts 1.9).
2.1. Cristo só trabalha com o que é Seu (Mt 4.18-20).
2.2. Chamado a comunhão (1ª Co 1.9).
2.3. Deus nos compara como tesouros D’Ele (Êx 19.5-6).
2.4. Pertencer a Cristo, tanto na vida como na morte (Rm 14.8).
2.5. Pertencemos a Ele porque Ele nos comprou (1ª Co 6.20).
2.6. Ele nos separou para Si (Lv 20.26).

3. Chamado a viver uma vida de santificação.
Rm 1.7A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Ef 1.4 “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor.”
Cristo nunca trabalhou com coisas sujas, pois o Céu é um lugar limpo e o viver do cristão é a antessala do Céu. Por isso é que temos que amar a santidade.

3.1. Fomos chamados para ser santos.
1ª Co 1.2 “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santo, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.”

4. Chamado a servir a Cristo com sua vida.
Depois que pertencemos a Cristo e nos santificamos, então começamos a dar à luz na chamada para servir. Após, temos que cuidar desta chamada como a um bebê recém-nascido.
·         Sou chamado para servir.
A maior honra que podemos ter, é servir ao Senhor. O serviço está ligado a uma atitude prática da vida cristã.

4.1. O significado do termo. A palavra Servo no grego é dolos e significa Escravo.
Servo não é um título que se ganha, mas sim um estilo de vida de entrega total como Jesus ensinou.
Mt 20.26-28: “Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. 26 Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; 27 E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; 28 Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.”
Temos que sentir em nosso coração uma urgência em relação ao mundo sobre as notícias da salvação que há em Cristo Jesus, para então, levarmos as boas novas para aqueles que ainda não o conhecem. Nossa oração deve ser: “Senhor, usa-me para tua glória e para edificação do teu reino”. Esse desejo deve nos "consumir" todos os dias. Deve ser o clamor do nosso coração.

Observemos agora, três classes de serviço:

A. Serviço por amor.
2ª Co 5.14: “O amor de Cristo nos constrange”. Paulo disse que se sentia obrigado, forçado, a contar as boas novas de Jesus por causa do amor que ele tinha recebido do Senhor.
Em Romanos 1.14, Paulo diz: “Sou devedor”. Ele se via como um devedor de amor.
Ele reconhecia que tudo que Deus havia feito por nós através de Jesus era por amor (Jo 3.16).
Quando sentimos o amor de Deus sendo derramado na nossa vida, o nosso desejo natural é dar a ele alguma coisa em troca. Porém, reconhecemos que tudo o que podemos dar é pouco em relação ao que ele nos deu, entretanto devemos oferecer o melhor de nós. O que de melhor poderíamos oferecer à Deus?
Nossa vida, nossos talentos, nosso tempo, nossas energias e capacidades.

B. Serviço por privilégio.
É um privilégio poder servir a Deus! Ele quer ter um relacionamento íntimo conosco, mostrar seus planos e projetos, e usar a nossa vida.

Temos o privilégio de servir a Deus no ministério de música e de termos recebido d'Ele este dom. Não merecemos ocupar este lugar, mas Deus está nos dando a oportunidade de servi-Lo.
2ª Tm 1.9: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos.”

Portanto, não devemos desperdiçar, mas sim nos dedicarmos da melhor maneira possível dando o melhor de nós.

C. Serviço com responsabilidade.
Temos uma grande responsabilidade em nossas mãos. Deus nos chama para sermos restauradores de brechas.

Is 58.11-12:E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam. 12 E os que de ti procederem edificarão as antigas ruínas; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar.

D. No serviço não devemos ser negligentes. 2º Crônicas 29.11: diz que não devemos ser negligentes com as coisas que Deus tem deixado em nossa responsabilidade.
“Agora, filhos meus, não sejais negligentes; pois o SENHOR vos tem escolhido para estardes diante dele para o servirdes, e para serdes seus ministros e queimadores de incenso.”

E. Deus tem um projeto. Qual é este projeto? Salvar o mundo.
Jo 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Portanto, o nosso compromisso, e a nossa responsabilidade deve ser: alcançar aqueles que não conhecem a Jesus.

Deus tem confiado a nós esta responsabilidade, então, devemos nos preparar para realizarmos com excelência a obra de Deus.

É importante saber que os dons que recebemos não são para nós, mas sim para abençoarmos as pessoas.

1ª Pe. 4.10: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”

4.2. O serviço de Deus começa nas coisas mais insignificantes.
·       Moisés começou nas coisas mais insignificantes: uma vara       (Êx 4.2).
·       Sansão começou com uma queixada de asno                              (Jz 15.15).
·       Davi começou com uma funda                                                   (1ª Sm 17.40).
4.3. Como servir a Deus.
·         Servir através dos dons (1ª Co 14.26).
·         Servir através das vocações (2ª Pd 1.10; Ef 4.4; 1ª Co 1.26).
·         Servir a Deus através do ministério recebido de Deus (Ef 4.11-13).

5. Servir como obreiros que têm eficácia e que é eficaz.
Eficácia: Significa virtude, atividade, força de uma causa para produzir um efeito desejado (Tg 5.16; 2ª Co 1.6).

