TEOLOGIA EM FOCO: A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

terça-feira, 24 de setembro de 2019

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO



Lucas 15.11-32 “E disse: Um certo homem tinha dois filhos; 12 E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. 13 E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. 14 E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. 15 E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos. 16 E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. 17 E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! 18 Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; 19 Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. 20 E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se lhe ao pescoço e o beijou. 21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. 22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lhe, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; 23 E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; 24 Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se. 25 E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. 26 E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. 27 E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. 28 Mas ele se indignou, e não queria entrar. 29 E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; 30 Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. 31 E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; 32 Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.”

- A parábola da ovelha perdida é muito aplicável à grande obra da redenção do homem. A ovelha perdida representa o pecador afastado de Deus e exposto a uma ruína segura se não for conduzido de volta a Ele, embora não deseje regressar. Cristo é ardoroso para levar a casa os pecadores.

- A parábola do filho pródigo mostra a natureza do arrependimento e a prontidão do Senhor para acolher bem e abençoar a todos os que se convertem a Ele. Expõe plenamente as riquezas da graça do evangelho; e tem sido e será, enquanto durar o mundo, de utilidade indizível para os coitados pecadores, para guiá-los e alentá-los a arrepender-se e a voltar a Deus.

- Um estado pecaminoso é um estado de separação e afastamento de Deus. Um estado pecaminoso é um estado de desperdiço: os pecadores voluntários empregam mal seus pensamentos e os poderes de sua alma, gastam mal seu tempo e todas as oportunidades. Um estado pecaminoso é um estado de necessidade. Os pecadores carecem das coisas necessárias para suas almas; não têm comida nem roupa para eles, nem nenhuma perversão para o além. Um estado pecaminoso é um vil estado de escravidão. O negócio dos servos do domínio é fazer provisão para a carne, cumprir suas luxúrias e isso não é melhor que alimentar os porcos. Um estado pecaminoso é um estado de descontentamento constante. A riqueza do mundo e os prazeres dos sentidos nem sequer satisfazem nossos corpos, mas que são em comparação com o valor das almas! Um estado pecaminoso é um estado que não pode buscar alívio de nenhuma criatura. Em vão choramos o mundo e a carne; têm o que envenena a alma, mas que nada têm que a alimente e nutra. Um estado pecaminoso é um estado de morte. O pecador está morto em delitos e pecados, desprovido de vida espiritual. Um estado pecaminoso é um estado perdido. As almas que estão separadas de Deus, se sua misericórdia não o evitar, logo estarão perdidas para sempre. O desgraçado estado do filho pródigo somente é uma pálida sombra da horrorosa ruína do homem pelo pecado, mas quão poucos são sensíveis a seu próprio estado e caráter!

INTRODUÇÃO. Nem todos os judeus aceitaram Jesus como Messias, todavia isso não fez com que Ele parasse a sua missão. O seu caráter não foi afetado, apesar de toda oposição da religiosidade de homens maus. Apesar de toda a pressão, continuou em direção ao triunfo da ressurreição, sem intimidar-se com a turba que o oprimia, tentando desviar de sua gloriosa missão. E, na rejeição de seu povo (Jo 1.11,12), foi buscado pelos que não perguntavam por ele, foi achado por aqueles que nunca o buscaram, pessoas que não conheciam o seu nome, receberam a oportunidade de serem recebido por Ele (Is 65.1).

I. CARACTERÍSTICAS DE DEUS PAI

Para tornar a sua denúncia efetiva contra os judeus, Jesus conta três parábolas, aqui nos ateremos a do filho pródigo. A discriminação contra os seguidores de Jesus tinha, como raiz, a inveja da liderança religiosa que o via como alguém que estava tomando para si, uma grande fatia do bolo social judaico da religiosidade dominante, inclusive penetrando nas camadas da alta sociedade desprezadas e taxadas maldosamente como “publicanos e pecadores”. A fim de combater aquele mal, Jesus evoca a figura de um pai magnânimo, ilustrando a pessoa do Pai celestial, como veremos a seguir.

