TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

JÓ E A REALIDADE DE SATANÁS

 


Jó 1.6-12 “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles. 7 - Então, o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela. 8 - E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal. 9 - Então, respondeu Satanás ao SENHOR e disse: Porventura, teme Jó a Deus debalde? 10 - Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra. 11- Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face! 12- E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.

Jó 2.4-5 “ Então, Satanás respondeu ao SENHOR e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. 5 - Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de ti na tua face!

INTRODUÇÃO

O Livro de Jó revela a realidade do Diabo. É o livro mais claro em relação ao assunto do Antigo Testamento. Entretanto, de maneira equilibrada, podemos aprender que o Diabo tem determinada ação no mundo, mas ele não é maior que Deus, nem muito menos exerce ação autônoma.

O livro mostra com clareza que o Diabo está submetido a Deus. Essa compreensão é alentadora, pois não podemos ignorar a sua ação, mas também não devemos supervalorizá-la porque maior é Deus que que nos salvou.

Uma das constatações que o leitor logo chega ao ler o Livro de Jó é que o Diabo existe. Ele é um ser real. Todo o mal descrito poeticamente no livro é visto a partir da realidade de Satanás. Todo sofrimento experimentado pelo homem de Uz, mesmo sem a consciência histórica disso, foi motivado por uma ação maligna. Ali, o Diabo assume o caráter pessoal de uma criatura. Nesse aspecto, o livro mostra como o Diabo pode interferir na vida humana. Portanto, nesta lição abordaremos algumas questões relativas à existência e à realidade de Satanás a partir do contexto de Jó.

O Diabo é um ser espiritual, mas não é auto existente.

I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS

1. Satanás é um ser espiritual.

O Livro de Jó não procura provar a origem do Diabo, mas o revela como um ser real. O livro destaca algumas características da natureza de Satanás que nos permitem conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar,  conforme o livro apresenta, o Diabo é um ser espiritual e encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão “os filhos de Deus” (Jó 1.6). Os anjos são seres espirituais que não pertencem à dimensão natural, mas à sobrenatural. Isso explica, por exemplo, a capacidade da rápida locomoção do Diabo quando rodeava a Terra e passeava por ela (Jó 1.7).

2. Satanás é um ser criado.

Mesmo sendo um anjo, dotado de natureza espiritual, ele não é auto existente. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem. Nem sempre o Diabo foi Diabo. Ele fora um anjo bom como os demais. Assim, ele é uma criatura, não o Criador. Por isso, o livro revela que Satanás tem suas ações limitadas por Deus. Ele pode fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó 1.12; 2.7). Como ele não é auto existente e, semelhante às outras criaturas que povoam o universo, não é um ser incriado, o Diabo é uma criatura limitada.

Assim, Satanás usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó.

3. Um ser dotado de personalidade.

Além do fato de ser um ente espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade. Ele é uma pessoa e se apresenta como tal. No Livro de Jó o vemos assumindo atributos de um ser pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1.9-11). Essa mesma característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13).

No livro, além de se expressar verbalmente, Satanás também demonstra possuir conhecimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se comportam os homens. Ele conhecia a vida de Jó. Isso faz dele um ser perspicaz. O apóstolo Paulo sabia que o Diabo é um ser que possui perspicácia quando disse não lhe ignorar os “ardis” e que ele se valia de métodos sofisticados para atingir as pessoas (2 Co 2.11; Ef 6.11).  Assim, Satanás usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó.

Precisamos saber que o Diabo é um ser espiritual criado e dotado de personalidade. Nas palavras de Myer Pearlman, essa palavra descreve a intenção persistente de o Diabo obstruir os propósitos de Deus. É uma oposição que se revelou nas seguidas tentativas de impedir o plano divino de cumprir a atividade predita em Gênesis 3.15: a vinda do Messias.

4. Queda e ruína de Satanás.

O vocábulo “ocaso”, quando usado em sentido figurado, é definido pelo Dicionário Aurélio como “fim, final, queda e ruína”. O Livro de Jó retrata de forma nítida o ocaso final de Satanás. A vitória de Jó foi uma derrota para ele. Em quase todo o livro, Deus se mantém em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o seu silêncio fala alto. Por outro lado, o Diabo não aparece mais a partir do capítulo 3 e não é mais mencionado no restante do livro. Não é, pois, propósito do livro pô-lo em evidência, nem tampouco superestimar o mal. O Livro de Jó mostra que Satanás não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó blasfemasse.

5. As obras de Satanás.

1. Ele causa dor e sofrimento nas pessoas.

A introdução do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas ações é possível conhecer a natureza maligna de suas obras. É da natureza do Diabo provocar dor e sofrimento aos seres humanos. No livro, Satanás impõe ao patriarca um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como Jó no Antigo Testamento. Primeiramente, o Diabo atingiu as posses dele, o que fez o patriarca sofrer ao ver o seu patrimônio destruído repentinamente. Da mesma forma, houve grande sofrimento em Jó quando ele viu a tragédia se abater sobre sua casa, pois sua família foi devastada. Entretanto, o sofrimento do homem de Uz não cessou com a perda da família. O Diabo o infligiu com uma doença que o fez padecer dor e isolar-se de todos.

III. O PRIMEIRO ATAQUE DE SATANÁS CONTRA JÓ

1. Deus convoca uma reunião no céu.

1.1. Quem participa desta reunião?

“E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” (1.6)

A. Os filhos de Deus (anjos). Apresentam-se diante de Deus.

B. Satanás entra nesta reunião. Porém no céu Satanás fica calado, ou seja, ele não tem voz ativa.

1.2. Deus faz uma pergunta a Satanás. “Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela” (1.7).

Satanás faz duas coisas: “passear - rodear a terra e acusar”. Expulso de sua morada celestial, Satanás não ficou restrito somente à Terra. Isso é evidenciado pelos dois concílios celestiais aos quais ele se fez presente, mencionados no livro de Jó (Jó 1.6; 2:1). Embora não saibamos onde ocorreram, fato é que não foi no Céu, visto que ele foi expulso de lá. Vê-se também que não foi na Terra, pois, ao ser perguntado de onde vinha, ele respondeu: “… de rodear a Terra e passear por ela” (Jó 1:7; 2:2). Tais concílios ocorreram em algum lugar do Universo, que não a Terra nem o Céu.

