TEOLOGIA EM FOCO

terça-feira, 4 de abril de 2017

A DOUTRINA DA ADOÇÃO



I.         INTRODUÇÃO

“Entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.3-6).

Todos aqueles que aceitam a Cristo como seu Salvador são elevados, de uma posição abaixo dos anjos, para serem herdeiros dos céus. Tudo isso é possível por causa da provisão da “reconciliação” que Cristo efetuou, ao consumar a obra da salvação. Embora o homem estivesse alienado de Deus, sem esperança da vida eterna, mediante a provisão de Cristo, este homem passa de “inimigo de Deus”, “a filho de Deus”.

“Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).

O homem no pecado encontrava-se separado, inimigos de Deus. Mas pelo Seu imensurável amor somos reconciliados através da fé no sacrifício de Jesus.

Reconciliados, vem da palavra grega Katallassein que quer dizer mudar ou trocar. Veio a ter a ideia no N.T. de mudar de inimizade para amizade. Nossa relação mudou através da morte de Cristo. Passamos de inimigos para filhos amados (cf. 2ª Co 5.18-20).

II.      O SIGNIFICADO DA PALAVRA ADOÇÃO

A palavra traduzida como “adoção” é uma palavra grega, huithesia, que significa estar em lugar de filho. Ela não se refere absolutamente a um órfão ou adulto benevolente que talvez queiram “adotar” um órfão.

O vocábulo, do Novo Testamento, descreve o fato de Deus receber como filho alguém que, legal e espiritualmente, não goza do direito de tê-lo como Pai. A partir deste momento, passa esse alguém a desfrutar de todos os privilégios que Deus, desde a mais remota eternidade, preparou aqueles que aceitam a Cristo como único e suficiente salvador.

III.   O PROCESSO DA ADOÇÃO

Ao empregar a expressão “adoção” (Ef 2.5; Rm 8.14-17 e Gl 4.5-7), Paulo tinha em mente o que conhecia do processo legal de adoção, que era muito comum na Roma antiga. Naqueles dias, uma família de posses, podia resgatar uma criança da escravidão e integrá-la noutra família. Numa cerimônia, o pai adotante comparecia diante de um juiz e de uma testemunha, mantendo o preço da criança numa das mãos, e a própria criança na outra. Dizia à criança: “você quer ser meu filho”? Se a criança respondesse afirmativamente, o homem diria as testemunhas: “declaro esta criança meu filho (a), de acordo com a Lei Romana. Ela foi comprada com este dinheiro”. Daquele momento em diante, a criança tornava-se membro legitimo da nova família, tomava o nome do pai da família e tornava-se herdeiro do patrimônio daquela família.

Os atos do pai adotivo nos lembram duas expressões do grande amor de Deus para com o mundo. Primeiramente, Deus enviou Seu Filho como preço de resgate espiritual do homem (Jo 3.16), o qual, por amor, deu Sua vida pela humanidade: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13).

Em segundo lugar, Deus ama tanto aqueles que resolvem segui-lo, que se designou chamá-los de Seus filhos. Paulo maravilha-se que aqueles que outrora eram “filhos da ira” não somente ressuscitou para uma nova vida, mas também foram exaltados, sentando-se nos lugares celestiais juntamente com Cristo. João expressa a esta mesma expressão de amor, ao explicar como Deus condescendeu em relação ao homem, chamando os que creem em Jesus de Seus filhos (Ef 2.3-6).

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” (1ª Jo 3.1).

Mesmo assim, apesar do esforço divino e do preço da redenção envolvidos, ninguém pode ser divinamente adotado enquanto não aceitar pessoalmente este privilégio, decidindo entregar sua vida a Cristo. Daí, a Bíblia afirma que somente os que “recebem” adoção pela fé, são filhos de Deus.

Você quer ser meu filho”? “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12).

“Para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5).
Dentre toda a humanidade, somente aquele que recebe a Jesus no seu coração desfruta deste relacionamento exclusivo com Deus. Uma vez que Deus é o Criador de todos os seres vivos, em certo sentido todos os seres são obras de Sua mão (At 17.26-28), mas nem todo são filhos! Mediante aceitação do sacrifício de Jesus o crente pode se chamar filho de Deus (Rm 8.14-15). Paulo ensina claramente que ninguém pode tornar-se filho de Deus, a não ser pela fé em Cristo, para a salvação. “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26).

Ninguém é filho por causa de vínculo de família ou de nacionalidade. Deus falou da nação de Israel como sendo filho num sentido geral (Dt 14.1-2; Os 11.1), mas Paulo ensina claramente que ninguém pode tornar-se filho de Deus, a não ser pela fé em Cristo Jesus para a salvação.

IV.   COMO POSSO ME TORNAR UM FILHO DE DEUS

Examinando a Bíblia Sagrada, nos deparamos com uma surpresa triste, mas real. Nem todos são filhos de Deus! Existe uma clara diferença entre criatura e filho de Deus.

Um exemplo objetivo é: O oleiro que forma o vaso, porém o vaso não é filho do oleiro, e sim sua criatura, isto é, algo criado pelo oleiro. Assim também acontece com Deus, o grande Oleiro (Isa 64.8), que formou o homem do barro, porém como criatura.

Tudo o que Deus criou é criatura. Aí vem outra pergunta que nem todos sabem responder; se eu sou criatura, como posso me tornar filho de Deus? A resposta é simples:

“Mas a todos (aqueles) que O (Jesus Cristo) receberam, a estes (aqueles que receberam a Jesus) deu-lhes o poder de se tornarem (isto é não eram, mas se tornaram) filhos de Deus” (João 1.12).
Esta passagem diferencia aqueles que se tornaram filhos de Deus daqueles que ainda não se tornaram filhos de Deus. Você precisa receber a Jesus como único e suficiente salvador no seu coração (Ap 3.20). Você precisa nascer de novo (Jo 3.3). Você precisa crer. “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). Crer e ser batizado. “Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus” (Jo 3.18). Crer é ter fé: “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam”. (Hb 11.6).

V.      FILHO E SUAS DISTINÇÕES

Pois já sabemos que aqueles que recebem Jesus no seu coração são filhos de Deus. Mas esta posição é inteiramente diferente da de Cristo, que é o Filho de Deus. O crente desfruta de relacionamento com a Trindade, mas não é parte dela. Cristo é, e sempre foi Filho de Deus pela natureza do seu próprio ser. Por causa do seu grande e transcendente amor é que Ele consente em nos chamar seus irmãos.

Jesus é Deus, Eterno, Onisciente, Onipresente, Onipotente, Criador, mas nós somos suas criaturas e filhos de Deus somente pela fé.

VI.   AS BÊNÇÃOS DE SER FILHO DE DEUS

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1ª Jo 3.2).

Um dos benefícios de ser filho de Deus é a certeza de um dia ser como Ele é, ou seja, possuir um corpo espiritual e não mais um corpo material.

Outro privilégio de ser filho de Deus é a certeza de uma comunhão estreita e amorosa com o Pai celestial.

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).

A Bíblia ensina o crente a temer a Deus, mas numa atitude de respeito e reverência, e não de angustia e de medo. O Espírito de Cristo libertou o crente do medo “servil” de ser castigado ou rejeitado por causa do mínimo erro que pudesse desagradar a seu Senhor. Os crentes devem saber que são filhos e não meros escravos.

A frase “Aba, Pai”, Paulo explica o relacionamento de intimidade e confiança entre o Pai Celestial e os crentes. “Aba” é uma palavra aramaica que significa, simplesmente “pai”, com a conotação afetiva da parte do filho expressando a confiança e intimidade que só ele tem como filho.

VII. NOSSA HERANÇA ATUAL

Certas riquezas espirituais o crente desfrutada nesta vida; outras somente no porvir. Paulo explica dizendo que já receberá as “primícias do Espírito”, enquanto esperava a plena “herança” da sua adoção.

“E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23).

É a manifestação inegável de nossa posição como filhos de Deus na concretização da esperança ao receber o corpo glorificado na vida eterna.

Na parábola do filho pródigo, o pai disse ao filho mais velho que mesmo antes dele receber a herança completa, tinha pleno direito a tudo quanto pertencia ao seu pai.

“Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu” (Lc 15.31).

Desta forma, os filhos espirituais participam de uma porção da sua imensa herança espiritual agora mesmo. Desfrutam da abundância de bênçãos espirituais, do poder do Espírito Santo e uma coparticipação da natureza divina.

VIII.       O FILHO DEVE SER FIEL AO PAI

O fato do crente ter sido honrado e colocado na posição de filho de Deus, deve motivá-lo a viver em retidão. O filho deve sempre lembrar-se da dignidade que seu novo título e posição que recebera, lembrando que ele representa o Pai aqui neste mundo.

“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).

“Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Fp 2.15).

Os crentes, como filhos de Deus, devem estar sempre seguros da sua linhagem real e das responsabilidades que temos diante do Pai e de permanecer separados do mundo e do pecado. Nenhum bom filho deve associar-se com aqueles que vivem em rebelião contra seu Pai e Rei.

“Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (2ª Co 6.17-18).

IX.   SOMOS ORIENTADOS PELO ESPÍRITO DE DEUS

Quando aceitamos a Cristo como salvador, temos o privilégio de receber o Seu Espírito como nosso guia e orientador de nossas vidas. Ele testifica dentro de nós que somos filhos de Deus.

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8. 14, 16).

O Espírito Santo guia e dá testemunho, mas não força, e nem coage. Como filho de Deus, o crente deve submeter-se ao Espírito para ser guiado, e ter o seu testemunho interior.

X.      O FILHO TEM ACESSO AO PAI

Como filho de Deus temos esta promessa: Acesso constante à presença de Deus. “Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2.18).

Por causa da promessa de acesso continuo a Deus e a certeza do seu cuidado para com Seus filhos, o crente pode levar todas as suas necessidades espirituais, sociais e físicas ao Pai Celestial, sabendo com certeza que será ouvido e atendido.

Aquele que rejeita a Jesus como salvador não podem desfrutar deste privilégio com o Pai. Por isso muitos em vez de pedir ao Pai em nome do Filho, estão pedindo ao a outros mediadores (Paulo, João, Pedro, Maria, etc.). Se recebemos a Jesus como único Senhor da nossa vida, então somos filhos do Pai Celeste que nos ouve no céu e nos ajuda através do Seu Espírito Santo.

“Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem?” (Lc 11.11-13).

Devemos lembrar-nos também que Deus, como bom pai, não dará ao filho tudo quanto ele deseja, mas, que dará tudo quanto é necessário e bom para ele. Podemos ter a certeza de que a resposta de Deus às nossas orações sempre terão em mente tanto nossas necessidades presentes, quanto nossos interesses internos.

XI.   FILHOS DE DEUS E IRMÃO DE CRISTO

Uma das frases mais singular da Bíblia acha-se em Hebreus, quando Cristo nos chama de irmãos. “Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2.11).

Ser chamado de “filhos de Deus” é em si muito difícil entender, mas ser chamado de irmãos de Cristo, é quase além do nosso entendimento. Além de Cristo dar sua vida para nos resgatar ainda nos chama de irmão. Isso é um fato maravilhoso e glorioso. Isso podemos chamar de amor “ágape”, amor divino.

“Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef 2.19).

Cristo trouxe não só um homem ao seu pai mas, sim, “muitos filhos” (Hb 2.10). Todos aqueles que foram adotados na família divina formam agora um grupo especial de pessoas, que devem ficar separados do mundo e perto uns dos outros.
“.... porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt 23.8b).

XII. PERTENCEMOS A UMA NOVA FAMÍLIA

Aqueles que fazem parte da “família de Deus” são unidos pelo amor de Deus, tendo comunhão uns com os outros. Na realidade, é exatamente este amor que comprova a realidade da nossa adoção como filhos de Deus.

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Este amor é demonstrado pela solicitude profunda e amorosa entre os irmãos e o desejo de uma estreita comunhão com a família da fé.

“Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).

XIII.       O FILHO TORNA-SE HERDEIRO DO CÉU

Mediante a adoção divina, não somente o crente torna-se filho de Deus como passa fazer parte da herança divina. O crente torna-se herdeiro de todas as riquezas do universo.

“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).

Aqueles que têm Cristo no seu coração, desfrutam de muitos privilégios: É filho; é herdeiro; é coerdeiro com Cristo. Em contraste com as heranças terrestres que são entregues ao herdeiro quando pai morre, o crente recebe sua plena herança quando ele morre (ou for arrebatado). A Bíblia oferece muitas descrições das riquezas que aguardam o crente além desta vida.

“Para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1ª Pe 1.4-5).

Ao aceitarmos a Cristo também passamos a ser coerdeiro de Suas riquezas. Paradoxalmente, todas as riquezas celestiais tornam-se nossas por Ele se fez pobre para que fossemos ricos nas regiões celestiais.

“Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2ª Co 8.9).

XIV.      A HERANÇA CONDICIONAL

O crente como filho de Deus, embora adotivo, torna-se participante da herança divina enquanto ele permanecer fiel na casa do Pai. Mas até um filho, por sua própria escolha pode abandonar seu pai e seu lar e perder o que tem.

Podemos citar dois exemplos bíblicos: O primeiro exemplo é do Filho Pródigo que trocou a comunhão com seu pai pelos prazeres efêmeros do mundo. Felizmente, arrependeu-se, e não perdeu toda sua herança. O segundo exemplo é de Esaú que não foi tão feliz assim. Tendo desvalorizado sua herança espiritual, vendeu-a em troca de um momento de satisfação física (Hb 12.16). Mais tarde reconheceu o valor da primogenitura perdida, e implorou para tê-la de volta, mas foi tudo em vão. A oportunidade para arrepender-se já se fora (Hb 12.17), e assim será com todos aqueles que rejeitam sua herança espiritual, para depois descobrirem que a morte selou sua decisão para toda a eternidade (Hb 9.27).

No livro do apocalipse Cristo advertiu a João que a herança é somente para os que vencem o mundo até ao fim, pela sua fé.


“O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho” (Ap 21.70).

Pr. Elias Ribas

sexta-feira, 17 de março de 2017

A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO


I.         DEFINIÇÃO DA PALAVRA JUSTIFICAÇÃO

A palavra justificação no grego tem dois significados: dikaiosis”, é o ato de Deus que declara as pessoas livres de culpa e aceitáveis para Ele e “dikaioma”, sentença favorável pela qual ele absolve a humanidade e a declara aceitável em um ato ou feito justo. O substantivo dikaiosis se acha somente em dois lugares no NT, a saber, Rm 4.25; 5.18. Ele denota o ato de Deus declarar homens livres de culpa e aceitável a Ele. O estado resultante é denotado pela palavra dikaiosune.
A conversão é seguida pela justificação. Trata-se da declaração da parte de Deus de que o crente está legalmente justificado (isento de culpa). Esta justificação envolve dois atos: o cancelamento da dívida do pecado na “conta” do pecador, e o “lançamento”, em seu lugar, da justiça de Cristo.
A doutrina da justificação é uma doutrina mais importante da Bíblia. No curso da história ela se tornou grandemente pervertida. Foi a Reforma Protestante que restaurou a doutrina da justificação ao seu lugar correto.
A regeneração, o homem recebe uma nova vida e uma nova natureza; na justificação ele recebe uma nova posição. O réu está perante Deus, o Justo Juiz, porém, ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.
A justificação pode ser definida como ato de Deus pelo qual Ele declara justo todo aquele que crê em Cristo. A justificação é um ato declarativo de Deus. Não é algo operado no homem, mas sim algo declarado no Homem.
Os que estão no mundo estão, naturalmente debaixo da condenação; os que estão em Jesus, porém estão livres, absolvidos. Assim diz A Bíblia: “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).

II.      A POSIÇÃO DO HOMEM PECADOR DIANTE DA JUSTIÇA DE DEUS

1.      A Bíblia a firma.
1.1. Todos pecaram (Rm 3.23). Por natureza, o homem não somente é desviado, mas também um transgressor e criminoso (5.8; Cl 1.21; Tt 3.3).

1.2. Todos são culpados.Que concluiremos então? Estamos em posição de vantagem? Não! Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado” (Rm 3.9).

1.3. Ninguém é justo.Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer” (Rm 3.10).

1.4. Todos os pecados estão escritos no livro de Deus. “Vi também os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros” (Ap 20.12).

1.5. Todos os pecados estão escritos na consciência do homem. “O pecado de Judá está escrito com estilete de ferro, gravado com ponta de diamante, nas tábuas dos seus corações e nas pontas dos seus altares” (Jr 17.1).
“Pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho” (Rm 2.15-16).

2.      Todos estão debaixo da condenação.
“Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo de Deus” (Rm 3.19).

Como Deus julga? Ele julga com justiça (v. 2), segundo as obras de cada pessoa (v. 6-10) e a partir do que cada uma conhece (v. 11-16).
Em Romanos 1.18-32, Paulo declarou que todas as pessoas injustas são inescusáveis. Aqui, ele demonstra que o farisaísmo também é inescusável, e assim revela os padrões pelos quais todo o mundo será julgado. O julgamento será: (1) de acordo com a verdade (v. 1-5); (2) de acordo com as obras (v. 6-11); e (3) de acordo com o conhecimento que se tinha da lei (v. 12-16).
“Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus”? (Rm 2.2-3).
A verdade, no sentido utilizado nesse versículo, é distinta daquela apresentada em Romanos 1.18, 25, onde Paulo recorre à evidência de Deus na criação. Aqui, Paulo faz alusão à verdadeira condição da humanidade.
No verso 5 Paulo fala o sentido do termo ira. Este termo utilizado aqui é diferente da ira de Deus citada em Romanos 1.18. Em Romanos 1.18, a ira de Deus é a sua cólera atuante no tempo presente. Aqui, em Romanos 2.5, a palavra é uma menção à ira futura de Deus, que muitos consideram uma referência ao Dia do Juízo. Sendo assim, as pessoas que continuam em sua rebelião contra Deus estão acumulando a ira divina sobre sua própria cabeça.

3.      Nenhum homem tem condições para livrar-se da culpa.
“Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se” (Gn 3.7).
Adão e Eva procuraram fazer vestes de folhas de figueira para cobrir sua nudez, mas isso não resolveu o seu problema diante de Deus, pelo contrário, denunciou o seu problema diante de Deus (Gn 3.7-10). Boas obras de justiça não justificam o homem diante de Deus (Gn 2.16).
“Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe” (Is 64.6).

III.   A JUSTIFICAÇÃO E A LEI

Na lei do Velho Testamento havia duas exigências rígidas que tornava impossível a entrada do homem no céu. A primeira era a perfeita obediência à lei, e a segunda, a sentença do castigo eterno a que o homem estava sujeito se violasse apenas um dos seus mandamentos (Gl 1.10-13). Ninguém jamais foi salvo por sua obediência à lei. Ninguém poderia ter comunhão com Deus guardando a lei. Todos os homens estão aquém do padrão de Deus e, portanto, estamos condenados à morte.
A pergunta do homem caído nessa situação, é a pergunta de Jó:
“Mas como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.6). “Senhores que é necessário que eu faça para me salvar?” (At 16.30). Jó e o carcereiro Filipos fizeram a maior de todas as perguntas. Quem poderia justificar o homem. A justificação não se dá através das obras da lei, Paulo declara que ninguém é justificado diante de Deus (Rm 3.20; Gl 2.16). Mas, então qual a base da nossa justificação?
Somente Deus poderia resolver o problema insolúvel do homem. Mas, conforme Paulo explica, Deus não poderia simplesmente declarar justo o pecador inocente, nem podia alterar sua própria lei. Era mister que fosse “justo e justificador” simultaneamente: “Mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).
A situação era tal que o amor de Deus não permitiria que ele abandonasse a humanidade, nem Sua justiça permitiria que ele quebrasse Sua própria lei. A única solução era enviar um substituto que pudesse satisfazer as exigências da lei, de tal forma que o homem tivesse comunhão com Deus.
O conceito da justificação sem violação da lei, pode ser ilustrado por meio da seguinte história:
Certo homem cometeu um crime, e foi trazido perante o tribunal. Mas, ali sentiu-se grandemente encorajado quando notou que o juiz era o seu melhor amigo. O culpado ficou certo de que o juiz “daria um jeito” na lei para ajudá-lo. O juiz, no entanto, não poderia abusar da justiça. Sentenciou seu amigo a pagar uma multa elevada o qual não teria condições de pagá-la. O culpado ficou em pé ali, desiludido e não querendo crer no que via, enquanto observava o juiz, que sem vacilar, levantava-se para deixar a sala do tribunal e caminhou em direção do guichê do tesoureiro do tribunal e pessoalmente pagou toda a multa do culpado. E sua tristeza transformou em grande alegria ao saber que o juiz já havia pago toda sua dívida.
Assim acontece conosco. Deus não poderia quebrar Sua própria lei para nos salvar, mas pôde providenciar o cumprimento da sentença, pagando pessoalmente a dívida que era contrária a nós, por meio do Seu Filho, Jesus.
“Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.24-26).
A justificação do pecador, mediante o sacrifício vicário de Cristo, pode ser percebida por meio de várias profecias do Antigo Testamento (Is 53.1; 45.22-25; 61.10; Jr 23.6; 33.16; Sl 85.10; Gl 3.7). Em Gn 3.21, por exemplo, encontramos uma nítida figura do propósito divino neste sentido. Deus cobrira graciosamente a nudez de nossos primeiros pais, Adão e Eva, após terem pecado. Outro exemplo digno de nota é o de Abraão que foi justificado por Deus semente pela fé (Gn 15.6; fato transcendental que a Bíblia confirma em Romanos 4.3.
A lei mosaica não tinha intenção de alcançar a justiça pelo esforço humano, mas de revelar a justiça de Deus (Rm 8.4; 10.4, 10; At 10.39). Os sacrifícios não visaram retirar os pecados, mas cobri-los temporariamente até que Cristo viesse como sacrifício perfeito e substitutivo (Êx 12.1-23; Jo 1.29) As ordenanças, rituais, sacrifícios e princípios de vida piedosamente ensinados no Antigo Testamento, embora divinamente inspirados, não podiam quitar as “dividas” da humanidade, e muito menos, transformar o perdido pecador num justo.

IV.   DEUS UM JUSTO JUIZ


1.      A justiça vem de Deus.
“O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher” (G 3.21).
Não existe ser algum em todo o universo que tenha condição de justificar o homem diante de Deus. Por isso todas as religiões, em todo o mundo, que procuram justificar o homem diante de Deus por obras, são falhas, não produzem justificação. “A justiça vem do Senhor” (Is 54.17).

2.        Deus julga de acordo com a verdade e a justiça.
Em muitos tribunais adota-se o princípio de que a sentença em qualquer caso seja de acordo com os fatos apresentados nos autos. Nenhum juiz tem o direito de perdoar o culpado ou condenar o inocente; e para que a justiça seja exercida, o julgamento deve estar de acordo com este princípio.
O princípio da lei que rege os negócios dos homens é também o princípio pelo qual Deus exerce justiça. Quando Deus, como Juiz santo e justo senta-se para julgar os homens, Seu julgamento deve ser feito de acordo com a verdade e a justiça. Deus precisa justificar o inocente e condenar o culpado. Nenhum juiz poderia administrar a justiça se tratasse os fatos de modo diferente do que são na realidade; e seria um juiz injusto se, por favoritismo, absolvesse o culpado e condenasse o inocente.
Portanto, quando Deus justo e verdadeiro, senta-se para julgar e exercer a justiça deve pronunciar todo mundo culpado (Rm 3.23), pois esta é a verdade dos fatos. Como então, pode Deus, que é amor e misericórdia e graça, pronunciar culpado todo mundo? O fato está na Sua justiça. O pecador arrependido e regenerado é transformado numa nova criatura, sendo assim Jesus o justifica perante o Pai (1ª Jo 2.1). Mas aqueles que seguem o seu próprio caminho, ou seja, um caminho de pecado e sem Deus, Jesus não pode justificar e o Pai declara condenado. Portanto, somos justificados ou condenados pela nossa própria decisão. Deus é onisciente e conhece todos nossos corações e pensamentos. Nada escapa de Seus olhos. Ele vê e conhece tudo.
Se um juiz terreno age com justiça baseando-se na lei humana, quanto mais um Deus justo e Criador. Você acha certo um homem que comete todo o tipo de maldade (estuprador, imoral, injusto roubador etc.), ser absolvido em um tribunal de justiça? Se você é ético vai dizer que não. Desta mesma forma Deus age conosco com base na Sua justiça. A Bíblia diz que um dia Ele irá julgar o mundo, justificando o pecador arrependido e condenando o pecador que não se arrepende.
“Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16).

3.      A justiça de Deus é perfeita e imutável.
Deus jamais pode usar dois pesos e das medidas. Ele referia-se a Sua justiça, se perdoasse o pecador, sem meio eficaz de perdão porque disse:
“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23).
“E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gn 2.16-17).
A justificação é uma declaração de Deus, segundo a qual todos os processos da lei divina são plenamente satisfeitos, por meio da justiça de Cristo, em benefício do pecador que o recebe como salvador. Justificação significa mudança de posição espiritual diante de Deus: de condenados para justificados. Esta é a única maneira do homem com Deus, apresentando-se a Ele sem culpa.

V.       CRISTO É A NOSSA JUSTIÇA

1.      No Seu infinito amor providenciou o sacrifício de Seu próprio Filho.
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
A o meio da nossa justificação é a fé em Cristo Jesus como nosso único salvador. E não a salvação em um outro nome em cima no céu e embaixo da terra (At 4.12). Portanto não existe outro meio de justificação a não ser a Cristo.

2.      Jesus para mediador entre Deus e os homens, tinha de ser homem.
Filho de Deus deixou o céu, a glória, seu trono, e fez-se carne, fez-se homem, se encarnou. Aquele que em seu estado pré-encarnado é igual a Deus é a mesma Pessoa que se esvaziou. Ele pôs de lado sua majestade e glória (Jo 17.5), mas permaneceu Deus. Ele jamais deixou de ser o possuidor da natureza divina. Mesmo em seu estado de humilhação ele jamais se despojou de sua divindade. Para cumprir os desígnios de Deus, houve em Jesus, como base do seu ministério vitorioso, um princípio pleno de renúncia, sacrifício e devoção (Fl 2.6-9).

3.      Jesus tinha que tomar sobre si a culpa dos homens.
A imensa dívida do homem (impagável), diante de Deus, tinha que ser transferida para a conta de Jesus. Foi por isso que Jesus se tronou devedor diante da lei de Deus.
1.1.A Bíblia diz que Ele foi feito pecado por nós.
“Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2ª Co 5.21), ou seja, que Cristo foi tratado como pecador para que sejamos tratados como justos; que também sejamos feitos pessoalmente justos pela fé n’Ele; que herdemos e nos tornemos participantes da justiça de Deus conforme a que foi revelada em Cristo; que n’Ele e por Ele sejamos feitos justos como Deus é justo. A alma precisa, pela fé, abraçar e tomar posse da justiça de Deus trazida aos santos em Cristo pela expiação e pela habitação do Espírito.
1.2.Maldito por nós.
“Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro” (Gl 3.13).
1.3.Jesus tomou o cálice da morte na cruz.
“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42).
1.4. Jesus morreu cumprindo a sentença que nossos pecados mereciam. O justo morreu pelo injusto.
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito” 1ª Pe 3.18).
1.5. Ele levou nossas transgressões.
Isaías 53, fala do sofrimento de Jesus quando veio ao mundo para nos salvar. Ele foi oprimido, castigado e morto. Este trecho fala principalmente do sacrifício que Jesus fez pelos pecados dos homens: “Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado...” (53.10); “...o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (53.11); “...contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (53.12).
No sentido de que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gn 3.17-19), e até a morte física se tornou uma consequência secundária da transgressão do homem (1ª Co 15.21-22), Jesus dará uma vitória total sobre a dor desta vida. Mateus 8.16-17 usa as curas físicas realizadas por Jesus como evidências do seu papel como o verdadeiro Messias e Salvador. Jesus curava as enfermidades físicas para mostrar um sinal da sua capacidade de curar a nossa doença espiritual: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos 2.10-11). Seria errado colocar a cura física acima da missão principal de Jesus.
“Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26).

4.      Jesus tornou a nossa justiça.
Cristo é a nossa justiça porque tudo o que fez, fez por nós, em nosso favor, como nosso SUBSTITUTO diante de Deus e da lei. A Bíblia diz que por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.
“Mas também para nós, a quem Deus creditará justiça, para nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor. Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4.24-25).
Quando Jesus morreu pelos pecados de todo o mundo (1ª Jo 2.2), cumpriu a afirmação de João Batista: “No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”! (Jo 1.29).
Deus então nos restaura ao favor por nos imputar a justiça de Cristo. Ou nas palavras da Bíblia “Vida Nova”. “Deus nos atribui ou imputa o sacrifício de retidão de Cristo, oferecido para todos os que nele creem, não cobrando nossa dívida de pecado” (ver Gl 3.6; Fp 3.8-9).
A pessoa justificada, então tem tido seus pecados perdoados e a penalidade dos seus pecados remitida, ele tem também sido restaurado ao favor de Deus. Ele não é ainda justo nele mesmo, mas ele é justo ou reto no sentido da transformação espiritual, ou seja, a regeneração.
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” (Rm 5.18).
“Um só ato...”. Paulo está se referindo ao ato da crucificação e da morte de Cristo em nosso favor. Por este ato de fé somos justificados em Cristo Jesus.
O homem não é justificado pela sua justiça, pelos seus atos, dogmas e tradições. Também não podemos atribuir o ato de justificação a igreja nenhuma, seja qual for, pois ela não tem este objetivo de justificar ou condenar alguém. A justificação pertence unicamente a pessoa de Cristo e a ninguém mais.
Na cruz estavam incluídos os pecados de todos os crentes, que, no tempo do Velho Testamento, haviam crido em Deus e oferecido sacrifícios pelos pecados, conforme o mandato de Deus, estes haviam sido perdoados por Deus, mas os pecados deles não haviam sido tirados, “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes, tire o pecado (Hb 10.4).

5.      Quem Deus justifica?
Todos os que agora, aceitam a Jesus como Seu salvador, e estão em Cristo:
“Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). São declarados justo porque esta aceitação por Jesus, é a justiça: “Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça” (Jr 23.6).
Quando Deus olha para o crente através da pessoa de Jesus na qual somos feitos na justiça de Deus: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2ª Co 5.21).
Pela conta credora de Jesus (que não se esgota), foi feito o pagamento do nosso débito, que agora já não existe. Assim o crente pode, vestido do manto da justiça de Jesus:
“É grande o meu prazer no Senhor! Regozija-se a minha alma em meu Deus! Pois ele me vestiu com as vestes da salvação e sobre mim pôs o manto da justiça, qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote, qual noiva que se enfeita com joias” (Is 61.10), apresenta-se diante de Deus, justificado.
“Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões,14 e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.13-14).
A penalidade para o pecado é a morte, espiritual, física e eterna (Gn 2.16-17; Rm 5.12-14; 6.23). Se um homem há de ser salvo, esta penalidade precisa ser removida primeiro. Foi removida pela morte de Cristo que carregou a punição dos nossos pecados no seu próprio corpo na Cruz do Calvário (Is 53.5-6; 1ª Pe 2.24).
Sendo que Cristo carregou a penalidade do homem pelo pecado, Deus agora perdoa aquele que crê em Cristo (At 13.38-39; Rm 8.33-34; 2ª Co 5.21). Isto é o perdão de pecados (Rm 4.7; Ef 1.7; 4.32; Cl 2.13). A morte de Cristo fez possível perdão (Rm 5.18-19; Gl 2.17).
Em relação a este elemento ou aspecto da justificação, Deus justifica o pecador que crê em Cristo, declarando-o justo. Isto declara que as experiências da lei têm sido satisfeita com respeito ao pecador, e que agora ele está livre da condenação da lei (Rm 4.5; Jo 3.16; Rm 5.1). O perdão de Deus é o término da ira de Deus contra o pecador que se arrepende e o livramento da culpa do pecado que oprimia sua consciência, ou seja, é a remissão da punição do pecado, que era a morte eterna.
Num tribunal terrestre, não há justificação para aqueles que são transgressores comprovados; para tais somente convicção e punição. Mas no governo de Deus há remissão de punição para os que creem, ainda que fossem ofensores; em justificação, Deus declara esta remissão.
Devemos entender que a declaração de Deus de que o pecador não é mais exposto à penalidade da lei, tem sua base, não em nenhuma satisfação da exigência da lei da parte do próprio pecador, mas somente no carregar da penalidade por Cristo Jesus, a quem o pecador é unido pela fé (At 13.38-39; Rm 3.24-26; Ef 1.7).

VI.   CARACTERÍSTICAS DA JUSTIFICAÇÃO

1.      A justiça divina alcança a todos.
Assim como o pecador tornou-se universal, a justificação destina a todos quantos queiram ser salvos “Pois Deus revelou a sua graça para dar a salvação a todo” (Tt 2.2).
A expressão “para que todo aquele que nele crê não pereça” (Jo 3.16) abrange a todos indistintamente. Todos os que se arrependem de seus pecados e creem em Jesus como Salvador não perecerão, mas terão a vida eterna. E é tudo pela graça de Deus, conforme está escrito: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). Esta “multiforme graça” alcança de igual modo todas as pessoas de todas as raças, culturas, níveis sociais, idades e circunstancias (Jo 6.37). Ninguém é bom suficiente para se salvar, como também não é mau que não possa ser salvo por Jesus.

2.      A justiça de Deus é concedida gratuitamente mediante a graça.
“Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).
A fonte da justificação é a graça de Deus (Rm 3.24; Tt 3.4-7). A lei diz: paga tudo; mas a graça diz: tudo está pago. A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei restringe as ações; a graça transforma a natureza; a lei condena; a graça justifica; sob a lei a pessoa é servo assalariado; sob a graça é filho em gozo ilimitado.
A obediência vicária de Cristo torna o cristão justo diante de Deus. Os muitos se tornarão justos a medida que recebem a abundância da graça e o dom da justiça quando chegam a crer neste maravilhoso ato realizado por Cristo Jesus em favor da humanidade.
A justificação é a baseada no sangue derramado de Cristo e a na sua justiça. O apóstolo Paulo declara que somos “justificados, gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 5.9).
Somos unicamente justificados gratuitamente pela imensurável graça de Deus concedida aos pecadores, a fim de conferir-lhes aquilo que jamais poderíamos alcançar por seus próprios méritos, deixando de lado a sentença por eles merecida.
Portanto, desde que a justificação é uma posição legal que só pode ser concedida por Deus, e desde que ninguém merece esta posição, ou seja, a justificação é inteiramente pela graça de Deus.
O que Paulo quer dizer que somos justificados sem justa causa, ou seja, sem qualquer razão ligada a nós. Deus não nos justificou por possuirmos qualquer qualidade positiva ou qualquer traço de bondade, nem mesmo porque valesse a pena salvar-nos. Também Ele não estava obrigando de maneira alguma a nos justificar. Mas Ele nos justificou pela Sua graça infinita e incomparável.
Também, ser justificados gratuitamente por sua graça implica uma ação da parte de Deus completamente independentemente de mérito ou boa obra da parte do homem para merecê-la.
Através da base da justificação e sua causa eficiente, podemos ver com muita clareza que a justificação não é pelas obras da lei, inclusive as obras da lei não foi dada para salvar ou justificar quem quer que seja, mas para pôr ponto final nos argumentos e mostrar que todos são culpados: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Rm 3.19), para dar conhecimento do pecado: “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.20); para mostrar a excessiva pecaminosidade do pecado:
“Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno” (Rm 7.13); para conduzir o pecador a Jesus.
No tribunal de Deus, nenhum homem pode ser considerado justo aos olhos de Deus pela obediência à lei (Gl 2.16). Como meio de estabelecer corretas relações com Deus, a lei é totalmente insuficiente. A única coisa que a lei pode fazer é fechar a boca de todo o homem e declará-lo culpado perante Deus. É verdade que Jesus fez referência à lei ao jovem que lhe havia perguntado como herdar a vida eterna; mas é evidente que Jesus fez isso simplesmente para mostrar-lhe que a salvação é impossível de ser alcançada nessa base.

VII.A CONDIÇÃO DA JUSTIFICAÇÃO

1. Fé. Se a justificação é unicamente pela graça de Deus, como o próprio homem pode estar envolvido então no processo de ser justificado? As Escrituras Sagradas dizem que somos (gr. diá pisteos; ek pisteos ou pistei – dativo). A preposição dia (Rm 3.25; Gl 2.16; Fp 3.9), enfatiza o fato de que a fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos de Cristo e de sua justiça. A preposição ek (Rm 3.26, 30; 5.1; Gl 3.8, 24) indica que a fé logicamente precede a nossa justificação pessoal, para isto que origina-se em fé. O dativo é usado em um sentido instrumental (Rm 3.28).

1.1. A fé a condição para sermos justificados. Contudo, a Escritura nunca indica que sejamos justificados (gr. dia tem pistin), por causa da nossa fé. Isto quer dizer que a fé nunca é representada como a base da nossa justificação. Como já temos notado, se isso fosse o caso, fé teria que ser considerada como obra meritória do homem. E isto seria a introdução da doutrinada da justificação pelas obras que o apóstolo opõe coerente ou constantemente (Rm 3.21, 27-28; 4.3-4; Gl 2.16, 21; 3.11).

1.2. A fé é a condição da nossa justificação e o sangue de Cristo é a base da nossa justificação. Podemos notar que somente o sacrifício de Cristo é o que nos justificação. Não é para fé que somos justificados, mas pela fé somente. A fé não é o preço da nossa justificação, mas o meio de apropriar-se dela. A fé é a aceitação de métodos divinos da justificação. A fé apropria daquilo que a graça fornece.
“Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde, pois, a jactância? Foi de toda excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei” (Rm 3.26-28).
Cristo ocupa uma posição única como o representante de Deus com o homem e do homem com Deus. O valor infinito da fé é derivado do seu objeto: Deus e sua manifestação. Crer é, portanto, agarrar de uma vez a perfeição de Deus.
Cristo sofreu a penalidade dos nossos pecados. Logo, os nossos pecados não foram desculpados ou ignorados; pelo contrário, a sua “conta” foi totalmente paga. Não somos inocentes quanto aos nossos pecados cometidos, mas Deus não nos julgará mais por eles, pois foram perdoados e pagos por Cristo.
“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1ª Pe 2.24).
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1ª Pe 3.18).
Não somente somos perdoados de todos os pecados que nos separaria de Deus, mas, sim, pela justiça de Cristo, somos dignos de ter comunhão com Deus. Quando Deus olha para nós, não vê nossos pecados e fracassos; pelo contrário, apenas vê a santidade do Seu Filho, e Sua obediência e bondade; sendo justificado desta maneira temos paz com Deus e acesso a Ele (Rm 5.1-2).
“Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção” (Rm 3.22). “Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé” (Gl 5.5). “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10 4).
A fé salvífica é o único meio do homem tornar-se justo e permanecer neste estado. Os efeitos da justificação pela fé abrangem a totalidade da vida do crente. No passado a fé justificou-o, libertando-o inicialmente da condenação do pecado. No presente, a fé continua a justificá-lo, libertando da “pratica do pecado”. À medida que ele continua na fé em Cristo, a justificação do crente culminará na glorificação, libertando-o para todo o sempre da própria “presença do pecado”.

1.       O sangue é a base da justificação.
A justificação é a baseada no sangue derramado de Cristo e a na Sua justiça. O apóstolo Paulo declara que somos “justificados, gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 5.9). Em romanos 5.9 ele diz: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
O sangue de Cristo é a base da nossa justificação, pelo qual a perfeita justiça de Cristo é imputada ao pecador. Sem o sacrifício de Cristo não seria possível a nossa justificação. Deus planejou nossa justificação e providenciou também o modo como seria realizado; unicamente através do sangue derramado por Jesus Cristo.
Temos redenção pelo sangue (Rm 3.24); temos propiciação pelo sangue; temos a remissão dos pecados, tudo através de seu sangue. O sangue é o fundamento da justificação porque as Escrituras revelam que a vida está no sangue. E quando Jesus Cristo derramou Seu sangue, entregou Sua vida, a vida dele em substituição à nossa. A morte dele em lugar da nossa morte, para que nós pudéssemos receber a remissão de pecados através do sangue de Cristo.
Por ter Cristo suportado o castigo de nossos pecados em seu próprio corpo, Deus revogou a pena e nos restabeleceu a Seu favor.
Na justificação os nossos pecados não são desculpados, mas punidos na pessoa de Cristo, nosso substituto. “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25).
A base da nossa justificação é unicamente o sangue de Cristo, pelo qual a perfeita justiça de Jesus é imputada ao pecador. Sem o sacrifício de Cristo não seria possível a justificação.
Deus planejou nossa justificação e providenciou também o modo como seria realizada; unicamente através do sangue derramado por Cristo Jesus.
Quando Jesus verteu o Seu sangue nesse sacrifício inigualável, abriu-se a fonte da graça para a justificação de todo aquele que n’Ele crer.
“Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele”! (Rm 5.9).

3. A justificação concede uma nova posição em relação à lei de Deus. A lei de Deus exigia perfeita obediência para se obter a vida eterna (Mt 19.17). Evidentemente, ninguém pode cumprir perfeitamente esta exigência. A solução divina não foi abolir a Lei, mas, sim fazer que Cristo “cumprisse” a Lei por nós, pois Ele pôde obedecer à Lei de modo perfeito.
Justificação é um termo legal (que se refere à maneira correta de se apresentar diante de Deus). Esse estado não pode ser obtido pelos méritos humanos, mas pela redenção em Cristo Jesus.
Redenção é o ato que propicia a liberdade ao escravo por meio da fé em Cristo, ou seja, pecadores são libertos da escravidão do pecado (Jo 8.32).
Propiciação do grego hilasterion, carrega a ideia de apaziguar ou satisfazer. Portanto, propiciação se refere à obra de Cristo na cruz. Por meio da propiciação, Cristo satisfez ambas as demandas da justiça de Deus e cancelou a culpa dos pecadores. A fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador é a única condição do homem ser justificado diante de Deus.

VIII.      AS BÊNÇÃOS QUE FLUEM DA JUSTIFICAÇÃO

1. A remissão dos pecados. Cuja pena de morte espiritual, física e eterna (Gn 2.16; Rm 5.12-14; 6.23). Esta punição foi revogada pela morte de Cristo, que sofreu o castigo que nos estava reservado (Is 53.5-6; 1ª Pe 2.24).

2. A restauração do favor divino. Além de incorrer no castigo, o pecador também perdeu o favor de Deus, pois o Senhor Deus não tem comunhão com o pecado (Jo 3.36; Rm 1.18; 5.9).  A justificação assegura a restauração ao favor e à comunhão com o Pai Celestial (Gl 3.26).

3. A imputação da justiça. O pecador precisa não apenas ser perdoado por seus pecados cometidos, mas também receber uma justiça antes de poder ter comunhão com Deus. E esta necessidade é satisfeita na imputação da justiça de Cristo ao crente.
3.1. Imputar é debitar alguém. O apóstolo Paulo disse: “Assim também declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras” (Rm 4.6; Sl 32.1, 2).
3.2. Deus imputa ao crente a justiça de Cristo (1ª Co 1.30; 2ª Co 5.21).
Deste modo, a pessoa justificada tem os seus pecados perdoados e a punição dos seus pecados foi revogada; foi também restaurada ao favor de Deus pela imputação da justiça de Cristo (Gl 2.16).

IX.    A JUSTIFICAÇÃO, A FÉ E AS OBRAS

Bíblia afirma claramente que a justificação é uma dádiva que só podemos obter mediante a fé em Jesus Cristo. No entanto, há vários versículos que parecem contradizer este fato. Sabemos que a Bíblia não se contradiz, portanto, vamos estudar estas aparentes contradições para vermos o que o texto bíblico realmente quer dizer.
“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4.3).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16).
“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.24).
Ao examinarmos os contextos veremos que cada escritor empregou as mesmas palavras: fé, obras e justificar, mas de maneiras diferente.
Paulo contempla o assunto conforme a necessidade dos seus leitores e afirma que somos justificados diante de Deus sem obra alguma de nossa parte; que é somente pelos méritos de Cristo, cuja obra redentora já foi completada na cruz.

1.      Fé para salvação e fé professada.
Alguns têm suposto que a discussão ou a carta de Tiago do relacionamento entre fé e obras está em oposição à doutrina da justificação pela fé. A epístola de Tiago é uma das mais antigas. Ela certamente não foi escrita para responder a Epístola aos Romanos, que foi escrita alguns anos mais tarde. É certo então, que Romanos não foi escrita para contradizer a Epistola de Tiago.
Quando Paulo fala da fé que justifica, está falando somente da fé salvífica, como um relacionamento real com Cristo, baseado no amor, confiança, e a consagração da vida e vontade a Ele.
Tiago, no entanto, fala de uma confiança de fé, seja ela a fé que salva, ou meramente um assentimento à existência de Deus (o que também fazem os demônios, Tg 2.19). Note que o elemento da fé professa, é claramente denotado nas palavras “se alguém disser, e “mostrar”.
“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, (mera confissão) mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2.14)
“Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tg 2.18).
Tiago, também, contempla o assunto de fé e obras, mas conforme a necessidade dos leitores dele. A fé é a raiz e a árvore da qual as obras de fé são o fruto. Não somos salvos pela combinação de fé e obras, mas sim, por uma fé que produz obras. Se temos fé em Deus, as obras mostrarão. As obras são o resultado da fé. Somos salvos exclusivamente pela fé, mas por uma fé que não permanece isolada. Em Romanos vemos que a fé é o necessário para a nossa salvação; na epístola de Tiago vemos a demonstração de uma fé genuína que são as obras.
O propósito de Tiago não era de atacar a fé como meio de salvação, mas, sim, atacar a simples confissão de fé na existência de Deus, como meio de salvação. Por exemplo: Alguém apenas acredita em Deus, mas não obedece Sua Palavra. Ela apenas tem uma fé universal da existência de um Deus. No entanto, ela não pode ser declarada salva.
Paulo fala da justificação como a declaração da parte de Deus de que um homem é justo por causa da sua fé em Cristo Jesus. Tiago enfatiza a declaração dos homens de que a fé da pessoa é legitima quando comprovada por obras de amor e de dedicação ao reino de Deus.
“E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tg 2.23).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
Note que no verso 23 Tiago está falado da justificação do homem, no verso 21 Tiago está falando da justificação ou prova da sua fé. O verso 23, que citado em Gn 15.6, refere-se à justificação inicial de Abraão, e o verso 21, é uma referência ao sacrifício de Isaque retratado em Gênesis 22 – aproximadamente 30 anos depois de Abraão ter sido declarado justo por causa da sua fé somente, isto é, à parte das obras.
O que realmente o verso 23 afirma é que o homem é justificado pela fé somente; e a declaração do verso 21, que a “fé salvífica” nunca permanece só, sempre está acompanhada de obras de justiça que servem para demonstrar a eficácia da fé do crente.
A fé é o meio e a condição de sua salvação, ao passo que as obras são seu fruto e sua evidência. As obras são o produto e o fruto de fé e da salvação. A fé inicia, promove, controla e culmina a vida espiritual, enquanto as obras evidenciam, embelezam e coroam a mesma.
Paulo considera a questão do ponto de vista de Deus, e assevera que somos justificados, aos olhos de Deus, meritoriamente, sem qualquer obras de nossa parte. Tiago considera o assunto do ponto de vista do homem, e assevera, que somos justificados, a vista do homem, evidentemente, pelas obras e não exclusivamente pela fé.
Em Tiago a questão em foco é a demonstração de fé. Em Tiago 2, vemos que somos justificados pelas obras. Temos aqui a evidencia da justificação. Tiago pergunta: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (vv.21). “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (vv.25). Estas referências são de justificação perante os homens. Depois de alguém ter sido inocentado por Deus, irá manifestar sua absolvição perante os demais através da retidão produzida pela sua posição em Cristo. O homem não é justificado diante de Deus pelas obras, mas demonstra através delas sua justificação.
Há pessoas que dizem que nossa bondade pessoal ou excelência moral não for a base da nossa aceitação com Deus, então toda a necessidade de ser bom é negado, e todo o motivo para as boas obras é removida.
É verdade que nossa excelência não tem nada a ver com nossa justificação e que somos justificados somente na base daquilo que Cristo fez por nós. Mesmo assim, produzimos fruto para a justiça ou retidão. Ninguém partilha mérito da morte de Cristo que não se torne participante do poder da vida de Cristo.
E o próprio apóstolo Paulo fala tão claramente como Tiago contra a noção de uma fé que não produz obras: “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2.13). Paulo ensina que a possessão da verdade divina não vale nada sem sujeição e obediência. Ninguém será justificado por sacrifícios, leis, práticas e regras humanas, mas que praticar e não apenas ouvir é que o julgamento de Deus exige.
O forte tom ético de todo capítulo 2 de Romanos não contradiz a doutrina da justificação pela fé, mas protege esta doutrina, como a Epístola de Tiago faz contra antinomianismo, ou seja o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia.
“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1ª Jo 3.7-9).
Portanto, não devemos desprezar as boas obras que é fruto do amor e que têm seu próprio lugar; e seu lugar não procede a justificação, mas antes segue-a. A fé que justifica é uma fé real que conduz à ação que é de conformidade com a verdade crida. Somos justificados pela fé, sem as obras. O homem que trabalha para conseguir a salvação não é um homem justificado, mas o homem justificado é o homem que trabalha. Enfim, a árvore demonstra sua vida por meio de seus frutos (Gl 5.22-23), mas já estava viva antes que os frutos ou mesmo as folhas tivessem aparecidos.

2.      Obras que salvam e obras de amor.
Paulo e Tiago também tratam de dois tipos diferentes de obras. Paulo condena as obras como esforço arrogante do homem procurando merecer a sua própria salvação: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.11; Rm 3.20). Contratando isso, ao referir-se as obras, Tiago fala dessas expressões de fé como resultado natural da justificação.
Poderíamos chamar as obras mencionadas por Paulo como sendo “as obras da lei” e as de Tiago como sendo “as obras da fé”.
Portanto, quando Tiago diz que a fé sem as obras é morta, o que na realidade ele está dizendo é que uma profissão de fé que não resulta em obras de justiça, não é uma profissão veraz; é insuficiente para salvar. Mas uma profissão de fé completamente por obras de justiça comprova que aquela fé viva que realmente salva.

3.      As obras e seu julgamento.
O julgamento de Deus é segundo a sua verdade, justiça e santidade (Rm 2.2; 3.4; 9.14; Sl 96.13; Dt 32.4; Ap 16.7). Entretanto, Deus não deseja a ruína do pecador, mas a sua salvação (Ez 18.23, 32; Is 55.7; Tg 2.13; Hb 3.7-8; Ap 22.17). E a única maneira de escaparmos do juízo de Deus é termos a Cristo como Salvador e Senhor (Hb 22.4; Lc 13.3, 5).
As obras do crente são decorrentes da salvação já operada, pela graça de Deus (Ef 2.8-9). Ou seja: nós fomos salvos pela fé para a práticas das boas obras (Tg 2.14-20, 26; Ef 2.10).

4.      Justificação do homem e a justificação da sua fé.
Paulo pregava que a justiça do crente começa com a fé; é mantida pela fé e termina com a fé. “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).
Pedro também ensinava que a fé era o continuo catalisador da salvação até ao exato momento da passagem da vida física para a eterna.
“Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”. (1ª Pe 1.5, 9).
A fé que salva o homem é uma fé “presente”. Não somente é o ponto de partida da vida do crente, mas também é o princípio característico que deve ser a base continua da vida espiritual (Gl 2.20).
A fé não deve ser limitada à experiência inicial da salvação no passado, mas, sim deve ser mantida no decurso da vida do cristão no presente. É uma virtude continua, que deve ser demonstrada diariamente através de um relacionamento de dedicação a Cristo e confiança n’Ele até o fim. Assim ela também assegura o futuro do cristão.
“Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.22-23).
Já temos falado e demonstrado que as obras não são a base da nossa justificação -quer dizer obras rituais ou cerimoniais, quer obras feitas antes da regeneração, quer obediência perfeita requerida pela lei, quer qualquer tipo de obras (tudo que foi feito por nós). Não podemos ser justificado por qualquer espécie que façamos.
Aqui Paulo nos diz que: “se vós permanecerdes na fé”. Caso contrário, vocês vão perder todas as bênçãos que vocês já começaram a desfrutar. E não pode ser removido da esperança do Evangelho a gloriosa esperança do amor perfeito. Que é pregado e já começou a ser pregado a toda criatura debaixo do céu.
Em Filipenses Paulo rejeita qualquer base de confiança na sua “justiça própria”, isto é, a sua própria excelência, quer habitual ou atual. Ele censura os judeus, porque eles procuravam estabelecer sua própria justiça e não queria submeter a justiça divina.
“Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3).
A Bíblia fala da natureza gratuita da nossa justificação. Graça e obras são opostos ou contrários:
“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.4-6).
Quando a base positiva da justificação é citada nas Escrituras, é sempre declarado que nada é feito por nós ou realizado em nós, mas o que foi feito por nós (Rm 5.9, 18-19).
Quando Paulo fala de achar graça só pela fé, é sempre em oposição à possibilidade de achá-la palas obras. A doutrina da justificação não poderia ser entendida sem esta antítese. Ela se dirige contra a concepção fundamental do judaísmo e do cristianismo judaizante, segundo a qual o homem acha graça de Deus pelo cumprimento da vontade divina. O próprio Paulo considerava as coisas assim até o momento em que Cristo lhe apareceu no caminho de Damasco: somente este instante é que lhe abriu os olhos para a ilusão que o fazia crer que um homem poderia manter-se diante de Deus por sua própria força. É por isso que depois de Damasco, ele opõe à tese dos judaizantes, que pretendem que a lei seja o caminho da salvação, esta antítese: o caminho da graça de Deus não está nas obras (ritos), mas na fé (Gl 2.16; 3.8, 24; Rm 28.30; 4.5). Esta fé é a única maneira de obter graça junto de Deus. A salvação de Deus lhe é concedida “a título gracioso” (Rm 4.4; 5.17), como um dom gratuito (Rm 3.24).

X.      OS RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO

A justificação traz muitos benefícios à vida do crente em Cristo Jesus, por exemplo:

1.      Um novo relacionamento com Deus.
“E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2.13-14).
Paulo fez uma ilustração do cancelamento da dívida do pecado, em Colossenses 2.23-24. Ali, ele compara nossos pecados com o registro de uma cobrança, escrito num pergaminho. Nos dias de Paulo, era costume pregar o pergaminho de uma dívida na porta da casa do devedor. Quando a dívida era saldada, o pergaminho (isto é, a conta) era mergulhado numa solução química que apagava todo o escrito, deixando, assim, o pergaminho totalmente limpo e pronto para ser usado de novo.
Da mesma maneira, Paulo diz que nossa dívida não foi pregada à porta da nossa vida, mas, sim, na cruz de Cristo, onde Ele pagou por nós. Tomou o nosso lugar como devedor. Tendo pago a dívida, devolveu-nos o “pergaminho” (o escrito da dívida) das nossas vidas, completamente purificado pelo Seu sangue. Uma vez que a dívida está paga, a Lei não tem nenhum direito sobre a vida do crente, não havendo mais qualquer empecilho à comunhão com Deus.

2.      A Remissão da punição.
Não existindo mais condenação e há paz com Deus (Rm 4.7-8; 5.1; 8.1, 33, 34; 2ª Co 5.19). Quando alguém se arrepende do seu pecado e se volta para Deus, com fé, toda e qualquer culpa do pecado é apagada. A solução para eliminar o pecado ou fracasso, e crer, sem questionar, nem duvidar na sua mente, que Cristo pagou a dívida daquele pecado e que Deus nos contempla somente na justiça de Cristo, isto é, limpos e livres de dívidas! Tendo o próprio Deus justificado o crente, ninguém mais tem o direito de condená-lo, nem se quer seu próprio coração, pois ele está em Cristo.
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.33-34).

3.      O Restabelecimento do Favor de Deus: (Rm 4.6; 2ª Co 5.21).
O homem estava separado de Deus pelos seus pecados, mas mediante a fé no sacrifício de Seu Filho Jesus, somos perdoados, justificados e a nossa comunhão com o Pai é estabelecida através de Cristo Jesus.

4.      Estamos Cobertos pela justiça de Cristo.
Com a imputação da Justiça de Cristo, o crente está agora coberto por uma justiça que não é sua, mas provida por Cristo, e é aceito na comunhão de Deus (Is 61.10; Rm 4.7).

5.      Uma nova concepção do futuro.
A justificação nos liberta tanto dos pecados do passado, quanto nos temores do futuro. Porque uma vez justificado por Deus, e podemos ter a certeza que somos salvo. O crente salvo por Jesus tem a certeza que poderá entrar na presença de Deus purificados dos seus pecados e vestido com vestes brancas da justiça de Cristo.
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.9).
“E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1ª Ts 1.10).
“A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt 3.7).

O homem justificado tem certeza de que será poupado da ira vindoura.

Pr. Elias Ribas