LEITURA
BÍBLICA
1
Samuel 22.1-5
1 - Então, Davi se retirou dali e se
escapou para a caverna de Adulão; e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu
pai e desceram ali para ele. 2 - E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em
aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se
fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. 3 - E foi-se Davi dali
a Mispa dos moabitas e disse ao rei dos moabitas: Deixa estar meu pai e minha
mãe convosco, até que saiba o que Deus há de fazer de mim. 4 - E trouxe-os
perante o rei dos moabitas, e ficaram com ele todos os dias que Davi esteve no
lugar forte. 5 - Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques naquele lugar
forte; vai e entra na terra de Judá. Então, Davi foi e veio para o bosque de
Herete.
INTRODUÇÃO.
- Na sequência do estudo dos livros de
Samuel, estudaremos hoje o antagonismo entre Saul e Davi.
- O antagonismo entre Davi e Saul
prefigura a luta que os salvos empreendem neste mundo.
- Nem sempre as vivências marcadas por
situações traumáticas podem ser vistas como negativas. Por vezes, elas servem
para tirar as cascas das aparências, a infantilidade, o esquecimento de nós
mesmos, a fim de levar-nos à essência real da vida. O exílio fala de
expatriação forçada ou livre, isolamento social, solidão. A conotação nem
sempre é pejorativa, pois, nas Escrituras Sagradas, o exílio recebeu conotações
positivas e negativas.
- O exílio pode ser o lugar onde nosso
caráter será testado, onde nossa própria identidade será descoberta, onde nossa
lucidez mental e espiritual terá a sua aurora (Pv 4.18). A caverna de Adulão
não será apenas o exílio de Davi, mas, sim, o lugar que moldará o seu caráter,
preparando-o para uma missão maior: a liderança de Israel.
I. O
CRESCIMENTO DE DAVI NA CORTE DE SAUL
1. A
vitória sobre Golias foi um divisor de águas na vida de Davi. Embora o rei Saul
não tivesse cumprido a promessa de lhe dar a sua filha em casamento (1º Sm
17.25; 18.19), fez de Davi um dos comandantes do exército de Israel (1º Sm 18.5)
e nasce, então, o guerreiro, o maior de todos os conquistadores da história de Israel.
A vinculação de Davi com a guerra foi tanta que o próprio Deus não permitiu que
Davi construísse o templo, precisamente para impedir que a ideia do sangue e da
guerra fossem associadas ao nome do Senhor, que é o Deus da paz (1º Cr 22.8).
2.
Davi na presença do rei. Abner, o comandante do exército de Saul, trouxe Davi,
após a vitória sobre o gigante, à presença do rei, tendo o jovem Davi trazido a
cabeça do filisteu (1º Sm 17.57). Saul perguntou ao jovem de quem era ele filho,
tendo Davi dito que era filho de Jessé, o belemita (1º Sm 17.58). Esta
expressão bíblica, mostra que, apesar de Davi frequentar já a corte de Saul,
periodicamente, a fim de expulsar o espírito maligno da presença de Saul e ser
seu pajem de armas, não o fazia relevante na corte real, sendo mais um dos
muitos serviçais que eram convocados pelo rei, dentro das leis vigentes quanto
ao reino, estatuídas quando do estabelecimento da monarquia (1º Sm 8.11-21),
que ainda era incipiente e não possuía nenhuma infraestrutura burocrática, até
porque nem capital Israel tinha naquela época.
3.
Uma mudança na vida de Davi. Com a vitória sobre o gigante, porém, a
situação mudava de figura. Davi se destacara e se tornara um verdadeiro
“campeão” dos israelitas, de tal maneira que o rei Saul não mais deixou que
retornasse para a casa de seu pai, requisitando seus serviços em caráter
permanente (1º Sm 18.2).
4. A
amizade de Davi com Jônatas. Assim que Davi foi levado ao rei Saul e
determinado que se mantivesse servindo na corte, a Bíblia dá-nos conhecimento
de que surgiu uma amizade à primeira vista entre Davi e Jônatas, filho de Saul,
outro valoroso guerreiro de Israel e que, em teoria, era o herdeiro do trono.
- Jônatas, cujo nome significa “Deus nos
deu” ou “dado por Deus”, era o filho primogênito de Saul (1º Cr 9.39) e, como
tal, naturalmente era o herdeiro da coroa de Israel. Como se não bastasse isso,
tratava-se de um valoroso guerreiro, que tinha sido o principal responsável
pela vitória de Israel sobre os filisteus na primeira guerra que havia ocorrido
entre estes povos sob o reinado de Saul, vitória este que fez com que Jônatas
se tornasse extremamente popular entre os soldados, a ponto de ter o exército
se voltado contra o próprio Saul quando este, por um voto atrevido, condenou
seu próprio filho à morte (1º Sm 14).
- Assim como ocorrera com o mancebo que
havia anunciado a Saul a respeito de Davi quando o rei estava a procurar alguém
que o pudesse livrar do mau espírito que o afligia, Jônatas, também, que a
Bíblia indica ter sido um homem fiel e temente a Deus, viu em Davi, logo no
primeiro instante, um jovem que era valente, animoso, homem de guerra, sisudo
de palavras, de gentil presença e com quem estava o Senhor (I
Sm.16:18).
- Vemos, que a visão espiritual é
reservada única e exclusivamente para aqueles que temem a Deus, para os Seus
servos. Assim como o jovem mancebo, Jônatas pôde ver em Davi muito mais que um
“campeão”, mas alguém com quem Deus era, alguém escolhido pelo Senhor. Seus
olhos eram espirituais, sua mente era espiritual.
- Da mesma maneira, nós, que servimos a
Deus e que temos o Espírito Santo, temos de ter a mente de Cristo (1ª Co 2.16),
tudo discernindo espiritualmente (1º Co 2.13-15). Nos dias difíceis em que
vivemos, onde até mesmo os escolhidos correm risco de ser enganados (Mt 24.24),
torna-se indispensável que tenhamos sempre a iluminação provinda da luz do
evangelho de Cristo (2ª Co 4.4). A falta de comunhão com Deus, a prática do
pecado e a carnalidade têm cegado a muitos, entretanto, que não conseguem ter a
visão que Jônatas teve em relação a Davi.
5. O
amor ágape, o verdadeiro amor. O resultado desta visão espiritual que
Jônatas teve em relação a Davi fez surgir entre eles um profundo amor (1º Sm 18.1).
Este amor entre Davi e Jônatas é uma das mais eloquentes demonstrações bíblicas
da sublimidade do amor de Deus sobre todo e qualquer outro sentimento humano a
que denominamos de “amor”.
- Jônatas tinha todos os motivos para
odiar Davi e querer seu mal: o surgimento daquele jovem, que se tornara o
“campeão” da segunda guerra entre filisteus e israelitas, que seria
extremamente popular não só entre os soldados, mas também entre as mulheres,
que viria a se tornar o genro do rei, punha na corte um concorrente direto para
o trono de Israel. Se tinha alguém que deveria se levantar contra Davi na corte
seria Jônatas, diretamente ameaçado de se tornar, como tudo indicava, de ser o
segundo rei de Israel.
- No entanto, ao longo da história,
veremos em Jônatas alguém que sempre esteve disposto a defender Davi, inclusive
sabendo que Deus o havia escolhido para suceder seu pai no trono. Por incrível
que possa parecer, será Saul quem perseguirá Davi e não, Jônatas, que,
inclusive, se voltará contra Saul na sua defesa de Davi, algo que o rei jamais
compreenderá (cf. 1º Sm 20.30,31).
- Jônatas tinha um amor completamente
desinteressado com Davi, e foi correspondido neste sentimento, pois Davi, já no
trono, beneficiará Mefibosete, precisamente por ser este filho de Jônatas (1º
Sm 9.1). É este um verdadeiro tipo do amor de Deus que todos os filhos de Deus
devem ter visto que foi ele derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
(Rm.5:5), o amor que levou Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo até a cruz do
Calvário, para morrer em nosso lugar, quando nós ainda éramos pecadores (Rm 5.8),
o amor que é tão esplendidamente descrito por Paulo em 1ª Co 13.
- O texto sagrado é bem claro ao mostrar
que o amor existente entre Davi e Jônatas era de ordem espiritual, pois Jônatas
ama a Davi como a sua própria alma (1º Sm 18.1,3), ou seja, não se trata de
qualquer atração física ou de qualquer inclinação carnal, mas de um amor
surgido da sua visão espiritual, que viu em Davi um homem segundo o coração de
Deus, um escolhido de Deus.
- Jônatas, diante desta visão espiritual
que teve, fez uma aliança com Davi, o que será explicitado mais à frente na
narrativa, como também se despojou de sua capa que trazia sobre si e a deu a
Davi, como também seus vestidos, sua espada, seu arco e seu cinto (1º Sm 18.3).
- Neste gesto, Jônatas demonstrou,
claramente, que viu em Davi o ungido de Deus Como era o herdeiro do trono, ao
perceber que Deus era com Davi, de imediato, discerniu que Davi havia sido
escolhido pelo Senhor para suceder Saul. Como Jônatas poderia perceber isto?
Por dois motivos: por primeiro, porque, como herdeiro do trono, certamente
tinha conhecimento daquilo que Samuel havia dito a Saul, ou seja, que o rei havia
sido rejeitado e que o Senhor já havia escolhido alguém para sucedê-lo (1º Sm
13.14; 15.28); por segundo, por ser um homem temente a Deus, certamente sentiu
da parte do Senhor que ali estava quem havia sido “o escolhido” de Deus
mencionado por Samuel.
6. Davi
um homem de caráter.
Embora tivesse Davi tido uma grande vitória que trouxera o reconhecimento
pessoal tanto do rei Saul quanto do príncipe herdeiro Jônatas, em nada o jovem
pastor modificou seu comportamento. Diz-nos o texto sagrado que, incorporado ao
exército do rei em caráter permanente, Davi saía aonde quer que Saul o enviava e
se conduzia com prudência, tendo o rei posto o ex-pastor de ovelhas sobre a
gente de guerra, sendo Davi aceito por todo o povo e até aos olhos dos servos
de Saul (1º Sm 18.5).
- Que grande exemplo nos dá Davi, que,
neste ponto, uma vez mais, tipifica o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o
Servo do Senhor por excelência (Is 42.1). Apesar de todas as honrarias e do
prestígio recebidos, Davi, em momento algum, deixou de ser submisso ao rei
Saul. “Saía aonde quer que Saul o enviava”. O ungido de Deus deve ser um
exemplo de obediência a todos quantos estão à sua volta. Afinal de contas, como
podemos obedecer a Deus, a quem não vemos, se não obedecemos aos homens a quem
vemos?