Assim deve ser o verdadeiro obreiro: produzir os efeitos que se esperam, dar resultados positivos na obra de Deus. Ser útil e ativo, ou seja: dedicado, inteligente, proveitoso, frutífero, como um bom medicamento que, aplicado, “resolve o problema”.

6. Estamos sendo esta classe de obreiros?
Existem obreiros que, em lugar de render frutos que Deus espera e que o ministério e a Igreja anelam ver na obra de Deus, estão causando danos, deterioração, lesando, prejuízo espiritual e material.

Exemplo: Se coloca um obreiro (presbítero, evangelista, pastor), num trabalho de uma Igreja e o trabalho começa a declinar. E, às vezes, quando é necessário fazer uma troca, para que não debandem todos os irmãos, não querem sair. Seu cântico é: daqui não saio, daqui ninguém me tira.


Pr. Elias Ribas

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A ARCA DA ALIANÇA



LEITURA BÍBLIA

Êxodo 25.10-22 “Também farão uma arca de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio, e de um côvado e meio, a sua altura. 11- E cobri-la-ás de ouro puro; por dentro e por fora a cobrirás; e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor; 12- e fundirás para ela quatro argolas de ouro e as porás nos quatro cantos dela: duas argolas num lado dela e duas argolas no outro lado dela. 13- E farás varas de madeira de cetim, e as cobrirás com ouro, 1 - e meterás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca. 15- As varas estarão nas argolas da arca, e não se tirarão dela. 16- Depois, porás na arca o Testemunho, que eu te darei. 17- Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio. 18- Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. 19- Farás um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele. 20- Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. 21- E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o Testemunho, que eu te darei. 22- E ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do Testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.”

INTRODUÇÃO.
Até aqui, analisamos de maneira compartimentada o espaço do Tabernáculo. Passamos pelo Pátio, pelo Lugar Santo e pelo Lugar Santíssimo. Agora, encontramo-nos no Lugar Santíssimo. Nesta lição, o nosso objeto de estudo é a Arca da Aliança que ficava no “Santo dos santos”. Veremos algumas lições espirituais que há de edificar nossas vidas.

Na sequência do estudo do tabernáculo, analisaremos a sua mais importante peça, a arca da aliança ou arca do concerto. - A arca da aliança, ou arca do concerto, é tipo de Cristo Jesus.

I. A DESCRIÇÃO DA ARCA DA ALIANÇA (ÊX 25.10)

1. Os nomes da arca.
É o que próprio Deus quem denomina a peça de “arca”, a palavra hebraica “’ārôn” (רוןָא.” (substantivo comum que significa uma caixa, cofre, casa de madeira, ou baú uma arca.

Nas Escrituras Sagradas, diferentes nomes identificam esse precioso objeto: “a Arca de Deus, a Arca do Senhor, a Arca da Aliança, a Arca do Testemunho” (1º Sm 4.11; Js 3.13; Nm 14.44; Nm 7.89). Era a peça mais valiosa e importante do Tabernáculo porque ocupava o primeiro lugar da vida espiritual de Israel.

E aqui vemos um segundo motivo para a arca ser a peça mais importante do tabernáculo onde se guardariam tesouros preciosos, como um cofre, tesouros estes que o Senhor chama de “testemunho” (Êx 25.16), que é a palavra hebraica “’ēdhûth” (הָעד”, (substantivo feminino que significa testemunho, preceito, sinal de advertência. Sempre usado em conexão com o testemunho de Deus e muitas vezes associado ao Tabernáculo (Êx 38.21; Nm 1.50,53).

2. A construção da arca (Êx 25.10,11).
A importância da arca fica evidenciada porque, assim que Deus manda Moisés coletar os materiais junto ao povo para a construção do tabernáculo, dizendo que ele teria de ser construído segundo o modelo que lhe seria mostrado, passa a ordenar que se construa a arca, ou seja, é a primeira peça que Deus revela a Moisés e que manda seja construída (Êx 25.10).

Objeto mais valioso e santo do Tabernáculo, a arca da aliança foi construída de maneira especial. Madeira de cetim (ou acácia) e revestimento com ouro puro, tanto por dentro quanto por fora, e teria uma coroa de ouro ao redor e nela deveria ser fundidas quatro argolas de ouro, a serem postas em seus quatro cantos, duas argolas de um lado e duas do outro, tendo também duas varas de madeira igualmente revestidas de ouro, para que, quando houvesse a sua locomoção, fosse a arca carregada nos ombros dos incumbidos de tal tarefa, sem que fosse tocada. As varas, aliás, deveriam ficar permanentemente nas argolas, o que não ocorria com nenhuma outra peça do tabernáculo, numa clara demonstração que jamais poderia ser ela tocada (Êx 25.11-15). Foram os materiais nobres usados para a construção da peça. Sua forma era retangular e suas medidas eram de 2,5 côvados de comprimento, 1,5 de largura e 1,5 de altura (1,25m de comprimento, 75cm de largura e 75cm de altura: estes são valores aproximados).

A arca foi feita por Bezaleel (Êx 37.1) e esta afirmação bíblica bem revela a solenidade e a importância desta peça, visto que, pelo que se infere do texto, foi algo feito exclusivamente pelo principal dos artesãos, especificamente chamado pelo Senhor e capacitado por Ele para tal obra (Êx 35.30-33).

Somente alguém devidamente capacitado de forma sobrenatural poderia elaborar esta peça, que era réplica de uma arca que existe no céu, como se pode verificar de Ap 11.19. Alguns entendem que esta arca vista por João seria a arca construída por Bezaleel, já que a arca desapareceu quando foi destruído o Primeiro Templo, mas não nos parece ser esta a melhor interpretação, uma vez que o Senhor dissera a Moisés que o tabernáculo era um modelo, uma cópia de um santuário celestial, de modo que tudo o que foi construído era réplica de algo que já existia nos céus e a arca vista por João parece ser a arca do tabernáculo celeste, não fazendo sentido que a arca construída aqui tivesse sido transportada para o céu.

3. O símbolo das duas naturezas de Cristo.
O ouro simboliza a divindade de Jesus e a madeira, sua humanidade (Hb caps. 1 e 2). Símbolo da plenitude da presença de Deus entre o povo judeu, a arca aponta para uma verdade revelada no Novo Testamento acerca do nosso Salvador: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Ou seja, Cristo é o Emanuel, isto é, o “Deus conosco”, o verbo que se fez carne e habitou entre nós (Mt 1.23; Is 7.14; 9.6; Jo 1.14). O apóstolo Paulo ainda escreve: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne” (1ª Tm 3.16).

Como a madeira de acácia não ficava exposta, e o que se podia ver era o dourado da arca, a imagem faz uma perfeita tipologia das duas naturezas de Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Essa doutrina é uma das mais importantes da fé cristã.

A arca, por ser de madeira e revestida de ouro, fala-nos, uma vez mais, da dupla natureza de Jesus Cristo, o Deus que Se fez homem (Jo 1.1-3,14), o mesmo sendo figurado pelas varas que permitiam a locomoção da arca. Jesus, enquanto andou entre nós, neste mundo, era o Deus feito homem, jamais deixou de ser Deus, mas havia Se humanizado. As quatro argolas de ouro demonstram a Sua divindade, mas uma divindade que ficou “inativa” enquanto esteve Ele entre nós, pois como homem deveria vencer o mundo e o pecado.

É uma verdade consoladora saber que hoje temos, à destra de Deus, um Sumo Sacerdote que sabe o que se passa com a nossa vida, e ainda compadece-se por ela (Hb 4.15). Portanto, não hesite em chegar ao trono da graça com confiança (Hb 4.16).

A parte externa da arca fala-nos do corpo de Cristo, o Deus que Se fez homem, que Se entregou por nós. Jesus Se deu por nós (Jo 10.18), Seu corpo foi a oblação, a oferta pelos nossos pecados (Hb 10.5-10).

Esta propiciação pelo sangue de Cristo faz-nos ter acesso à glória de Deus e, por isso, pelo sangue de Jesus, podemos chegar ao trono da graça, podendo, assim, ser ajudados em tempo oportuno (Hb 4.16).

O fato de o propiciatório ser de ouro puro e a arca ser revestida de ouro por dentro e por fora, falamos, também da própria glorificação de Cristo, após o Seu sacrifício, sendo ressuscitado dos mortos em corpo glorioso, para nunca mais morrer, glorificação que será seguida por todos quantos crerem n’Ele e forem lavados e remidos por este mesmo sangue (At 3.15; Rm 6.4; 10.9; Gl 1.1; Rm 8.30; 1ª Co 15.51-54; Ap 22.14).

II. O PROPICIATÓRIO DA ARCA (Êx 25.17-21)

1. A tampa da arca.
A tampa de madeira de acácia que ficava sobre a arca era denominada “Propiciatório”. Era adornada com a figura de dois querubins de ouro - um em frente do outro. Suas asas permaneciam abertas e voltadas para o centro da arca. Era uma obra belíssima.

A tampa da a arca que o Senhor denominou de “propiciatório”, a palavra hebraica “kapōreth” (תֶ פרַכ), (substantivo que significa tampa, propiciação). Esta palavra se refere à tampa que cobria a Arca do Testemunho. Ela era feita de ouro de decorada com dois querubins. Deus repousava acima deste propiciatório (Êx 25.17-22).

Mas a arca tinha uma tampa, que o Senhor denominou de “propiciatório”, a palavra hebraica “kapōreth” (תֶ פרַכ.” , (substantivo que significa tampa, propiciação. Esta palavra se refere à tampa que cobria a Arca do Testemunho. Ela era feita de ouro de decorada com dois querubins. Deus repousava acima deste propiciatório (Ex.25:17-22).
A palavra “propiciação”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “ação ou ritual com que se procura agradar uma divindade, uma força sobrenatural ou da natureza etc., para conseguir seu perdão, seu favor ou sua boa vontade; sacrifício ou oferenda que se faz para aplacar a ira dos deuses.

Esta tampa, portanto, era o lugar onde o Senhor aplacaria a Sua ira em virtude dos pecados do povo, não sendo, pois, coincidência que se tratasse de uma palavra específica para a denominação deste local singular não só no tabernáculo mas em todo o mundo.

Esta singularidade fala-nos de que somente Cristo Jesus é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas pelos de todo o mundo (1ª Jo 2.2). Foi Jesus quem pagou o preço pelos nossos pecados, satisfazendo a justiça divina. Por isso, na cruz do Calvário, disse “Está consumado” (Jo 19.30), expressão que, no original grego, tetelestai, que significa “está quitado”, “está pago”, afirmando, assim, que a dívida existente entre a humanidade e Deus por causa do pecado havia sido satisfeita.

Enquanto, porém, o Senhor Jesus não oferecia o Seu sacrifício perfeito, que, em uma única vez, tiraria o pecado do mundo (Hb 9.28; 10.10,12), necessário se fazia que, periodicamente, mais precisamente uma vez ao ano, a ira de Deus fosse aplacada, e isto se dava mediante a “cobertura” de sangue nesta tampa, o propiciatório, quando o pecado da humanidade era expiado, ou seja, coberto, e adiada a punição, visto que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).

Quem salva o homem é Deus. Deus revela aqui toda a Sua graça e a Sua misericórdia, tanto que o propiciatório era conhecido como sendo o “lugar da misericórdia”, nome pelo qual, aliás, se traduz a palavra hebraica “kaporeth” em algumas versões como, por exemplo, a Versão do Rei Tiago (King James Version), que traduz o termo por “mercy seat”, ou seja, “o lugar ou assento da misericórdia”.

2. A simbologia da tampa da arca (Êx 25.17,21,22).
O sentido simbólico da tampa era o de “cobrir” algo valioso; figura de proteção aos elementos que estavam no interior da Arca: as Tábuas da Lei, a vara que floresceu e um vaso com o maná do deserto. É preciso ressaltar que a palavra grega usada para “propiciação” em Hebreus tem o significado de “trono de misericórdia”. Logo, o propiciatório da arca remonta ao valor misericordioso do sangue da expiação oferecida pelo nosso Senhor, conforme o apóstolo Paulo escreveu: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3.24,25).

3. A simbologia dos querubins alados sobre o propiciatório (Êx 25.18; Hb 9.5).
Os querubins representam simbolicamente a majestade divina e a deidade do Todo-Poderoso. São seres que também aparecem nas visões do profeta Ezequiel (Ez cap. 4) e nas visões do apóstolo João, na Ilha de Patmos (Ap cap. 1). A função básica deles é a de proteger o Trono de Deus. Por isso, a imagem dos querubins reflete um aspecto protetor, ressaltando o compromisso deles de guardarem a Lei de Deus. Assim, misericórdia, graça e fidelidade são virtudes presentes na arca, mostrando que Deus sempre se interessou em amar e proteger o seu povo (Êx 25.20; Sl 89.1,2).

Os querubins, portanto, estavam ali para lembrar que o acesso a Deus estava interrompido por causa do pecado, que faz divisão entre Deus e a humanidade (Is 59.2) e que não se poderia compartilhar da glória divina e, ainda, carecer da graça e misericórdia de Deus para que não fôssemos tragados por causa do pecado.

É importante, ademais, embora já dito em outra oportunidade, que se aproveita a ocasião para se rechaçar argumento trazido por romanistas a respeito do uso de imagens. Defende o romanismo o uso de imagens, algo, inclusive, que foi estabelecido no Segundo Concílio de Niceia, ocorrido em 787. Um dos argumentos usados pelos romanistas é, precisamente, a existência destes querubins no tabernáculo, uma “prova” de que Deus permite e até determina o uso de imagens no culto

 Cabe observar, por primeiro, que estes querubins faziam parte do propiciatório, a tampa da arca, arca que NUNCA era vista pelo povo de Israel. Ora, a arca ficava no lugar santíssimo, separado do lugar santo por um véu e que somente era frequentado pelo sumo sacerdote uma vez ao ano, o que impedia que a arca pudesse ser vista por alguém, o que, por si só, já desmonta a ideia do uso de imagens no culto, pois estas imagens nem sequer eram vistas pelas pessoas, que dirá ser veneradas ou honradas, como fazem os romanistas.

Mesmo na locomoção do tabernáculo, a ordem divina era de que, quando fosse o caso de partirem, Arão e seus filhos viriam e tirariam o véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo e com ele cobririam a arca da aliança (Nm 4.5), ou seja, ninguém teria sequer a oportunidade de ver tanto a arca quanto o propiciatório. Em seguida, deveriam pôr a coberta de texugo, que era a quarta e mais externa das camadas da cobertura do tabernáculo e sobre ela estenderiam um pano todo azul e, assim, carregariam a arca com os varais que sempre estavam nas argolas (Nm 4.5,6) e isto seria feito pelos coatitas (Nm 4.4). Que objeto de culto é este que nem sequer é visto ou tocado?

Como se isto fosse pouco, lembremos o episódio que envolveu Uzá, que ousou tocar na arca, que era levada, muito provavelmente coberta, de Quiriate-Jearim, onde fora deixada depois de sua devolução pelos filisteus, ainda nos dias de Samuel, Uzá que foi imediatamente morto por Deus por causa daquela imprudência (2º Sm 6.7; 1º Cr 13.10), a palavra hebraica (לַ ש...” , (substantivo masculino que significa pecado, erro). Este substantivo é usado apenas uma vez no Antigo Testamento, em 2º Samuel 6.7, entretanto, por este uso podemos perceber que o erro descrito por esta palavra é grande e grave. O contexto é o de Uzá, a quem Deus matou porque havia tocado a arca; este erro foi o motivo de sua morte. Este vocábulo conota um grande pecado ou erro que merece a morte.”

Mesmo quando houve a construção do templo, Salomão fez dois querubins de madeira, que cobriu de ouro, e colocou no lugar santíssimo, mas tais querubins, também, ficavam completamente fora da visão dos sacerdotes, pois eram de dez côvados de altura, quando o lugar santíssimo tinha vinte côvados de altura, e suas asas, de cada um dos querubins, ocupavam dez côvados de comprimento, num total de vinte côvados, indo de parede a parede do lugar santíssimo, que tinha vinte côvados e era separado por um véu do lugar santo (1º Rs 6.19-28), o que, também, retira o argumento e que estes querubins, que não faziam parte da arca, podiam ser objeto de veneração, já que nem sequer eram vistos e apenas reforçaram o aspecto da simbologia da separação entre Deus e os homens por causa do pecado.

Esta simbologia, aliás, é mais um argumento contra o uso de imagens. Com o sacrifício de Cristo, o véu foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45), abrindo-se um novo e vivo caminho entre Deus e os homens por Cristo (Hb 10.19-24), de sorte que o que representavam os querubins não mais existe, pois, o sacrifício único de Cristo tirou os nossos pecados (Hb 9.12,26,28) e, diante disto, não há mais qualquer obstáculo entre nós e Deus. Por que, então, haveríamos de usar querubins ou quaisquer outras imagens, se temos livre acesso a Deus por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? (1ª Tm 2.5).

O fato de os querubins estarem voltados um defronte do outro, para o propiciatório e olhando para ele, é mais um reforço no sentido de que eles estavam ali única e exclusivamente para representar a divisão entre Deus e os homens por causa do pecado. E o sangue era posto justamente ali, no propiciatório, para onde os querubins olhavam, para mostrar que Deus ali aplacava a Sua ira, mediante o derramamento do sangue, pois, sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb 9.22). No Sl 9.12, Davi, em um salmo que é um canto fúnebre, mostra que “Deus inquire do derramamento de sangue”, e a palavra hebraica traduzida por “inquire” é “dārāš” (שָ רָ ד), (propriamente) pisar ou frequentar; (usualmente) seguir (para perseguição ou busca); (por implicação) buscar ou perguntar; (especificamente) adorar: - perguntar, x de alguma maneira cuidar, ter cuidado, x diligentemente, inquirir.

III. OS TRÊS ELEMENTOS SAGRADOS DENTRO DA ARCA


Como mencionamos anteriormente, três principais objetos estavam no interior da arca:
As tabuas da Lei; o vaso com o maná e a vara de Arão.




 1. As tábuas da Lei (Êx 25.16,21; Dt 10.1-5).
Pelo poder divino, Deus esculpiu em duas tábuas a sua Lei para Israel. Aqui, estamos nos referindo às segundas tábuas da Lei (cf. Dt 10.1-5), pois as primeiras foram quebradas por Moisés depois de o povo israelita praticar a idolatria com o Bezerro de Ouro (Êx 32.19,20). Entretanto, as tábuas guardadas na arca foram uma segunda cópia produzida pelo próprio Deus. Assim, elas estariam protegidas e seus princípios norteariam o povo.

Na arca, coberta pelo propiciatório, deveria ser posto o “Testemunho”, que, como já vimos, era uma espécie de “tesouro”, de preceito, sinal de advertência. É interessante notar que, quando o Senhor manda a Moisés que deveria construir a arca, não diz a ele, de imediato, que “testemunho” ali seria posto (Êx 25.16). Era algo que seria revelado posteriormente.

Dentro da arca, portanto, deveria ser posto o “testemunho”, algo que serviria como “sinal de advertência” para o povo de Israel, algo que como que complementaria a simbologia tanto dos querubins quanto do sangue que deveria ser posto sobre o propiciatório uma vez ao ano para aplacar a ira de Deus.

A existência de um “testemunho” na arca mostra-nos que, em nossa comunhão com o Senhor, que é estabelecida pelo sangue de Jesus, deve haver uma “vigilância”. Por isso, o Senhor Jesus é sempre enfático ao dizer a Seus discípulos que eles deveriam vigiar para não entrar em tentação (Mt 26.41; Mc 14.38), vigiar para não perder a salvação (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33,35,37; Lc 21.36).

Deus mandou que Moisés pusesse na arca o “testemunho”, que eram as duas tábuas de pedra em que o Senhor escrevera, pela segunda vez, as palavras que proferira no monte Sinai, os “dez mandamentos” (Êx 34.1,4,28,29; Dt 10.1-5).

Eram as “segundas tábuas da lei”, que se encontravam dentro da arca, como “testemunho”, como “sinal de advertência”, ou seja, o Senhor lembrava continuamente Israel do pacto que havia firmado com eles no Sinai, sendo que a lei estava ali não para salvar o povo, mas, antes, para apontar o pecado do povo e mostrar a necessidade de alguém que viesse cumprir a lei e pagar o preço pelos pecados, apontados mas nunca tirados pela lei.

Estas “segundas tábuas da lei” são conhecidas como as “tábuas da misericórdia”, porque foi a demonstração de uma “segunda chance” dada por Deus aos filhos de Israel, pois, com o episódio do bezerro de ouro, a destruição do povo era certa, tanto que Moisés subiu ao monte para aplacar a ira de Deus contra os israelitas (Êx 32.30-32).

Quando o Senhor deu novas tábuas ao povo de Israel, revelou que não iria destruí-lo e, assim, permitir que os israelitas aguardassem o novo profeta que viria e que resolveria a problemática do pecado e traria a comunhão perfeita que a lei não poderia dar, ante a incredulidade dos israelitas.

Ao mandar que estas tábuas fossem inseridas dentro da arca, tinha-se a certeza de que Deus era misericordioso, grandioso em perdoar (Is 55.7) e que, apesar do pecado, havia esperança e o Senhor continuava querendo ter um relacionamento com Israel, que deveria, então, observar os mandamentos que lhe havia sido dado por Deus, esperando a vinda do profeta a quem eles deveriam ouvir.

As segundas tábuas foram talhadas por Moisés, embora, como as primeiras, tivessem sido escritas por Deus (Êx 34.1). Isto mostra a existência de um esforço humano para o cumprimento da Palavra, um comprometimento que deve existir na vida daquele que quer servir a Deus.

A participação humana nas segundas tábuas representa o esforço humano na santificação progressiva, é o nosso amoldar à vontade de Deus, e, mais, demonstra a própria humanidade de Cristo, que, como homem, venceu o pecado e o mundo para nos dar a salvação. Enquanto as primeiras tábuas eram fruto único e exclusivo de Deus, a tipificar a iniciativa humana no processo da salvação, as segundas tábuas revelam esta cumplicidade que passa o povo de Deus a ter com seu Senhor na continuidade da santificação até o dia da glorificação, glorificação que somente será possível precisamente porque os glorificados guardaram a Palavra do Senhor (Ap 3.10).

A presença das segundas tábuas da lei na arca, também, revela que a Palavra de Deus é extremamente necessária para que tenhamos a presença de Deus em nós, para que entremos em comunhão com o Senhor. A arca tipifica Cristo, Cristo que está além do véu, o Cristo com quem convivemos com quem temos unidade uma vez nos arrependendo de nossos pecados e alcançando o perdão, a justificação, a regeneração, a conversão, a adoção de filhos e a santificação (Jo 17.20,21; Rm 8.16,17,29,30). Quando guardamos a Palavra, tornamo-nos morada do Pai e do Filho (Jo 14.23) e, por isso, haveremos de morar eternamente com o Senhor na glória (Ap 3.10).

Como ensina o pastor Abraão de Almeida: “…Como as tábuas da Lei representavam a vontade de Deus para com o povo de Israel, elas apontavam para Jesus, que tinha a vontade de Deus no seu coração…” (O tabernáculo e a Igreja, p.26). Não só no Seu coração, mas o Senhor Jesus tinha em cumprir a vontade do Senhor a sua própria razão de ser, tanto que disse ser isto a Sua comida (Jo 4.34).

2. Um vaso com o maná do deserto (Êx 16.33-35).

Dentro da arca, também, foi determinado que se pusesse uma porção de maná (Êx 16.33), que deveria servir de guarda para as gerações, ou seja, como uma lembrança de que Deus os havia sustentado com maná durante a peregrinação no deserto (Dt 8.3,16).

Originalmente, quando o maná ficava de um dia para o outro, apodrecia (Êx 16.19,20). Porém, o maná contido na arca da aliança não sofria qualquer tipo de deterioração. Isso sinalizava a provisão do Deus Altíssimo para o seu povo. Da mesma forma, essa imagem aponta para o Senhor Jesus como o maná celestial, o “pão vivo” que nutre e sustenta a sua Igreja. O nosso Senhor foi quem disse: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.35). Portanto, “coma” desse pão e alimente-se da verdadeira vida!

Aqui temos a tipificação de Cristo como o pão da vida, como o Deus da provisão, como o próprio Jesus haveria de explanar em um discurso dirigido aos judeus na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6.22-59).

Não há como mantermos a comunhão com o Senhor se d’Ele não nos alimentarmos, se não comermos da Sua carne e bebermos do Seu sangue, como o próprio Senhor Jesus nos ensina na passagem já aludida do evangelho segundo João. Comer da Sua carne e beber do Seu sangue não é apenas participar da ceia do Senhor, como ensinam os romanistas, que, a propósito, procuram extrair dessa passagem respaldo para sua equivocada doutrina da transubstanciação, mas, sim, uma vida de união com o Senhor, de renúncia de si mesmo e de prática da vontade de Deus, o que o apóstolo Paulo chama de viver para Deus, de não mais viver, mas Cristo viver em nós (Rm 6.1-11; Gl 2.20; Fp 1.21).

O maná também não estava na arca quando da inauguração do templo, porque o maná foi temporário, não era o verdadeiro pão do céu, algo que cessou (Js 5.12) e que foi substituído pelo fruto da terra, igualmente dado pelo Senhor (Sl 65), mas cuja abundância dependeria da fidelidade do povo ao Senhor (Dt 28; Ml 3.8- 12). Mas, Cristo, o pão da vida, o verdadeiro pão do céu, o maná escondido, para sempre nos alimentará, dando-nos do maná escondido (Ap 2.17).


3. A vara de Arão que floresceu (Nm 17.1-10).

Além das segundas tábuas da lei, que sempre permaneceram no interior da arca (1º Rs 8.9), também o Senhor mandou que se pusesse dentro da arca a vara de Arão que florescera e frutificara, quando da prova que Deus mandou que se fizesse para que se calasse o questionamento quanto à autoridade espiritual de Arão, questionamento surgido com a rebelião de Coré, Datã e Abirão (Nm 16.17). Essa vara serviria de uma memória ao povo de Israel quanto à escolha de Deus ao ministério sacerdotal. Esse milagre mostra, com clareza, que o Altíssimo é quem designa seus ministros para uma grande obra. Ele é o dono de tudo e age segundo o seu maravilhoso propósito (Rm 8.28-30; 1ª Co 1.26,27).

Logo após a cessação da praga que vitimou quatorze mil e setecentas pessoas depois da morte dos envolvidos diretamente com a rebelião, o Senhor mandou que se tomasse uma vara para cada casa paterna de Israel e que se escrevesse o nome de Arão em vez de Levi na vara referente a esta tribo e que se deixassem as varas na tenda da congregação diante da arca e que, no dia seguinte, vindo o Senhor, a vara daquele a quem Ele escolhera floresceria e frutificaria. E, no dia seguinte, quando Moisés entrou na tenda da congregação, a vara de Arão tinha florescido, e dado amêndoas, e isto foi mostrado ao povo, como prova de que o Senhor escolhera Arão para o sacerdócio. Foi, então, mandado que esta vara fosse colocada dentro da arca (Nm 17.10). A vara seria como “sinal para os filhos rebeldes”, o que poria fim às murmurações e o povo não morreria por causa disso.

A vara de Arão, prova de sua chamada sacerdotal, tipifica Cristo como o Sumo Sacerdote, Aquele que ofereceu o único e perfeito sacrifício que tirou o pecado do mundo. O sacerdócio que floresceu e frutificou e fez surgir um povo santo, especial e zeloso de boas obras, o grão de trigo que morreu e, por ter morrido, frutificou (Jo 12.24).

Mas, também, a vara de Arão representa a autoridade de Deus, pois, com ela, o Senhor mostrou que tinha o poder de escolher quem Ele quisesse para exercer o sacerdócio e que ninguém poderia questionar a Sua soberania. Vara fala de autoridade, tanto que o Senhor Jesus é apresentado como aquele que terá a vara e regerá as nações durante o Seu reino milenial (Ap 2.27; 19.15).

Nossa comunhão com Deus só é possível diante da mediação de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (1ª Tm 2.5). Não há outro meio pelo qual possamos nos chegar a Deus (Jo.14.6).

A vara de Arão já não mais estava na arca quando da inauguração do templo, como uma demonstração: primeiro, que o povo havia deixado de lado esta advertência para não murmurar, deixando de lado a própria autoridade divina, tanto que haviam pedido um rei, não querendo mais que o Senhor reinasse sobre eles (1º Sm 8.7); segundo, porque o sacerdócio levítico, ressaltado nesta vara, não era permanente, haveria de terminar e dar lugar ao sacerdócio de Cristo, este, sim, o sacerdócio perfeito e eterno (Hb 8).

IV. PECULIARIDADES SOBRE A ARCA DA ALIANÇA OU ARCA DO CONCERTO

Não resta dúvida, como já vimos, da grande importância da arca da aliança ou arca do concerto para o tabernáculo.

Sua importância era tal que a sua retirada do tabernáculo, nos dias de Eli, para que fosse levada ao campo de batalha na guerra contra os filisteus representou a própria destruição do tabernáculo de Siló.

Nos terríveis dias de Eli, os israelitas desvirtuaram o papel da arca da aliança, passando a considera-la um amuleto. Assim, acharam que a simples presença dela no campo de batalha garantiria a vitória de Israel sobre os filisteus (1º Sm 4.3-10).
 “…Uma arca era uma mobília religiosa comum naquela época no Oriente Médio, mas essa arca era diferente. Na maioria das religiões pagãs, o baú continha uma estátua da divindade sendo adorada. Neste caso, a arca continha três itens que mostravam como Deus se relacionava com o seu povo: as tábuas com os dez mandamentos (a orientação de Deus), a vara de Arão (a autoridade de Deus) e uma jarra de maná (a provisão de Deus para necessidades diárias do Seu povo).…” (AQUINO, Hugo. Tabernáculo, lugar de adoração. Disponível em: https://www.slideshare.net/392766/tabernculo-64413086 Slide 66. Acesso em 18 fev. 2019).

Como nos mostra Hugo Aquino, os israelitas achavam que a arca poderia ser o próprio Deus atuando em favor deles no campo de batalha, diminuindo, assim, o Senhor a apenas uma peça que O representava. No entanto, apesar de toda a festa que fizeram no arraial, os israelitas foram fragorosamente derrotados, porque haviam tornado a glória do Deus incorruptível em algo criado.

Não só os israelitas foram derrotados, como a arca foi tomada e os filisteus, dentro da mesma mentalidade dos israelitas, acharam que haviam “conquistado” o Deus de Israel. Aprenderam, também, que Deus é maior do que a arca e tiveram de reconhecer a soberania divina (1ªº Sm 5.1; 6.12).

Devolveram a arca a Israel mas, a partir daí, a arca nunca mais voltou a Siló, que deixou de ser a sede do tabernáculo, por expressa vontade do Senhor, como até sinal da Sua desaprovação para com a atitude tomada pelos anciãos em relação a arca, que foi o ponto culminante de toda uma série de transgressões e desobediências (Sl 78.56-60), ficando, deste modo, como sinal de advertência para futuras rebeldias (Jr 7.12,14; 26.6,9).

Quando a arca retornou a Israel, por causa da irreverência com que a acolheram, foram mortos cinquenta mil e setenta homens, pois, os israelitas foram ver o que havia dentro da arca (1 Sm 6.19), onde, provavelmente, foram tirados da arca a varão de Arão e o pote de maná, motivo por que foi ela levada a Quiriate-Jearim, onde foi posta na casa de Abinadabe, onde ficou até os dias de Davi (1º Sm 7.1; 1º Cr 13.1-3).

Nos dias de Davi, a arca foi levada até Jerusalém (2º Sm 6.12; 7.2), onde ficou numa tenda até a construção do templo por Salomão, quando foi levada para o lugar santíssimo do templo, tendo, então, apenas as tábuas da lei (1º Rs 8.4-9).

Pelo que se verifica, até pelo temor de ser a arca tomada quando havia alguma guerra ou invasão estrangeira em Jerusalém, a arca era removida do lugar santíssimo nessas ocasiões, tendo o rei Josias dito que não teriam mais que se preocupar com isso (2º Cr 35.3).

- Entretanto, não se sabe se neste suposto costume de remoção da arca quando dos sítios dos inimigos na cidade, ou por Providência Divina, o fato é que, apesar do minucioso relato dos escritores sagrados sobre o que foi levado pelos babilônios para sua terra quando da destruição do templo, a arca, a peça mais importante, não é sequer mencionada (2º Rs 25.13-17; 2º Cr 36.19; Ed 1.9-11; Dn 5.3).

A arca desapareceu, não se sabendo o seu paradeiro. Quando da construção do Segundo Templo, não foi feita nova arca, de forma que o Segundo Templo não a possuiu. E por que não teve o Segundo Templo uma arca? Porque a glória da segunda casa seria maior do que a primeira (Ag 2.9) e este templo não veria a arca, tipo de Cristo, mas o próprio Cristo, o próprio antítipo. Jesus esteve no templo e se pôde ver a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo 1.14), Aquele que, ao morrer, fez rasgar o véu de alto a baixo, abrindo um novo e vivo caminho para Deus, permitindo a entrada ao santíssimo de todos os que cressem n’Ele, tornando cada um de Seus servos morada de Deus no Espírito (Ef 2.22).

Por isso, é abominável aos olhos do Senhor o que se tem visto nos últimos tempos, com vários que cristãos se dizem ser reproduzirem a arca da aliança e, mais do que isto, colocarem a arca no centro do culto a Deus. Trata-se de uma atitude assaz preocupante, de substituir Cristo por um tipo que, inclusive, deixou de ser utilizado desde o início do Segundo Templo, há cerca de 2.500 anos atrás.

Observemos, ademais, que, em Jr 3.16, o profeta diz que, quando viesse o tempo em que o Senhor daria “pastor segundo o Seu coração que apascentassem Israel com ciência e com inteligência”, ou seja, quando viesse o “novo concerto” (Cf. Jr 31.31-34), “nunca mais se diria: a arca do concerto do Senhor! Nem lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão, nem a visitarão, isso não se fará mais”. Ou seja, o texto sagrado é explícito ao dizer da desnecessidade da arca do Senhor na nova aliança estatuída pelo sangue de Cristo.

Tornar a fazer a arca do concerto, transformá-la em objeto de culto é nada mais nada menos do que uma forma de estar perigosamente muito próximo de pisar o Filho de Deus e ter por profano o sangue do testamento com foi santificado e fazer agravo ao Espírito da graça, conduta que é praticamente uma blasfêmia contra o Espírito Santo, o pecado voluntário que está além do perdão, como nos indica o escritor aos hebreus (Hb 10.26-31).

Não podemos, em absoluto, utilizar da arca da aliança como objeto de culto ou como referência ao nosso culto. Temos o antítipo da arca, Cristo Jesus, que mora em nós e que vive em nós. Tomemos, pois, muito cuidado com isso, amados irmãos!

CONCLUSÃO.
Nesta lição, vimos que arca da aliança era um grande símbolo da presença de Deus entre o seu povo, e que nos aponta para a obra completa de Jesus Cristo para sua Igreja. Nestes últimos dias, o Senhor nos deixou o Consolador. Não precisamos mais carregar uma arca para desfrutar da presença de Deus, pois o Espírito Santo habita em nós.

Lições Bíblicas do 2° trimestre de 2019 - CPAD