1.3. Deus faz a segunda pergunta a Satanás.

A. Deus da testemunho de Jó. 1.8-10: “E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. 9 Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde? 10. Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra”.

Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, integridade é uma palavra que comporta os seguintes significados: inteireza, retidão, imparcialidade, inocência e pureza.

À medida que acompanhamos o desenrolar do diálogo entre Deus e Satanás, descobrimos que, apesar de o diabo ter poder para investir contra a vida de seres humanos, isso não quer dizer, necessariamente, que ele possa fazê-lo quando bem entender. Satanás precisa da permissão de Deus para provocar calamidades na vida de um ser humano.

B. Satanás acusa Jó. 1.11-12 “Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face. 12 E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás.”

O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele também acusa. Faz parte de sua natureza acusar. Foi o que ele fez com Jó (Jó 1.10,11). O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesse. Assim como fez, posteriormente, com o apóstolo Pedro, querendo cirandá-lo (Lc 22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó. O livro do Apocalipse mostra a acusação como a missão do Diabo (Ap 12.10).

Deus da testemunha de Jó, no entanto, Satanás insiste que a integridade desse homem nunca havia sido testada. Acusa Jó de servir a Deus somente porque este o protegia e o fazia próspero. Deus, então, concede permissão para que o teste tenha início.

O Senhor iniciou sua conversa com Satanás perguntando o seguinte: “Observaste o meu servo Jó?” (Jó 1.8). Em seguida, Satanás solicitou a permissão do Senhor para causar danos a Jó. Satanás obviamente não pediria consentimento numa questão como essa, se não fosse necessário. O diabo admitiu que Deus fizera uma cerca viva (uma cerca de proteção) ao redor da vida de Jó e de sua família, proteção essa que o impedia de atacar sorrateiramente a Jó sem a permissão de Deus. Após conceder permissão a Satanás, o Senhor estabeleceu os limites de sofrimento que ele poderia infligir a Jó (cf. Jó 1.12; Jó 2.6).

C. Satanás é o agente tentador.

Por outro lado, devemos destacar a atuação de Satanás na tentação para o mal. Também faz parte de sua natureza tentar pessoas. Pelo texto sagrado, podemos inferir que o Diabo impulsionou os sabeus e os caldeus, povos até então nômades, a dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17). É uma característica do Diabo incitar e tentar para o mal (1º Cr 21.1).

No Livro de Jó, as obras de Satanás são representadas pela dor, sofrimento, acusação e tentação.

Portanto, “Satanás [...] ressalta que Jó tem sido recompensado de todas as formas possíveis – Porventura, não o cercaste tu de bens a ele? (10). Ele e sua família eram protegidos de todo e qualquer tipo de perigo, e Satanás conclui: A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentando. Um sucesso incomum aparece em tudo que Jó realiza. Essa prosperidade, cobra Satanás, é a recompensa de Deus pela fidelidade de Jó.

Depois de acusar a Deus de comprar a lealdade de Jó, Satanás o desafia dizendo que uma reversão na condição próspera de Jó redundaria em sua deserção: Mas estende a tua mão [...] e verás se não blasfema de ti em tua face (11). Isto é, ele renunciaria completa e abertamente a Deus e sua forma piedosa de vida.

Deus não abandona Jó nas mãos de Satanás, mas Ele dá permissão para testar a disposição de Jó em permanecer leal e devoto: Eis que tudo quanto tem está na tua mão (12). Observe, no entanto, que existe um limite para o teste: Somente contra ele não estendas a tua mão. Com tal autorização, Satanás age rapidamente para cumprir o seu propósito, confiante no sucesso de seu empreendimento” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon:Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.29).

IV. AS CALAMIDADES DE JÓ – 1.13-22

No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais justo que havia em toda a terra. Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente porque recebe bênçãos de Deus. Deus o cercou e o abençoou acima de todos os mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por causa da generosa compensação que recebe de seu Criador.1. A ação permissiva de Deus.

Jó foi experimentado em todas as áreas de sua vida. Calamidades sociais, sobrenaturais, meteorológicas e psicológica.

1.2. Rapidamente, os filhos e filhas de Jó são mortos e todos os seus rebanhos são levados por seus inimigos.

1.3. Perda dos bens materiais.

1.4. Perda dos membros da família.

1.5. Perda da saúde.

A. Alguém poderia sugerir que a doença de Jó possa ter sido uma forma muito severa de lepra, também conhecida como elefantíase-dos-gregos. Esta é conhecida algumas vezes como lepra negra, porque a pele fica enegrecida.

B. Qualquer que fosse a doença, parece claro que Jó sofreu com ela durante algum tempo e que foi muito séria e penosa. Alguns dos seus sintomas e efeitos podem ser deduzidos das passagens seguintes: (2.7-8, 12; 3.24-25; 7.4-5, 13-15; 19.17, 20; 30.17-18, 30).

V. JÓ ADORA A DEUS NA PROVAÇÃO

1.20-22: “Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. 21 E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR. 22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.”

1. A adoração de Jó. Quão grande é o exemplo de Jó. No auge da provação, confessa que, mesmo que Deus o matasse, n’Ele confiaria (Jó 13.15).

1.1. A adoração de Jó foi completa tanto em atitudes como em palavras.

A. Ele levantou-se.

B. Rasgou seu manto.

C. Rapou a cabeça.

D. E se lançou em terra para adorar o Senhor. “...bendito seja o nome do SENHOR”.

1.2. Jó confessa sua fé. “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou”.

2. O que levou Jó a adorar a Deus.

2.1. Adoração a Deus implica o reconhecimento de Sua soberania.

2.2. Adoração a Deus implica o reconhecimento de que Ele está no comando de tudo.

2.3. Adoração a Deus implica o alegrar continuamente n’Ele. O profeta Habacuque

Confessou dizendo: mesmo que lhe viessem a faltar os alimentos básicos, alegrar-se-ia ele no Deus de sua salvação (Hb 3.18).

FONTE DE PESQUISA

1. ANDRADE Claudionor, Dicionário Teológico 8ª Edição, CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

2. ANDRADE Claudionor de. Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 2003. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

3. ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD.

4. BÍBLIA SHEDD. Revista Atualizada, 1ª Edição: 1998, Ed. Vida Nova, São Paulo – SP.

5. CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, pp. 27-28).

6. GONÇALVES José. O Livro de Jó. Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

7. JON D. DAVIS. Dicionário da Bíblia, 5ª Edição. Editora JUERP. Rua Silva Vale, 781, Cavalcanti – RJ.

8. O livro de Jó - http://www.estudosdabiblia.net/jo.htm - Acesso 13/07/2017.

9. RICHARD L. Hoover, EETAD, 2ª Edição, Campinas, SP.


Pr. Elias Ribas

Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

Mestrado em Divindade pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

Especialização em Apologética – ICP - São Paulo.