- Dirá alguém, repetindo os ensinos do
“anarquismo cristão”, notadamente o do escritor russo Leo Tolstói (1828-1910),
que o salvo não pode servir aos homens, com base em 1ª Co 7.23. Todavia, este
ensino não é correto, porquanto desconsidera o contexto em que o apóstolo Paulo
disse esta palavra. O ensino bíblico é que devemos, sim, reconhecer as relações
sociais existentes, servindo àqueles que estão em eminência, as autoridades
constituídas, visto que toda autoridade é constituída por Deus (Rm 13.1,2).
- Pouco importa se aqueles a quem devemos
obediência (governantes, pais, patrões, agentes públicos, chefes e encarregados
nos locais de trabalho ou repartições, professores, diretores de
estabelecimentos etc.) são, ou não, servos do Senhor. Como pessoas que buscam
assemelhar-se a Cristo Jesus, que estão no caminho de chegar à Sua estatura (Ef
4.13), temos o dever de imitar Jesus (1ª Co 11.1), que, durante Seu ministério terreno,
sempre foi sujeito a quem devia obediência (Lc 2.51; Mt 17.24-27; 22.21; Jo 19.11).
O limite da obediência é a Palavra de Deus (At 5.29; Ef 6.1), sendo, pois, este
o sentido de 1ª Co 7.23.
- Davi sempre foi obediente a Saul, jamais
desconsiderando a condição de ungido que o rei ostentava, ainda que, mais do
que nenhuma outra pessoa, tivesse a ciência de que era o sucessor de Saul, que
havia sido ungido em lugar de Saul, diante da rejeição divina ao primeiro rei
israelita. No entanto, como dava valor à própria unção, também levava em conta
a unção de Saul, jamais deixando a sua condição de servo de Saul, condição,
aliás, em que Deus o havia posto.
- Como é belo vermos servos de Deus que
têm o mesmo comportamento, obedecendo àqueles que foram postos à frente do
rebanho. A Bíblia manda-nos obedecer aos pastores (Hb 13.17). Logicamente que
esta obediência é condicionada à obediência a Deus, mas jamais uma rebelião,
que é pecado de feitiçaria (1º Sm 15.23), será uma forma de obedecer ao Senhor.
Nossa obediência aos pastores é indispensável para que tenhamos um bom
testemunho da parte de Deus. Davi dá-nos o exemplo. Embora Saul tivesse sido
rejeitado por Deus, ainda era o rei e, como tal, Davi devia obedecer-lhe.
7.
Mas, além de obedecer a Saul, Davi, também, conduzia-se com prudência. Como já tivemos
ocasião de observar na lição anterior, Davi, como uma pessoa cheia do Espírito
Santo, era prudente, tinha a sabedoria divina, algo que nos vem do alto (Tg 3.17),
algo que é resultado de um pedido que fazemos a Deus (Tg 1.5), qualidade que advém
ao homem como consequência de seu temor ao Senhor (Sl 111.10a; Pv 9.10a).
- Davi era prudente quando cuidava das
ovelhas de seu pai, como também quando passou a cuidar das armas de Saul. Ao
enfrentar o gigante, como vimos, também demonstrou prudência. Agora que se
encontrava “por cima”, gozando da estima do rei e do príncipe herdeiro, também
se conduzia com prudência. A prudência é uma qualidade que advém do nosso
conhecimento de Deus (Pv 9.10b), independe das circunstâncias em que nos
encontramos: se na tempestade ou na bonança. Davi não se deixou empolgar,
embora fosse jovem e estivesse desfrutando de um período de fama e de sucesso.
Que bom seria que os crentes, notadamente os mais jovens, que são mais afoitos
e empolgados por natureza, também corressem aos pés de Jesus, nestes instantes
de suas vidas, para que se mantenham prudentes e sábios, a fim de não serem
enganados pelo inimigo de nossas almas.
- Saul, percebendo o valor de Davi, apesar
de sua pouca idade (cf. 1º Sm 17.33), ao ver que o jovem tinha habilidade e a
bênção de Deus, não teve qualquer dúvida em pô-lo diante da gente de guerra (1º
Sm 18.5). Como seria bom que muitos dirigentes, nos dias de hoje, tivessem esta
mesma atitude, pondo jovens talentosos e que já revelaram ser chamados por Deus
à frente de departamentos e atividades na igreja, trazendo o necessário
dinamismo e vigor de que a igreja deste tempo do fim tanto carece.
- A prudência de Davi, por ser vinda do
alto, fez com que aquele jovem, comandando a gente de guerra, tivesse um
comportamento exemplar. A sabedoria que do alto vem, diz-nos Tiago, é,
primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia
e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia (Tg 3.17). Por se conduzir
desta maneira, Davi foi aceito aos olhos de todos, inclusive dos servos de
Saul, ou seja, dos demais líderes militares e pessoas de responsabilidade na
corte real.
- O verdadeiro salvo na pessoa de Jesus
Cristo tem uma conduta como a de Davi. Impelido pela sabedoria que vem do alto,
é pessoa que produz o fruto do Espírito, praticando boas obras, contra as quais
não há lei (Gl 5.23). Será sempre uma pessoa que, com a pureza, é pacífica,
moderada, tratável, cheia de misericórdia. Uma pessoa assim faz bem a todos
quantos o cercam, põe no ar o “bom cheiro de Cristo” (2ª Co 2.14,15).
- Mas, se o crente produz estes frutos,
por que, então, somos hostilizados pelo mundo? Precisamente porque o bom cheiro
de Cristo produz, para os que se salvam, cheiro de vida, mas, para os que se
perdem, cheiro de morte. Apesar de serem pessoas boas, cujo caráter é
reconhecido por todos, não serão todos que irão se regozijar com tal conduta, o
que levará o homem ou mulher de Deus a ser hostilizado por aqueles que rejeitam
a Cristo. Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro diz que devemos ser
criticados e perseguidos pelo que fazemos de bom (1ª Pe 2.12).
8. Saul
passou invejar Davi.
Apesar de aceito aos olhos de todo o povo, inclusive dos servos de Saul, o
jovem comandante acabaria por despertar inveja e hostilidade por parte do
próprio rei Saul.
- Davi chefiava um grupo de assalto, ou
seja, uma tropa que efetuava ataques repentinos aos inimigos e que trouxe a
Davi uma grande popularidade entre o povo. Mulheres de todas as cidades de
Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando, e em danças, com adufes, com
alegria, com instrumentos de música (1º Sm 18.5,6). Tais mulheres, em canto
responsivo, passaram a dizer que Saul feriu os seus milhares, mas Davi, dez
milhares (1º Sm 18.7,8). Isto despertou a inveja do rei Saul, que se desgostou
ao ouvir as mulheres dizerem que Saul matava milhares, mas Davi, dezenas de
milhares (1º Sm 18.7,8). Tendo enfrentado, de início, a inveja de seu irmão
primogênito, do qual facilmente pôde se desviar, Davi, agora, passava a enfrentar
a inveja daquele a quem servindo estava, o próprio rei Saul.
- Interessante observarmos que Davi não
tinha culpa alguma do que ocorrera. Conduzia-se com prudência e era obediente a
Saul, mas o povo, numa ocasião festiva, acabou por colocá-lo em má situação
diante do rei. Esta será a primeira de algumas vezes em que folguedos levados a
efeito pelos israelitas e dos quais Davi participou lhe traria problemas em sua
vida.
As mulheres saíram ao encontro do rei Saul
para celebrar as vitórias, mas, em vez de agradecerem a Deus por elas,
aproveitarem a ocasião para renovarem um pacto com o Senhor, como se fez na
vitória sobre os filisteus nos dias de Samuel (1º Sm 7.12), quiseram fazer
festanças, com danças e instrumentos de música.
- Dirão alguns que as mulheres não tinham
culpa desta reação de Saul, que não podiam ser censuradas por isto. Estavam
apenas dizendo o que sentiam. Dizem e tem razão em dizê-lo. A indignação e
inveja de Saul eram resultado de uma vida espiritual fracassada, de uma
rebeldia contra o Senhor, que faziam de Saul um homem voltado para as coisas
materiais e, pior do que isto, obcecado com a ideia de que perderia o reino a alguém
que seria levantado por Deus, como havia dito o profeta Samuel. No entanto, é
inegável que as atitudes das mulheres eram inconvenientes e completamente
dispensáveis. Criou-se um clima de irreverência em que se começou a dizer o que
não se tinha coragem, em que se começou a desconsiderar o monarca, um tipo de
celebração que não correspondia à santidade que o povo de Deus deveria ter. As mulheres
deram ocasião a que surgissem maus intentos e é neste ponto que reside o mal
que causaram.
II.
DAVI SOB PERSEGUIÇÃO NA CORTE DE SAUL
1.
Saul passou a perseguir a Davi. Davi passou, então, a ser duramente
perseguido pelo rei Saul, que buscou, mais de uma vez, tirar-lhe a vida. A
perseguição implacável fez com que Davi tivesse de fugir e, assim, perder a sua
função no reino, num instante em que, inclusive, já era genro do rei Saul, pois
havia sido casado com Mical (1º Sm l8.27). Saul passou a temer a Davi e a
perceber que a unção de Deus estava sobre ele, constituindo-se, portanto, em nítida
ameaça a seu reinado.
- Saul começou a desconfiar que Davi era o
homem que Deus havia escolhido para sucedê-lo, conforme a palavra que lhe fora
pronunciada pelo profeta Samuel (1º Sm 13.14; 15.28).
- Esta suspeita, que nada mais era que
inveja (tanto que a NVI traduz a palavra hebraica por “inveja”), era resultado
do caráter maligno de Saul. A inveja é propriedade dos maus (1ª Jo 3.12),
daqueles que se recusam a servir a Deus, a começar de Caim. Por isso, Asafe
disse que, quando começou a sentir inveja dos homens ímpios, estava a ponto de
se desviar dos caminhos do Senhor (Sl 73.2,3). Ter inveja é se pôr nas mãos do inimigo,
é começar a andar no caminho de Caim (Jd 11). Que Deus nos guarde da inveja!
- Não demorou muito para que Saul, assim
como Caim, tentasse, pela inveja, matar Davi. Num dia em que se encontrava
atormentado pelo espírito maligno que o afligia, no mesmo instante em que Davi,
como sempre, tangia sua harpa, a fim de afugentar o demônio, tendo Saul uma
lança na sua mão, Saul atirou a lança que tinha em sua mão contra Davi,
tentando-o encravar na parede por duas vezes, não tendo sido exitoso, porque
Davi dele se desviou (1º Sm 18.10,11).
