Geralmente,
quando um homem deixa o pecado e volta-se para Deus, está totalmente alheio aos
esforços que Deus fez para levá-lo a fazer tal decisão. Muito antes do homem
pensar em Deus, ele já estava no pensamento de Deus. Antes do convertido clamar
a Deus, Deus o tinha buscado e atraído pelo Espírito Santo.
I.
A
PRESCIÊNCIA DE DEUS
“Sabemos que
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também
os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também
chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a
esses também glorificou” (Rm 8.28-30).
Deus sentiu,
de antemão, o futuro amor das almas pecadoras por Ele e lhes deu a oportunidade
de terem um novo nome pela Lei do Novo Testamento, pois sabia que guardariam
sua lei, não rejeitariam seu convite e viveriam conforme sua vontade, o que
seriam mostrados como dignos de serem honrados. Note-se que não é uma escolha fatalista de Deus, antecipando quem vai ou
não ao céu.
A presciência
é o aspecto da onisciência relacionada com o fato de Deus conhecer todas as
coisas relacionadas com o futuro. A palavra do Novo Testamento traduzida por
“presciência” (ou conhecer de antemão) é “prognosis”, da qual deriva a palavra
“prognóstico” em
português. Significa “saber antes” (pro = antes; “gnosis”
= saber ou conhecer).
Vamos analisar algumas palavras citadas pelo
apóstolo Paulo no texto acima:
1. Conheceu
do grego “proginosko”. Significa
sentiu, como a atração entre o homem e a mulher judaicos.
2. Imagem do
grego “eikon”. Ser como,
em excelência moral e mente santa.
3. Chamou do
grego “kaleo”. Convidou, como um
Pai convida um filho.
4. Justificou
do grego “dikaioo”. Pronunciou alguém justo, pela observância às leis divinas, usado
para aquele cujo o modo de pensar, sentir e agir é inteiramente conforme a
vontade de Deus, e quem por esta razão não necessita de retificação no coração
(vida).
Glorificou
do grego “doxazo”. Honrar, estimar, manifestar sua
dignidade como condição gloriosa de bem-aventurança dos cristãos em face da sua
condição de verdadeiros adoradores e convertidos a Deus.
A presciência
de Deus não afeta as decisões do homem, nem seu livre-arbítrio. As ações de um
homem não são permitidas ou impedidas simplesmente porque são conhecidas de
antemão, por Deus.
A presciência
divina envolve o conhecimento da parte de Deus de que a raça humana cairia no
pecado e que precisaria de um salvador. Logo, Deus planejou a redenção em
Cristo muito tempo antes do mundo ter sido criado. A presciência é uma garantia
da certeza de que os planos e propósitos de Deus para a Igreja nunca serão
frustrados.
II. A ELEIÇÃO
A eleição é
uma das palavras mais comum da Bíblia, mas tem sido de certa forma mal
interpretada pelos crentes. A eleição não significa que Deus escolhe alguns
para serem salvos e outros para serem condenados, sem a participação das
pessoas nessa escolha.
A Palavra
“eleição” significa escolha. Esta palavra foi usada no Antigo Testamento para
descrever a escolha que Deus fez de alguns indivíduos, de algumas famílias e da
nação de Israel privilégios especiais ou propósitos divinos.
É empregada
para descrever a escolha que Deus fez de Cristo para a tarefa de consumar a
salvação, mas também Sua escolha dos que estão “em Cristo” para a salvação.
No que diz
respeito à salvação, a eleição é a escolha de Deus, dos homens para a salvação
e privilégios, baseada na escolha inicial d’Ele, feita por eles.
“Assim como
nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4).
“...escolheu n’Ele...”. Este versículo
mostra claramente que nosso “mérito” por sermos escolhidos não é baseado em nós
mesmo, mas, sim, no “mérito” de estarmos “em Cristo”. Assim como estamos em
Cristo, assim também somos dignos de sermos escolhidos por Deus. Paulo explica
que fomos eleitos antes da fundação do mundo (presciência de Deus) de conhecer
de antemão os que receberia Jesus em seus corações.
Significa que todos da raça de Adão, que são ou serão salvos, foram
escolhidos por Deus desde a eternidade para a salvação eterna mediante a
santificação do coração pela fé em Cristo. Em outras palavras, eles são os
escolhidos para a salvação por meio da santificação. A salvação é o fim - a
santificação é o meio. Tanto o fim quanto o meio são eleitos, designados, escolhidos;
o meio tão realmente quanto o fim e em benefício do fim.
“Eleitos,
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam
multiplicadas” (1ª Pe 1.2).
Este versículo
explica que a eleição do crente é baseada na presciência de Deus. Ou seja, a escolha
feita pelo homem foi prevista por Deus. Baseado no Seu conhecimento da decisão
que o crente tomaria, Deus o elegeu, até mesmo antes de terem sido lançados os
alicerces da terra.
O soberano
Deus deu a todos os homens o livre-arbítrio. O fato de que Deus sabe de antemão
as decisões de cada homem, não significa que Ele imponha a tomada delas. Deus
não força ninguém a fazer uma decisão pró ou contra o reino dos céus (Ap 3.20).