Grego e Hebraico - Faculdade Batista Pioneira – Ijuí RS.

Exegese do Novo Testamento - Faculdade Batista Pioneira – I

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

UM HOMEM CHAMADO JÓ

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 1.1-5. “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal. 2 - E nasceram-lhe sete filhos e três filhas. 3 - E era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do Oriente.4 - E iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles. 5 - Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.”

 INTRODUÇÃO

O autor sagrado não elabora uma biografia de Jó, mas traça um perfil que diz muito sobre esse gigante da fé. Jó foi um homem diferente, não em natureza, pois ele era igual aos demais de sua época. Todavia, foi, sem dúvida, distinto na espiritualidade. Ele foi um homem que não apenas possuía bens materiais e uma família sólida, mas mantinha profunda comunhão com Deus. Assim, nesta lição destacaremos alguns traços da vida e espiritualidade de Jó.

É possível ser próspero e, ao mesmo tempo, ter um caráter íntegro e piedoso? Esta pergunta faz sentido porque não é pouco comum correlacionar o defeito de caráter de uma pessoa com o advento de seu sucesso. O leitor da Bíblia Sagrada sabe do cuidado que as Escrituras apontam para a relação humana com o dinheiro. Sim, a Palavra de Deus diz que o “amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1ª Tm 6.10). Isso ocorre por causa do “apego”, da “ambição” que o homem desperta diante do dinheiro ou de algum bem material. Essa disposição pode aniquilar a nossa integridade e piedade. Mas ao longo da lição, veremos um modelo de integridade, prosperidade e piedade conjugado com o temor do Senhor. Que o exemplo de Jó fale aos nossos corações. O temor do Senhor é a base de uma vida reta e íntegra. 

I. O TESTEMUNHO DE DEUS A RESPEITO DE JÓ (1.1-5)

 V. 1.1-2: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal”. 2 E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.”

1. Jó um homem de caráter.

1.1. Integro - Sincero. O termo hebraico םת, transliterado tâm traduzidos por ‘sincero’. O adjetivo que significa integridade, prefeito, imaculado, piedoso, simples, sem culpa, inocente. No grego, segundo a Septuaginta, a palavra alethinós remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens.

O termo “sincero” surgiu da fabricação de vasos de cera. Na antiga Roma, oleiros fabricavam vasos de barros para serem vendidos no comércio, a fim de se colocar líquidos: mel, azeite, gordura animal, água, etc.

Quando o vaso era levado ao fogo, alguns rachavam, e para não perder o trabalho, o oleiro enchia as rachaduras com cera da cor do barro. Dava polimento e o defeito ficava imperceptível. Ao ser colocado o líquido, principalmente quente, a cera se derretia e vazava tudo.

Na próxima compra o freguês dizia: quero vaso sem cera sem (sine-cera). Daí nasceu o vocábulo “sincero”, em português.

A cera serve apenas para camuflar rachaduras, mas vindo a prova, a realidade aparece. Por isso, devemos ser sinceros, sem disfarces, porque dia seremos descobertos, nem que seja no juízo final (Ec 12.14).

Essa qualidade envolve toda uma vida de pureza, retidão e temor, virtudes que se revelam em todo o modo ser da pessoa, quer na vida secular, quer na cristão-religiosa.

 1.2. Reto. O termo hebraico רשיו, (yasar) identificam Jó como ‘perfeitamente correto’, ou seja, reto, honesto, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos, possui o sentido de irrepreensível. Portanto, o homem de Uz era justo, reto, direito e se comportava de maneira irrepreensível.

 1.3. Temente. O termo hebraico אריָ, transliterado ‘yare’, traduz a ideia de alguém que prestava reverência a Deus, reverente, respeitoso, obediente. Já na Septuaginta, os termos relativos ao grego, theosebés e apecho, trazem o sentido de alguém devotado ao culto e à adoração a Deus e que, por isso, mantinha o mal sempre à distância.

 1.4. Desvia-se do mal. O termo hebraico רסוּ, transliterado ‘sur’ é o mesmo que afastar e, nesse caso especifico, do mal.

Jó é apresentado como um homem de destacado caráter espiritual. Ele é descrito assim: aquele que era inculpável, reto, temia a Deus e repelia o mal.

Deus deu testemunho do caráter de Jó, o que envolve a condição moral, comportamento correto para com os seus semelhantes, ou seja, reto e sincero.

O quesito ‘temente’, refere-se à submissão de Jó a Deus, na qualidade de servo e no que implica ser temente a Deus? Implica na imputação da justiça divina sobre Jó, ou seja, Jó era justo diante de Deus!

Jó era um homem perfeitamente correto nas relações com os seus semelhantes e justo diante de Deus. A condição ‘justo’, pertinente a Jó, depreende-se de outras passagens bíblicas. Por exemplo, os Salmos:

“O SENHOR se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia”. (Sl 147.11).

 II. JÓ ERA UM SÁBIO EPROSPERO - V. 1.3-4

1. Um conselheiro sábio. Há pessoas ricas que não são sábias nem tampouco prósperas. Possuem conhecimento, mas não entendimento; riquezas, mas não prosperidade. Jó distingue-se nesse aspecto.

Ele foi um homem sábio, rico e próspero. A Bíblia afirma que Jó era “maior do que todos os do Oriente” (Jó 1.3). “Maior” aqui não pode ser entendido apenas como uma referência a bens materiais, mas também à sua sabedoria. Estudiosos destacam que Jó era mais importante em sabedoria, riqueza e piedade do que qualquer outra pessoa daquela região e ressaltam o reconhecimento da sabedoria de Jó conforme se destacava a sabedoria dos orientais expressa em provérbios, canções e histórias. Isso fazia dele um homem proeminente, a quem as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação (Jó 29.21,22).

 2. Jó era um homem rico – bem-sucedido.

V. 3 – Era o maior, o mais rico daquela parte do Oriente. Possuía:

7000 ovelhas.

3000 camelos.

500 juntas de bois.

500 jumentas.