De acordo com a lei judaica, a parte da herança do filho mais velho correspondia ao dobro da parte dos outros filhos (Dt 21.17), e, se o pai assim o desejasse, poderia distribuir a riqueza ainda em vida. O filho mais novo agiu dentro da lei quando pediu sua parte dos bens e mesmo quando os vendeu, mas certamente não foi um gesto amoroso de sua parte. Foi como dizer ao pai: “Gostaria que estivesse morto!”. Thomas Huxley disse: “As piores dificuldades de um indivíduo começam quando ele tem a possibilidade de fazer o que bem entende”. Que grande verdade!

1. A liberalidade de Deus.
Aquele pai é rico fazendeiro, tem muitos trabalhadores a seu dispor, paga bem aos seus funcionários e tem dois filhos. Quando o filho mais moço pede sua herança, fere-lhe a alma, mas liberalmente ele concede. Não era ético um pedido daquele, além do mais, o pai estava vivo. E depois disso, o filho sai pelo mundo extraviando a sua herança. Mas o pai espera que ele volte, ao retornar, o recebe e faz festa. O mais velho, austero, responsável, legalista e intolerante reclama, mas o pai esclarece sua posição e tenta convencê-lo a participar de sua alegria agora. A generosidade de Deus se desabrocha em liberalidade, Ele quer que estejamos em sua casa por amor. De tudo, ele nos dá e não gostaria jamais que esbanjássemos nada, todavia se quisermos partir, teremos a nossa própria “grande experiência”, para nos provar que junto a ele é sempre melhor (Lc 15.16,17).

A vida na terra distante não era o que o jovem esperava. Seus recursos esgotaram-se, seus amigos o deixaram, veio a fome, e o rapaz foi obrigado a fazer por um desconhecido o que havia se recusado a fazer pelo pai: trabalhar! Essa cena dramática é a maneira de Jesus enfatizar o que o pecado faz na vida dos que rejeitam a vontade do Pai. O pecado promete liberdade, mas traz apenas escravidão (Jo 8.34); promete sucesso, mas traz fracasso; promete vida, mas “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). O rapaz pensou que “se encontraria”, mas, na verdade, se perdeu! Quando Deus é deixado de fora da vida, o prazer transforma-se em escravidão.

Arrependimento - ele caiu em si. “Arrepender-se” significa “mudar de ideia”, e foi exatamente isso o que o rapaz fez enquanto cuidava dos porcos. Ele “caiu em si”, o que indica que, até então, estava “fora de si”.

2. O perdão de Deus.
Deus nos é revelado no perdão de pai, ilustrada na parábola em que o filho mais moço não conhecia bem, mas o pai lhe estava a esperar para esse fim (Lc 15.2).  Quando o filho chega, ele o recebe calorosamente, trata dele e decreta feriado na fazenda e faz um grande festejo com música, danças e muita carne por conta da casa. Todo mundo fica feliz, menos um, o filho mais velho quando sabe o que está acontecendo na fazenda (Lc 15.25-28). Os publicanos e pecadores arrependidos de todos os tempos que recebem Jesus, experimentam o perdão do Pai celestial, a alegria salvação e a restauração da humanidade verdadeira (Gn 1.26).

3. A Compreensão de Deus.
O pai foi compreensivo com ambos os filhos: com o que saiu perdoando, pois entendeu que aquilo fez parte do aprendizado para toda a vida. E foi compreensivo com o que ficou, apesar de austero e intolerante. Porém, não deixou de fazer nada por causa da queixa do mais velho. Deus jamais porá seus planos de lado por causa da insatisfação de alguém, os festejos não serão abortados por causa da incompreensão de alguns: Is 43.13 “Desde os dias mais antigos eu o sou. Não há quem possa livrar alguém de minha mão. Agindo eu, quem o pode desfazer?”.

Devemos meditar nas obras de Deus e nos alegrar com o que Ele se alegra, e não morrer de ciúmes como crianças mimadas com medo de perder o espaço na sua casa. Se a metade dos pródigos desse mundo retornarem, teremos muitos problemas com aqueles que acham que estão perdendo espaço.