- A presença do espírito maligno deu ao
rei a “coragem” para que matasse Davi. Aquilo que era acalentado há dias, quiçá
meses, em seu coração, por causa da inveja, foi estimulado, incentivado pelo
espírito maligno. A possessão demoníaca, muitas vezes, tão somente intensifica
algo que já está no coração do homem. A situação espiritual de Saul era
lamentável, pois ele havia sido rejeitado por Deus, havia perdido o Espírito Santo,
mas não foi o demônio que instalou no coração de Saul o desejo de matar Davi. O
espírito maligno apenas o estimulou, apenas o aguçou.
2.
As duas ferramentas.
Saul tinha uma lança na mão, enquanto Davi tangia sua harpa. Que diferença de
ferramentas! Enquanto Saul, em sua casa, sem qualquer necessidade de estar
armado, mantinha uma lança na mão, Davi, chamado que fora pelo fato de Saul
estar perturbado, trazia sua harpa, que tangia, a fim de que o espírito maligno
fosse afugentado. Saul tinha, em sua mão, um instrumento de morte; Davi, um
instrumento de música, de louvor. As ações de Saul eram voltadas para a morte;
as de Davi, para glorificar a Deus.
- As mãos simbolizam as obras nas
Escrituras. Como têm sido as nossas obras? Temos produzido a morte, praticando
as obras da carne, ou seja, tendo lanças em nossas mãos, ou, ao contrário,
temos produzido boas obras, o fruto do Espírito, de modo a que não só
glorifiquemos como levemos todos a glorificar ao Senhor (Mt 5.16).
- Saul conseguiu atirar a lança contra
Davi, enquanto Davi continuava a tocar para que o espírito maligno se afugentasse.
Esta experiência para Davi deve ter sido extremamente traumática. Certamente, o
jovem deve ter perguntado porque, ao tocar a harpa, o espírito não se afugentou
de Saul e, mais do que isto, ainda Saul pôde, por duas vezes, tentar matá-lo. Teria
Deus o abandonado?
- Quantas vezes, o Senhor também permite
que, nos embates com o maligno, o inimigo pareça ter alguma vantagem, enquanto
nós, cheios do Espírito Santo, sem ter feito qualquer coisa que desagrade a
Deus, pareça que estejamos derrotados. O propósito de Deus é sempre para o
nosso bem (Jr 29.11; Rm 8.28). Portanto, mesmo quando parece que o mal está a
vencer, não creiamos nesta possibilidade, mas, sim, que tudo ocorre para nosso
fortalecimento diante do Senhor.
- Davi quase foi encravado na parede por
duas oportunidades, mas Deus permitiu que Saul intentasse duas vezes contra a
vida de Saul para que ocorressem algumas coisas importantes, a saber:
a) Davi precisava saber o que se passava
no coração de Saul – até então Saul não havia revelado sua indignação nem sua
inveja. Sendo homem que se conduzia prudentemente, Davi precisava deste conhecimento
e ninguém conhece o coração do homem senão Deus.
b) Davi precisava ser retirado, para sua
proteção, da presença constante diante de Saul, a fim de que pudesse continuar
suas atividades sem correr o risco de uma desconfiança insana, pois teria de
vigiar durante todo o tempo, se continuasse a servir a Saul e, como era
obediente, não poderia simplesmente sair da corte sem que o rei o mandasse. O
episódio fez com que o próprio Saul o mandasse para fora de seu convívio.
c) Davi deveria aprender a lição de que
sua vida estava nas mãos do Senhor e que ninguém poderia atentar, com êxito,
contra sua vida. Esta experiência era necessária para que a fé e esperança de
Davi não desfalecessem no futuro.
3. A
mudança traz crescimento. Vendo Saul que não conseguira matar Davi, apesar de
ser grande guerreiro e de estar à sua mercê, compreendeu que Deus era com Davi
e que não haveria como ele, um rejeitado do Senhor, lutar contra Davi. Assim,
“transferiu” Davi de posto, colocando-o como “chefe de mil”, função que o fez
ficar fora do convívio de Saul em sua casa (1º Sm 18.13).
- Mais uma vez vemos como Davi tinha o
Espírito Santo. Com sua popularidade e tendo sido alvo de uma tentativa de
homicídio, poderia ter intentado uma rebelião contra Saul. Entretanto, como era
um homem de Deus, desconsiderou por completo o ato criminoso do rei e,
obedientemente, aceitou assumir a “chefia de mil” como lhe foi determinado.
Temos agido desta maneira, em particular, aqueles que, na obra do Senhor, são
“transferidos”, inclusive por quem, em vão, tentou matá-los? A obediência de
Davi à ordem de Saul é mostrada no texto bíblico como mais uma demonstração de
prudência de Davi e o fator que levou o Senhor a ser com ele em todos os seus
caminhos (1º Sm 18.14). Quantos servos do Senhor têm perdido as bênçãos porque
“não conseguem engolir os sapos” na obra de Deus. Sejamos prudentes como Davi
e, certamente, o Senhor será conosco.
- O resultado de Davi ter se conduzido
prudentemente, obedecendo a Saul e deixando tudo nas mãos do Senhor foi o
fortalecimento de sua posição diante de Israel. Ao obedecer a Saul, sendo chefe
de mil, sem qualquer atitude de insubordinação, Davi fez com que o rei tivesse
receio dele (1º Sm 18.15). Ao sair do convívio da casa do rei e passar a sair e
entrar diante do povo, manteve e aumentou a estima do povo com relação a ele (I
Sm.18:16).
4. A
estratagema de Saul.
Vendo Saul que não podia vencer Davi, tentou fazê-lo por meio dos inimigos do
povo de Deus. Assim, em vez de matar Davi, quis criar circunstâncias pelas
quais os filisteus pudessem matar Davi (1º Sm 18.17). Assim ainda opera o nosso
adversário: não contente com um livramento advindo da parte de Deus, trata, incansavelmente,
de armar outros estratagemas para tentar vencer os servos do Senhor. Como,
então, ainda haja crentes que querem ter uma vida espiritual desatenta, achando
que o diabo não quer mais mexer com ele?
- Assim, para aguçar a ganância de Davi,
Saul rememorou-lhe a promessa que havia feito de fazê-lo casar com uma filha se
caso vencesse o gigante. Tornou, pois, a dizer que daria sua filha Merabe em
casamento, se Davi lhe fosse filho valoroso e guerreasse as guerras do Senhor.
Com esta promessa, sabendo que Davi tinha interesse em casar-se (mais uma prova
de que não era, em absoluto, homossexual masculino), criou uma situação para
que Davi se mostrasse mais ousado na batalha, atrevido mesmo, a fim de que, com
suas peripécias, pudesse se tornar genro do rei.
- Devemos ter muito cuidado com os
“estímulos” trazidos pelo inimigo quando bem nos conduzimos na presença do
Senhor. Hoje são muitos os que, vendo o nosso sucesso no “bom combate”, na luta
contra o mal, querem nos incentivar a sermos “ousados”, “atrevidos”, em troca
de vantagens na obra do Senhor, de projeção na igreja, no ministério e na
mídia. Saul tentou levar Davi à imprudência mediante o uso de legítimos desejos
do jovem chefe de mil, ou seja, de sua coragem, de seu desejo de constituir
família, de seu desejo de defender Israel dos inimigos para a glorificação do
nome do Senhor.
5.
No entanto, Davi não se deixou levar pelos estímulos e incentivos de Saul. Continuou a se
conduzir prudentemente, não pondo em seu coração o desejo de se tornar genro do
rei, ou seja, o desejo de poder, de posição, de riqueza, nem tampouco o desejo
de satisfação dos instintos sexuais. Como é belo quando o crente deixa de lado
todas estas ofertas e continua a ter como objetivo servir e agradar a Deus!
- Muitos têm começado bem a jornada rumo
ao céu, mas, no meio do caminho, sucumbem diante destas ofertas do adversário.
Quanto não é o amor do dinheiro (1ª Tm 6.10), é a imoralidade sexual (1ª Ts 4.2-5);
quando não é nem um nem outra, é o desejo de fama e de projeção, a vaidade (Rm 11.20,21).
Não podemos nos prender por estas coisas, que podem sufocar a nossa fé (13.22),
para que não venhamos a ser derrotados. O inimigo tem seus ardis e não podemos
ignorá-los (2º Co 2.11).
- Davi continuou a se conduzir como antes
nas suas guerras, nas suas operações militares. Não se achou com “direito” de
ser “genro do rei”. Manteve a sua posição de modéstia, reconhecendo suas
origens, lembrando que, por sua vida e pela sua família, não tinha como se
tornar genro do rei (1º Sm 18.18). Davi sabia que estava a vencer as guerras do
Senhor pela companhia do Senhor, não por seus méritos. Sabia que tudo devia ao
Senhor e que a Ele se deveria dar toda a glória. Como é bom quando o crente
reconhece que sem Jesus nada pode fazer (Jo 15.5).
- Saul, verificando que Davi não lhe dera
ouvidos, ou seja, não deixara de agir prudentemente, como mais um estímulo a
que abandonasse sua conduta agradável a Deus, ao tempo determinado para que
desse Merabe a Davi, deu-a a outrem, a Adriel, meolatita (1º Sm 18.19).
6.
Davi tinha mais um motivo para deixar de servir a Saul. Havia sido
obediente ao rei quando este o mandou para a chefia de mil, mesmo depois de ter
sido vítima de uma tentativa de homicídio. Sem que pedisse coisa alguma, Saul
lhe prometera sua filha Merabe em casamento, renovando, aliás, a promessa já
não cumprida de antes da vitória sobre Golias e, agora, o rei quebrava a sua
palavra, dando Merabe a Adriel. Não era hora de se rebelar contra o rei? Não
era hora de enfrentá-lo, já que era o ungido de Deus e o povo estava ao seu lado?
Não, não era! Davi não se abalou e se manteve tanto quanto antes. Será que
faríamos o que Davi fez? Será que nos manteríamos em nossa posição apesar da
quebra de promessa, da falta de hombridade de quem está a nos dirigir?
7.
Davi casa-se com a filha de Saul. Mical, outra filha de Saul, estava
afeiçoada a Davi, amava-o e o rei Saul percebeu esta circunstância. Mas Davi,
sabedor de sua condição, não ousava pedir-lhe em casamento. O rei, sabendo que
a afeição era mútua, mais uma vez mal-intencionado, mandou que chegasse aos
ouvidos de Davi que via com bons olhos seu casamento com Mical e que, como
dote, aceitaria que lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus, como demonstração
de vingança junto aos inimigos do rei. Com esta astúcia, Saul queria criar uma
ocasião para que Davi iniciasse uma peleja contra os filisteus, por um motivo
particular (e, portanto, sem condições de arregimentar todo o exército
israelita) e fosse morto pelos filisteus em batalha. Animado pela oferta real, pela
possibilidade de se tornar genro do rei e casar-se com a mulher de quem estava
afeiçoado, Davi estaria muito mais vulnerável e poderia ser morto (1º Sm 18.21-26).