Muita gente a seu serviço. Amava seus filhos e desviava-se do mal. Acima de tudo Jó era servo e apenas um servo. Não existe Grande servo (de Deus) Servo é aquele que serve. Jó era um modelo único.

Jó possuía milhares de ovelhas, camelos, bois e jumentas. Além disso, tinha sete filhos e três filhas. Em termos gerais, Jó era considerado um homem rico para a cultura tribal do mundo antigo.

A pesar de Jó ser um homem rico era um homem fiel e sincero. Não existia maldade em seu coração. Não praticava o mal. Auxiliava os mais necessitados e dava muitos empregos. Sempre fiel a Deus, louvava e engrandecia o nome do Senhor.

 3. Seu status social. O ilibado caráter de Jó, aliado à sua notória riqueza, elevara-se a uma alta posição social. Embora não fosse rei, era ele tratado como nobre (Jó 29.8). Seu elevado padrão de vida espiritual era conhecido em toda aquela região.

 III. JÓ UM EXEMPLAR PAI DE FAMÍLIA

 V. 2: “E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.” V. 5: “Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.”

 1. Um homem dedicado à família. O primeiro capítulo de Jó diz: “Iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles” (1.4). O ambiente descrito aqui é de uma família em harmonia que, de forma feliz, festejava a vida. De forma alguma o texto sugere dissolução, bebedice ou licenciosidade nessas comemorações. Eram confraternizações feitas no ambiente familiar.

A família de Jó. O patriarca Jó era pai de 10 filhos - 7 rapazes e 3 moças.

 2. Um homem de moral e piedade. Jó oferecia regularmente sacrifícios por seus filhos, caso algum deles tivesse “amaldiçoado a Deus.”

Jó estava preocupado com que seus filhos pudessem ter se apartado de Deus em seus corações, isto é, esquecido Deus e sua presença no meio de suas vidas diárias.

Todos davam um excelente testemunho de Jó. Até o próprio Deus tinha-o na conta de um homem singular e único em toda aquela geração.

Que possamos ser um homem como Jó, de caráter ilibado e sincero diante de Deus e dos homens. Deus exige de Sus filhos um exemplo único de piedade. Caso contrário, não poderemos ser contados entre os seguidores de Jesus Cristo. Portanto, que todos nos vejam o testemunho, e glorifiquem ao Pai Celeste.

 3. “Jó não teve de isolar-se para tornar-se piedoso. Foi justamente como pai de família, homem de negócios e membro de uma sociedade politicamente organizada, que ele pontificou-se como o melhor ser humano de seu tempo. Ninguém precisa isolar-se para tornar-se santo; santo nasce exatamente em meios às tentações. Todos os heróis da fé destacaram-se como membros participativos da sociedade. O que dizer de Noé? Ou de Abraão, Isaque e Jacó? Ou dos profetas? Isaías e Ezequiel eram casados. E o exemplo do próprio Cristo? Ele não se afastou dos homens para redimi-los; Emanuel resgatou-nos estando entre nós e fazendo-se como um de nós.

Enganam-se os que julgam ser a santidade o produto de uma vida solitária. Santidade é serviço; é dedicação integral ao Senhor Jesus; é desviar-se do mal e ter a parecença do Cordeiro de Deus” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 37].

 CONCLUSÃO

Destacamos três aspectos importantes acerca da vida de Jó: caráter, prosperidade e piedade. Só compreenderemos devidamente a vida desse gigante da fé do Antigo Testamento a partir dessa matriz.

É possível que alguém seja rico, mas não possua caráter algum; da mesma forma é possível que alguém possua valores morais sem, contudo, esboçar piedade alguma. Todavia, ninguém terá um caráter irretocável, não apenas fragmentos ético-morais, prosperidade, não apenas posses, piedade, não apenas religiosidade se não conhecer a Deus na intimidade. Jó era assim: íntegro, reto, temente a Deus e se desviava do mal.

             FONTE DE PESQUISA

             1. BÍBLIA SHEDD. Revista Atualizada, 1ª Edição: 1998, Ed. Vida Nova, São Paulo – SP.

              2. CLAUDIONOR ANDRADE, Dicionário Teológico 8ª Edição, CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

            3. CLAUDIONOR ANDRADE. Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 2003. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

            4. GONÇALVES José. O Livro de Jó. Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

        5. JON D. DAVIS. Dicionário da Bíblia, 5ª Edição. Editora JUERP. Rua Silva Vale, 781, Cavalcanti – RJ.

            6. RICHARD L. Hoover, EETAD, 2ª Edição, Campinas, SP.


         Pr. Elias Ribas

        Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

        Mestrado em Divindade pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

        Especialização em Apologética – ICP - São Paulo.

        Grego e Hebraico - Faculdade Batista Pioneira – Ijuí RS.

        Exegese do Novo Testamento - Faculdade Batista Pioneira – I

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O LIVRO DE JÓ

 

ESBOÇO DO LIVRO DE JÓ

I. Prólogo: A Crise 1.1 - 2.13

II. Diálogos entre Jó e Seus Amigos (Elifaz, Bildade e Zofar): A Busca de Resposta Humanista 3.1 - 31.40

III. Discursos de Eliú: O Começo do Entendimento 32.1 - 37.24

IV. O Senhor Responde a Jó diretamente 38.1 — 42.6

V. Epílogo: Desfecho da Prova 42.7-17.

TEXTO BÁSICO

2ª Timóteo 3.16 “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça.”

Ezequiel 14.14, 19-20 “ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor Jeová. 19 - Ou se eu enviar a peste sobre a tal terra e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para arrancar dela homens e animais; 20 - ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça.

Tiago 5.11 “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.”

INTRODUÇÃO

1. O Livro de Jó é uma das obras mais fascinantes da Bíblia. Não há em toda literatura bíblica outra obra semelhante. Diferente na sua estrutura, no estilo e, sobretudo, no conteúdo, o Livro de Jó demonstra a grandeza de Deus diante da finitude humana. É, portanto, uma obra que alimenta a nossa esperança quando tudo mais parece ter perdido o sentido.

2. O Livro de Jó é uma literatura bíblica única. Ele apresenta uma estrutura diferente, um estilo singular e um conteúdo teológico em que põe em contraste a grandeza de Deus com a pequenez humana. Estas são razões básicas para o nosso interesse em estudar esse precioso livro. Entretanto, há uma razão maior: É a Palavra de Deus que alimenta a nossa esperança diante de uma tragédia. Nesse sentido, em algum momento de nossa história nos identificaremos com a de Jó. Por isso, o livro nos traz consolo e esperança.

