TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A OFERTA DE MANJARES

 


Levítico 2.1-3 “E, quando alguma pessoa oferecer oferta de manjares ao Senhor, a sua oferta será de flor de farinha; nela, deitará azeite e porá o incenso sobre ela. 2- E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor. 3- E o que sobejar da oferta de manjares será de Arão e de seus filhos; coisa santíssima é, de ofertas queimadas ao Senhor”. 

A oferta de manjares era voluntária e fazia parte do ritual de adoração da nação israelita. Essa oferta tinha o propósito de conduzir o povo até a presença do Senhor e de abençoar o sacerdote.

I. OFERTA DE MANJARES (Lv 2.1-16). 

(ARA; NVI: oferta de cereal). Mais precisamente, apresentar “uma oferta de cereal no hebraico minhah como uma oferta (qorban, ver Lv 1.2). A segunda oferta voluntária era a oferta dos manjares, na qual o fruto do campo era oferecido na forma de um bolo ou pão assado feito de grãos, farinha fina, azeite e sal. A menor dessas ofertas de cereais compunha-se de uma dízima do efa ou seja, 2,2 litros. A oferta dos manjares era um dos sacrifícios acompanhados por uma oferta de bebida de um quarto de him (cerca de um litro) de vinho, o qual era derramado no fogo sobre o altar (Nm 15.4–5). O propósito dessa oferta era expressar gratidão em reconhecimento da provisão de Deus e boa vontade imerecida para com a pessoa fazendo o sacrifício. Os sacerdotes recebiam uma parte dessa oferta, mas ela precisava ser comida dentro da corte do tabernáculo. 

II. OS INGREDIENTES DA OFERTA 

Na oferta de manjares não havia derramamento de sangue. Ela representa o ministério terreno de Jesus em toda a perfeição de atitudes e palavras que Ele proferiu durante o Seu ministério nesta terra. Quando lemos os evangelhos, aprendemos com Jesus, o homem perfeito. Vemos Seu relacionamento com os pecadores, Sua atenção para com os que lhe procuravam com um coração sincero e também as palavras duras para os que se aproximavam d’Ele com hipocrisia. 

1. Flor de farinha. A flor de farinha era o trigo passado em peneira muito fina e nos dias do patriarca Abraão era utilizado para a fabricação de bolo (Gn 18.6). Essa farinha feita do trigo tem como característica ser bem fina, com os grãos apresentando a uniformidade, o que representa muito bem o ministério terreno de Jesus Cristo, em quem não encontramos acepção de pessoas nem injustiça no relacionamento com os homens. 

A humanidade pura e perfeita de nosso Senhor Jesus é um tema que encanta e nos inspira a procurar imitá-Lo como Seus servos. Observemos como Jesus agiu diante de indecisão de João Batista quando enviou os discípulos até ele (Mt 11.3), como suportou a indiferença “desta geração” (Mt 11.16-17) as impenitentes cidades da Galileia (Mt 11.20), as multidões sem discernimento (Mt 13.13-15), a incredulidade do povo que ouvia o seu ensinamento (Mt 13.58), a inflexibilidade dos religiosos da sua época (Mt 16.1). Jesus sempre agiu conforme as Sagradas Escrituras e essa é a proteção contra qualquer tipo de erro. 

2. Azeite. O azeite na oferta de manjares é símbolo do Espírito Santo. A flor de farinha era amassada com azeite (Lv 2.5), simbolizando a concepção de Jesus no ventre de Maria (Lc 1.35). O Verbo se fez carne (Jo 1.14), através da ação do Espírito Santo no ventre de Maria! A concepção da humanidade de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo no ventre de Maria, é um dos profundos mistérios que nos revela a Palavra de Deus (1ª Tm 3.16). 

Na preparação da oferta de manjares a flor de farinha, sem fermento era amassada e depois untada com azeite (Lv 2.4). Esse ato tipifica o momento que Jesus foi ungido com o Espírito Santo antes do início do Seu Ministério. Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba (Mt 3.16). Quando iniciou o Seu ministério em Nazaré, num sábado, estando Ele na sinagoga, tomou o livro e disse que o Espírito do Senhor era sobre Ele para cumprir o ministério que lhe havia sido concedido (Lc 4.16-19). É importante notar o fato do Senhor Jesus ter sido ungido pelo Espírito Santo antes da Sua entrada no ministério público. 

3. Incenso. O Senhor Deus revelou a Moisés como o incenso deveria ser feito, quais os elementos que fariam parte de sua composição e a quantidade exata desses elementos. O Senhor também disse a Moisés que ninguém poderia fazê-lo para seu próprio uso, mas somente para oferecer ao Senhor Deus (Êx 30.34-38), pois era algo santíssimo. O incenso nessa oferta demonstra que em todo o Seu ministério terreno Jesus nunca fez nada para Sua própria glória, mas sempre para a gloria de Deus (Jo 7.18). 

O azeite e o incenso eram dois ingredientes de suma importância na preparação da oferta e também com um grande ensinamento espiritual. O azeite simboliza o poder do ministério de Jesus e o incenso o objetivo desse ministério, nos ensinando tudo que Ele fez foi feito pelo poder do Espírito Santo e tudo foi feito para a glória de Deus. Este deve ser o fundamento dos que querem servir e agradar a Deus: oferecer a Deus todo o nosso ser, buscar n’Ele a capacitação necessária e ter como objetivo a glória de Deus. 

III. TRAZENDO A OFERTA AOS SACERDOTES 

Deus nos ensina na Sua Palavra que devemos ofertar ao Senhor em gratidão pelas bênçãos que Ele nos concede por Sua infinita bondade, para a Sua casa. Os israelitas foram ensinados a levarem dos seus bens para o Senhor. Desse modo, os sacerdotes eram também abençoados. Pela Palavra de Deus vemos que, sempre que o povo assim procedia, a bênção do Senhor era abundante sobre o Seu povo. 

1. Entregue aos filhos de Arão. O que era trazido como oferta de manjares ao Senhor era entregue nas mãos dos filhos de Arão (Lv 2.2). Este sacrifício nos ensina que devemos trazer nossas ofertas para serem entregues nas mãos daqueles que estão com essa responsabilidade na casa do Senhor. Como foi agradável ao Senhor que assim fosse com a nação de Israel, também é agradável a Deus que este mesmo princípio hoje seja um fundamento em Sua Igreja. Assim como Deus abençoou o Seu povo no passado, Ele também abençoa o Seu povo hoje. 

Vivemos dias em que pessoas deixam de observar o que diz a Palavra de Deus e passam a agir segundo seus próprios conceitos e entendimento. A bênção consiste em fazer o que Deus estabelece através da Sua Palavra. É muito importante que tenhamos esse pleno entendimento para que as bênçãos de Deus sobre a nossa vida não sejam impedidas por atitudes erradas que venhamos a tomar; ou que outras pessoas venham a interferir no que podemos fazer para Deus em cumprimento da Sua Palavra. Deus simplesmente diz: “E a trará” (Lv 2.2). 

2. Parte da oferta era queimada. É importante observarmos este trecho da Palavra de Deus: “e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor.” (Lv 2.2). Tudo o que fazemos para Deus deve ser como essa oferta queimada sobre o altar. Nada pode impedir ou tirar o galardão pelo que fazemos para o Senhor. O serviço do salvo feito para o Senhor nesta vida está diante de Deus. As orações, os jejuns, a evangelização, a contribuição, tudo está sobre o altar e terá a sua perfeita recompensa, o galardão que está nas mãos do Senhor, para dar a cada um segundo as suas obras (Ap 22.12). 