- Davi, como já vimos, não tinha nenhuma
ganância, não estava obcecado pela ideia de se tornar genro do rei. No entanto,
após muita insistência pelas “fofocas da corte”, e como estava gostando de
Mical, diante da possibilidade de ser genro do rei sem que tivesse de dar um
dote patrimonial, visto que era pessoa pobre e que não vinha de família nobre,
o jovem não resistiu e resolveu correr o risco a fim de se tornar genro do rei.
- Embora Davi estivesse gostando de Mical
e isto lhe fosse correspondido, sabia muito bem que não era da mesma classe
social da princesa, bem como que não tinha condições de com ela se casar pela
diferença existente entre ambos. Davi não era um “apaixonado”, nem punha sua
necessidade e vontade de casar acima da racionalidade e da vontade do Senhor.
- Somente depois que pôde perceber, pela
proposta de Saul, que teria condições de desposar Mical, é que Davi decidiu ir
à luta para obter os prepúcios de filisteus necessários para o pedido em
casamento. Porém, não podemos esquecer que a aceitação da oferta de Saul não
deixou de representar um problema para Davi, não como Saul intentava, de risco
de morte para o jovem, mas, sim, para a própria vida privada do futuro rei. A
vida familiar de Davi foi um desastre, é um mau exemplo para os leitores das
Escrituras. Aqui, em que pese o cuidado de Davi para com a diferença de classe
social e de condição financeira, não atentou ele para dois outros fatores
importantíssimos: o interesse de se tornar genro do rei como principal estímulo
para a união e a desconsideração da proibição divina para casamento entre
pessoas de tribos diferentes (Nm 36.6). Estes dois fatores foram fundamentais
no fracasso que foi a vida conjugal entre Davi e Mical.
- Davi não feriu cem filisteus, para lhes
arrancar os prepúcios, mas, sim, duzentos, ou seja, trouxe a Saul o dobro de
prepúcios exigidos como dote. Esta circunstância deixou Saul sem ação, tendo
ele de dar Mical a Davi, tornando-o genro do rei. Saul, então, temeu muito mais
a Davi, tendo mais uma demonstração de que Deus era com ele, tornando-se,
assim, inimigo de Davi, pois teve certeza de que Davi era o homem que Deus
havia escolhido para sucedê-lo no trono (1º Sm 18.28-30).
- Apesar deste gesto atrevido, movido pelo
estímulo de Saul, Davi permaneceu se conduzindo prudentemente diante de Saul,
não modificando a sua conduta, mesmo sendo agora genro do rei (1º Sm 18.30). A
perseverança e constância de Davi, apesar das mudanças em sua vida, são um
exemplo a ser seguido. Temos, a exemplo de nosso Senhor, ser os mesmos ao longo
de nossa jornada.
- Não bastasse o fracasso do intento de os
filisteus serem o instrumento para a morte de Davi, em nova guerra contra os
filisteus, Davi novamente se destacou, fazendo com que os príncipes dos
filisteus não conseguissem adentrar nos termos de Israel, tendo Davi se
sobressaído entre os comandantes israelitas, o que fez aumentar ainda mais sua
popularidade (1º Sm 18.30). Isto foi demais para Saul, que se viu forçado, na sua
mente maligna dominada pela inveja, a elaborar novo plano para dar cabo da vida
de Davi. Buscou, então, trazer para o seu intento aqueles que seriam,
teoricamente, os maiores prejudicados por este sucesso de Davi, ou seja, os
comandantes militares, em especial o príncipe herdeiro, Jônatas.
-
Percebemos, pois, como Deus é maravilhoso. Muito tempo antes de Saul tentar
trazer Jônatas como seu comparsa na tentativa de matar Davi, Deus já havia
criado entre Davi e Jônatas um amor divino, desinteressado e firmado no temor
ao Senhor e no desejo de glorificá-l’O. Quando Saul manda que Jônatas e seus
servos mais próximos matassem Davi, em vez de encontrar em Jônatas o mais forte
aliado, como pensava, viu em seu primogênito o principal obstáculo para a
realização do seu desejo (1º Sm 19.1).
- Dada a ordem por Saul, certamente em
segredo, para os seus principais assessores, para que matassem Davi, Jônatas
não teve como deixar de contá-lo a Davi. Dirá alguém que Jônatas estava a trair
o seu próprio pai, que este não seria um comportamento de um servo de Deus, mas
é aqui que vemos os limites da obediência a Deus e da obediência aos homens. O
servo de Deus jamais poderia cumprir uma ordem para matar alguém, pois isto
contrariava a lei (Êx 20.13; Dt.5.17). Além do mais, Jônatas já tinha
compreendido que Deus era com Davi e, portanto, a unção estava tanto sobre Saul
quanto sobre Davi, sendo certo que o servo do Senhor recusa afronta ao seu
próximo, bem como despreza aquele que o Senhor reprova e honra aqueles que
temem ao Senhor (Sl 15.3,4). Aqui não se tinha traição a Saul, mas, pelo
contrário, obediência a Deus.
- Jônatas anunciou a Davi a ordem de Saul
para matá-lo e sugeriu a ele que se escondesse, enquanto ele, Jônatas,
intercederia a seu favor diante do rei. Assim foi feito, tendo Jônatas
defendido Davi diante de Saul, argumentando com o rei que Davi só lhe havia
feito benefícios até então, não só ao rei, mas a todo o povo, não havendo causa
alguma para que fosse morto. Saul, compreendendo que Jônatas não se
sensibilizara com a “ameaça do trono”, voltou atrás e jurou que Davi não mais
seria morto. Davi, então, retornou, “tudo ficando como dantes no quartel de
Abrantes” (1º Sm 19.4-7).
8.
Houve nova guerra contra os filisteus e Davi, uma vez mais, se destacou na
peleja.
Uma nova vitória retumbante de Davi fez com que a inveja de Saul novamente
voltasse à tona, como havia ocorrido antes da ordem que o rei dera para que
matassem Davi (1º Sm 19.8).
- Uma vez mais, Saul, possuído pelo
espírito maligno, com uma lança na mão, tentou encravar Davi contra a parede,
Davi que, como da outra vez, estava com a harpa na mão a fim de afugentar o
espírito maligno de seu sogro. Saul, desta feita, tentou encravar Davi apenas
uma vez contra a parede e Davi, de imediato, após desviar-se de Saul, fugiu e
escapou (1º Sm 19.9,10).
9. Mical
salva Davi.
Saul, porém, não se deixou abater. Mandou mensageiros para a casa de Davi a fim
de que fosse ele guardado e morto pela manhã. Mical, porém, avisou Davi, pois o
amava, tendo, então Davi descido pela janela de sua casa e fugido com a roupa
do corpo, enquanto que a princesa tomou uma estátua e a deitou na sua cama,
cobrindo-a com uma coberta e pondo peles de cabra à cabeceira. Quando os
mensageiros de Saul chegaram, Mical mentiu, dizendo que Davi estava doente (1º
Sm 19.12-14).
- Ao saber da notícia, Saul, demonstrando
toda a sua malignidade, mandou que trouxessem Davi na cama mesmo, para que ele
o matasse, quando, então, foi descoberto que Davi já havia fugido e que apenas
uma estátua estava em sua cama. Saul demonstrou toda sua contrariedade com
Mical que, uma vez mais, mentiu, dizendo ter sido ameaçada de morte por Davi.
10.
Terminava o “estágio” de Davi na corte de Saul. Nos planos de
Deus, não poderia Davi reinar apenas conhecendo o modo de governar de Saul. Na
corte, Davi havia se tornado um habilidoso guerreiro e conhecido o “ambiente
palaciano”, o que era importante para que reinasse sobre Israel. Mas para ser
um rei aprovado por Deus, ao contrário de Saul, tinha de passar por outras
escolas. Deus, assim, retira-lhe tudo que havia conquistado até então. Este
despojar de tudo quanto Davi possuía não deixa de ser uma figura do despojar de
Cristo da glória de Deus para que pudesse ser o Salvador do mundo (Fp 2.5-7).
Estamos, também, dispostos a tudo perder para ganhar (cf. Mt 10.39; 16.25; Mc
8.35; Lc 9.24; 17.33; Jo 12.25)?
- Davi, assim, fugia da presença de Saul,
tendo, então terminado mais esta fase de sua vida. Após estar tão perto do
trono, na corte do Rei, já na condição de genro do rei e com o reconhecimento
de sua chamada pelo herdeiro Jônatas, de uma hora para outra, depois de só ter
feito o bem, via-se sem família, sem casa, sem armas, sem soldados, só com a
roupa do corpo. Era o início da “espera do tempo de Deus”.
III.
DAVI FOGE DE CASA E VÊ FRUSTRAREM-SE SUAS ESPERANÇAS DE TORNAR À CORTE DE SAUL
1. A
preparação de Davi para ser Rei. É interessante notar que, embora a
narrativa nos mostre um Davi que sai apressadamente da janela da sua casa, o
contexto não é de um homem desesperado e que não sabe o que fazer. Davi tinha o
Espírito Santo e as Escrituras nos revelam que, em sendo informado por Mical da
trama de Saul, Davi não “perdeu a cabeça”, mas, sim, foi buscar a Deus e neste
instante de adoração, foi elaborado o Salmo 59, quando clamou a proteção divina
e pede que o Senhor lhe faça justiça. Davi pede a Deus misericórdia e manifesta
sua confiança em que, pela manhã, ainda louvaria ao Senhor. Não temos, pois,
como deixar de crer que a ideia de Mical para ludibriar os soldados e propiciar
a fuga de Davi foi uma estratégia que representou a resposta de Deus ao clamor
do salmista, que surgia ali, na hora da dificuldade.
- Desde o início desta terrível fase da
vida de Davi, pois, vemos o propósito divino de não apenas preparar um líder
que tivesse condições de reinar sobre Israel segundo a vontade de Deus (algo
que jamais Davi aprenderia com o dia-a-dia na corte de Saul), como também
começar a usar Davi como salmista e profeta, como um homem a ser usado pelo
Espírito Santo para a continuidade da revelação da vontade divina à humanidade.
- A provação divina, inexplicável aos
nossos olhos, tem sublimes propósitos para o homem que serve a Deus. Jó, mesmo,
antes de ter virado o seu cativeiro, compreendeu que todo seu sofrimento o
havia aproximado de Deus de modo singular (Jó 42.1-6) e, como o nosso Deus não
muda, é este o Seu trabalhar na vida de cada um de nós (Jr 29.11; Rm 8.28,29).
O objetivo divino é nos preparar para a vida eterna, para o convívio sempiterno
com o Senhor na cidade santa (Ap 21.3) e, para tanto, são necessárias as
aflições para o nosso aprimoramento espiritual.