O Livro de Jó é uma poderosa resposta de Deus para grandes questões da vida.

O livro de Jó trata de um assunto permanente contemporâneo: Porque sofre o justo? Esta pergunta é uma das mais comuns dentre todas as que já foram feita desde a queda de Adão e Eva.

I. AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ

1. O significado do nome de Jó. Jó no heb. iyõbh, que significa pesaroso.

2. A pessoa histórica de Jó. A Bíblia mesma atesta que Jó foi uma pessoa histórica. O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por exemplo, atesta a realidade histórica do principal personagem do livro, bem como sua autenticidade textual, quando destaca a perseverança de Jó (Tg 5.11).

2. Título do Livro. O Livro de Jó foi assim chamado em homenagem a seu herói, e não devido ao seu autor, embora Jó possa ter registrado nele muitos detalhes de sua vida.

3. Tema do Livro. O Livro mostra por que o justo sofre. Jó um homem descrito como perfeito, é despojado de riqueza, dos filhos e da saúde. Sofre estas aflições com paciência.

4. Autoria. O autor do Livro de Jó é desconhecido, mas sua autenticidade é comprovada, bem como a realidade histórica da terra de Uz no período patriarcal.

Os candidatos mais prováveis são Jó, Eliú, Moisés e Salomão. Acredita-se que Eliú pode tê-lo escrito (ver Jó 32.16). Alguns Escritores, Historiadores antigos, Teólogos e antigas traduções dão autoria do Livro a Moisés.

Se não foi o próprio Jó, o escritor deve ter obtido informações detalhadas, escritas ou orais, oriundas daqueles dias, as quais ele utilizou sob o impulso da inspiração Divina para escrever o livro na feição em que o temos. Certas partes do livro vieram evidentemente da revelação direta de Deus (Jó 1.1 - 2.10)” [Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995, p. 767].

5. Período. Tudo indica que Jó viveu na época dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó, aproximadamente em 2100-1800 a.C.). Dentre outros, alguns fatos contribuem para esse entendimento: O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a palavra hebraica qesitah, traduzida como “uma peça de dinheiro” (Jó 42.11), só aparece em outras duas ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis 33.19 e a outra em Josué 24.32.

6. Forma literária. A forma do livro é poesia, que trata de diversas questões antigas, dentre as quais, o sofrimento do justo. O Livro tem o nome da figura principal no poema, e foi classificado como um dos livros de sabedoria do Antigo Testamento. Outros livros dessa categoria incluem Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.

7. A terra de Jó. Já no início do seu texto, o Livro de Jó destaca que ele era da “terra de Uz” (Jó 1.1). Como Jó, Uz era uma terra real. A maioria dos eruditos crê que a terra de Uz situava ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, se estendendo a leste, indo até a Babilônia (Jr 4.21; 25.20), e a sudeste da Palestina e do mar Morto, ou ao norte da Arábia.

Por conseguinte, Jó nasceu depois do dilúvio, do qual faz referência (Jó 22.16), e antes dos primeiros ancestrais do povo judeu.

7. Síntese do livro de Jó. Jó sofre várias calamidades. Perde todos os seus bens, seus dez filhos e sua saúde (ficando seu corpo cheio de chagas). Seus três amigos chegam para ajuda-lo, porém com aconselhamentos à base da razão humana e argumentos sem amor e piedade, o que piora a situação de Jó.

O jovem Eliú chega por fim e suas palavras contêm um pouco de esperança para o patriarca. Porém as razões deste amigo ajudam pouco, mas não responde à pergunta que mais atormenta Jó. Finalmente Deus fala e o sofredor tem a solução que tanto anela.

A esperança, que no início não existia, começou a brotar quando as justas razões do problema foram abordadas. Essa esperança tornou-se realidade com a réplica majestosa e incomparável do Altíssimo. Jó se humilhou reverentemente ante a grandeza e sabedoria de Deus, e logo depois foi duplamente restaurado.

II. ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ

1. Prosa e poesia. O leitor que deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se conta de que diante dele há uma obra de natureza poética. Isso não torna o livro de Jó menos inspirado do que outros da Bíblia, mas revela que ele pertence a um diferente gênero literário. Jó precisa ser lido dessa forma. A estrutura dessa obra demonstra isso. O texto é uma combinação de prosa-poesia-prosa (nessa ordem). Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1 - 2.13) e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em prosa; o texto intermediário em poesia (Jó 3.1 - 42.6).

2. Organização. No texto em poesia há a seguinte organização: Um monólogo feito por Jó; três ciclos de diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofá); quatro outros discursos de um quarto amigo jovem, Eliú; seguido pela revelação de Deus onde Ele manifesta o seu poder e graça; e, finalmente, a humilhação de Jó diante da revelação divina e sua restauração completa.

3. Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas. Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto. O autor almeja que seu texto seja “colorido” ao invés de “preto e branco”. Jó, por exemplo, usa a figura do “vai-e-vem” do Tecelão para demonstrar a brevidade da vida (Jó 7.6; cf. “vento” Jó 7.7; “nuvem” 7.9; “sombra” 8.9; 14.2; “uma corrida”, “uma águia”, “uma flor” 9.25,26; 14.2). No livro também há o recurso estilístico de paralelismos onde os elementos literários repetem-se na mesma ordem.

O livro apresenta uma estrutura literária de prosa-poesia-prosa. Há também uso de metáforas e paralelismos.

III. NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ

1. Por que os justos sofrem? Algumas das questões mais importantes levantadas no Livro de Jó são eminentemente de natureza teológica e, também, filosófica. A questão do sofrimento do inocente é a principal delas. Por que sofre o justo? Ou ainda, por que os ímpios prosperam enquanto o justo sofre?

Ao longo dos anos, tanto teólogos quanto filósofos têm procurado dar explicações para esse dilema humano. No contexto de Jó, a ideia que prevalece é a de que somente os maus sofriam em consequências de seus pecados. Se havia sofrimento era porque havia culpa do sofredor. Nesse aspecto, ao longo de seus 42 capítulos, o autor procura demonstrar um novo olhar sobre essa questão.