Para todo aquele que tem a experiência do novo nascimento, servir a Deus é um deleite e não um peso; obedecer a doutrina da Palavra de Deus é um prazer e o faz com alegria porque na verdade está fazendo por agradecimento a quem fez tudo por nós. Para aqueles que não nasceram de novo, tudo se torna um fardo, tudo é motivo para murmuração. O que é queimado deixa de ser visto, por isso, nada deve ser feito para ser ovacionado pelos homens; não devemos esperar aplausos e elogios, pois Jesus condenou os que assim o fazem (Mt 6.1). O cristão tem que ter fé para saber o que é oferecido ao Senhor não nos torna mais pobre, muito pelo contrário só nos enriquece. 

3. Parte da oferta era dos sacerdotes. Não era tudo para os sacerdotes, mas somente o que lhes era permitido pelo Senhor (Lv 2.3). Assim como existe a responsabilidade do ofertante, também existe a do sacerdote em atentar para o que diz o ritual do sacrifício, pois a oferta não pode ser profanada. Aprendemos com isso que tudo deve ser feito conforme estabelecido pelo Senhor, para que seja sempre para a Sua glória. O texto de Levítico 2.3 diz: “E o que sobejar...”, porque tudo é oferecido primeiramente para o Senhor. No entanto, aqueles que O servem também são abençoados. Assim, aprendemos que o sacerdote come do que é oferecido no altar (1ª Co 9.13). 

Arão e seus filhos estão junto ao altar ministrando o sacrifício conforme o mandamento do Senhor, tipificando Cristo e Sua Igreja ministrando para engrandecimento do Senhor. Assim como parte da oferta também pertencia aos filhos de Arão, do mesmo modo a Igreja deve em tudo procurar ter o ministério como teve o Senhor Jesus. Sabemos da impossibilidade de sermos iguais ao nosso Mestre, mas devemos nos esforçar para fazer o melhor para Deus. À Igreja são concedidos dons e ministério para o seu crescimento (Ef 4.11-12). Tudo deve ser feito para edificação do Corpo e não para promoção pessoal, como alguns pensam. 

IV. PREPARANDO A OFERTA 

A oferta devia ser preparada em casa e levada aos sacerdotes, ensinando-nos que o culto começa em casa, junto com a nossa família, mas Deus tem um lugar escolhido por Ele onde devemos levar as nossas ofertas. No Antigo Testamento era o tabernáculo; mais tarde, no templo de Salomão. Hoje a Igreja tem os seus locais de culto e o cristão tem o dever e a obrigação de estar presente para adorar ao Senhor. 

1. Uma oferta sem fermento e mel. O fermento, juntamente com o mel, não era permitido na oferta de manjares (Lv 2.11). Não deveria haver nada que azedasse, nada que fizesse a massa levedar. O fermento tem a capacidade de fazer a massa crescer, deixando a inchada. O fermento é símbolo da corrupção (apodrecimento). Jesus alertou os Seus discípulos a que se guardassem do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mt 16.6). A Igreja também deve se resguardar de toda a influência que o fermento possa produzir (1ª Co 5.8). O mel, do mesmo modo que o fermento, era usado para levedar, especialmente na preparação do vinagre. Os intérpretes associam, geralmente, o mel aos desejos da carne, que podem, de fato, ser prazerosos, mas contêm em si elementos de corrupção e são destrutivos à vida espiritual. 

Essa oferta simbolizava o homem perfeito, Jesus Cristo, em Seu ministério terreno. Em Cristo não há sabor de azedume. Em Seus ensinos, nos milagres por Ele realizados, no convívio com os pecadores, nada n’Ele demonstra algo susceptível de fazer inchar. A Sua Palavra podia, por vezes, ser enérgica e penetrante, mas nunca era áspera, o Seu caráter e o Seu comportamento mostraram sempre a realidade de quem andava na presença de Deus. 

2. A oferta cozida no forno ou na caçoula. A oferta podia ser cozida de três maneiras: no forno, na caçoula e na sertã. Esses três modos de cozer sugerem os tipos de sofrimento que Jesus enfrentou durante o Seu ministério, como também as experiências que o salvo enfrenta durante a sua vida. Essa é uma oferta que agrada a Deus e é chamada “cheiro suave”, porque eu ministério terreno e suportou todo tipo de sofrimento, enfrentando oposição, perseguição e incompreensão por sempre fazer a vontade do Pai. 

Jesus suportou dois tipos de sofrimento neste mundo: interno e externo. Esses sofrimentos são simbolizados pelo bolo sendo preparado no forno, que se encontra fora do olhar humano, e o bolo na caçoula e na sertã, que por todos é visto. Quando disseram que Ele expulsava demônios por Belzebu, foi um sofrimento que Ele sentiu em Seu âmago. Quando lhe esbofetearam, foi um sofrimento visto por todos. O bolo no forno é aquecido a uma temperatura maior do que na caçoula ou na sertã. Os sofrimentos do coração são mais duros de suportar do que os externos. Tudo isso Jesus enfrentou e nós de uma ou de outra maneira iremos experimentar. 

2.1. Forno. É uma construção de tijolo, pedra ou de metal, em forma de câmara e com uma abertura ou porta, cujo interior é aquecido com matérias combustíveis (carvão, lenha etc.) e que se destina a cozer pães ou carnes.

2.2. Caçoula. É um recipiente, geralmente de barro ou metal, mais largo que alto, usado para cozinhar alimentos; sertã: é uma assadeira de ferro ou de barro que destina para assar. 

3. A oferta com sal. O sal era obrigatório na oferta de manjares (Lv 2.13). O sal tem muitos símbolos na Bíblia. Era considerado uma preciosidade entre as nações da região do Oriente da Antiguidade. Proporcionava sabor às oferendas, que em parte seriam dadas aos sacerdotes; preserva da corrupção; símbolo da perpetuidade (“aliança de sal” Nm 18.19; 1ª Cr 13.5). 

Portanto, ao ofertarmos a Deus, devemos fazê-lo reconhecendo que nossa comunhão com o Senhor não é ocasional e temporária, mas eterna e incorruptível. Sua presença na oferta de manjares aponta para a santidade de Cristo, indicando a reconciliação concedida por Deus ao homem na morte de Cristo (Lv 2.13). 

Que ofereçamos, constantemente, o nosso melhor a Deus, sempre com um coração grato e acompanhado de louvor e oração, como resultado de uma vida purificada pelo sangue de Jesus Cristo, pela Palavra de Deus e ação do Espírito Santo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

SACRIFÍCIO PACIFICO

 


Levítico 3.1-3; 17 “E, se a sua oferta for sacrifício pacífico, se a oferecer de gado macho ou fêmea, a oferecerá sem mancha diante do Senhor. 2- E porá a sua mão sobre a cabeça da sua oferta e a degolará diante da porta da tenda da congregação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar, em roda. 3- Depois, oferecerá do sacrifício pacífico a oferta queimada ao Senhor: a gordura que cobre a fressura e toda a gordura que está sobre a fressura. 17- Estatuto perpétuo será nas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura, nem sangue algum comereis.” 

INTRODUÇÃO. Das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão entre Israel e Deus. Ao aproximar-se do Senhor, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1-2). 

Adoramos a Deus com ofertas pacíficas quando nos apresentamos diante d’Ele com o propósito de render-lhe graças por todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos o Senhor com um culto racional, agradável e vivo. 

Com características distintas, as ofertas apresentam aspectos do ministério e da obra que Jesus realizou. A oferta pacífica tem por objetivo demonstrar o que o adorador alcança tendo comunhão com Deus. 

I. DEFINIÇÃO DE OFERTA PACÍFICA 

Pacífico. A expressão “oferta pacifica” no hebraico significa shelem, do verbo “shalom” e significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Era também chamada de “oferta de paz” ou de “ofertas de comunhão”. Josefo (historiador judeu do primeiro século), também chamava-a de “ofertas de agradecimento” (JOSEFO apud CHAMPLIN, 2001, p. 487). Tais termos denotam que esta oferta não era para pacificar a Deus, mas era apresentada pelo ofertante que já estava em comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a própria paz do cristão (Ef 2.14). 

A palavra sacrifício no hebraico zebah sheleimim poderia ser traduzido para “o sacrifício da unidade ou inteireza”. Inteireza dá ideia de um relacionamento íntimo ou comunhão entre Deus e o homem; estar perto de Deus. 

Zebah, significa algo que foi morto, ou abatido, ou seja, sacrifício de uma vítima morta.

Sheleimim, é um derivado da raiz slm que significa ser completo, ser cheio, ou estar em harmonia. 

A oferta era de inteira dedicação, da parte do ofertante, e da paz com Deus a quem as oferecem. A palavra também significa saúde e prosperidade, alguma coisa inteira e íntegra (2º Cr 16.9). 

Nesta oferta, podia se oferecer “gado” (Lv 3.1); ou “gado miúdo” (Lv 3.6) tais como: “cordeiro” (Lv 3.7) ou “cabra” (Lv 3.12); podendo ser “macho ou fêmea” (Lv 3.1,7,12), desde que fosse “sem defeito” (Lv 3.1,6). O ofertante tinha de impor a mão sobre a cabeça da sua oferta (Lv 3.2,8,13), matar o animal e apresentar ao sacerdote os pedaços a serem oferecidos (Lv 3.3,4,9,10,14,15). Em seguida, o sacerdote ministrante os queimava no altar (Lv 3.5,11,16). A outra parte da carne fazia parte da refeição (Lv 7.14,15,16). Quanto a “gordura” e ao “sangue”, estes dois, não poderiam jamais ser comidos, mas oferecidos ao Senhor como oferta queimada (Lv 3.16,17). 

II. TIPOS DE OFERTA PACÍFICA 

1. Havia três tipos de ofertas pacíficas (de comunhão). As ofertas de louvor, as ofertas oferecidas em cumprimento de um voto e as ofertas voluntárias. Para todos os três tipos, bois, ovelhas e cabritos de qualquer espécie poderiam ser oferecidos (Lv 3.1,6,12). 

1.1 Ações de graças. O primeiro tipo era oferecido por benefícios recebidos de Deus. A dádiva de ações de graças no hebraico “tôdâ” representava o reconhecimento do ofertante quanto às misericórdias de Deus para com ele (Lv 7.12-21). 

Ofertas por gratidão eram apresentadas como agradecimento pelo livramento de enfermidades (Sl 116.17), da aflição (Sl 107.22) ou da morte (Sl 56.12), resposta de oração; curas ou por uma bênção recebida (Bíblia de Estudo NVI Vida). 

Embora todas as coisas pertençam a Deus em última análise, seu relacionamento com o crente exige que este último transfira a Deus uma certa proporção daquelas coisas que foram confiadas a ele (1ª Cr 29.14). Esta exigência remove o relacionamento espiritual de um nível puramente verbal, e exige esforço do participante humano para sua dedicação ser posta em prática. 

Juntamente com a oferta de ações de graças vários tipos de “bolos asmos”, “coscorões ázimos”, e, “bolos de flor de farinha” deviam ser apresentados (Lv 7.12,13), um dos quais era a porção do Senhor e era dado ao sacerdote oficiante (Lv 7.14). Nesta oferta o adorador não tinha licença de deixar qualquer parte da carne do animal sacrificial para outro dia, mas, sim, era-lhe exigido que a comece na ocasião em que foi oferecida (Lv 7.15). 

Oferta pacífica como um ato de gratidão (ação de graças) (Lv 7.12-15; 22.29; 2º Cr 29.31; Jr 17.26). 

A. Esta oferta era para reconhecer Jesus; confessar Jesus; Confiar e amar o Senhor.

As gorduras, somente eram queimadas, e as carnes eram consumidas pelos sacerdotes e pelo povo, numa ceia de aliança solene, à qual os pobres eram convidados (Dt 12.18), que prenunciava a paz que seria trazida aos homens pela obra de Cristo (Cl 1.20), e comemorada na Ceia do Senhor (1ª Co 10.16). 

B. Era oferecido por benefícios recebidos de Deus. O Salmo 107.22 fala de tal sacrifício feito depois da libertação de situações de perigo. 

1.2. Oferta pacífica associada a um voto (Lv 11.16,17). Esta oferta é chamada no hebraico “neder” era feita para cumprir um voto (Lv 7.16; 22.21). O sacrifício do seu voto “oferta votiva” (que se oferece em cumprimento de um voto), era prometido a Deus na esperança de receber ajuda divina (Sl 66.13,14; 116.1-19). Um voto é “um juramento ou um compromisso de caráter religioso, e também uma transação qualquer entre o homem e Deus, de acordo com a qual o indivíduo dedica a si mesmo ou o seu serviço ou alguma coisa valiosa a Deus (Gn 28.20; Nm 6.2; 1º Sm 1.11). 

Oferta pacífica associada a um voto referente a um favor passado ou futuro, ou seja, “em cumprimento a uma promessa feita a Deus em troca de algum favor especial solicitado em oração; por exemplo, proteção durante uma viagem perigosa”. 

1.3. Oferta voluntária. A oferta “voluntária” (Lv 7.28-30) ou oferta “movida” (Lv 7.30), no hebraico “nedãbâ” consistia em um ato de homenagem e obediência ao Senhor num caso em que nenhum voto tinha sido feito, mas que o ofertante desejava voluntariamente ofertar ao Senhor: “as suas próprias mãos trarão [...]” (Lv 7.30-a). Esse tipo de oferta exprimia devoção, agradecimento e dedicação. E também podia ter a forma de uma oferta queimada (Lv 22.17-20). Ver Lv 7.16 e 22.18-23 quanto às ofertas voluntárias, com esse propósito. 

Os animais não podiam ter defeito, exceto no caso da oferta voluntária, em que animais com um membro mais curto ou mais comprido eram permitidos (Lv 22.23). As ofertas de comunhão também eram oferecidas em ocasiões de grande solenidade e alegria pública.

A refeição do sacrifício pacífico, era mais do que só desfrutar boa comida e comunhão com pessoas queridas. Também expressava com alegria as ações de graça do adorador pelo fato de estar em paz com Deus e em comunhão com o Senhor. 

Para uma oferta voluntária ou uma que era feita para cumprir um voto, o ofertante tinha licença de usar um dia adicional para completar a festa, e, nesta ocasião provavelmente convidaria amigos para participarem da refeição (Dt 12.12). Especificamente qualquer carne que permanecia depois daquele tempo tinha de ser queimada, mais provavelmente como uma medida higiênica (Lv 7.17). O descumprimento desta ordem consistia em pecado resultando em morte (Lv 7.18). 

III. CARACTERÍSTICAS DA OFERTA PACÍFICA

No Livro de Levítico há instruções detalhadas sobre quando as ofertas pacíficas eram comidas (Lv 7.15-17), quem poderia comê-las (Lv 7.20,21), o que podia ser comido (Lv 7.24-26) e, quais porções pertenciam a quem (Lv 7.31-35). 

1. O sacrifício era dividido em três partes.

1. Uma parte para o sacerdote.

2. Outra para o ofertante.

3. Outra parte para o Senhor, para consagração. 

No ritual esta oferta era quase idêntica à oferta de holocausto onde tudo era queimada ao Senhor (cap. 1). Nas outras três, o sacerdote tirava uma parte para si e seus filhos. Na oferta pacífica o adorador reunia-se ao sacerdote na refeição sacrificial daquilo que restava. Nas outras ofertas – manjares, pecado e sacrilégio – só o sacerdote participava da refeição sacrificial (conf. 7.11-38).

 1.1. Se a oferta for voto ou voluntaria. “Mas a carne do sacrifício de ação de graças da sua oferta pacífica se comerá no dia do seu oferecimento; nada se deixará dela até à manhã.” (Lv 7.15). 

A oferta pacifica era um voto ou uma oferta voluntária, também podia ser comida no dia seguinte. “E, se o sacrifício da sua oferta for voto, ou oferta voluntária, no dia em que oferecer o seu sacrifício se comerá; e o que dele ficar também se comerá no dia seguinte.” (V. 16). 