O interessante é que esses “grandes” pecadores negligenciados pela religiosidade, foram os que acolheram, Jesus. Dentre eles, Mateus (chamado Levi) que se tornou apóstolo e escritor; Maria Madalena, de conduta duvidosa (testemunhou a ressurreição), etc. A magnanimidade de Deus é revelada até com a compreensão do queixoso Filho mais velho, porém é certo que Ele não deixará de fazer nada por causa dos seus planos.

II. A INSENSATEZ DO FILHO PRÓDIGO

O Senhor Jesus denunciou dois comportamentos que demonstraram falta de temperança. O filho mais novo que pediu a herança e a consumiu inutilmente, e do filho mais velho que permaneceu em casa, mas agiu intolerantemente, não demonstrou afeto, pois tinha uma imagem do Pai - até ali equivocada - de intolerância também. Jesus quer nos fazer perceber que ambos os filhos estavam sob aprendizado: Deus estava corrigindo o mundanismo do que saiu e o legalismo do que ficou.

1. A loucura do filho pródigo.
Ninguém sai de casa sem antes pensar longamente no que está fazendo. O governo brasileiro, através de pesquisas; descobriu que grande parte de crianças e de adultos desaparecidos são de pessoas que deliberadamente deixam as suas famílias. Muitos desenvolvem mentalmente a possibilidade dessa realização por mágoas, brigas e também aventuras.

O filho mais jovem do fazendeiro, influenciado pelas histórias das belezas “de uma terra distante”, lançou-se numa aventura quase sem retorno. Quando dissipou seus bens, perdeu seus amigos, passou necessidade e humilhação de tornar-se um porqueiro (algo abominável ao judeu e que nunca imaginara fazer) percebeu o quanto caiu. Há muitos na casa do Pai cheios de fantasia com um mundo distante, outros hoje querem ficar na fazenda (igreja), mas gozar dos seus bens e trazer todas as abominações para dentro dela.

2. A humilhação do filho pródigo.
Ele só pensava em desfrutar sua vida de forma licenciosa, dissipando seus bens e longe de casa (Lc 15.13).
Deus permite ao ser humano que siga a estrada que ele mesmo escolhe, deixando-o decidir e proceder de acordo com seus próprios desejos. Curioso é apenas que as pessoas, enquanto estão bem, não pensam em Deus. Quando, porém, passam a sentir problemas, culpam a Deus. O filho mais novo na parábola, porém, não age dessa maneira. É essa a sua salvação.

O filho perdido a princípio desfrutava dos prazeres efêmeros da vida. Comida e bebida farta, mulheres e vários amigos, do que preciso mais? Todavia, a falta de dinheiro, a humilhação e a dor foram os agentes que fizeram aquele pródigo refletir a condição miserável daquele momento.
Pv 27.8 “Como a ave que vagueia longe do ninho, assim é o homem que vagueia longe do lar”. Em sua mente era difícil o retorno, mas o seu interior lhe dizia que seu terno pai o receberia, nem ao menos como um trabalhador. E assim se dispôs e foi. É necessário reconhecer a própria condição e se humilhar para poder ser restaurado.

Lc 18.14 “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.” (Pv 11.2; 29.23).

3. A recepção calorosa do pai

De volta para casa, o pai estava a sua espera e corre ao seu encontro. Arrependido, ele reconhece seus erros e quer ser admitido como um funcionário, mas o seu pai lhe surpreende com um tratamento “vip”. Declara feriado na fazenda e promove uma festança. Ilustrando assim a boa vontade divina com os pecadores (Mt 9.10-13).

Como médico, Jesus, veio para dar saúde espiritual a pecadores enfermos. Como noivo, veio para dar alegria espiritual. A vida cristã é uma festa, não um funeral.

Mostrava o Senhor que os excluídos da religiosidade, marcados socialmente e taxados de pecadores, que se voltam para Deus, entram no Reino precedendo assim os líderes religiosos, (Mt 21.31-32). O homem não conciliado com Deus sente uma guerra interior, ele sente a falta de paz interior, até o momento da sua reconciliação com Ele através de Cristo Jesus. O Espírito Santo testemunha o perdão, a filiação divina e também dá garantia de vida eterna.