2. Existe bondade desinteressada? Para muitas pessoas qualquer prática religiosa não passa de barganha. Essa era também a tese do Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a Deus porque recebia benefício em troca: Jó era um homem agraciado com muitos bens; com uma família formidável; cercado de muitos amigos; e gozava de boa saúde. Nessas condições, como disse Satanás, todos são devotos. Todavia, vindo o infortúnio, a tragédia e a calamidade, será que esse fervor religioso permaneceria? Satanás estava disposto a apostar que a espiritualidade de Jó não subsistiria a uma prova de fogo. O livro mostra como Jó se comportou nessa prova.

3. Pode o homem compreender Deus? Os últimos capítulos de Jó mostram os impactos que a revelação divina tem sobre os homens. Como Paulo, que foi verdadeiramente mudado quando contemplou o Senhor numa visão (At 9.1-17), assim também Jó é totalmente transformado quando contempla a majestade do Senhor (Jó 38 — 42). A questão para Jó não foi tanto o entender Deus, mas experimentá-Lo. Viver e experienciar Deus mudou completamente a vida de Jó! Eis uma grande lição deixada por esse precioso livro.

A principal questão do Livro de Jó é o sofrimento do inocente. O livro mostra como Jó se comporta diante da prova.

4. “Sete características principais assinalam o livro de Jó.

4.1. Jó, um habitante do norte da Arábia, foi um não israelita justo e temente a Deus […] (1.1).4.2. Este livro é o mais profundo que existe sobre o mistério do sofrimento do justo.

4.3. Revela uma dinâmica importante, presente em toda prova severa dos santos: enquanto Satanás procura destruir a fé dos santos, Deus está operando para depurá-la e aprofundá-la. A perseverança de Jó na sua fé permitiu que o propósito de Deus prevalecesse sobre a expectativa de Satanás (cf. Tg 5.11).

4.4. O livro é de valor inestimável pela revelação bíblica que contém sobre assuntos-chaves tais como: Deus, a raça humana, a criação de Satanás, o pecado, o sofrimento, a justiça, o arrependimento e a fé.

4.5. Boa parte do livro ocupa-se da avaliação teológica errônea no livro talvez indique tratar-se de um erro comum entre o povo de Deus; erro este que exige correção.

4.6. O papel de Satanás como ‘adversário’ dos justos, o livro de Jó o demonstra mais do que em qualquer outro livro do AT. Entre as dezenove referências nominais a Satanás no AT, quatorze ocorrem em Jó.

4.7. Jó demonstra com toda clareza o princípio bíblico de que os crentes são transformados pela revelação, e não pela informação (42.5,6)” [Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995, p. 768].

CONCLUSÃO

Nesta lição apresentamos algumas informações básicas sobre o contexto histórico e literário de Jó. Quanto ao seu gênero o livro é de natureza poética. Isso é importante para a compreensão da própria estrutura como o livro foi organizado. Vimos que o livro apresenta princípios teológicos que transcendem o espaço e o tempo. Esses princípios são para todas as épocas e culturas. O que é demonstrado é que o conhecimento de Deus é o anseio de todo ser humano.

FONTE DE PESQUISA

José Gonçalves. O Livro de Jó. Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

ESPÍRITOS EM PRISÃO

 


1ª Pedro 3.18,20 “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito. No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.”

 INTRODUÇÃO

A Bíblia não diz que Jesus desceu ao inferno e pregou aos mortos. Na verdade, essa ideia de que Jesus desceu ao inferno é resultado de uma linha de interpretação de alguns textos bíblicos difíceis.

Como qualquer outro texto da Bíblia que oferece alguma dificuldade de interpretação, existem diversas interpretações defendidas pelos teólogos. Porém, devido a algumas interpretações equivocadas sobre este tema, muitas heresias foram ensinadas ao longo da História da igreja.

Alguns comentaristas bíblicos identificam a pregação aos “espíritos em prisão” mencionada pelo apóstolo Pedro como uma suposta pregação de Cristo, após a Sua morte e antes de Sua ressurreição, aos espíritos desencarnados dos antediluvianos. Outros chegam a propor que Cristo foi pregar, após Sua ressurreição, aos anjos maus que haviam sido desobedientes nos dias de Noé.

Este é um problema real para o expositor, ou o leitor comum da Bíblia. É uma boa regra que as igrejas não sejam apresentadas a uma variedade de interpretações, o que pode causar confusão entre os irmãos, principalmente novos convertidos. Essa passagem está aberta a diferentes interpretações, e não é fácil explicá-las ou mostrar por que uma visão é preferível a outra. O caminho mais sábio é admitir que os detalhes da passagem são fortemente contestados, apresentar uma visão (ou no máximo duas) e evitar fazer quaisquer afirmações que tenham base duvidosa.

I. A RAZÃO DE PEDRO ESCREVER SUA CARTA

1. Os cristãos estavam sendo perseguido pelos falsos mestres. Pedro escreveu a cristão que estavam sendo injustamente insultados pelos pagãos por causa de suas crenças (1ª Pe 2:12; 3:9; 16; 4:14) e pede que seus leitores vejam um contraste entre o mundo mau dos dias de Noé e o mundo em que eles viviam, para encorajá-los a perseverar em seguir a Deus, mesmo sendo a minoria, assim como Noé fazia parte da minoria.

2. As aflições dos cristãos. “E, do mesmo modo que Cristo sofreu pelos pecados da humanidade (1ª Pe 3.18), os crentes foram convidados a sofrer por fazer o bem (1ª Pe 3.17), certos de que receberão a recompensa do Senhor (cf. Mt 5.11, 12). Afinal, todas as autoridades, sejam humanas ou angélicas, estão sujeitas ao Salvador que saiu vitorioso da sepultura e voltou ao Céu para assumir o governo do Universo. O assunto abordado pelo apóstolo nada tem a ver com “vida após a morte”, e sim com fidelidade e perseverança cristã em meio aos insultos dos descrentes”. [Prof. Leandro Quadros, Na Mira da Verdade, vol. 2 (Casa), p. 50-52].

II. O SOFRIMENTO DE CRISTO

1ª Pe 3.18 “Pois Cristo também foi sacrificado uma única vez por nossos pecados, o Justo pelos injustos, com o propósito de conduzir-nos a Deus; morto, de fato, na carne, mas vivificado no Espírito”.

1. Cristo padeceu pelos justo e injustos.

·         Ele não possuía pecado, mesmo tendo vivido neste mundo cheio de pecado (Hb 4.15; 7.26; 9.14).

·         Antes de vir a este mundo, Ele vivia em um céu livre de pecado e maldição.

·         O sofrimento espiritual não era de Jesus, e sim nosso.