- Por isso, profundamente maligna e
satânica a pregação da teologia da prosperidade e da sua irmã, a confissão
positiva, que tem invadido os nossos púlpitos nestes dias trabalhosos, porque
induzem o povo de Deus a rejeitar toda tribulação e aflição nesta vida,
cuidando que isto seja falta de fé e de comunhão com Deus, quando, na verdade,
é um meio indispensável para o nosso amadurecimento e crescimento espirituais, através
dos quais poderemos chegar aos céus. Fujamos destes paroleiros enganadores!
2.
Davi busca orientação com o profeta Samuel. Saindo da sua casa pela janela, só
com a roupa do corpo, casa que se situava em Gibeá de Saul, onde ficava a corte
real (1º Sm 15.34), Davi não teve outro lugar para ir senão para Ramá, onde
ficava Samuel, que ainda vivia (1º Sm 19.18). Gibeá e Ramá não eram distantes.
Ramá ficava cerca de 9 km ao sul de Jerusalém e Gibeá, 5 km ao norte de
Jerusalém. Ao buscar a ajuda e orientação de Samuel, Davi mostra, uma vez mais,
a sua qualidade de servo de Deus. Davi não ousou se desesperar nem fazer coisa
alguma antes de consultar o profeta, o homem de Deus. Este gesto de Davi
ensina-nos que, no meio das dificuldades, devemos correr aos pés de Jesus, o
autor e consumador da nossa fé, que nos orientará como devemos agir.
- A ida de Davi a Ramá e seu encontro com
Samuel tem um grande significado espiritual. Samuel, o homem de Deus, o profeta
e juiz que havia dado a Israel a noção de consciência nacional, nunca mais
seria visto por Saul (1º Sm 15.35). O fato de Davi poder ter ido ao seu encontro
e de Saul nunca mais ter tido esta oportunidade é uma figura do acesso que o
filho de Deus tem ao Senhor, acesso este proporcionado pelo sacrifício de
Cristo no Calvário (Hb 10.19-22), enquanto que é uma demonstração de que os
pecadores não podem se aproximar do Senhor (Is 59.1,2). Qual é o nosso estado:
o de Davi, com pleno acesso ao Senhor, a quem o Senhor revela os Seus segredos
(Am 3.7) ou o de Saul, que não pode sequer ver ao Senhor, porque não anda
segundo a Palavra de Deus (Is 8.20)? Pensemos nisto!
- Davi tudo contou a Samuel e Samuel levou
Davi de Ramá para Naiote, onde ficava a “escola dos filhos dos profetas”, ou
seja, um grupo de jovens que estudava a Palavra de Deus e se dedicava às coisas
do Senhor, surgida nos dias de Samuel, precisamente com o objetivo de impedir
que o povo de Israel ficasse sem conhecer a Deus e retornasse ao período de
instabilidade da época dos juízes (1º Sm 19.20). Naiote, segundo alguns
estudiosos, era apenas um local em Ramá, um ponto da colina onde se localizava Ramá
(o outeiro mencionado em 1º Sm 10.5), onde Samuel exercia as funções de
presidente daquele grupo de estudo da Palavra do Senhor.
- Como não faltavam os aduladores do rei,
logo Saul soube que Davi havia ido até Ramá e se encontrava na companhia de
Samuel. Saul, então, mandou mensageiros para que prendessem Davi e referidos
mensageiros, em vez de prenderem Davi, acabaram profetizando juntamente com os
profetas. Saul, ao saber disto, mandou outros mensageiros, tendo eles, também,
profetizado. Saul, então, decidiu ele mesmo ir até o local, mas, quando estava
em Seco, ao perguntar sobre o paradeiro de Samuel e de Davi, o Espírito do
Senhor também veio sobre ele e Saul começou a profetizar até chegar a Ramá, não
tendo cessado de profetizar, inclusive chegando a despir os seus vestidos,
dando, mais uma vez, também ocasião para que se consolidasse o provérbio
israelita: “Está também Saul entre os profetas?” (1º Sm 19.19-24).
- Muitos ficam surpresos com esta passagem
bíblica, pois veem que mensageiros mandados por Saul e o próprio Saul, já
rejeitado pelo Senhor, são tomados pelo Espírito Santo e profetizam, sem que
tivessem condições espirituais para tanto. Chegam, mesmo, a questionar o texto
bíblico, como se pudéssemos desdizer aquilo que foi mandado escrever pelo
Espírito Santo. As profecias feitas pelos mensageiros e depois pelo rei Saul
não tinham outro propósito senão o de livrar Davi das mãos do rei. Foi uma
intervenção sobrenatural de Deus para salvar e livrar o Seu ungido. Foi uma
demonstração da soberania divina, que não deve ser utilizada para que alguém
defenda que ímpios possam ter o dom espiritual de profecia, por exemplo. Deus
ouviu o clamor de Davi no Salmo 59 e, diante da situação, para livrar tanto
Davi quanto Samuel da fúria de Saul, usou de um estratagema que, aliás, era
muito conhecido do rei, que também havia profetizado, quando retornava para sua
casa, após ter sido ungido por Samuel (1º Sm 10).
- Saul desmoralizou-se diante de todos,
pois, inclusive, chegou a despir os seus vestidos, tendo, ainda, demonstrado
estar completamente inconsciente ao profetizar, visto que, estando Samuel
presente, não notou a sua presença, pois, como havia sido dito, nunca mais
veria o rosto de Samuel. Tanto Samuel quanto Davi saíram de Naiote sem que
fossem sequer percebidos por Saul. Assim, a manifestação sobrenatural do Espírito
Santo não tinha outro propósito senão o de livrar Davi e Samuel, nada mais do
que isto, não podendo, pois, servir de parâmetro para quaisquer ilações com
relação às manifestações sobrenaturais da Igreja.
- A propósito, o que esta passagem nos
ensina em termos de manifestações sobrenaturais na Igreja é que nada que Deus
faça para edificação espiritual dos crentes (e é este o objetivo da
manifestação dos dons espirituais – 1ª Co 14.1-3) é “sem controle”, irracional
ou confuso. Saul profetizou e até chegou a ficar nu porque não havia propósito
divino outro senão o livramento de Davi e Samuel. Todas aquelas profecias e barulhos
não trouxeram qualquer edificação aos seus participantes, porque seus
participantes não eram vasos de Deus, mas, sim, homens despidos de qualquer
compromisso com Deus. Quaisquer manifestações sobrenaturais que carreguem este
mesmo nível de irracionalidade e confusão são, portanto, próprias e adequadas
para os que não têm acesso a Deus, para os “Sauis”, não para os “Davis”, para
aqueles que são chamados por Deus pelo Seu decreto. Saul nunca se confunde com
os verdadeiros e genuínos profetas. Lembremos sempre disto!
3.
Davi vai ao encontro de Jônatas. Davi, então, deixa Naiote e vai ao
encontro de Jônatas, o seu fiel amigo, a fim de tentar uma forma de aplacar a
ira de Saul. Não sabemos o que Samuel disse a Davi, mas, muito provavelmente, o
velho profeta deve ter confirmado a Davi que ele sucederia a Saul no reino e que
deveria perseverar em servir ao Senhor que, a Seu tempo, o poria no trono de
Israel. Davi, então, entra em contato com Jônatas, querendo saber qual era a
sua culpa, visto que nada havia feito para merecer a morte (1º Sm 20.1).
- Jônatas, a princípio, não acreditou que
Saul quisesse matar Davi, mas, ante as evidências apresentadas por este,
aceitou mediar o conflito aberto entre Davi e Saul, inclusive verificando se,
realmente, Saul queria matar Davi. Assim, combinaram que Jônatas sentiria o
coração do rei durante as solenidades da lua nova, ou seja, as cerimônias
estabelecidas pela lei pelo início de cada mês (Nm 28.11-15), o chamado “Rosh Chodesh”.
OBS: “…A tradição emprestava ao Rosh Chodesh, assim como ao Sabath, uma grande dose de santidade. Na
era do Primeiro Templo, ele era celebrado com sacrifícios e orações especiais e
com a interrupção de todo trabalho. Sabemos que esse feriado era observado já
na época do rei Saul, pois que ele é mencionado em 1º Samuel 20.18-24.…”
(AUSUBEL, Nathan. Rosh Chodesh. In: A JUDAICA, v.6, p.731).
- Saul, porém, tinha já arquitetado matar
Davi durante esta solenidade, visto que não cria que fosse faltar a uma
cerimônia religiosa, sabedor que era da fidelidade de Davi à lei. No entanto,
como Davi dissera a Jônatas, este pôde descobrir o que havia no interior do
coração do rei. Após ter ficado calado no primeiro dia, achando que Davi não
estava ritualmente puro, no segundo dia, ao perguntar por Davi e ao receber a resposta
de Jônatas de que o havia deixado ir a Belém para participar de uma cerimônia
familiar (o que era mentira), Saul se enfureceu e exigiu de Jônatas uma posição
a favor da morte de Davi, até para assegurar a sucessão do trono para si. Ao
tentar defender Davi, Jônatas quase foi morto por Saul, que lhe atirou a lança,
tendo, então, Jônatas compreendido que não havia mais qualquer chance de Davi
retornar à corte (1º Sm 20.25-34).
- No dia seguinte, como combinado, Jônatas
encontrou-se com Davi e ambos choraram muitos, pois ali se separaram, embora a
amizade entre ambos tenha perdurado para além da vida de Jônatas. Ambos prometeram
ajudar-se mutuamente e cuidar da descendência de cada qual. Aqui, mais uma vez,
o texto bíblico mostra que o amor entre Jônatas e Davi era um amor sublime, um
amor provindo da parte de Deus, um “amor de alma” (1º Sm 20.17), que nada tem a
ver com a abominável blasfêmia propaladas nestes nossos dias que procura ver
neste episódio um relacionamento homossexual masculino.
4.
Davi chegava à conclusão de que não havia mais lugar para ele na corte do rei
Saul.
Como entender isto, se Deus o havia escolhido para reinar sobre Israel e ele
era genro do rei? Não é na corte de Saul que aprenderemos a servir a Deus. Não
é com o poder deste mundo, com a fama deste mundo, com os recursos deste mundo
que nos adestraremos para viver na Jerusalém celestial. Para o ungido de Deus
não há lugar na corte de Saul. Nunca nos esqueçamos disto!
IV. DAVI
VAI TER COM O SACERDOTE AIMELEQUE, MAS NÃO CONSEGUE
1.
Davi foge para a cidade sacerdotal.
- Samuel e Jônatas não tinham podido
apoiar e ajudar Davi. O jovem fugitivo, então, diante desta situação, resolve
ir para Nobe, cidade sacerdotal da tribo de Benjamim, bem próxima de Jerusalém,
onde se encontrava, na ocasião, parte dos utensílios sagrados do tabernáculo. Ali
buscou ajuda junto a Aimeleque, que, entendem os estudiosos, era o mesmo Aías
de 1º Sm 14.3, ou seja, o sumo sacerdote daqueles dias, bisneto de Eli.