Tt 3.5 “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.” (Ef 1.13; 4.30).

III. PARADIGMAS DO FILHO M AIS VELHO

Quando Jesus fala do filho mais velho, está tratando diretamente com os judeus críticos em geral, e mais especificamente com os seus críticos escribas e fariseus (Lc 15.1). Eles ilustravam o filho mais velho que não entrou na festa de comemoração do retorno de seu irmão. Na verdade, essa liderança não aceitava esse comportamento inclusivo de Jesus, porque gostava do conservar costumes antigos, como por exemplo a exclusão dos que não eram judeus, e ainda procurava impedir que os outros entrassem. Com muita sabedoria Jesus estava chamando-os de estúpidos e grosseiros.

1. A visão da vida do filho mais velho.
Há muitos que têm conceitos errados sobre Deus e sua graça e procuram se opor ao trabalho do Reino. Na verdade, Deus está querendo dar uma nova configuração através da manifestação da sua graça e poder, mas “o filho mais velho” não desfruta do que tem, porque quer permanecer no vinho velho de paradigmas antigos que perderam o efeito. Outros imaginam por que “há tantos anos” servem a Deus sem transgredir, estão sendo injustiçados, porque os mais novos em algum momento foram pródigos e agora tem um banquete preparado. Sem contar os que usam a prodigalidade de antigos pecados de alguns para mostrar que eles, na verdade são mais dignos, porque dizem, “nunca transgredi o teu mandamento” (Lc 15.29; Mt 23.23-27).

2. Recusou participar dos festejos.
Festejos para uns e indignação para outros, o texto diz que “ele se indignou e não queria entrar” e o pai foi tão humilde que tentou conciliar a situação conversando com o filho mais velho. Mas não adiantou, o mais velho permaneceu irredutível. Devemos entender que Deus tem as suas maneiras de agir, e Ele sabe como fazer: Is 55.8 “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR.”.

Coberto de ciúmes em sua atitude, estava demonstrando que o Pai não sabia o que estava fazendo. Note aqui um precioso princípio: As pessoas são mais importantes do que coisas, eles têm valor por mais que tenham descido no pecado, são preciosas almas.

3. A dureza de coração do filho mais velho.
Apesar do apelo do pai, entendem os que ele não entrou nos festejos do irmão, porque os judeus continuaram endurecidos e fazendo oposição ao evangelho, basta observar o trabalho missionário de Paulo que constataremos isso. Para alguns, mais valem os seus pontos de vista, sua fidelidade e política interesseira do que a alma desse “teu irmão”. É uma lástima isso! Mas para o Pai, ele tem valor, porque estava morto “nos delitos e pecados”, mas reviveu em Cristo, estava perdido, mas foi achado. Mesmo que alguém, coisifique, despreze e não queira festejar. O crescimento do Reino vai continuar.

A situação de desprezo e oposição levou o Senhor Jesus a se pronunciar com sábia defesa de seus seguidores. Ele sabia como era difícil aqueles homens se posicionarem ao seu lado abandonando a velha vida. O lamentável é que há aqueles que acham que estão na casa fielmente, como o filho mais velho, não desfrutam devidamente do que o Pai tem. Isso acontece porque são ignorantes quanto a sua generosidade, tendo uma visão mesquinha e excludente.

CONCLUSÃO.
O que percebemos, através de Lucas 15, é que o Senhor Jesus, apesar de respeitar a sua cultura, não estava de acordo com ela, pois os judeus tinham uma repulsa pelo que era novo, evitavam os estrangeiros, taxando-os de cães, quer dizer daquela maneira nunca trariam os gentios a fé no Deus verdadeiro. Devemos ter cuidado com a nossa maneira de pensar, Deus não é patrimônio de religião, templo ou nação alguma, ou mesmo denominação, pois a visão divina é de longo alcance, é inclusive e eterna. E se não tivermos cuidado com os nossos pensamentos, nós é que seremos cortados da relação com Ele.

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