Era manifestamente impossível a um homem consumir sua oferta, caso esta fosse um novilho ou um bode, ou um cordeiro, em um dia só́. Era-lhe, portanto, permitido, e mesmo ordenado pedir a outros que compartilhassem da refeição. 

“Nas tuas portas não poderás comer… nenhum dos teus votos, que houveres votado, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão; mas o comeras perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher o Senhor teu Deus, tu, e teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro das tuas portas: perante o Senhor teu Deus te alegraras em tudo em que puseres a tua mão. Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra.” (Dt 12.17-19). 

1.2. Este era um traço que distinguia a oferta pacifica. Devia ser comida no mesmo dia, e ser compartilhada; devia ser comida “perante o Senhor”, e “te alegrarás”. Era uma refeição de regozijo, em comum, e a esse respeito diferia de todas as outras ofertas.

Abaixo, destacaremos algumas características da oferta de paz que a diferencia das outras: 

1.2.1. Uma oferta queimada ao Senhor. Levítico 8.16 “Moisés pegou também toda a gordura que cobre as vísceras, o lóbulo do fígado e os dois rins com a gordura que os cobre, e os queimou no altar.” 

A oferta pacífica era “oferta queimada ao Senhor”, no entanto, apenas parte da oferta deveria ser queimada (Lv 3.3,4,9,10,14,15). A especificação é que a “gordura, os rins e o redenho” deveriam ser oferecidos para o Senhor (Lv 3.3,4). 

A parte de Deus era queimada sobre o altar (Lv 3.14-17). As melhores partes eram queimadas ao SENHOR, veja seguir: 

1.2.2. A gordura, os rins e o fígado. Lv 3.4-5 “E ambos os rins, e a gordura que está sobre eles, e junto aos lombos, e o redenho que está sobre o fígado com os rins, tirará. E os filhos de Arão queimarão isso sobre o altar, em cima do holocausto, que estará sobre a lenha que está no fogo; oferta queimada é de cheiro suave ao SENHOR.” 

1.2.3. Estes três elementos estão intimamente ligados. A gordura, os rins e fígado estão intimamente ligados veja: 

Levítico 3.4 “Os dois rins com a gordura que os cobre e que está perto dos lombos, e o lóbulo do fígado, que ele removerá junto com os rins.” 

A. O fígado é responsável pelo metabolismo do corpo. Responsável pelos nutrientes.

Responsável pela filtragem do sangue. Ele tira as toxinas do sangue e manda para os rins. 

B. Os rins filtram o sangue e manda para fora. A Bíblia fala muito de coração, mas no original é o rim. 

C. A gordura. O fígado, também é responsável pela gordura. Ela armazena a gordura do corpo. Levítico 9.19 “Mas as porções de gordura do boi e do carneiro, a cauda gorda, a gordura que cobre as vísceras, os rins e o lóbulo do fígado.” 

A gordura é a energia do corpo, por isso ela é importante. Estes elementos são queimados ao Senhor, e isto sobe como cheiro suave a Ele. 

2. Uma oferta que o sacerdote ministrante se alimentava. Algumas ofertas, apesar de serem oferecidas ao Senhor, serviam de alimento para os sacerdotes (Lv 2.3,10). Deus, como sempre, se preocupou com o sustento daqueles que vivem exclusivamente para a obra. Falando especificamente da “oferta pacífica” como havia muitos sacerdotes, aquele que ministrava esta oferta era quem deveria comer dela, como uma recompensa pelo seu trabalho (Lv 7.14,31,32,34-35). 

3. Uma oferta que o ofertante se alimentava com sua família. Na oferta pacífica apenas uma parte era queimada ao Senhor (Lv 3.5,11,16), enquanto que a outra parte o adorador reunia-se ao sacerdote na refeição sacrificial, daquilo que restava. Portanto, este era o único sacrifício em que o ofertante tinha licença de participar (Lv 7.14,15). 

Era uma confraternização; o restante do animal era comido pelos sacerdotes que se achavam em turno, pelo ofertante e pelas pessoas por este convidadas (as envolvidas na reconciliação), nas dependências do templo. 

Toda família se reunia no átrio para festejar a paz que havia sido realizada entre Deus e o homem, e entre o homem e o seu próximo. A marca distintiva da oferta de paz, era a comida em comum, na qual prevaleciam o gozo e a alegria. 

A oferta pacifica era uma oferta de comunhão em que tomavam parte Deus, o sacerdote e a pessoa. Era uma refeição em comum, tomada no recinto do templo, em que predominavam a alegria e o contentamento, e os sacerdotes e o povo entretinham conversa. Não era uma ocasião em que se efetuava a paz, antes uma festa de regozijo pela posse da mesma. Era geralmente precedida de uma oferta pelo pecado ou uma oferta queimada. Fizera-se expiação, espargira-se o sangue, o perdão havia sido concedido e assegurada a justificação. Para isto celebrar, o ofertante convidava seus parentes chegados e seus servos, bem como os levitas, para comerem com ele. 

“Nas tuas portas não poderás comer”, era o mandamento, mas só́ “no lugar que escolher o Senhor teu Deus” (Dt 12.17-18). E assim se reunia toda a família dentro das portas do templo para celebrar de maneira festiva a paz que se estabelecera entre Deus e o homem, e entre o homem e homem. 

4. Uma oferta que os pobres podiam participar e outros convidados. Além do sacerdote oficiante, o adorador, os membros de sua família; as pessoas pobres que fossem convidadas podiam também participar “E vos alegrareis perante o SENHOR vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança” (Dt 12.12). 

IV. UMA OFERTA PARA COMUNHÃO 

Nesta oferta o adorador também colocava a mão na cabeça do animal quando era degolado (Lv 3.2), simbolizando a comunhão com a vítima que morria sobre o altar. As entranhas e gordura do animal eram colocadas sobre o altar para serem queimadas. Nessa oferta o adorador podia comer do sacrifício, mas a porção mais excelente era oferecida ao Senhor, o único que podia apreciá-la. 

1. A comunhão do adorador. A comunhão é o propósito de Deus com as Suas criaturas, que se tornaram Seus filhos pela obra consumada por Jesus (Jo 1.12). Essa comunhão só pode acontecer com quem tem a vida de Deus e essa vida nos é concedida através do novo nascimento, que vem com a fé e o arrependimento por ter ofendido a santidade de Deus, aquele que cura e restaura. Para o adorador, a comunhão com Deus é a certeza de poder estar na presença de Deus sem ser consumido. 

Para o adorador, a comunhão com Deus lhe concede o deleite que a presença do Senhor proporciona, uma experiência maravilhosa que todo salvo conhece. A intensidade dessa comunhão está tipificada neste sacrifício pacífico com todo o ritual que foi estabelecido na lei que Moisés recebeu do Senhor. No Novo Testamento a comunhão do salvo é caracterizada pelo culto que foi instituído por Jesus: a Ceia do Senhor (1ª Co 11.23-25). Uma ordenança que a Igreja deve realizar até que o Senhor volte, pois é o culto que caracteriza a comunhão do Corpo com a Cabeça, que é Cristo. É o modo simples do adorador dizer que permanece em comunhão com o Senhor, participando da Ceia, que, além de demonstrar comunhão, também é comemoração. 

2. Comunhão com Deus. A comunhão com Deus não podia ser alcançada na oferta de manjares, pois não havia o derramamento de sangue. Era uma oferta que representava o ministério terreno de Jesus, como vimos na lição passada, mas, nesta oferta (Lv 3.2), o sangue derramado sobre o altar permitia que a comunhão fosse alcançada, proporcionando ao homem todos os privilégios que a presença do Senhor concede. A comunhão deve ser vista pela Igreja com a mesma intensidade que Moisés se expressou: “Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir daqui” (Êx 33.15). 