Ele apenas prescreve através de Sua Palavra o certo e o errado e cabe a cada tomar
sua decisão.
Além disto, a
Bíblia ensina que a eleição tem origem na fidelidade do homem em permanecer em
Cristo. É, portanto, um privilégio que pode ser perdido. O apóstolo Pedro
admoestou os irmãos a tornarem sua eleição mais segura a fim de não caírem.
“Por isso,
irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e
eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum” (1ª Pe
1.10).
Este versículo
certamente ensina que a eleição é tanto responsabilidade do homem, como divina.
Certamente Deus sabe quem permanecerá fiel até o fim da sua vida.
A Bíblia diz
que Cristo foi eleito por Deus (1ª Pe 2.4). O crente, por sua vez, é tornado
aceitável a Deus por Jesus Cristo (1ª Pe 2.5). A eleição de Cristo nos
garantiu, assim, a nossa própria eleição quando nos tornamos membros do Seu
“corpo”.
A eleição,
portanto, é ao mesmo tempo coletiva como individual. A Igreja é eleita e cada
pessoa, como parte daquele corpo, também é individualmente eleita.
“Aos santos e
fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos...” (Cl 1.2) 12
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados...” (Cl 3.12).
III. PREDESTINAÇÃO
A
predestinação é uma das doutrinas mais consoladoras da Bíblia quando é
devidamente entendida. Sua essência jaz nos fato de que Deus tem plano geral e
original para o mundo, e que Seus propósitos nunca serão abalados.
A palavra predestinação
do grego proorizo, quer dizer: predeterminar, decidir de antemão, o
decreto de Deus desde a eternidade; preordenar, designou antes, nomeou.
Mediante o
planejamento predeterminado por Deus (predestinação) a salvação é oferecida a
todos (At 4.27-28) e é possível para todos os que o buscam (At 17.26-27). Por
causa desta provisão, nenhum homem em qualquer tempo poderá acusar Deus de não
lhe ter dado uma oportunidade para crer (Rm 1.20).
Deus não
somente planeja uma maneira do povo conhecer a salvação, como também tem um
plano para ajudar os salvos a progredirem na sua vida espiritual.
“Porquanto aos
que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de
seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
Este plano, no
entanto, depende da disposição do crente de corresponder em obediência (Jr
15.19). Esta provisão para glorificar a Deus é ilimitada para o crente que
corresponder aos apelos do Espírito Santo.
“Mas, como
está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1ª Co 2.9).
O crente é
predestinado a salvação por ter aceitado a Cristo em seu coração. “Nos
predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5).
“Nele, digo,
no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele
que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos
para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo” (Ef
1.11-12).
Deus chamou a todos:
• Todos
pecaram (Rm 3.9-12).
• A justiça e
salvação é para todos (Rm 3.22-23).
• A graça foi
para todos (Rm 5.18).
• Condição
para todos serem filhos (Rm 8.14; Jo 3.16).
• Deus
entregou Jesus por todos nós (Rm 8.32; Jo 6.39).
• Jesus morreu
por todos (Hb 2.9).
• Deus é rico
para com todos os que o invocam (Rm 10.12).
• Misericórdia
é para todos (Rm 11.32).
• Santos são
todos os que invocam a Jesus (1ª Co 1.2).
• Todos mortos
em Adão e todos vivificados em Cristo (1ª Co 15.22).
• Jesus morreu
por todos, mas todos os querem? (2ª Co 5.15).
• Deus quer
que todos se salvem pelo único mediador (1ª Tm 2.3-6) e se arrependam (2ª Pe
3.9).
IV.
LIVRE-ARBÍTRIO
Livre Arbítrio significa a faculdade ou poder dos agentes morais em
escolher, decidir entre objetos de escolha sem força ou por necessidade.
Adão e Eva escolheram
desobedecer a Deus e comer da árvore do bem e do mal (Gn 3.11); Homem
pode fazer o bem ou o mal (Gn 4.7); Os homens escolhem se querem servir ou não,
a Deus (Js 24.15); Os homens podem escolher entre a porta estreita e a larga
(Mt 7.13).
Segundo John
Wesley embora o homem tivesse perdido todo o seu livre arbítrio natural em
virtude da degeneração da raça pelo pecado, o ser humano, pela misericórdia de
Deus, teve em si restaurada, até certo ponto, a capacidade de escolha. É o que
poderíamos chamar de LIVRE ARBÍTRIO PELA GRAÇA. A Graça preventiva de Deus, na
linguagem de Wesley, atuando sobre o coração do ser humano, recupera lhe a
possibilidade de responder positiva ou negativamente, aos apelos que o próprio
Deus lhe faz.
A presciência e a eleição não são inconsistentes com o livre arbítrio.
Os eleitos foram escolhidos para a vida eterna, sob a condição de que Deus o
previu no perfeito exercício da liberdade deles, de modo que eles pudessem ser
induzidos ao arrependimento e a abraçar o Evangelho.
Pr. Elias Ribas