·         Mas, com diz (2ª Co 5.21), o único que não conhecia pecado, se fez pecado por nós.

·         Deus fez com que seu Filho pagasse a pena de morte pelos nossos pecados.

·         Para que pudéssemos ser livrados e declarados justo.

·         Cristo nos poupou, levando sobre si a maldição que cabia a nós (Gl 3.13).

·         Cristo tornou nosso substituto tomando nosso lugar.

·         E assim, recebeu o castigo que era nosso.

Deus concede e credita para mim a perfeita satisfação, a justiça e santidade de Cristo, como se eu nunca tivesse pecado nem houvera sido pecador, como se eu tivesse sido perfeitamente obediente como Cristo foi obediente por mim”.

Por meio de Cristo Jesus, Deus nos colocou dentro da sua justiça e graça.

Nos reconciliou consigo. “O justo pelos injustos”.

2. Morto na carne. Em sua natureza humana. Nesse caso, “morto sim, na carne” refere-se à condição de humilhação de Cristo durante Sua encarnação; enquanto “vivificado no espírito” é uma alusão ao Seu estado original de exaltação, reassumindo após Sua ressurreição (Rm 1.3-4; 1ª Tm 3.16). Assim, o fato da pregação “aos espíritos em prisão” ser associada no verso 19 ao Cristo “vivificado no espírito” nos impede de ver qualquer cumprimento dessa pregação durante o Seu estado de humilhação ou encarnação.

3. Jesus foi “vivificado no Espírito”. Pelo original grego, podemos também traduzir essa frase como: “Vivificado pelo Espírito”. Ou seja, o Espírito Santo participou na ressurreição de Cristo (cf. Rm 8.11).

Aquele mesmo corpo morto foi reavivado pelo poder de sua Divindade.

III. NO QUAL TAMBÉM FOI E PREGOU AOS ESPÍRITOS EM PRISÃO

A expressão “no qual” se refere ao Espírito Santo, mencionado na parte final do v. 18. Então, Jesus, através do Espírito Santo, pregou a esses “espíritos em prisão”. No entanto, o elemento humano usado pelo Espírito Santo foi Noé (ver 1ª Pedro 3.20). A menção a esse patriarca fornece a pista para se saber em que tempo foi feita essa pregação.

1. Pregou. A pregação se deu, não no período entre a morte e a ressurreição de Cristo, mas “nos dias de Noé” (3.20), isto é, no tempo anterior ao dilúvio, “enquanto se preparava a arca” (3.20).

Cristo falou pelo Seu Espírito através de Noé, proclamando a mensagem da salvação. Esta passagem não pode ser usada para ensinar que no período entre Sua crucifixão e Sua ressurreição Cristo foi e pregou às almas imortais do povo do tempo de Noé. Adicionalmente ao fato de que a Bíblia não provê apoio ao conceito de que a alma é imortal, em sua segunda epístola Pedro exclui a possibilidade que o povo do tempo de Noé tivesse uma segunda chance e pudessem ainda ser salvos [Andrews Study Bible].

2. Quem seriam esses “espíritos” aos quais foi feita a pregação? A palavra utilizada para espírito frequentemente se refere a seres humanos (1ª Co 14.32; Hb 12.23; 1ª Jo 4.1). Os espíritos (pessoas) do tempo de Noé eram cativos na prisão do pecado. De acordo com a Escritura, somente oito pessoas escaparam dela (1ª Pe 3.20). [Andrews Study Bible].

O próprio contexto nos esclarece: foram os “desobedientes nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (3.20). Ou seja, a pregação foi feita aos antediluvianos, e não a espíritos desincorporados no Hades. A parte final de 3.20 nos esclarece que “poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos”. A palavra “pessoas” aqui, é psychai (psychê significa “alma, vida, pessoa, criatura”). Então, vê-se que os oito “espíritos” que foram salvos são as oito pessoas da família de Noé (ele, a esposa, três filhos e três noras).

Nosso Senhor rendeu Seu Espírito ao Pai, morreu e em algum momento entre morte e ressurreição visitou a esfera dos mortos cumprindo a o fato de o Messias ter mencionado a experiência de Jonas em Sua pregação. Jonas ficou três dias e três noites dentro de um grande peixe (Jn 1.17; 2.10), assim também o Filho do Homem Ele voltaria a viver depois de passar três dias no túmulo (ver Mt 27.63; Mt 12.40).

O verso 20 esclarece esta questão. Pedro não nos diz o que Ele proclamou a estes espíritos encarcerados, mas não poderia ser uma mensagem de redenção, uma vez que anjos não podem ser salvos (Hb 2.16).

Na carta do apóstolo Paulo Efésios 4.8-10 ele diz: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. 9 - Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? 10 - Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.”

Ás partes inferiores da terra. Esta frase pode ser entendida como se referindo tanto para a própria terra quanto para o (hades sepultura) aonde o corpo de Cristo é descrito como tendo ido por ocasião da sua morte (At 2.31).

A teologia paulina confirma os acontecimentos em que após morte Cristo foi ao “paraíso” (Lc 16.20; 23.43) e levou ao céu todos aqueles que tinham Nele crido antes de Sua morte e na esperança de um redentor. A passagem não dá grandes detalhes sobre o que ocorreu, mas a maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que é isto que significa “levou cativo o cativeiro”.

Entender a passagem como se referindo ao ‘hades’ (sepultura), faz com que a passagem fale especificamente a respeito da morte e sepultamento e Cristo. Foi esta humilhação de Cristo que o levou a Sua exaltação (Fl 2.5-11).

Tudo isto para dizer que a Bíblia não é totalmente clara sobre o que exatamente Cristo fez durante os três dias entre Sua morte e ressurreição. Entretanto, uma segunda linha de pensamento interpreta dizendo que Ele estava pregando a vitória sobre os anjos caídos e/ou descrentes. O que podemos saber ao certo é que Jesus não estava dando às pessoas uma segunda chance para salvação. A Bíblia nos diz que vamos enfrentar julgamento depois da morte (Hb 9.27), não uma segunda chance. Não há nenhuma resposta definitivamente clara para o que Jesus estava fazendo durante o período entre Sua morte e ressurreição. Talvez seja este um dos mistérios que vamos entender uma vez que cheguemos à glória.