A expressão “subir” que Moisés usa falar da presença de Deus é bem sugestiva, pois a comunhão com Deus consiste em o homem sair da sua posição inferior e chegar às alturas em que Deus habita. Jesus, no Seu ministério terreno, estava com os Seus discípulos, andando com eles, comendo, ensinando, fazendo milagres, mas, com a Sua morte, ressurreição e o derramamento do Espírito Santo, esta comunhão avança ao ponto de habitar neles. O salvo agora é morada do Pai e do Filho através do Espírito Santo (Jo 14.23). Uma comunhão que leva ao relacionamento alicerçado no amor (1ª Jo 1.3). 

3. Comunhão de toda a família sacerdotal. Na oferta pacífica os filhos de Arão tinham a responsabilidade de espargir o sangue ao redor do altar (Lv 3.8). A família sacerdotal atuava para a comunhão do adorador. Aquele que se chegava ao altar para ofertar ao Senhor tinha os sacerdotes para oficiar, a fim de que o mesmo ali permanecesse e fosse agradável a Deus. Uma bela figura da atividade da Igreja para que os pecadores sejam aceitos diante do Senhor com a mensagem do Evangelho, que apresenta o valor precioso do sangue de Jesus, que nos permite participar da comunhão como sacerdotes (1ª Pe 2.9).

Arão e seus filhos alimentavam-se do peito e da espádua direita – o peito e a espádua do animal são tipos emblemáticos de amor e de poder – afeição e força (Lv 7.31-32). Dois atributos que sustentam a comunhão da família sacerdotal no santuário estão representados na lei do sacrifício pacífico e nos ensinam o que sustenta a Igreja, simbolizada nos filhos de Arão, que são a afeição e força. A força representa o poder de nos manter nessa perfeita comunhão com o Senhor, como Ele se expressa em João 17.21, e a afeição é fundamentada no sentimento sublime que é o amor (1ª Jo 4.16). Assim, também, todos os discípulos de Cristo podem desfrutar do amor de Jesus e do amor de Jesus e do Seu poder. 

V. UMA OFERTA DE GRATIDÃO 

Essa oferta estava ligada diretamente ao desejo do ofertante em agradecer a Deus, como reconhecimento das bênçãos recebidas e das necessidades supridas por Deus (Lv 7.29). A gratidão deve ser constante na vida da Igreja. 

1. Gratidão pelas necessidades supridas. Deus é o provedor de todas as necessidades do homem e a gratidão é uma maneira de reconhecer esse ato do Criador. Satisfazer a necessidade não depende da quantidade do suprimento disponível, mas da bênção do Senhor repousar sobre o suprimento. Cinco pães e dois peixes provaram ser mais do que suficientes para alimentar os quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças, que O seguiam no deserto, porque Ele abençoou o alimento (Mt 14.19-21). 

O ato do ofertante trazer o sacrifício demonstra a gratidão pelo que o Senhor tinha lhe concedido para seu sustento e de sua casa, e ele traria a oferta de “suas próprias mãos” (Lv 7.30). A gratidão é uma atitude pessoal dos que reconhecem que tudo nos é concedido pela bondade do Senhor: O salmista aconselha como Israel deveria entrar no santuário do Senhor: “Entrai pelas portas dele com louvor, e em seus átrios, com hinos; louvai-o e bendizei o seu nome.” (Sl 100.4). Deus proveu ao adorador do Antigo Testamento a possibilidade desse culto acontecer estabelecendo a oferta pacífica. 

2. Gratidão pelas orações respondidas. Ter a oração respondida só é alcançada pelas pessoas que servem a um Deus Vivo, pois um deus morto não tem capacidade de ouvir e responder. A Bíblia fala do deus que tem ouvido, mas não ouve (Sl 115.6). Servimos a um Deus que ouve e tem a capacidade para responder. A Palavra de Deus estimula fortemente a prática da oração (Sl 4.3; 65.2; 1ª Ts 5.17; Tg 5.16). O apóstolo Tiago, por exemplo, conclui o seu livro com um incentivo à oração (Tg 5.13-18). Devemos ser sempre gratos a Deus em nossas orações. 

Para termos as nossas orações respondidas, devemos tornar tudo conhecido diante do Senhor pela súplica. É essencial ser cheio do Espírito Santo para tornar tudo conhecido de Deus com ações de graça. Tudo o que enfrentamos devemos apresentar ao Senhor, senão, quando vier a primeira dificuldade, não saberemos o que fazer. O fardo ficará cada vez mais pesado e acabaremos não suportando a pressão. Mas, se lançarmos sobre o Senhor, não ficaremos ansiosos, descansaremos nas Suas gloriosas promessas e seremos gratos pelas respostas às nossas orações (2ª Pe 5.7). 

3. Gratidão pela revelação de Deus. O salmista Davi assim se expressa: “Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz.” (Sl 36.9). A luz que ilumina o nosso entendimento para compreendermos a mensagem da Palavra de Deus. Essa luz ilumina todo o Velho Testamento e nos revela esse grandioso ensino dos sacrifícios, que se cumpriram em Jesus Cristo. O escritor aos Hebreus fala que eram sombras dos bens futuros (Hb 10.1). Essa revelação se dá pela presença dessa luz em nossa vida, que nos leva a um brado de exaltação, como fez Paulo escrevendo à igreja em Roma (Rm 11.33). 

O pecador deve ter gratidão e reconhecer tudo que Deus fez por intermédio de Seu Filho Jesus Cristo. Deus proporcionou o caminho para que o pecador pudesse se voltar para o Senhor e se assentar na Sua mesa para se alimentar do que Ele preparou para Seus filhos. Encontramos isso na parábola contada por Jesus sobre o filho que decidiu partir para uma terra distante. Quando voltou, seu pai o recebeu, vestiu-o com o melhor vestido e providenciou um banquete (comunhão). Assim, Deus vestiu o primeiro casal no Éden, pois vestes de folhas não eram suficientes, pois sem derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hb 9.22). Somente a vestimenta dada por Deus (túnicas de peles, tipificando o sacrifício de Jesus) proporciona a condição necessária para restaurar a comunhão do ser humano com o Senhor. 

VI. UMA OFERTA DE PAZ 

Na oferta pacífica, assim que o sangue era derramado, Deus e o adorador podiam estar em feliz e pacífica comunhão. O que Jesus veio trazer se encontra apenas no Reino de Deus (Rm 14.17). O mundo tenta promover essa paz, mas todos os meios empregados para que isso aconteça têm se mostrado completamente inúteis e frustrantes. No entanto, em Jesus, isso é alcançável para o homem. 

1. Paz interior. A paz interior é consequência direta da comunhão do homem com Deus e isso fica demonstrado neste sacrifício, no qual o ofertante e Deus têm a sua parte na oferta. A paz interior do homem é a certeza de posse das bênçãos que a salvação proporciona ao homem; a integridade de sua relação com Deus, que é restabelecida e garantida; e a certeza de que nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1). A tradição judaica afirma que este sacrifício acompanhava a oferta da expiação em tempos de grande alegria (2º Sm 6.17), e também em tempo de maior necessidade (Jz 20.26). 

A paz interior que o homem alcança pelo sacrifício pacífico que Jesus fez por nós não está sujeita a situações externas que venhamos a enfrentar. Eles ofereciam a oferta nos tempos de grande alegria como nos dias de grandes tribulações, porque a paz não está alicerçada em situações exteriores do dia a dia, mas na obra que Jesus consumou. Esta obra, sim, uma obra perfeita que foi do agrado do Pai e traz ao homem a tão necessária paz para a sua existência. Numa sociedade que cada vez mais se afasta de Deus e um mundo cheio de conturbações, temos as doces palavras de Jesus: “para que em mim tenhais paz” (Jo 16.33). 

2. Paz com o próximo. Deus criou o homem para viver em paz com o seu semelhante e não para promover a guerra, mas Jesus estabeleceu um princípio para que a paz aconteça (Mt 10.34). Significa que, para haver a paz, seu princípio básico é consequência do relacionamento de obediência do homem para com Deus. Uma paz onde a pureza fica em segundo plano não é aprovada por Deus (Tg 3.17). 

Deus estabelece uma ordem: “pura, depois pacífica” (Tg 3.17), e esta ordem não pode ser alterada. Se em busca da paz abandonarmos a pureza, certamente não estaremos agradando a Deus. Essa pureza só é alcançada através do sangue de Jesus, e não existe outra maneira de conseguir essa pureza. Os que procuram se afastar de Cristo para serem agradáveis ao próximo, estão fugindo dos propósitos divinos. Na oferta pacífica podia ser apresentado ao sacerdote o pão levedado (Lv 7.13), mas o sacerdote que recebesse o pão teria que derramar o sangue no altar (Lv 7.13-14). 

3. Paz com Deus. Ter paz com Deus é estar em Sua presença, com temor e tremor; para nela poder permanecer. Ter paz com Deus é o filho pródigo poder retornar para casa e ser recebido pelo pai, como na parábola que Jesus contou. A provisão para a festa da reconciliação foi feita pelo pai, assim como Deus o fazia para o sacrifício pacífico. A festa ocorria no lugar escolhido por Deus (Dt 12.5-7, 17-18). Estes detalhes ilustram bem a bênção da paz com Deus. O apóstolo Paulo, escrevendo a epístola aos Romanos, enfatiza que temos “paz com Deus” como resultado da nossa justificação pela fé (Rm 5.1). É a tranquilidade proporcionada a partir da reconciliação com Deus (Rm 5.11). Tal ação partiu do próprio Deus. Que bela expressão de amizade e de comunhão restaurada Deus mostrava através do sacrifício pacífico. 

Por intermédio de Jesus Cristo a inimizade foi removida, desapareceu a separação e a comunhão é possível (Rm 5.10; Ef 2.3; Cl 1.21). 

VII. A TIPOLOGIA DO CULTO LEVÍTICO COM A PESSOA DE JESUS 

Ali, Deus, deu as instruções sobre o cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra de Jesus Cristo na cruz. As cinco ofertas são descritas nos capítulos 1 a 7 de Levítico e explicam tudo que foi realizado no Calvário. Há quem diga que não existe nenhum livro do AT que nos faça melhor compreender o NT que o de Levítico. Não há em toda a Bíblia nenhum livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de Levítico. Ele é chamado por alguns de o “Evangelho do Antigo Testamento”. Vejamos a tipologia com o sacrifício de Cristo: 

1. A oferta de holocausto tipificava o sacrifício de Cristo. A primeira oferta descrita em Levítico é o holocausto (Lv 1.3-5). O termo hebraico é “Olah”, que significa “fazer subir”. O sentido geral da oferta é que ela subia para Deus como cheiro suave e era totalmente queimada. Em Levítico 1.3-5 observa-se: “sacrifício queimado e voluntário” para que fosse aceito. As exigências de Deus quanto aos animais que eram aceitos para os sacrifícios estão reiteradas em Levítico 22.18-20-25 e indicam que estes sacrifícios deveriam ser “fisicamente perfeitos” apontando para perfeição de Cristo. Em Levítico 1.8-9, fala das ofertas queimadas de aroma agradável. São assim chamadas porque tipificam Cristo em Suas próprias perfeições e em Sua devoção afetuosa para com a vontade do Pai. 

2. A oferta de animais tipificava a obediência perfeita de Cristo. O novilho que é um “tipo” de Cristo como servo paciente e sofredor (Hb 12.2,3), obediente até a morte (Is 53.1-7; At 8.32-35), as aves são naturalmente símbolos da inocência (Is 38.14, 59.11, Mt 23.37, Hb 7.26), e estão associados com a pobreza (Lv 5.7; 12.8), pois Ele por amor a nós se tornou pobre (Lc 9.58). Esse caminho voluntário para a pobreza começou quando se esvaziou de Sua glória e terminou no sacrifício através do qual nos tornamos ricos (2ª Co 8.9; Fp 2.6-8, Jo 17.5). 

3. A oferta de manjares tipificava o sofrimento perfeito de Cristo. Muitas são as características dessas ofertas (Lv 2.1-16; 6.14,23). Para se obter uma farinha de qualidade, era necessário um esmagamento do trigo. Isto faz lembrar o sofrimento de Jesus na cruz. O fogo usado nesta oferta descreve a prova de seu sofrimento até a morte (Mt 27.45,46, Hb 2.18) e o incenso aponta para a fragrância de sua vida diante de Deus. A ausência de fermento neste sacrifício tem a ver com sua atitude para com a verdade (Jo 14.6). O azeite que era colocado por cima aponta para unção do Espírito Santo (Jo 1.1-32, 6.27), e o sal explicita a pungência da verdade de Deus àquilo que impede a ação do fermento e simboliza a eterna e incorrupta aliança com Deus. 

4. A oferta pacífica tipificava a paz de Cristo. O termo “pacífico” traduzido é “shelami” do verbo “shalom” e significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Por outro lado, podia reafirmar a comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a própria paz do cristão (Ef 2.14). 

5. A oferta pelo pecado tipificava a substituição de Cristo. A oferta pelo pecado simboliza Cristo levando o pecado do homem (Lv 4.1-35), isto é, Cristo ocupando absolutamente o lugar do pecador (Is 53; Sl 22, Mt 26.28, 1ª Pe 2.24), Ele foi “feito pecado pelo pecador”. As ofertas pelo pecado são expiatórias, substitutivas e eficazes (Lv 4.12,29,35). A oferta pelo pecado é queimada fora do arraial e tipifica o aspecto da morte de Cristo fora da cidade. 

CONCLUSÃO. Cristo, como sacrifício pacífico, estabelece a paz da consciência e satisfaz todas as necessidades da alma. No sacrifício pacífico os sacerdotes viam que podiam oferecer um cheiro suave para Deus e também render uma porção substancial para si mesmos, da qual podiam alimentar-se em comunhão.

Pr. Elias Ribas

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O SACRIFÍCIO PELO PECADO - 1ª LIÇÃO

 


Levítico 4.3; 13; 14 “Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo, oferecerá pelo seu pecado, que pecou, um novilho sem mancha, ao Senhor, por expiação do pecado. 13- Mas, se toda a congregação de Israel errar, e o negócio for oculto aos olhos da congregação, e se fizerem, contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e forem culpados. 14- E o pecado em que pecarem for notório, então, a congregação oferecerá um novilho, por expiação do pecado, e o trará diante da tenda da congregação.” 

INTRODUÇÃO. Em Levítico 4 vemos o início das ofertas sem cheiro, sendo a primeira delas o sacrifício pelo pecado, onde Jesus é representado, levando sobre si o erro do pecador. Ao contrário do que vemos nas ofertas de cheiro suave, onde cada oferta nos apresenta um símbolo da perfeição de Cristo. 

Aqui, vemos o símbolo da morte de Jesus como nos é apresentada em Salmos 22 e Isaías 53. Contudo, a santidade e perfeição do Senhor permanecem puras, fazendo dEle o único capaz de ser feito pecado em nosso lugar (2ª Co 5.21). 

O propósito eterno de Deus exigiu que Ele canalizasse toda a humanidade para Jesus Cristo “Para em todas as cousas [Cristo] ter a primazia” (Cl 1.18). Por um lado, a lei foi designada para convencer o homem do pecado e mostrar-lhe a necessidade de eliminar o seu pecado, porém essa lei foi divinamente projetada para não conseguir providenciar tudo o que o homem realmente necessitava. A sabedoria de Deus sabia que isso faria o homem ansiar por um sistema melhor. 

I. O PECADO DO SACERDOTE 

O pecado impede o relacionamento de Deus com o homem, mas o amor de Deus fez com que Ele oferecesse o Seu Filho para morrer pelo homem e assim Deus pode restaurar essa comunhão. 

O pecado deturpou a criação e ao homem ficou impossível fazer o que é agradável a Deus. O homem ficou impossibilitado de fazer qualquer coisa que Deus ordenasse. A lei foi dada para mostrar essa incapacidade do homem. 

1. O pecado do sacerdote (Lv 4.3-7). Se o sacerdote pecasse, o texto bíblico afirma que deveria ser levado para o sacrifício da expiação um novilho (Lv 4.3). O pecado do sacerdote afetava toda a congregação e desse modo era exigido para o sacrifício um novilho, que era o maior animal para oferta. A missão do sacerdote em poder se aproximar de Deus em benefício do povo também aumentava a sua responsabilidade perante o Senhor. A grande responsabilidade do sacerdote comprometeria toda a congregação, caso algum pecado estivesse sobre ele. A excelência do ministério vem acompanhada de grandes responsabilidades. 

Assim comentou Russel N Champlin: “Quando um sacerdote pecava, escandalizava o povo todo, por ser o homem que, supostamente, ensinava os outros. (Ver o paralelismo no Novo Testamente (2ª Co 6.3; Tiago 3.1, onde lemos que os líderes receberão juízo mais severo: “O sacerdote que pecasse trazia pecado sobre todos, por ser um representante de todos”.

O sacerdote que pecou devia trazer um novilho (sem defeito, por expiação do pecado), na frente da porta da tenda. perante o Senhor, e porá a sua mão sobre a cabeça do novilho, e degolará o novilho perante o Senhor. O sacerdote tinha que molhar o seu dedo no sangue, e daquele sangue devia espargir sete vezes perante o Senhor diante do véu do santuário. Também o sacerdote por daquele sangue sobre as pontas do altar do incenso aromático, perante o Senhor que está na tenda da congregação; e todo o restante do sangue do novilho era derramado à base do altar do holocausto...” (Lv 4.3-7). A nossa comunhão com Deus é restabelecida depois de o pecado ser confessado e de sermos purificados pelo sangue de Jesus. 

1.2. Fora do arraial. Mas o couro do novilho e toda a sua carne, bem como a cabeça e as pernas, as vísceras e os excrementos, isto é, tudo o que restar do novilho, ele os levará para fora do acampamento, a um local cerimonialmente puro, onde se lançam as cinzas. Ali os queimará sobre a lenha de uma fogueira, sobre o monte de cinzas. (Lv 4.11, 12). 

O sacrifício pelo pecado deveria ser oferecido fora do arraial, isto é, fora dos limites do acampamento. Uma clara referência a morte de Jesus, que foi crucificado fora dos limites de Jerusalém. 

Isso nos faz lembrar as palavras do escritor aos Hebreus, que nos diz que para nos santificar através de Seu sangue, Ele entregou sua vida “fora da porta” (Hb 13.13). Dessa forma, devemos nos achegar a Cristo por meio de um arrependimento sincero e cheio de fé. Nada do legalismo judaica, ou da religiosidade estéril de nossos dias. A cruz de Cristo é o altar espiritual para onde devemos nos dirigir, é onde os remidos se reúnem e oferecem sacrifícios espirituais vivos e agradáveis ao Senhor (Hb 13.15). 

Há algumas preciosas lições na oferta do sacrifício pelo pecado que podemos aplicar as nossas vidas: 

1. Precisamos confessar nossos pecados a Jesus;

2. É preciso o envolvimento do sacrifício de Cristo para que sejamos aceitos por Deus;

O pecador precisa lançar sua culpa sobre a morte de Jesus;

3. É necessário que o pecador acredite no poder da substituição oferecida pelo sacrifício;

4. É preciso que a vítima esteja disposta a assumir nosso lugar, o que Jesus fez com muita alegria. 

Podemos desfrutar de paz com Deus hoje, quando nos aproximamos da Cruz de Jesus em arrependimento, e lançamos sobre Ele toda a nossa culpa. Com muita alegria O Senhor faz a expiação de nossos pecados e podemos desfrutar de vida abundante com Deus. 

2. O pecado da congregação contra um mandamento ou por ignorância (Lv 13.21). No caso de a congregação cometer algum tipo de sacrilégio, isso tornava impossível a habitação de Deus no arraial, pois o fundamento da habitação de Deus no meio do seu povo é a santidade. 

O sacrifício pelo pecado deveria ser oferecido fora do arraial, isto é, fora dos limites do acampamento. Uma clara referência a morte de Jesus, que foi crucificado fora dos limites de Jerusalém. 

A santidade de Deus exige que o padrão vivido seja o que foi estabelecido por Ele. Como Seu povo, devemos com humildade nos submeter aos Seus preceitos e estatutos. O Senhor exigia pureza no acampamento de Israel, como encontramos em Deuteronômio 23.13-14. Deus quer do Seu povo pureza que alcance o espírito, a alma e o corpo (1ª Ts 5.23). Quando isso acontece, Ele se faz presente, para alegria do Seu povo. 

Sendo a assembleia o local público de adoração, era necessário que todo o povo estivesse limpo cerimonialmente para a adoração ao Senhor Deus. Na obra realizada por nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, este ato foi feito de uma vez e para sempre, conforme Hebreus 9.11-12. 

3. O sacrifício apresentado era o mesmo. Se o pecado fosse cometido pelo sacerdote, ou fosse cometido pela congregação, perante o Senhor tinha a mesma consequência e a oferta para o perdão do pecado era idêntica e o rito era o mesmo (Lv 4.1-21). O sangue era espargido sete vezes diante do véu do santuário, colocado sobre as pontas do altar de ouro, que era o altar de incenso, e todo o resto de sangue era derramado à base do altar de cobre, que ficava no pátio do tabernáculo, onde era oferecido o sacrifício. No pátio o israelita podia estar presente para participar, colocando a mão sobre a cabeça do animal. Assim precisava ser feito, pois o pecado do sacerdote, ou de toda a congregação, tinha a ver diretamente com a presença de Deus no meio do povo. 

O pecado do sacerdote, ou de toda a congregação, era de tal alcance que o ritual precisava ser seguido conforme estabelecido por Deus, pois o sangue espargido diante do véu tem relação com a presença do Senhor, o sangue colocado sobre as pontas do altar de incenso restabelecia a adoração e o sangue derramado na base do altar de sacrifício tinha a adoração e o sangue derramado na base do altar de sacrifício tinha a ver com a consciência do ofertante. Da mesma forma o couro do novilho, e toda a sua carne, com a sua cabeça e as suas pernas, e as suas entranhas, e o seu esterco. Enfim, o novilho todo levará fora do arraial a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queimará. (Lv 4.11, 12). 

O pecado do sacerdote ou de toda a congregação precisava ser expiado nessas três esferas, pois o pecado impede a presença de Deus no meio do povo, a adoração fica impedida e a consciência do ofertante culpada, mas o sacrifício restabelecia essas três situações. Tudo isso encontramos em Jesus Cristo. 

II. O PECADO DO PRÍNCIPE 

O pecado de um líder de Israel diante de Deus era considerado grave e se tornava mais conspícuo do que o pecado de qualquer outra pessoa do acampamento de Israel. Ele não tinha a responsabilidade de um sacerdote, mas era um líder em Israel; havia sido levantado por Deus como uma liderança perante o povo e deveria receber mais grave condenação. 

1. O alcance do pecado do príncipe. Todo o pecado que o homem comete é contra Deus, pois Ele é quem estabelece o padrão que devemos viver. O salmista assim se expressa diante de Deus em sua penitência: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos parece mal, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares.” (Sl 51.4). O pecado do príncipe não poderia alcançar o véu do santuário ou mesmo o altar da adoração, mas tinha a ver com a sua consciência e atingia também o povo. Quando um líder comete pecado, a tristeza vem sobre o povo por causa da queda do seu líder.

O pecado do homem levou Cristo a cruz, mas Cristo nos leva a Deus. Todos os tipos que podemos estudar no livro de Levítico apontam para a obra perfeita que Jesus realizou ao morrer na cruz, para glorificar a Deus e tomar o lugar do homem. A libertação do pecado e a purificação dos pecados foi realizada por Jesus e é eterna, não precisando que mais obra seja feita para salvação do homem (Hb 9.14-15). Toda a malignidade do pecado foi anulada pelo sacrifício do antítipo que é Jesus Cristo e ao homem basta apenas crer nesta obra e guardar em seu coração a Palavra de Deus. 

2. A oferta pelo pecado do príncipe. A oferta que o príncipe tinha que trazer quando obrasse contra algum mandamento do Senhor deveria ser um bode (Lv 4.23). Um animal sem mancha e todo o ritual exigido por Deus deveria ser seguido. Mesmo sendo um príncipe dentre o povo, não tinha nenhuma autoridade para mudar o que fora estabelecido pelo Senhor. Caso procedesse de acordo com as instruções do Senhor, o resultado alcançado era paz no coração, pois, quando o homem obedece aos mandamentos do Senhor e guarda os seus estatutos, a paz é alcançada (Lv 4.24).

Deus sabe o que é necessário para que o homem esteja em Sua presença sem nenhum temor. Na verdade, somente Ele pode nos revelar o que é necessário. Deus deseja toda a paz para o homem e ter comunhão com o homem, a excelência da Sua criação. Para que isso aconteça, dependemos de Deus e da Sua natureza. Quando Jesus realizou a obra da cruz, temos o ato. Quando nos deu o Seu Espírito Santo, passamos a ter a Sua natureza, pois produzimos o fruto do Espírito e Deus alcança o seu objetivo maior, que é a Sua habitação no homem (1ª Co 6.19). 

3. Uma responsabilidade inferior à do sacerdote. O príncipe não tinha acesso ao santuário e nem tinha a autorização para queimar incenso no altar de ouro, como tinha o sacerdote. Então a sua responsabilidade espiritualmente era menor em apresentar o povo a Deus. Mas o pecado cometido sempre ofenderá a santidade de Deus. Mas o pecado cometido sempre ofenderá a santidade de Deus. Sendo assim, apesar da responsabilidade ser menor, um sacrifício também era necessário e as leis que foram entregues a Moisés pelo Senhor traziam a solução para o pecado que fosse cometido pelo príncipe (Lv 4.24).

Devemos descansar sobre a perfeita e suficiente obra realizada por Jesus, isto é, Seu nascimento, ministério, morte, ressurreição e ascensão. Tudo isso permite ao homem que crê uma paz que descansa sobre um fundamento perfeito e inabalável (1ª Co 3.11). Jesus concede ao homem uma consciência perfeitamente purificada, que descansa sobre a grandiosa obra da remissão de todos os nossos pecados, sejam de nosso conhecimento ou de ignorância. Jesus se ofereceu a si mesmo para cumprimento da vontade de Deus na expiação do pecado em completa abnegação, tomando todas as consequências do pecado do homem e levando sobre si todo o castigo que nos traz a paz (Is 53.5). 

III. O PECADO DE UMA PESSOA DO POVO 

Para o pecado cometido arrogantemente não havia sacrifício prescrito (Nm 15.30). Para que um pecado fosse expiado, era necessário que fosse cometido por ignorância ou involuntário, algo que fosse proibido pela lei do Senhor e que involuntariamente viesse a ser cometido pelo homem (Lv 4.27-35). 

1. Uma cabra fêmea como oferta. Por mais que o homem se esforce, é impossível cumprir a lei, pois a carne está enferma (Rm 8.3). Isso significa que logo quebraria um ou mais desses inúmeros preceitos. Sendo assim, os sacrifícios pelo pecado eram constantes e intermináveis. No caso de qualquer pessoa do povo pecar, poderia trazer uma cabra fêmea como oferta (Lv 4.28). O pecado sempre ofenderá a Deus, mas nas ofertas trazidas temos uma gradação que está relacionada com a responsabilidade que cada um ocupa perante o Senhor. Que verdade maravilhosa é ilustrada por este ato cerimonial dos diversos animais apresentados sendo relacionados com a ocupação no acampamento do Senhor Deus pelos respectivos ofertantes. O sacerdote podia também comer da carne do sacrifício oferecido por uma pessoa, porque o sangue da oferta não era levado para dentro do santuário (Lv 6.26). 

Deus, quando dá a lei ao homem, é para que o homem trabalhe para Ele e torne-se agradável e aceito diante d’Ele. No entanto, isso é impossível de acontecer, pois o homem está incapacitado de cumprir a lei por causa do pecado. Sendo assim, Deus nos concede a graça, que é Deus trabalhando para que o homem possa estar na Sua presença, sendo aceito e agradável a Ele. Nós somos levados a Deus através de Jesus Cristo, que ressuscitou de entre os mortos e tirou os nossos pecados, segundo s perfeição da Sua obra. Uma cabra fêmea poderia ser apresentada apenas por uma pessoa comum do povo e não por um príncipe, a congregação ou o sacerdote, porque, quanto maior for o privilégio, maior é a responsabilidade. 

2. Um ato pessoal. Quando o ofertante oferecia um animal sem mancha, que era uma figura de Jesus Cristo, e também no momento em que ele colocava a mão sobre a cabeça do animal, ele se identificava com o animal oferecido e, através da vítima, oferecia-se a si mesmo a Deus (Êx 29.10). Uma pessoa que ouvisse uma blasfêmia e não denunciasse (Lv 5.1), uma impureza cerimonial (Lv 5.2), tocasse em uma pessoa com fluxo ou lepra (5.3), ou juramento falso (Lv 5.4); necessário era confessar (Lv 5.5) e oferecer a sua oferta, que poderia ser uma cabra (Lv 5.6) ou duas rolas ou dois pombinhos para o que fosse pobre (Lv 5.11). 

Não atentar para os detalhes do sacrifício, e trazer um animal com defeito perante o Senhor (Ml 1.8), era atentar contra a perfeição do antítipo, que é Cristo, e se identificar com o animal que estava sobre o altar. Uma pessoa que trouxesse um animal com mancha para o altar do Senhor estava dizendo que Deus poderia aceitá-lo com os seus defeitos, sem a necessidade de expiação. Ele estaria se identificando com o animal defeituoso ao colocar a mão sobre a sua cabeça. Hoje isso está representando em todos aqueles que procuram se justificar perante o Senhor com suas próprias obras e apresentam sacrifícios segundo o seu coração, como se isso pudesse satisfazer a santidade de Deus. 

3. Uma provisão divina. Apesar das diferenças de animais oferecidos sobre o altar, de acordo com a responsabilidade exercida por cada um no acampamento de Israel, todos eles eram provisões da parte de Deus para perdão dos pecados e consequente comunhão com o Seu povo. Somente Deus pode prover a salvação para o homem (Gn 3.21). Uma provisão necessária ao homem para que o propósito eterno de Deus se cumpra e que estará plenamente consumado na eternidade. 

Ao trazer o sacrifício, o ofertante estava dizendo que tinha cometido um pecado não proposital (quer por fraqueza, quer por negligência). Sua presença ali indicava que aceitava os mandamentos do Senhor e que humildemente pedia o Seu perdão e a Sua misericórdia. Esse simbolismo apontava para Cristo, aquele que, mesmo sem pecado, “se fez pecado” para nos tornar aceitos perante o Senhor. Em Cristo Jesus temos a provisão perfeita de Deus para a remissão do pecado do homem. 

CONCLUSÃO. Em sua ignorância e arrogância, o homem pensa em agradar a Deus se apresentando diante d’Ele com seus trapos de imundícia (Is 64.6). No entanto, através da justiça de Deus em Cristo Jesus, temos livre acesso à Sua presença e lá podemos permanecer (Rm 5.1-9-11).