INTRODUÇÃO.
Nesta
lição veremos o contexto e o objetivo que o Mestre amado contou esta parábola;
pontuaremos seus personagens e quem eles representam; analisaremos qual o
contraste entre os dois filhos; e por fim, estudaremos o que Jesus quis ensinar
com esta parábola.
I.
UMA PARÁBOLA DISTINTA
Em Mateus 21.28-32 encontramos a
“parábola dos dois filhos”. Esta parábola possui as seguintes características:
A. Ela consta somente no evangelho
conforme Mateus.
B. Têm apenas três versículos.
C. Foi pronunciada na última visita de
Cristo a Jerusalém, antes de Sua morte.
D. Tem o intuito de enfatizar que Deus
chama a todos os homens para a salvação, no entanto, cabe aos homens aceitarem
tal chamado (Mt 21.32). Vejamos algumas outras informações sobre esta parábola:
1.
Contexto.
Em Mateus 21 encontramos o registro da entrada triunfal de Jesus sobre um
jumentinho, na famosa cidade de Jerusalém, para cumprir o que dele estava
escrito (Zc 9.9; Mt 21.4,5). A multidão louvou ao Mestre trazendo consigo ramos
de árvores que espalhavam pelo chão junto com as suas próprias vestes e diziam:
“Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas
alturas!” (Mt 21.9-b). Esta parábola está estreitamente conectada com o relato imediatamente
precedente em relação a atitude das autoridades para com João Batista (Mt
21.23-27). Jesus questionou porque eles não reagiram a mensagem de
arrependimento pregada pelo profeta (Mt 21.32).
2.
Objetivo.
O principal objetivo da parábola é mostrar como os publicanos e as meretrizes,
que não professavam crê no Messias e do Seu reino, ainda assim aceitavam a doutrina
e se sujeitavam à disciplina de João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3.5,6),
ao passo que os sacerdotes e os anciãos, que estavam cheios de expectativas do
Messias, e pareciam muito dispostos a estar de acordo com o que Ele
determinava, desprezaram João Batista, e foram contrários aos desígnios da
missão de Jesus (Mt 3.7-10; 21.32; Mc 1.5). A parábola tem um outro alcance; os
gentios, que eram desobedientes, tendo sido, por muito tempo, filhos da ira (Ef
2.3); porém, quando o Evangelho lhes foi pregado, eles se tornaram obedientes à
fé, enquanto os judeus, que diziam: “eu vou, Senhor”, faziam boas promessas (Êx
24.7; Js 24.24), mas não iam; eles somente “lisonjeavam a Deus com os seus
lábios” (Sl 78.36,37).
II.
OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA
1.
O Pai (Mt 21.28).
O pai desta parábola é uma representação perfeita da pessoa de Deus como nosso
amado Pai (Sl 103.13; Ef 1.5; Gl 4.4,5; Rm 8.15-17; Jo 1.12; 2ª Co 6. 18; Rm
8.15; 23; Gl 4.6; Hb 12.6; Hb 6.12; 1ª Pe 1.3,4; Hb 1.14). O status de filhos traz-nos
privilégios como:
1.1. Tratar a Deus como Pai nas nossas
orações: “Pai nosso, que estás nos céus” (Mt 6.9).
1.2. Ter o testemunho do
Espírito acerca da nossa salvação, o qual clama “Aba, Pai” (Rm 8.15,16).
1.3. Sermos amados por ele: “Vede quão
grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus” (1ª Jo
3.1); “Amados, agora somos filhos de Deus…” (1ª Jo 3.2).
2.
O primeiro filho (Mt 21.28,29). Os publicanos e as meretrizes de quem
se esperava pouca religiosidade são representados pelo primeiro filho na
parábola (Mt 21.31,32). Eles não prometiam nenhum bem, e aqueles que os
conheciam não esperavam deles nada de bom; ainda assim, muitos deles foram
transformados: “Mas, depois, arrependendo-se, foi” (Mt 21.29-b ver ainda Lc
7.29,30). Estes impuros representavam também o mundo gentílico; pois, os
judeus, em geral, classificavam os publicanos junto com os pagãos; e os pagãos
eram representados, pelos judeus, como meretrizes, e homens nascidos de
prostituição (Jo 8.41).
3.
O segundo filho (Mt 21.30). O segundo filho é representado por muitos da nação
judaica quando ao ser proclamada a Lei no monte Sinai, pela voz de Deus, se
comprometeu a obedecer e disseram: “Tudo o que o Senhor tem falado faremos”,
porém
não fizeram (Êx 19.8; 24.3,7; Dt 5.27).
Eles faziam uma profissão especial da religião; ainda assim, quando o reino do
Messias lhes foi trazido, pelo batismo de João, eles o desprezaram (Mt 3.7-10),
deram-lhe as costas e lhe rejeitaram (Jo 1.11; Lc 19.14; At 13.46). Por causa
do seu orgulho, eles não procuravam seguir a Deus e a Cristo. Por isso, o filho
que disse: “Eu vou, senhor”, e não foi, revelou perfeitamente o caráter dos
judeus fariseus (Lv 26.41; Dt 10.16; Jr 4.4; 6.10; Ez 44.9; At 7.51; Hb 4.7).
III.
CONTRASTES ENTRE OS DOIS FILHOS
É digno de nota, nesse contexto, que
esses publicanos e prostitutas arrependidos haviam dito: “não queremos”, mas depois
se arrependeram, e então creram. Ao contrário, os líderes religiosos dos
judeus, homens considerados como bem familiarizados com a Lei de Deus e que
exteriormente se conduziam de uma forma tal como se estivessem dizendo constantemente:
“sim, Senhor, fazemos tudo quanto requeres de nós, e faremos tudo quanto queres
que façamos”, porém não faziam. Era acerca deles que Jesus declararia: “Dizem
sim, e não fazem” (Mt 23.3 ver Êx 19.8; 32.1; Is 29.13). Notemos então alguns
aspectos representados por estes dois filhos. Vejamos:
O
PRIMEIRO FILHO O SEGUNDO FILHO
- Foi convocado pelo pai para trabalhar
(Mt 21.28) Foi convocado pelo pai para trabalhar (Mt 21.30-a).
- Disse ao pai que não ia, mas foi (Mt
21.29) Disse ao pai que ia, mas não foi (Mt 21.30-b)
- Mostrou-se rude, mas foi sincero (Mt
21.29-b) Mostrou-se flexível, mas foi falso (Mt 21.30-b)
- Mostrou arrependimento (Mt 21.29-c)
Não mostrou arrependimento (Mt 21.32)
IV.
O QUE JESUS QUIS ENSINAR COM ESTA PARÁBOLA
1.
Dizer “não” e viver o “sim” é uma prova
de arrependimento (Mt 21.29). Quanto ao primeiro filho as suas ações
foram melhores que as suas palavras, e o seu final, melhor que o seu começo.
Vemos aqui a feliz mudança de ideia, e da conduta do primeiro filho, depois de
pensar um pouco: “Mas, depois, arrependendo-se, foi”. Observemos que há muitas
pessoas que no início dizem “não”, são teimosas, e pouco promissoras, mas que
posteriormente se arrependem e se corrigem, “e caem em si” (Lc 15.15.17), como
diz o provérbio popular: “Antes tarde do que nunca”. Observemos que quando ele
se arrependeu, ele foi; este é um “fruto digno de arrependimento” (Mt 3.8). A
única evidência do arrependimento da nossa resistência anterior é concordar
imediatamente e partir para o contrário; e então, o que passou será perdoado, e
tudo ficará bem. Aquele que disse ao seu pai, face a face, que “não faria o que
ele lhe pedia”, merecia ser atirado para fora de casa e deserdado; mas o nosso
Pai “espera para ter misericórdia”, e, apesar das nossas antigas tolices, se
nos arrependermos e nos corrigirmos, Ele irá nos aceitar de uma forma bastante favorável (Pv 28.13).
É muito melhor lidar com alguém que, na prática, será melhor que a sua palavra,
do que com alguém que não será capaz de cumprir o que prometeu.
2.
Dizer “sim” e viver o “não” é uma prova de hipocrisia (Mt 21.30). É
impressionante a quantidade de pessoas que dizem “sim” e vive o “não” (Tt
1.16). Existe uma abissal distância entre o discurso e a prática: “Não
procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” (Mt
23.3). O segundo filho mencionado disse melhor do que fez, prometeu ser melhor
do que provou ser; a sua resposta foi boa, mas as suas ações, más. Ele
professou uma obediência imediata: “eu vou”; ele não disse: “eu irei daqui a
pouco”, mas infelizmente ele ficou apenas na teoria e não partiu para prática.
Existem muitos que proferem boas palavras, e fazem boas promessas, que se originam
de boas motivações; porém, ficam apenas nisso, não vão mais além. Dizer e fazer
são duas coisas diametralmente diferentes e distintas, e há muitos que dizem e
nunca fazem o que prometem (Is 29.13; Ez 33.31). Muitos, com a sua boca, até
confessam, mas os seus corações vão em outra direção (Mt 15.8; Mc 7.6). A prova
de sinceridade não está nas palavras, mas nos atos (Mt 7.21). As palavras não
são de valor algum se não forem acompanhadas de atos equivalentes: “Se sabeis
essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (Jo 13.17). Existe uma diferença
categórica entre arrependimento (2Co 7.9), e remorso como no caso de Judas (Mt
27.3).
3.
O “sim” e o “não” é uma prova do nosso caráter. O tempo vai
dizer quem é quem e revelará se o que dissemos condiz com o que somos. Às vezes
o “não” honesto hoje pode colocar o homem em uma posição de reflexão, de
arrependimento e mais tarde gerar mudanças movendo-o a prática de atitudes
coerente com o “sim”. O verdadeiro “sim” é aquele marcado pela consciência
profunda do pecado, arrependimento e conversão (Mt 21.31-32). Os publicanos e
as meretrizes eram os que inicialmente haviam virado as costas para Deus, mas
se arrependeram e creram; ao passo que os judeus fariseus que haviam pretensamente
crido, no fundo endureceram o coração e rejeitaram a oferta do Evangelho.
Intenções precisam ser acompanhadas por ações, pois a fé sem obras é morta (Tg
2.26), e o arrependimento sem frutos não agrada a Deus (Mt 3.8).
4.
O “sim” e o “não” é uma questão de livre-arbítrio. Na história, os
dois filhos mudaram de ideia, um para pior e outro para melhor. O pecador pode
se arrepender e ser perdoado, e o justo pode se desviar e ser condenado (Ez
18.21-24). Por isso, é imprescindível permanecer firmes até ao fim (Hb 3.12-13;
4.11). O chamado do Evangelho, é, na realidade, o mesmo para todos, e nos é
transmitido com o mesmo teor. Na parábola, o pai falou a mesma coisa para os
dois filhos e sua vontade para os dois foi a mesma. Deus deseja a salvação de
todos (1ª Tm 2.3-4). Como cada filho na parábola tomou sua própria decisão, nós
decidimos obedecer a Deus ou não. Os dois filhos receberam a mesma
oportunidade: “[…] Filho, vai trabalhar […] E, dirigindo-se ao segundo,
falou-lhe de igual modo” (Mt 21.28,29). Jesus não lhes disse: “vós não podeis entrar
no reino do céu”; porém, mostrou que eles mesmos criavam o obstáculo que lhes
embargava a entrada (Mt 23.37-38). A porta ainda estava aberta para esses guias
judeus; o convite ainda era mantido.
CONCLUSÃO.
Reino
de Deus é formado por pessoas que vão além das palavras, que entenderam seu
pecado, sua inadequação, arrependeram-se e se colocaram na direção do caminho
correto. De pessoas que aprenderam que o “não” não é o melhor caminho e se
prontificaram a viver o “sim”. Gente que aprendeu que o que agrada a Deus de
verdade é vida e não discurso; é ação e não promessas; é verdade prática e não
mentira poética: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar
a Sua obra” (Jo 4.34), assim devemos servir ao Senhor.
FONTE
DE PESQUISA.
1. GILBERTO, Antônio. Lições Bíblicas
Maturidade Cristã. CPAD
2. HOWARD, R.E, et al. Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
3. LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas
da Bíblia. VIDA
4. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
5. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico
Expositivo Novo Testamento. GEOGRÁFICA