3. E qual seria a “prisão” mencionada no v. 19? “A Bíblia nos diz que a prisão é o pecado: “Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao Teu nome…” (Sl 142.7); “Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido” (Pv 5.22). É digno de nota que um dos atos do Messias seria “tirar da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas” (Is 42.7). E isso foi feito por Jesus, para todos aqueles que O aceitaram como Salvador (Mr 16.15-16). Portanto, podemos concluir dizendo que o texto de 1ª Pedro 3.18-20 afirma que Jesus, através da atuação do Espírito Santo em Noé, pregou aos antediluvianos, mas somente oito deles (Noé e sua família) aceitaram a pregação e foram salvos.

O fato de somente oito pessoas terem escapado do dilúvio (Gn 6.5-13; 1ª Pe 3.20) evidencia que os antediluvianos estavam firmemente presos ao pecado. Ninguém, além de Cristo, é capaz de libertar os seres humanos dos hábitos e desejos maus que Satanás usa para acorrentá-los. [CBASD, vol. 7, p. 630].

Já os “espíritos em prisão” (v. 19), que foram o alvo da pregação de Cristo, são identificados no verso 20 como sendo os “desobedientes” antediluvianos dos “dias de Noé”. O termo “espírito” (grego pneuma) é usada neste texto, e em outras partes do Novo Testamento (1ª Co 16.18 e Gl 6.18), como uma referência a pessoas vivas capazes de ouvirem e aceitarem o convite da salvação. Por sua vez, a expressão “em prisão” refere-se obviamente, não a uma prisão literal, mas à prisão do pecado em que se encontra a natureza humana carnal não regenerada (ver Rm 6.1-23; 7.7-25).

Diante disso, somos levados à evidente conclusão de que a pregação de Cristo aos antediluvianos impertinentes foi efetivada através de Noé “divinamente instruído” por Deus (Hb 11.7) e qualificado pelo próprio apóstolo Pedro como “pregador da justiça” para os seus contemporâneos (2ª Pe 2.5).

Pedro evoca, então, à lembrança a analogia de Cristo entre os “dias de Noé” e os últimos dias (ver Mt 24.37-39). Assim como Noé e sua família foram salvos da morte “através da água” do dilúvio pela arca (1ª Pe 3.20), os cristãos são salvos da morte espiritual através do “batismo” “por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (verso 21; ver Rm 6.4-14), e que se arrependeram de seus pecados (At 2.38) e creram em Jesus Cristo (Mc 16.15-16).

IV. OS DIAS DE NOÉ

Segundo Génesis 6, Deus olhou para o mundo e viu que estava cheio de pecado pois todas as pessoas só faziam coisas más. Havia violência por toda parte.

Diante desse cenário, Ele disse a Noé que iria mandar um dilúvio para cobrir a terra, a fim de destruir tudo o que tinha vida. Noé era um homem íntegro e obediente a Deus, portanto Deus queria poupar sua vida. Noé recebeu todas as instruções de Deus para construir uma grande arca, onde deveria colocar dois animais de cada espécie, depois deveria entrar com toda a sua família e também com as pessoas que se arrependessem de seus pecados.

Noé fez tudo conforme o que o Senhor Deus havia mandado e entrou na arca com os animais e sua família. Todos achavam que ele era louco e por isso ninguém mais quis entrar na arca. Foi então que começou a chover muito sobre a terra, e toda forma de vida que estava fora da arca morreu. O dilúvio durou quarenta dias. Depois que as águas baixaram, Noé saiu da arca e ofereceu sacrifícios ao Deus do céu. Naquele momento Deus fez uma aliança com Noé e prometeu que jamais destruiria a terra com outro dilúvio.

Nos dias de Noé Deus preparou uma arca para salvá-los e só oito almas foram salvas; Porém, hoje Deus não vai construir uma barca, pois Ele já enviou o Seu Filho Jesus, para salvar todo aquele que n’Ele crê (Mc 16.16).

Deus avisou o povo antediluviano por intermédio de Noé que viria uma destruição, porém, agora Ele adverte através de Sua Palavra que o mundo caminha para o fim. Os sinais que estão registrados nela nos mostram que Jesus está vindo buscar um povo Seu zeloso e de boas obras. Quem estiver preparado subirá em júbilo, mas os despreparados ficarão em grande agonia e seguirão para a condenação eterna.

Está você aproveitando o dia de hoje, o presente momento, para entregar sua vida ao Senhor Jesus, para que esteja a salvo quando vier o dilúvio de fogo? Não se esqueça de que “hoje” é o dia da salvação, “agora” é o momento oportuno.

CONCLUSÃO

Portanto, se lermos dos versos 18-20 perceberemos que os “espíritos em prisão” eram os antediluvianos (sim: a Bíblia usa o termo “espírito em referência a pessoas vivas) que estavam “presos” pelas cadeias do pecado (Pv 5.22).

E, chegaremos à conclusão de que Quem pregou não foi Cristo, mas, o Espírito Santo (não é por acaso que algumas traduções traduzem com letra maiúscula o termo “Espírito”).

Levando-se em conta o contexto bíblico o texto diz o seguinte: “Nos dias de Noé, por meio do Espírito Santo Cristo pregou aos antediluvianos que estavam presos pelas cadeias do pecado”.

Por que distorcer a Bíblia se ela é tão clara? Por que pegar o verso 19 isoladamente e formar uma heresia (mesmo que inconscientemente)?

Esta interpretação defende que o Espírito de Cristo, através da vida de Noé e de outros profetas, pregou aos mortos enquanto estes ainda estavam vivos. Então esta interpretação não exige uma suposta descida de Jesus ao inferno. Por meio do ministério dos profetas, Deus anunciou aos homens a justiça e o arrependimento. No entanto, muitos deles rejeitaram a revelação de Deus através de sua Palavra. Hoje é as Boas Novas de salvação são anunciadas pelos escolhidos na unção do Espirito as almas que estão em prisão.

Segundo a profecia de Isaías (Is 61.1-4), o Ungido veio para restaurar toda a raça humana. Livrá-la da escravidão do diabo, da prisão das trevas espirituais, levantar o homem e levá-lo a se reconciliar com Deus. Esta obra não se completou ainda. Está em desenvolvimento, e somos seus cooperadores, como instrumentos. Por isso depende de nós, também, o êxito da obra messiânica. Qualquer negligência será de consequências eternas.

A obra missionária é a atuação do Ungido de Deus através dos Seus servos, em todo o mundo, cumprindo sua missão de formar um reino ideal para Deus. Amem!

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC.