Levítico 3.1-3;
17 “E, se a sua oferta for sacrifício pacífico, se a oferecer de gado macho ou
fêmea, a oferecerá sem mancha diante do Senhor. 2- E porá a sua mão sobre a
cabeça da sua oferta e a degolará diante da porta da tenda da congregação; e os
filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar, em roda. 3-
Depois, oferecerá do sacrifício pacífico a oferta queimada ao Senhor: a gordura
que cobre a fressura e toda a gordura que está sobre a fressura. 17- Estatuto
perpétuo será nas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma
gordura, nem sangue algum comereis.”
INTRODUÇÃO. Das cinco ofertas
prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a
pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão entre Israel e Deus.
Ao aproximar-se do Senhor, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento
manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo
por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1-2).
Adoramos a Deus com ofertas pacíficas
quando nos apresentamos diante d’Ele com o propósito de render-lhe graças por
todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos o Senhor com um culto racional,
agradável e vivo.
Com
características distintas, as ofertas apresentam aspectos do ministério e da
obra que Jesus realizou. A oferta pacífica tem por objetivo demonstrar o que o
adorador alcança tendo comunhão com Deus.
I. DEFINIÇÃO
DE OFERTA PACÍFICA
Pacífico. A expressão
“oferta pacifica” no hebraico significa shelem,
do verbo “shalom” e
significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Era também chamada
de “oferta de paz” ou de “ofertas de comunhão”. Josefo (historiador judeu do
primeiro século), também chamava-a de “ofertas de agradecimento” (JOSEFO apud
CHAMPLIN, 2001, p. 487). Tais termos denotam que esta oferta não era para
pacificar a Deus, mas era apresentada pelo ofertante que já estava em comunhão
com Deus. Era a festa de comunhão
daqueles que andavam em harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus
e o pecador se encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do
crente está aqui tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa
a comunhão com Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef
2.17), e Ele é a própria paz do cristão (Ef 2.14).
A palavra sacrifício no hebraico zebah
sheleimim poderia ser traduzido para “o sacrifício da unidade ou
inteireza”. Inteireza dá ideia de um relacionamento íntimo ou comunhão entre
Deus e o homem; estar perto de Deus.
Zebah, significa algo
que foi morto, ou abatido, ou seja, sacrifício de uma vítima morta.
Sheleimim, é um derivado da
raiz slm que significa ser completo, ser cheio, ou estar em harmonia.
A oferta era de inteira dedicação, da
parte do ofertante, e da paz com Deus a quem as oferecem. A palavra também
significa saúde e prosperidade, alguma coisa inteira e íntegra (2º Cr 16.9).
Nesta oferta, podia se oferecer “gado” (Lv
3.1); ou “gado miúdo” (Lv 3.6) tais como: “cordeiro” (Lv 3.7) ou “cabra” (Lv
3.12); podendo ser “macho ou fêmea” (Lv 3.1,7,12), desde que fosse “sem
defeito” (Lv 3.1,6). O ofertante tinha de impor a mão sobre a cabeça da sua
oferta (Lv 3.2,8,13), matar o animal e apresentar ao sacerdote os pedaços a
serem oferecidos (Lv 3.3,4,9,10,14,15). Em seguida, o sacerdote ministrante os
queimava no altar (Lv 3.5,11,16). A outra parte da carne fazia parte da
refeição (Lv 7.14,15,16). Quanto a “gordura” e ao “sangue”, estes dois, não
poderiam jamais ser comidos, mas oferecidos ao Senhor como oferta queimada (Lv
3.16,17).
II. TIPOS DE OFERTA PACÍFICA
1. Havia três tipos de ofertas
pacíficas (de comunhão). As ofertas de louvor, as ofertas oferecidas em
cumprimento de um voto e as ofertas voluntárias. Para todos os três tipos,
bois, ovelhas e cabritos de qualquer espécie poderiam ser oferecidos (Lv
3.1,6,12).
1.1
Ações de graças.
O primeiro tipo era oferecido por benefícios recebidos de Deus. A dádiva de
ações de graças no hebraico “tôdâ”
representava o reconhecimento do ofertante quanto às misericórdias de Deus para
com ele (Lv 7.12-21).
Ofertas por gratidão eram apresentadas
como agradecimento pelo livramento de enfermidades (Sl 116.17), da aflição (Sl
107.22) ou da morte (Sl 56.12), resposta de oração; curas ou por uma bênção
recebida (Bíblia de Estudo NVI Vida).
Embora todas as coisas pertençam a Deus em
última análise, seu relacionamento com o crente exige que este último transfira
a Deus uma certa proporção daquelas coisas que foram confiadas a ele (1ª Cr
29.14). Esta exigência remove o relacionamento espiritual de um nível puramente
verbal, e exige esforço do participante humano para sua dedicação ser posta em
prática.
Juntamente com a oferta de ações de graças
vários tipos de “bolos asmos”, “coscorões ázimos”, e, “bolos de flor de
farinha” deviam ser apresentados (Lv 7.12,13), um dos quais era a porção do
Senhor e era dado ao sacerdote oficiante (Lv 7.14). Nesta oferta o adorador não
tinha licença de deixar qualquer parte da carne do animal sacrificial para
outro dia, mas, sim, era-lhe exigido que a comece na ocasião em que foi
oferecida (Lv 7.15).
Oferta pacífica como um ato de gratidão
(ação de graças) (Lv 7.12-15; 22.29; 2º Cr 29.31; Jr 17.26).
A. Esta oferta era para reconhecer
Jesus; confessar Jesus; Confiar e amar o Senhor.
As gorduras, somente eram queimadas, e as
carnes eram consumidas pelos sacerdotes e pelo povo, numa ceia de aliança
solene, à qual os pobres eram convidados (Dt 12.18), que prenunciava a paz que
seria trazida aos homens pela obra de Cristo (Cl 1.20), e comemorada na Ceia do
Senhor (1ª Co 10.16).
B. Era oferecido por benefícios
recebidos de Deus.
O Salmo 107.22 fala de tal sacrifício feito depois da libertação de situações
de perigo.
1.2.
Oferta pacífica associada a um voto (Lv 11.16,17). Esta oferta é
chamada no hebraico “neder” era feita
para cumprir um voto (Lv 7.16; 22.21). O sacrifício do seu voto “oferta votiva”
(que se oferece em cumprimento de um voto), era prometido a Deus na esperança
de receber ajuda divina (Sl 66.13,14; 116.1-19). Um voto é “um juramento ou um
compromisso de caráter religioso, e também uma transação qualquer entre o homem
e Deus, de acordo com a qual o indivíduo dedica a si mesmo ou o seu serviço ou
alguma coisa valiosa a Deus (Gn 28.20; Nm 6.2; 1º Sm 1.11).
Oferta pacífica associada a um voto
referente a um favor passado ou futuro, ou seja, “em cumprimento a uma promessa
feita a Deus em troca de algum favor especial solicitado em oração; por
exemplo, proteção durante uma viagem perigosa”.
1.3.
Oferta voluntária.
A oferta “voluntária” (Lv 7.28-30) ou oferta “movida” (Lv 7.30), no hebraico “nedãbâ” consistia em um ato de homenagem
e obediência ao Senhor num caso em que nenhum voto tinha sido feito, mas que o
ofertante desejava voluntariamente ofertar ao Senhor: “as suas próprias mãos
trarão [...]” (Lv 7.30-a). Esse tipo de oferta exprimia devoção, agradecimento
e dedicação. E também podia ter a forma de uma oferta queimada (Lv 22.17-20).
Ver Lv 7.16 e 22.18-23 quanto às ofertas voluntárias, com esse propósito.
Os animais não podiam ter defeito, exceto
no caso da oferta voluntária, em que animais com um membro mais curto ou mais
comprido eram permitidos (Lv 22.23). As ofertas de comunhão também eram
oferecidas em ocasiões de grande solenidade e alegria pública.
A refeição do sacrifício pacífico, era
mais do que só desfrutar boa comida e comunhão com pessoas queridas. Também
expressava com alegria as ações de graça do adorador pelo fato de estar em paz
com Deus e em comunhão com o Senhor.
Para uma oferta voluntária ou uma que era
feita para cumprir um voto, o ofertante tinha licença de usar um dia adicional
para completar a festa, e, nesta ocasião provavelmente convidaria amigos para
participarem da refeição (Dt 12.12). Especificamente qualquer carne que
permanecia depois daquele tempo tinha de ser queimada, mais provavelmente como
uma medida higiênica (Lv 7.17). O descumprimento desta ordem consistia em
pecado resultando em morte (Lv 7.18).
III. CARACTERÍSTICAS DA OFERTA
PACÍFICA
No Livro de Levítico há instruções
detalhadas sobre quando as ofertas pacíficas eram comidas (Lv 7.15-17), quem
poderia comê-las (Lv 7.20,21), o que podia ser comido (Lv 7.24-26) e, quais
porções pertenciam a quem (Lv 7.31-35).
1. O
sacrifício era dividido em três partes.
1. Uma parte para o sacerdote.
2. Outra para o ofertante.
3. Outra parte para o Senhor, para
consagração.
No ritual esta oferta era quase idêntica à
oferta de holocausto onde tudo era queimada ao Senhor (cap. 1). Nas outras
três, o sacerdote tirava uma parte para si e seus filhos. Na oferta pacífica o
adorador reunia-se ao sacerdote na refeição sacrificial daquilo que restava.
Nas outras ofertas – manjares, pecado e sacrilégio – só o sacerdote participava
da refeição sacrificial (conf. 7.11-38).
1.1. Se a oferta for voto ou
voluntaria. “Mas
a carne do sacrifício de ação de graças da sua oferta pacífica se comerá no dia
do seu oferecimento; nada se deixará dela até à manhã.” (Lv 7.15).
A oferta pacifica era um voto ou uma
oferta voluntária, também podia ser comida no dia seguinte. “E, se o sacrifício
da sua oferta for voto, ou oferta voluntária, no dia em que oferecer o seu
sacrifício se comerá; e o que dele ficar também se comerá no dia seguinte.” (V.
16).
Era manifestamente impossível a um homem
consumir sua oferta, caso esta fosse um novilho ou um bode, ou um cordeiro, em
um dia só́. Era-lhe, portanto, permitido, e mesmo ordenado pedir a outros que
compartilhassem da refeição.
“Nas tuas portas não poderás comer… nenhum
dos teus votos, que houveres votado, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a
oferta alçada da tua mão; mas o comeras perante o Senhor teu Deus, no lugar que
escolher o Senhor teu Deus, tu, e teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a
tua serva, e o levita que está dentro das tuas portas: perante o Senhor teu
Deus te alegraras em tudo em que puseres a tua mão. Guarda-te, que não
desampares ao levita todos os teus dias na terra.” (Dt 12.17-19).
1.2. Este era um traço que
distinguia a oferta pacifica. Devia ser comida no mesmo dia, e ser
compartilhada; devia ser comida “perante o Senhor”, e “te alegrarás”. Era uma
refeição de regozijo, em comum, e a esse respeito diferia de todas as outras
ofertas.
Abaixo, destacaremos algumas
características da oferta de paz que a diferencia das outras:
1.2.1. Uma oferta queimada ao
Senhor.
Levítico
8.16 “Moisés pegou também toda a gordura que cobre as vísceras, o lóbulo do
fígado e os dois rins com a gordura que os cobre, e os queimou no altar.”
A oferta pacífica era “oferta queimada ao
Senhor”, no entanto, apenas parte da oferta deveria ser queimada (Lv
3.3,4,9,10,14,15). A especificação é que a “gordura, os rins e o redenho”
deveriam ser oferecidos para o Senhor (Lv 3.3,4).
A parte de Deus era queimada sobre o altar (Lv
3.14-17). As melhores partes eram
queimadas ao SENHOR, veja seguir:
1.2.2. A
gordura, os rins e o fígado. Lv 3.4-5 “E ambos os rins, e a gordura que está
sobre eles, e junto aos lombos, e o redenho que está sobre o fígado com os
rins, tirará. E os filhos de Arão queimarão isso sobre o altar, em cima do
holocausto, que estará sobre a lenha que está no fogo; oferta queimada é de
cheiro suave ao SENHOR.”
1.2.3. Estes três elementos estão intimamente
ligados.
A gordura, os rins e fígado estão intimamente ligados veja:
Levítico 3.4 “Os dois rins com a gordura
que os cobre e que está perto dos lombos, e o lóbulo do fígado, que ele
removerá junto com os rins.”
A. O fígado é responsável pelo metabolismo
do corpo. Responsável
pelos nutrientes.
Responsável pela filtragem do sangue. Ele
tira as toxinas do sangue e manda para os rins.
B. Os rins filtram o sangue e manda
para fora. A
Bíblia fala muito de coração, mas no original é o rim.
C. A gordura. O fígado, também
é responsável pela gordura. Ela armazena a gordura do corpo. Levítico 9.19 “Mas
as porções de gordura do boi e do carneiro, a cauda gorda, a gordura que cobre
as vísceras, os rins e o lóbulo do fígado.”
A gordura é a energia do corpo, por isso
ela é importante. Estes elementos são queimados ao Senhor, e isto sobe como
cheiro suave a Ele.
2. Uma oferta que o sacerdote
ministrante se alimentava. Algumas ofertas, apesar de serem oferecidas ao
Senhor, serviam de alimento para os sacerdotes (Lv 2.3,10). Deus, como sempre,
se preocupou com o sustento daqueles que vivem exclusivamente para a obra.
Falando especificamente da “oferta pacífica” como havia muitos sacerdotes,
aquele que ministrava esta oferta era quem deveria comer dela, como uma
recompensa pelo seu trabalho (Lv 7.14,31,32,34-35).
3. Uma oferta que o ofertante se
alimentava com sua família. Na oferta pacífica apenas uma parte era queimada ao
Senhor (Lv 3.5,11,16), enquanto que a outra parte o adorador reunia-se ao
sacerdote na refeição sacrificial, daquilo que restava. Portanto, este era o
único sacrifício em que o ofertante tinha licença de participar (Lv 7.14,15).
Era uma confraternização; o restante do animal era comido
pelos sacerdotes que se achavam em turno, pelo ofertante e pelas pessoas por
este convidadas (as envolvidas na reconciliação), nas dependências do templo.
Toda família se reunia no átrio para
festejar a paz que havia sido realizada entre Deus e o homem, e entre o homem e
o seu próximo. A marca distintiva da oferta de paz, era a comida em comum, na
qual prevaleciam o gozo e a alegria.
A oferta pacifica era uma oferta de
comunhão em que tomavam parte Deus, o sacerdote e a pessoa. Era uma refeição em
comum, tomada no recinto do templo, em que predominavam a alegria e o
contentamento, e os sacerdotes e o povo entretinham conversa. Não era uma
ocasião em que se efetuava a paz, antes uma festa de regozijo pela posse da
mesma. Era geralmente precedida de uma oferta pelo pecado ou uma oferta
queimada. Fizera-se expiação, espargira-se o sangue, o perdão havia sido
concedido e assegurada a justificação. Para isto celebrar, o ofertante
convidava seus parentes chegados e seus servos, bem como os levitas, para
comerem com ele.
“Nas tuas portas não poderás comer”, era o
mandamento, mas só́ “no lugar que escolher o Senhor teu Deus” (Dt 12.17-18). E
assim se reunia toda a família dentro das portas do templo para celebrar de
maneira festiva a paz que se estabelecera entre Deus e o homem, e entre o homem
e homem.
4. Uma oferta que os pobres podiam
participar e outros convidados. Além do sacerdote oficiante, o adorador,
os membros de sua família; as pessoas pobres que fossem convidadas podiam também
participar “E vos alegrareis perante o SENHOR vosso Deus, vós, e vossos filhos,
e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está
dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança” (Dt 12.12).
IV.
UMA OFERTA PARA COMUNHÃO
Nesta oferta o
adorador também colocava a mão na cabeça do animal quando era degolado (Lv
3.2), simbolizando a comunhão com a vítima que morria sobre o altar. As
entranhas e gordura do animal eram colocadas sobre o altar para serem
queimadas. Nessa oferta o adorador podia comer do sacrifício, mas a porção mais
excelente era oferecida ao Senhor, o único que podia apreciá-la.
1.
A comunhão do adorador. A comunhão é o propósito de Deus com
as Suas criaturas, que se tornaram Seus filhos pela obra consumada por Jesus
(Jo 1.12). Essa comunhão só pode acontecer com quem tem a vida de Deus e essa
vida nos é concedida através do novo nascimento, que vem com a fé e o
arrependimento por ter ofendido a santidade de Deus, aquele que cura e
restaura. Para o adorador, a comunhão com Deus é a certeza de poder estar na
presença de Deus sem ser consumido.
Para o
adorador, a comunhão com Deus lhe concede o deleite que a presença do Senhor
proporciona, uma experiência maravilhosa que todo salvo conhece. A intensidade
dessa comunhão está tipificada neste sacrifício pacífico com todo o ritual que
foi estabelecido na lei que Moisés recebeu do Senhor. No Novo Testamento a
comunhão do salvo é caracterizada pelo culto que foi instituído por Jesus: a
Ceia do Senhor (1ª Co 11.23-25). Uma ordenança que a Igreja deve realizar até
que o Senhor volte, pois é o culto que caracteriza a comunhão do Corpo com a
Cabeça, que é Cristo. É o modo simples do adorador dizer que permanece em
comunhão com o Senhor, participando da Ceia, que, além de demonstrar comunhão,
também é comemoração.
2.
Comunhão com Deus. A comunhão com Deus não podia ser alcançada na
oferta de manjares, pois não havia o derramamento de sangue. Era uma oferta que
representava o ministério terreno de Jesus, como vimos na lição passada, mas,
nesta oferta (Lv 3.2), o sangue derramado sobre o altar permitia que a comunhão
fosse alcançada, proporcionando ao homem todos os privilégios que a presença do
Senhor concede. A comunhão deve ser vista pela Igreja com a mesma intensidade
que Moisés se expressou: “Se a tua presença não for conosco, não nos faças
subir daqui” (Êx 33.15).
A expressão
“subir” que Moisés usa falar da presença de Deus é bem sugestiva, pois a
comunhão com Deus consiste em o homem sair da sua posição inferior e chegar às
alturas em que Deus habita. Jesus, no Seu ministério terreno, estava com os
Seus discípulos, andando com eles, comendo, ensinando, fazendo milagres, mas,
com a Sua morte, ressurreição e o derramamento do Espírito Santo, esta comunhão
avança ao ponto de habitar neles. O salvo agora é morada do Pai e do Filho
através do Espírito Santo (Jo 14.23). Uma comunhão que leva ao relacionamento
alicerçado no amor (1ª Jo 1.3).
3.
Comunhão de toda a família sacerdotal. Na oferta
pacífica os filhos de Arão tinham a responsabilidade de espargir o sangue ao
redor do altar (Lv 3.8). A família sacerdotal atuava para a comunhão do
adorador. Aquele que se chegava ao altar para ofertar ao Senhor tinha os
sacerdotes para oficiar, a fim de que o mesmo ali permanecesse e fosse
agradável a Deus. Uma bela figura da atividade da Igreja para que os pecadores
sejam aceitos diante do Senhor com a mensagem do Evangelho, que apresenta o
valor precioso do sangue de Jesus, que nos permite participar da comunhão como
sacerdotes (1ª Pe 2.9).
Arão e seus
filhos alimentavam-se do peito e da espádua direita – o peito e a espádua do
animal são tipos emblemáticos de amor e de poder – afeição e força (Lv
7.31-32). Dois atributos que sustentam a comunhão da família sacerdotal no
santuário estão representados na lei do sacrifício pacífico e nos ensinam o que
sustenta a Igreja, simbolizada nos filhos de Arão, que são a afeição e força. A
força representa o poder de nos manter nessa perfeita comunhão com o Senhor,
como Ele se expressa em João 17.21, e a afeição é fundamentada no sentimento
sublime que é o amor (1ª Jo 4.16). Assim, também, todos os discípulos de Cristo
podem desfrutar do amor de Jesus e do amor de Jesus e do Seu poder.
V.
UMA OFERTA DE GRATIDÃO
Essa oferta
estava ligada diretamente ao desejo do ofertante em agradecer a Deus, como
reconhecimento das bênçãos recebidas e das necessidades supridas por Deus (Lv
7.29). A gratidão deve ser constante na vida da Igreja.
1.
Gratidão pelas necessidades supridas. Deus é o
provedor de todas as necessidades do homem e a gratidão é uma maneira de
reconhecer esse ato do Criador. Satisfazer a necessidade não depende da
quantidade do suprimento disponível, mas da bênção do Senhor repousar sobre o
suprimento. Cinco pães e dois peixes provaram ser mais do que suficientes para
alimentar os quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças, que O
seguiam no deserto, porque Ele abençoou o alimento (Mt 14.19-21).
O ato do
ofertante trazer o sacrifício demonstra a gratidão pelo que o Senhor tinha lhe
concedido para seu sustento e de sua casa, e ele traria a oferta de “suas
próprias mãos” (Lv 7.30). A gratidão é uma atitude pessoal dos que reconhecem
que tudo nos é concedido pela bondade do Senhor: O salmista aconselha como
Israel deveria entrar no santuário do Senhor: “Entrai pelas portas dele com
louvor, e em seus átrios, com hinos; louvai-o e bendizei o seu nome.” (Sl
100.4). Deus proveu ao adorador do Antigo Testamento a possibilidade desse
culto acontecer estabelecendo a oferta pacífica.
2.
Gratidão pelas orações respondidas. Ter a oração
respondida só é alcançada pelas pessoas que servem a um Deus Vivo, pois um deus
morto não tem capacidade de ouvir e responder. A Bíblia fala do deus que tem
ouvido, mas não ouve (Sl 115.6). Servimos a um Deus que ouve e tem a capacidade
para responder. A Palavra de Deus estimula fortemente a prática da oração (Sl
4.3; 65.2; 1ª Ts 5.17; Tg 5.16). O apóstolo Tiago, por exemplo, conclui o seu
livro com um incentivo à oração (Tg 5.13-18). Devemos ser sempre gratos a Deus
em nossas orações.
Para termos as
nossas orações respondidas, devemos tornar tudo conhecido diante do Senhor pela
súplica. É essencial ser cheio do Espírito Santo para tornar tudo conhecido de
Deus com ações de graça. Tudo o que enfrentamos devemos apresentar ao Senhor,
senão, quando vier a primeira dificuldade, não saberemos o que fazer. O fardo
ficará cada vez mais pesado e acabaremos não suportando a pressão. Mas, se
lançarmos sobre o Senhor, não ficaremos ansiosos, descansaremos nas Suas
gloriosas promessas e seremos gratos pelas respostas às nossas orações (2ª Pe
5.7).
3.
Gratidão pela revelação de Deus. O salmista
Davi assim se expressa: “Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz
veremos a luz.” (Sl 36.9). A luz que ilumina o nosso entendimento para
compreendermos a mensagem da Palavra de Deus. Essa luz ilumina todo o Velho
Testamento e nos revela esse grandioso ensino dos sacrifícios, que se cumpriram
em Jesus Cristo. O escritor aos Hebreus fala que eram sombras dos bens futuros
(Hb 10.1). Essa revelação se dá pela presença dessa luz em nossa vida, que nos
leva a um brado de exaltação, como fez Paulo escrevendo à igreja em Roma (Rm
11.33).
O pecador deve
ter gratidão e reconhecer tudo que Deus fez por intermédio de Seu Filho Jesus
Cristo. Deus proporcionou o caminho para que o pecador pudesse se voltar para o
Senhor e se assentar na Sua mesa para se alimentar do que Ele preparou para
Seus filhos. Encontramos isso na parábola contada por Jesus sobre o filho que
decidiu partir para uma terra distante. Quando voltou, seu pai o recebeu, vestiu-o
com o melhor vestido e providenciou um banquete (comunhão). Assim, Deus vestiu
o primeiro casal no Éden, pois vestes de folhas não eram suficientes, pois sem
derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hb 9.22). Somente a
vestimenta dada por Deus (túnicas de peles, tipificando o sacrifício de Jesus)
proporciona a condição necessária para restaurar a comunhão do ser humano com o
Senhor.
VI.
UMA OFERTA DE PAZ
Na oferta
pacífica, assim que o sangue era derramado, Deus e o adorador podiam estar em
feliz e pacífica comunhão. O que Jesus veio trazer se encontra apenas no Reino
de Deus (Rm 14.17). O mundo tenta promover essa paz, mas todos os meios
empregados para que isso aconteça têm se mostrado completamente inúteis e
frustrantes. No entanto, em Jesus, isso é alcançável para o homem.
1.
Paz interior. A paz interior é consequência direta da comunhão do
homem com Deus e isso fica demonstrado neste sacrifício, no qual o ofertante e
Deus têm a sua parte na oferta. A paz interior do homem é a certeza de posse
das bênçãos que a salvação proporciona ao homem; a integridade de sua relação
com Deus, que é restabelecida e garantida; e a certeza de que nenhuma
condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1). A tradição
judaica afirma que este sacrifício acompanhava a oferta da expiação em tempos
de grande alegria (2º Sm 6.17), e também em tempo de maior necessidade (Jz
20.26).
A paz interior
que o homem alcança pelo sacrifício pacífico que Jesus fez por nós não está
sujeita a situações externas que venhamos a enfrentar. Eles ofereciam a oferta
nos tempos de grande alegria como nos dias de grandes tribulações, porque a paz
não está alicerçada em situações exteriores do dia a dia, mas na obra que Jesus
consumou. Esta obra, sim, uma obra perfeita que foi do agrado do Pai e traz ao
homem a tão necessária paz para a sua existência. Numa sociedade que cada vez
mais se afasta de Deus e um mundo cheio de conturbações, temos as doces
palavras de Jesus: “para que em mim tenhais paz” (Jo 16.33).
2.
Paz com o próximo. Deus criou o homem para viver em paz com o seu
semelhante e não para promover a guerra, mas Jesus estabeleceu um princípio para
que a paz aconteça (Mt 10.34). Significa que, para haver a paz, seu princípio
básico é consequência do relacionamento de obediência do homem para com Deus.
Uma paz onde a pureza fica em segundo plano não é aprovada por Deus (Tg 3.17).
Deus estabelece
uma ordem: “pura, depois pacífica” (Tg 3.17), e esta ordem não pode ser
alterada. Se em busca da paz abandonarmos a pureza, certamente não estaremos
agradando a Deus. Essa pureza só é alcançada através do sangue de Jesus, e não
existe outra maneira de conseguir essa pureza. Os que procuram se afastar de
Cristo para serem agradáveis ao próximo, estão fugindo dos propósitos divinos.
Na oferta pacífica podia ser apresentado ao sacerdote o pão levedado (Lv 7.13),
mas o sacerdote que recebesse o pão teria que derramar o sangue no altar (Lv
7.13-14).
3.
Paz com Deus. Ter paz com Deus é estar em Sua presença, com temor
e tremor; para nela poder permanecer. Ter paz com Deus é o filho pródigo poder
retornar para casa e ser recebido pelo pai, como na parábola que Jesus contou.
A provisão para a festa da reconciliação foi feita pelo pai, assim como Deus o
fazia para o sacrifício pacífico. A festa ocorria no lugar escolhido por Deus
(Dt 12.5-7, 17-18). Estes detalhes ilustram bem a bênção da paz com Deus. O
apóstolo Paulo, escrevendo a epístola aos Romanos, enfatiza que temos “paz com
Deus” como resultado da nossa justificação pela fé (Rm 5.1). É a tranquilidade
proporcionada a partir da reconciliação com Deus (Rm 5.11). Tal ação partiu do
próprio Deus. Que bela expressão de amizade e de comunhão restaurada Deus
mostrava através do sacrifício pacífico.
Por intermédio
de Jesus Cristo a inimizade foi removida, desapareceu a separação e a comunhão
é possível (Rm 5.10; Ef 2.3; Cl 1.21).
VII. A TIPOLOGIA DO CULTO LEVÍTICO
COM A PESSOA DE JESUS
Ali, Deus, deu as instruções sobre o
cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra de Jesus Cristo
na cruz. As cinco ofertas são descritas nos capítulos 1 a 7 de Levítico e
explicam tudo que foi realizado no Calvário. Há quem diga que não existe nenhum
livro do AT que nos faça melhor compreender o NT que o de Levítico. Não há em
toda a Bíblia nenhum livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de
Levítico. Ele é chamado por alguns de o “Evangelho do Antigo Testamento”.
Vejamos a tipologia com o sacrifício de Cristo:
1. A oferta de holocausto
tipificava o sacrifício de Cristo. A primeira oferta descrita em Levítico é
o holocausto (Lv 1.3-5). O termo hebraico é “Olah”, que significa “fazer
subir”. O sentido geral da oferta é que ela subia para Deus como cheiro suave e
era totalmente queimada. Em Levítico 1.3-5 observa-se: “sacrifício queimado e
voluntário” para que fosse aceito. As exigências de Deus quanto aos animais que
eram aceitos para os sacrifícios estão reiteradas em Levítico 22.18-20-25 e
indicam que estes sacrifícios deveriam ser “fisicamente perfeitos” apontando
para perfeição de Cristo. Em Levítico 1.8-9, fala das ofertas queimadas de
aroma agradável. São assim chamadas porque tipificam Cristo em Suas próprias
perfeições e em Sua devoção afetuosa para com a vontade do Pai.
2. A oferta de animais tipificava a
obediência perfeita de Cristo. O novilho que é um “tipo” de Cristo como
servo paciente e sofredor (Hb 12.2,3), obediente até a morte (Is 53.1-7; At
8.32-35), as aves são naturalmente símbolos da inocência (Is 38.14, 59.11, Mt
23.37, Hb 7.26), e estão associados com a pobreza (Lv 5.7; 12.8), pois Ele por
amor a nós se tornou pobre (Lc 9.58). Esse caminho voluntário para a pobreza
começou quando se esvaziou de Sua glória e terminou no sacrifício através do
qual nos tornamos ricos (2ª Co 8.9; Fp 2.6-8, Jo 17.5).
3. A oferta de manjares tipificava
o sofrimento perfeito de Cristo. Muitas são as características dessas
ofertas (Lv 2.1-16; 6.14,23). Para se obter uma farinha de qualidade, era
necessário um esmagamento do trigo. Isto faz lembrar o sofrimento de Jesus na
cruz. O fogo usado nesta oferta descreve a prova de seu sofrimento até a morte
(Mt 27.45,46, Hb 2.18) e o incenso aponta para a fragrância de sua vida diante
de Deus. A ausência de fermento neste sacrifício tem a ver com sua atitude para
com a verdade (Jo 14.6). O azeite que era colocado por cima aponta para unção
do Espírito Santo (Jo 1.1-32, 6.27), e o sal explicita a pungência da verdade
de Deus àquilo que impede a ação do fermento e simboliza a eterna e incorrupta
aliança com Deus.
4. A oferta pacífica tipificava a
paz de Cristo.
O termo “pacífico” traduzido é “shelami” do verbo “shalom” e
significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Por outro lado, podia
reafirmar a comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em
harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se
encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui
tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com
Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a
própria paz do cristão (Ef 2.14).
5. A oferta pelo pecado tipificava
a substituição de Cristo. A oferta pelo pecado simboliza Cristo levando o
pecado do homem (Lv 4.1-35), isto é, Cristo ocupando absolutamente o lugar do
pecador (Is 53; Sl 22, Mt 26.28, 1ª Pe 2.24), Ele foi “feito pecado pelo
pecador”. As ofertas pelo pecado são expiatórias, substitutivas e eficazes (Lv
4.12,29,35). A oferta pelo pecado é queimada fora do arraial e tipifica o
aspecto da morte de Cristo fora da cidade.
CONCLUSÃO.
Cristo, como sacrifício pacífico, estabelece a paz
da consciência e satisfaz todas as necessidades da alma. No sacrifício pacífico
os sacerdotes viam que podiam oferecer um cheiro suave para Deus e também
render uma porção substancial para si mesmos, da qual podiam alimentar-se em
comunhão.
Pr. Elias Ribas