- Bem notamos a inclinação piedosa de
Davi. Após ter ido consultar-se com Samuel e de ter, sem êxito, retornado à
corte real por meio da intervenção de Jônatas, Davi vai ao encontro do sumo
sacerdote. Era um homem disciplinado, que bem conhecia sua posição no meio do
povo de Deus e as autoridades constituídas pelo Senhor sobre o Seu povo. Busca
os ungidos, não os rebeldes nem aqueles que lhe poderiam formar um exército
para assumir o trono. Será que temos nos comportado desta maneira, submissos às
autoridades, mesmo quando sabemos ter sido chamados para, no tempo de Deus,
dirigirmos uma parcela da Igreja do Senhor?
2.
Davi mentiu para o sacerdote Aimeleque. Ao chegar a Nobe, Davi, entretanto, para
conseguir alguma ajuda da parte do sumo sacerdote, mentiu, mentira esta que
ocasionaria grande transtorno. Ao ser indagado por Aimeleque porque estava
sozinho, ele que era chefe de mil, Davi disse que estava num serviço secreto da
parte do rei e que se fazia acompanhar de poucos homens, que estavam, pela
natureza da missão, espalhados. Faminto, desarmado, Davi, então, pediu a
Aimeleque cinco pães ou que se achasse para comer. Que situação a de Davi:
sozinho, fugitivo e faminto! Que situação para alguém a quem tinha sido
prometido o trono de Israel!
- Aimeleque disse que não tinha pão para
Davi, a não ser os pães da proposição, que haveriam de ser trocados naquele dia,
o que nos faz perceber que o dia deste encontro era um sábado, pois no sábado é
que eram trocados os pães da proposição (Lv 24.5-9). Tais pães só podiam ser
consumidos pelos sacerdotes, mas, diante da história contada por Davi, o
sacerdote aceitou fornecer-lhes cinco pães dentre os que seriam substituídos,
desde que eles estivessem ritualmente puros, inclusive não tendo mantido
relações sexuais (1º Sm 21.5,6).
- Após ter se alimentado, Davi pediu ao
sacerdote que lhe desse alguma arma, tendo, então, Aimeleque lhe dado a espada
de Golias, a única arma que ali estava, arma esta que Davi havia dedicado ao
Senhor (1º Sm 21.8,9). Todo este movimento, porém, foi observado por Doegue, um
edomita, o principal pastor de Saul (1º Sm 21.7).
3. A
matança dos sacerdotes.
- Na sua extrema necessidade, Davi mentiu
e fez o sacerdote Aimeleque quebrar uma norma da lei de Moisés. Sem dúvida, uma
atitude indigna da parte de quem servia a Deus. Nem Davi poderia ter mentido, nem
tampouco Aimeleque poderia ter dado os pães da proposição para Davi, que
sacerdote não era. Este episódio não poderia ficar sem a devida punição divina
e o resultado é que Doegue contou a Saul o que havia ocorrido e o rei foi a
Nobe, onde matou 85 sacerdotes, como também quase toda a população da cidade,
numa matança sem precedentes na história de Israel, e que serviu para mostrar a
todo o povo a impiedade do seu rei, o monstro horrendo em que Saul havia se
tornado (1º Sm 22.6-19).
- Saul acusou Aimeleque de ter consultado
a Deus a pedido de Davi, como também de iniciar uma conspiração com Davi, sendo
que o sumo sacerdote nem sabia que Davi havia caído em desgraça diante de Saul.
Saul não quis saber das justificativas de Aimeleque e exterminou sua casa,
tendo escapado apenas Abiatar. Apesar de toda a brutalidade de Saul, o fato é
que o episódio acabou por trazer cumprimento a uma profecia de Samuel, a
respeito da casa de Eli.
- O fato, porém, é que a mentira de Davi e
a quebra da lei da parte de Aimeleque deram ocasião para que Saul promovesse
essa grande matança e complicasse ainda mais a situação de Davi, pois o ódio do
rei tornou-se público, incompatibilizando, de uma vez por todas, Davi diante do
povo de Israel. Não bastasse sua situação de penúria, agora Davi era aborrecido
pelo seu próprio povo, o povo que ele iria reinar. Como suportar uma
circunstância tão adversa como esta, diante das promessas de Deus? Não era
fácil e Davi, antes mesmo desta matança, mas tendo observado que Doegue o vira,
percebeu que o sumo sacerdote não o podia ajudar, até porque até para
alimentá-lo teve de violar a lei, decidindo, então, Davi partir em direção a
Gate, cidade dos filisteus, a fim de tentar a ajuda dos inimigos de Saul.
4. Davi
foge para Gate, cidade dos filisteus. Vemos aqui uma fraqueza espiritual em Davi.
A situação de aflição era tanta que Davi acabou por mentir ao sumo sacerdote,
por se alimentar dos pães da proposição, violando a lei e decidir partir para
Gate, cidade dos filisteus, dos incircuncisos que nenhum compromisso tinha com
Deus. Por isso, entraria em situação extremamente difícil, seja entre os
filisteus, seja com o próprio povo de Deus. Davi não procurou orientação
divina. Nem sequer pediu que o sumo sacerdote consultasse a Deus por meio do
éfode (Urim e Tumim), mas resolveu tudo fazer com base em sua experiência
guerreira. Tendo alimento e arma, achava que poderia se safar de Saul indo até
a terra dos filisteus.
- Quantas vezes também não agimos desta
maneira? Quantas vezes, também, não comemos dos pães daproposição? Não é um bom
caminho este, qual seja, o da lógica humana e do “jeitinho próprio” para tentar
se esquivar das aflições, perseguições e tribulações da vida. Não é mentindo
aos ministros do Senhor, deles conseguindo alguma vantagem ilícita, nem
buscando as armas carnais que conseguiremos a vitória. O que arrumaremos com
uma atitude desta será tão somente a queda dos que tentarem nos ajudar, o
aborrecimento do povo de Deus em relação a nós e situações extremamente
difíceis em que só a mão de Deus poderá nos livrar das mãos do inimigo. Não
ajamos como Davi, mas, antes, busquemos a direção e orientação divinas, para
que não venhamos a ser surpreendidos com as consequências de nossas
precipitações.
- Ao analisar este episódio, o Senhor
Jesus não viu apenas a quebra da lei e um erro da parte de Davi, mas, também,
mais um exercício da misericórdia divina. Aimeleque deu os pães da proposição
para Davi, mas não foi por isso que foi morto por ordem de Saul. Se sua morte
tivesse sido por este episódio, poder-se-ia dizer que ela teria sido legítima,
mas, na verdade, Aimeleque foi morto por ter supostamente consultado a Deus em
favor de Davi, o que não ocorreu. Como sumo sacerdote, deveria, mesmo, ter
feito esta consulta a Deus, deveria ter pedido a orientação divina para saber o
que fazer. O aspecto ritual foi deixado em segundo plano, e acertadamente, como
nos ensina o Senhor Jesus. A quebra da lei ali se fez por amor a alguém que se apresentava
necessitado e faminto, foi um exercício de misericórdia, que triunfa sobre o
juízo. Jesus disse que, neste episódio, vemos a grandeza do amor de Deus ao
homem, que põe o homem, a pessoa humana acima até das normas da lei (Mt 12.1-8;
Mc 2.23-28). Assim como Deus havia feito profetizar homens ímpios para livrar
Seu servo das mãos de Saul, também permitiu que comesse os pães da proposição e
o sumo sacerdote não fosse punido por isso, para que se mantivesse com vida em
meio a tamanha perseguição. Será que temos a mesma misericórdia divina em
relação aos que nos rodeiam?
- Sem condições de ser ajudado pelo sumo sacerdote
e com a espada de Golias, Davi resolve ir até Gate, a fim de ali tentar
encontrar refúgio. Davi apresentava-se desorientado. Como conseguir apoio no meio
dos seus piores inimigos e ainda ostentando a maior prova de sua inimizade para
com aquele povo, a espada do seu ex-campeão? Parece incrível que Davi, já um
guerreiro com certa experiência, cometesse tamanho erro de avaliação, achando
que conseguiria proteção e guarida em Gate, num momento em que não havia ainda
se tornado público o ódio de Saul em relação ao filho de Jessé.
- Quando não buscamos a orientação de
Deus, mesmo tendo o Espírito Santo, só fazemos tolices, só nos apresentamos
como homens insensatos. Não podemos confiar em nossas habilidades e
experiências pessoais, pois elas somente nos conduzirão para o pior dos mundos
possíveis. Assim como Davi, acabaremos tomando a pior decisão,
entregar-nos-emos ao inimigo gratuitamente. Como dizem os ditados populares,
“entregar-nos-emos de bandeja, deixaremos o inimigo com a faca e o queijo na
mão”. Não podemos dar lugar ao diabo (Ef 4.27) e, para não fazê-lo, não existe
outro caminho senão o de sermos guiados pelo Espírito Santo (Rm 8.14; Gl 5.18),
pois resistir ao diabo (Tg 4.7) é seguir a trilha dAquele que está a resistir
neste mundo contra o mistério da injustiça (2ª Ts 2.7).
- Ao chegar a Gate, com o objetivo de se
apresentar ao rei Áquis, Davi é prontamente reconhecido pelos servos do rei
como o “campeão dos israelitas”, aquele que matava os dez milhares, enquanto
Saul, apenas os milhares. Mais uma vez, vemos que o louvor surgido do folguedo
irresponsável das mulheres iria perturbar a vida de Davi.
- Davi voluntariamente entrara em Gate e
se fizera prisioneiro de seus piores inimigos. Estava no palácio de Áquis
porque assim tinha querido e não tinha como fugir daquela situação. Jesus nos
promete que ninguém poderá nos arrebatar de Suas mãos poderosas (Jo 10.28,29),
mas o Senhor nunca disse que estamos presos a Ele com grilhões inquebráveis.
Qualquer um que quiser deixá-l’O pode fazê-lo (Jo 6.66,67; 2ª Tm 4.10) e não
poderá depois reclamar se se encontrar totalmente cercado pelo inimigo, sem
condições de se livrar.
- Davi, ao verificar a estultícia que
havia cometido, com os comentários nada agradáveis dos servos de Áquis, caiu em
si e percebeu que estava fora da direção de Deus. Neste instante, buscou ao
Senhor e elaborou o Salmo 56, um Salmo de arrependimento, onde Davi pede a misericórdia
de Deus, pois sabe que está cercado de inimigos que estão prontos a devorá-lo.
Pede a Deus força para que possa temê-l’O, reconhecendo assim que estava agindo
sem a direção divina, pedindo graça para que pudesse confiar no Senhor. Mesmo
sabendo que todos queriam o seu mal ali em Gate, sabia que nada lhe poderia
fazer o homem se o Senhor não o quisesse. Relembra-se das promessas de Deus
para si e, renovado nelas, confia que, clamando a Deus, seus inimigos
retrocederiam, pois, afinal de contas, Deus estava com Davi, que fora escolhido
para suceder Saul no trono de Israel.
- Davi, então, é levado ao encontro do rei
Áquis e, então, ainda movido pelo Espírito Santo que nele habitava, compõe o
Salmo 34. Neste salmo, Davi reafirma a sua disposição de louvar ao Senhor, bem
como o de buscá-l’O para que o livrasse de todos os seus temores. É
interessante notar que Davi sentiu medo mas não quis ficar com medo, antes
pediu a Deus que tirasse esse medo dele (Sl 34.4).
- Davi admitiu que era um pobre diante do
Senhor (Sl 34.6). Não porque só estava com a roupa do corpo, tinha se
alimentado apenas de pães da proposição ou, ainda, tivesse como arma apenas a
espada de Golias. Mas porque aprendeu que tinha de pedir a orientação de Deus
para bem se conduzir. Encontrava-se em extremo aperto porque não havia buscado
a presença do Senhor. No Salmo 40, também, Davi se afirmará pobre e necessitado
(Sl 40.17), embora tudo indique que, ao fazer este salmo, já estivesse no
trono. Não importa, rico ou pobre materialmente falando, o homem tem de
reconhecer que sempre é pobre espiritualmente, pois dos tais é o reino dos céus
(Mt 5.3). Se não reconhecermos que dependemos inteiramente de Deus, jamais
poderemos servi-l’O.
- Davi reconheceu que somente quem teme a
Deus tem condições de se livrar das enrascadas da vida (Sl. 34.7-11) e que a
vida longa depende da guarda da nossa língua do mal e do engano dos lábios (Sl 34.12,13).
Davi reconhecia que se encontrava naquela situação difícil por causa da sua
mentira e de um desejo de vingança, que o levara até os inimigos de Saul. Deus,
porém, não Se agradara daquilo que havia feito, pois Ele ama os justos, os
santos, os tementes e é a eles que dá livramento (Sl 34.17-19,22), cabendo ao
Senhor o “acerto de contas” (Sl 34.21).
OBS: Observemos, uma vez mais, que, neste
salmo, temos mais um salmo messiânico, em que Davi prefigura o sofrimento de
Jesus, mas o Seu livramento, a ponto de não se permitir que nenhum de Seus
ossos fosse quebrado (Sl 34.20). Tal prefiguração, aliás, representa a certeza
da vitória sobre o mal, pois o corpo de Cristo não é quebrado, como
demonstração que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Por que
temer, então, Igreja?
5. Davi
se Faz de Doido.
No instante em que foi levado à presença de Áquis, Davi se fez de doido,
deixando correr a saliva pela barba, esgravatava as portas do portal, a ponto
de Áquis tê-lo considerado um louco e mandado que o mandasse fora da cidade (1º
Sm 21.10-15). Davi havia, pois, sido livre dos filisteus.
OBS: É interessante notar que Davi não
perdeu o juízo nesta ocasião por causa da extrema angústia. O Salmo 34 é um
salmo em ordem alfabética em hebraico, demonstração de composição elaborada e
muito bem pensada, e este dado é importante pois, como dizem os rabinos judeus,
este salmo é “…para mostrar que devemos louvar a Deus com nossas faculdades e
reconhecer que toda Sua criação é para o bem.” (FRIDLIN, Vitor; GORODOVITS,
David e FRIDLIN, Jairo. Salmos: com tradução e transliteração, p.44). Quão
diferente é a realidade bíblica do que vemos atualmente em nossas igrejas
locais, onde o irracionalismo e a tolice são considerados como demonstração do
poder de Deus…
V.
DAVI É ABORRECIDO POR ISRAEL
1. A
caverna de Adulão.
- Ao retornar de Gate, Davi resolveu ir
para a caverna de Adulão, a fim de se esconder. Estava desamparado, sem ter
conseguido ajuda de quem quer que seja. O homem que Deus havia escolhido para
reinar sobre Israel se encontrava numa caverna, escondido, sem qualquer amparo.
- Nesta situação de extrema angústia e
necessidade, Davi clama a Deus e lhe faz uma oração, que é o Salmo 142. Davi
abre seu coração para o Senhor, diz a Ele que, no caminho em que andava, haviam
ocultado um laço e, na situação de aperto, havia olhado para a sua direita e
visto que não havia quem o conhecesse, quem cuidasse de sua alma, em ninguém
havia encontrado refúgio (a propósito, “Adulão” significa “refúgio”). Esgotadas
todas as fontes de livramento e salvação, Davi reconhece que só Deus é o seu
refúgio, só Deus era a sua porção entre os viventes. Pediu, então, que Deus o
livrasse dos seus perseguidores, que eram mais fortes do que ele, que tirasse a
sua alma da prisão para que, então, os justos pudessem cercá-lo e ele cantasse a
todos que o Senhor lhe havia feito bem.
- Este salmo é um “masquil”, palavra de
sentido incerto, mas que parece significar “salmo de instrução”, “salmo
eficaz”, “salmo habilidoso”, ou seja, um cântico inspirado que nos revela tanto
o entendimento correto de quem o elaborou, como também um ensino para todos que
o leiam ou cantem. No Salmo 142, parece tratar-se de um instante em que Davi
compreendeu que só Deus poderia ajudá-lo, que se tratava de uma provação
divina, de um período em que Davi deveria aprender a depender única e
exclusivamente de Deus. É neste instante que Davi se conscientiza de que todas
as adversidades eram queridas pelo Senhor e faziam parte de seu aprendizado
para que assumisse o trono de Israel.
2. Davi
recebe a visita do profeta Gade. Tornando a Adulão, porém, Davi recebe a
visita do profeta Gade, que lhe manda entrar na terra de Judá, não ficando no
lugar forte. Não era tempo de ficar na caverna, mas, sim, de sair com seus
homens, mesmo em meio à perseguição. Davi, seguindo a orientação do profeta,
foi, então, para o bosque de Herete
(1º Sm 22.5).
- Lá, Davi é informado da matança dos
sacerdotes em Nobe por Abiatar, filho de Aimeleque, que havia escapado e
trazido o éfode, passando, então, a compor o grupo de Davi. Davi percebe,
então, que o Senhor é com ele, visto que o sumo sacerdote está fazendo parte de
seu grupo. No entanto, a confiança de Davi era tanta que disse a Abiatar para
que ficasse com ele pois com ele, estaria salvo (1º Sm 22.23). Davi sabia que Deus
era com ele e até o sumo sacerdote estaria protegido se se mantivesse com ele.
- Esta sua confiança está bem retratada no
Salmo 52, outro “masquil” de Davi, elaborado quando recebe ele a notícia de que
Doegue havia anunciado a Saul sua ida a Nobe, que redundou naquele morticínio.
Neste seu cântico, apesar da tragédia ocorrida, Davi deixa nas mãos do Senhor a
realização da justiça, mantendo sua confiança na bondade divina (Sl.52:1).
Confirma que os que procedem impiamente prestarão contas diante do Senhor e que
os prejudicados devem esperar somente em Deus (Sl 52.2-9).
3. Davi
livra a cidade Queila. No bosque de Herete, Davi é informado de que os
filisteus estavam saqueando as eiras de Queila. Davi, então, consultou ao
Senhor se devia ir ao encontro dos filisteus e, ante a resposta afirmativa,
obtida mediante Abiatar, em consulta ao Urim e Tumim, pois o éfode estava com
Abiatar (1º Sm 23.6). O éfode era uma das vestimentas do sumo sacerdote, em que
eram postas as pedras em que se consultava ao Senhor – Êx.28.4- 14), foi à
luta, tendo vencido os filisteus e livrado a cidade (I Sm.23:1-6).
- Uma vitória militar em meio à
perseguição. Davi, talvez, tenha pressentido que estava terminando o período da
prova. Havia vencido novamente, tinha novos soldados, havia livrado uma cidade
do ataque dos filisteus. Saul foi avisado disto e resolveu ir ao encontro de
Davi, achando que, por estar Davi em uma cidade, seria mais fácil de matá-lo.
Davi, ao saber das maquinações de Saul, consultou a Deus e perguntou ao Senhor
se o povo de Queila teria coragem de entregá-lo a Saul depois de tamanha
beneficência e, para sua surpresa, Deus lhe respondeu que eles o trairiam, o
que fez com que Davi, mesmo contra todas as evidências humanas, abandonasse,
para seu bem, Queila e se refugiasse em lugares fortes no deserto de Zife (1º
Sm 23.7-13).
- Davi sente, então, o amargor da
ingratidão. Como poderia a cidade de Queila entregá-lo a Saul depois de a ter
livrado? Entretanto, para os moradores de Queila era melhor agradar ao rei do
que demonstrar sua gratidão a um benfeitor que não tinha poder nem posição.
Davi viu que era aborrecido pelo povo de Israel, que ainda não era o tempo de
reinar sobre o povo de Deus. Saul, embora rejeitado por Deus, ainda não o era pelo
povo. Neste momento, Davi prefigura o Messias que foi, também, rejeitado pelos
seus irmãos de Israel (Jo 1.11).
- Nós, servos do Senhor, temos de saber
que somos, também, rejeitados pelo mundo. O mundo que aborreceu Jesus não pode
mesmo acolher os cristãos (Jo 15.18-21), embora sejam os coerdeiros de Cristo a
luz do mundo e o sal da terra, o motivo de este mundo ainda não ter se
deteriorado de vez (Mt 5.13,14). Saibamos que, neste mundo, ungidos pelo
Espírito Santo, devemos fazer o bem às pessoas, curar todos os oprimidos do
diabo (At 10.38) e recebermos, como recompensa, o “Crucifica-o”, assim como
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Estamos prontos para fazer bem e sermos
rejeitados? Estamos preparados para suportar a cruz e desprezar a afronta pelo
gozo que nos está proposto (Hb.12:2)? Como a realidade espiritual é bem
diferente do que andam pregando por aí, dos que, embora se digam crentes, amam
muito mais a glória dos homens mundo do que a de Deus (Jo 12.42,43), preferem
agradar aos homens do que ser servos de Cristo (Gl 1.10).
4.
Davi vai para o deserto. Depois de ter livrado uma cidade e demonstrado seu
valor militar em prol de seu povo, Davi é obrigado, com seus homens, a voltar
para o deserto e ali permanecer. Pior do que isto é que, no deserto, Davi não
tinha descanso, pois Saul o buscava todos os dias, mas Deus não o entregou na
mão do rei (1 Sm 23.14).
- Assim acontece com os filhos de Deus.
Todos os dias o inimigo nos busca, anda em nosso derredor, buscando a quem
possa tragar (1ª Pe 5.8). O diabo não se cansa, noite e dia está a nos acusar
(Ap 12.10). Eis a verdadeira batalha espiritual sofrida pelos servos do Senhor,
eis o motivo pelo qual não podemos deixar de vigiar durante todo o tempo. Não é
à toa que o próprio Jesus nos mandou vigiar (Mt 26.41; Mc 13.33,35,37; Mc 14.38;
Lc 21.36), o que foi, posteriormente, repetido pelos apóstolos (1ª Co 15.34; 16.13;
1ª Pe 4.7; 5.8; 1ª Jo 2.8).
- Embora o inimigo não se canse de tentar
tragar os servos do Senhor, Deus não permite que nós lhe sejamos entregues.
Como já dissemos, ninguém pode arrebatar-nos das mãos de Jesus, mas o Senhor,
em momento algum, nos agrilhoa para que permaneçamos no esconderijo do Altíssimo,
à sombra do Onipotente (Sl 91.1). Se nos distanciarmos do Senhor, se deixarmos
de vigiar, certamente seremos atingidos pelo inimigo, que não está longe e que
não perde oportunidades, nem deixa passar ocasiões. Como nos lembra conhecido
dito popular, a ocasião faz o ladrão e o diabo é o ladrão por excelência (Jo 10.10).
Tomemos cuidado!
5. Jônatas
e Davi renovaram a aliança que haviam feito. Como prova de que Deus era quem
guardava Davi, a Bíblia nos relata que Jônatas se encontrou com Davi num bosque
em que estava no deserto de Zife, enquanto que Saul não conseguia localizá-lo
(1º Sm 23.16-18). Neste encontro, Jônatas e Davi renovaram a aliança que haviam
feito, tendo Jônatas, posteriormente, voltado para sua casa.
- Jônatas, nesta ocasião, renova a
promessa divina na vida de Davi. Com efeito, diz a Davi que o sucessor de Saul
seria ele, o filho de Jessé, e não Jônatas, que se contentava em ser o segundo
no reino. Davi recebia, com esta declaração de Jônatas, mais um estímulo para
prosseguir na direção de Deus. Jônatas não mais seria obstáculo para sua subida
ao trono. Ele mesmo reconhecia a unção divina sobre Davi. Isto, certamente, era
novo alento para o perseguido Davi, que agora tinha de seu lado tanto o novo
sumo sacerdote como o príncipe herdeiro. Mas, apesar de tudo isto, Davi
continuava no deserto de Zife, liderando cerca de quatrocentos homens, algo bem
diferente do que Deus lhe havia prometido.
6. O
Senhor livra Davi.
Os zifeus, sabendo que Davi se encontrava naquela região, foram até Gibeá e o
anunciaram a Saul, dizendo, inclusive, que Davi se encontrava no outeiro de
Haquila, num bosque. Diante de tamanha e precisa informação, Saul foi ao
encontro de Davi, não sem antes pedir aos zifeus que apurassem ainda mais a informação
a respeito de Davi, para que não viajasse em vão. Com efeito, as informações
obtidas pelos zifeus foram precisas e Saul conseguiu cercar Davi. No instante
mesmo em que iria dominá-lo, teve de abandonar a empresa, pois os filisteus,
aproveitando-se de que Saul deslocara-se no encalço de Davi, invadiram Israel.
Deus usava, desta feita, os próprios filisteus para livrar Davi. O local ficou,
inclusive, conhecido como Sela-Hamalecote, ou seja, “rocha de divisões ou da
fuga”. Davi, apesar do livramento, resolveu deixar a região, vez que seus
moradores lhe eram hostis, preferindo ir para os lugares fortes de EnGedi (1º
Sm 23.19-29).
- Que triste situação a de Davi. Os zifeus
eram da tribo de Judá, ou seja, irmãos de tribo de Davi e agiam contra ele em
favor de um rei que era de outra tribo, a tribo de Benjamim. Nem mesmo a sua
tribo o apoiava. Davi tinha alento e estímulo somente da parte de Deus,
caminhava unicamente pela fé. Se fosse verificar o quadro político, veria que
chance alguma teria de reinar sobre Israel, rejeitado que era pelos de sua
própria tribo, de seu próprio povo, liderando um grupo de renegados da
sociedade. No entanto, Davi prosseguia na orientação divina. O crente deve agir
do mesmo modo: andar por fé, não por vista (2ª Co 5.7).
- Entretanto, quando Davi fica sabendo que
os zifeus lhe haviam dado o paradeiro, Davi recorre ao Senhor. É nesta
circunstância que é feito o Salmo 54, um outro “masquil” do futuro rei. Davi
pede a Deus que o livre, que o salve das mãos de Saul. Pede a Deus socorro e
deixa nas mãos do Senhor o destino daqueles que o perseguem, demonstrando,
assim, não ser movido da vingança nem de qualquer sentimento inadequado para
quem serve a Deus. Sabe que está em situação de aflição, mas clama a Deus, o
seu Ajudador. Promete oferecer sacrifícios a Deus voluntariamente e louvar a
Deus porque o tem livrado dos inimigos. Vemos, assim, que este grande
livramento proporcionado por Deus a Davi era resposta de sua oração. Confiemos
em Deus assim como Davi, queridos irmãos!
7.
Mudou-se Davi para a região de En-Gedi, mas não era o novo local que dava ânimo
e confiança ao futuro rei. Ali, no deserto de Judá, Davi compôs o Salmo 63,
onde reafirma que o Senhor é seu Deus e que sua alma tinha sede de Deus, que
somente no Senhor a sua alma se fartaria. Nas asas do Senhor é que Davi se
sentia refugiado, pois sua alma seguia a Deus de perto e sabia que todos os
seus inimigos cairiam à espada, seriam uma ração para a raposa. Davi agora já
compreendia que seu refúgio era o Senhor e que n’Ele alcançaria a vitória sobre
toda esta perseguição.
8. Davi
corta a orla do vestido do Rei Saul. De nada adiantou, porém, Davi mudar-se
para a região de En-Gedi, perto do mar Morto. Isto foi anunciado a Saul que,
então, tomou três mil homens escolhidos dentre todo o Israel e foi à busca de
Davi (1º Sm 24). Davi era perseguido pela elite do exército do país que haveria
de reinar. Como fazer isto sentido na mente humana? No entanto, é o que estava
a ocorrer e, para complicar ainda mais a situação, Saul resolve entrar em uma
caverna para fazer as suas necessidades fisiológicas. Que caverna Saul escolhe?
Precisamente aquela em que Davi havia se escondido (1º Sm 24.3).
- Neste instante, os homens de Davi, ao
perceberem que o rei se encontrava sozinho, em situação de completa
vulnerabilidade, incita Davi a matar Saul. Era este o momento em que Deus havia
entregado o inimigo em suas mãos: era hora de atacar. Saul seria morto e Davi
reinaria, ainda mais que Jônatas já havia aceitado o senhorio de Davi. Que
tentação! Mas Davi já tinha aprendido a se guiar pelo Espírito Santo e não pelas
circunstâncias da vida.
- Davi, então, mansamente, cortou a orla
do vestido de Saul, que estava à parte e, ao fazê-lo, se arrependeu de o ter
feito. Em seguida, não permitiu que nenhum dos seus homens ferisse ou matasse
Saul, mantendo-se dentro da caverna. Depois que Saul saiu da caverna, Davi
também o fez e gritou para Saul, mostrando que tinha cortado a orla do manto
real e que, se quisesse, poderia ter matado o rei. Com este gesto, Davi esperava
dissuadir todos os boatos e notícias que podiam ter posto Saul contra ele, mal
sabendo, porém, que o mal era querido pelo próprio Saul, de seu próprio coração
e não de alguma trama ou conspiração de quem quer que seja. Davi reafirmou que
não se vingaria de Saul e que tudo havia deixado nas mãos do Senhor. Saul, ao ouvir
a voz de Davi e seu dito, chorou, reconhecendo que havia sido recompensado com
bem pelo mal que havia causado a Davi. Confessou, então, saber que Davi era o
seu sucessor e pediu a Davi que jurasse que não desfaria a semente de Saul, o
que Davi fez (1º Sm 24.5-22).
-
Davi manteve-se fiel à lei divina. Sabia que havia sido pago um alto preço
por ter quebrado a lei ao comer os pães da proposição e não poderia matar o rei
de Israel impunemente. Rejeitado, ou não, por Deus, Saul havia sido ungido e a
sua morte, naquelas circunstâncias, era violação de um dos dez mandamentos.
Como ficaria impune o assassino de um ungido do Senhor? Davi tudo havia deixado
nas mãos do Senhor, como dissera nos salmos compostos neste período de
tribulação e deveria fazer aquilo que havia cantado.
- Nos dias hodiernos, não é diferente. Não
podemos ser homicidas dos ungidos do Senhor, ou seja, não podemos deixar de
amar aqueles que foram salvos pelo Senhor Jesus e que são, agora, templo do
Espírito Santo (1ª Jo 3.15). Este episódio é muito citado para nos estimular à
obediência aos pastores, mas sua aplicação não se restringe aos pastores.
Ungidos do Senhor são todos os salvos, não apenas aqueles que foram separados
por imposição de mãos. Todos os crentes são ungidos, todos os crentes são
sacerdotes (1ª Pe 2.9; Ap 1.6). Portanto, tanto quem afronta o pastor, como
quem desampara aquele irmãozinho humilde que se senta no último banco da igreja
está a praticar um homicídio segundo a lei de Deus e, por causa disto, ficará
do lado de fora da cidade santa (Ap 22.15).
- Tanto Davi estava cheio do Espírito
Santo no instante em que poupou a vida de Saul que, ao sair da caverna, compôs
o Salmo 57, onde pediu, novamente, misericórdia a Deus e reafirmou sua
confiança em Deus. Disse que Deus era o seu auxílio e refúgio, apesar de todos
estarem querendo tirar-lhe a vida e que seus inimigos caíram na própria cova
que haviam aberto. A Davi restaria apenas louvar a Deus e exaltá-lo sobre todos
os povos.
9.
Davi vai para o deserto de Parã. Nesse meio tempo, Samuel faleceu (1º Sm 25.1)
e Davi, sempre prudente, decidiu mudar-se, indo, agora, para o deserto de Parã.
Ali chegando, pediu que alguns de seus homens fossem pedir suprimento para um senhor
da tribo de Judá, um próspero pecuarista, chamado Nabal, a cujos pastores os
homens de Davi haviam ajudado quando eles se encontravam no Carmelo, onde
levavam os rebanhos para pastar.
- No entanto, Nabal recusou-se a ajudar
Davi e, não só se recusou a ajudá-lo como também o desdenhou. Davi, então,
sentindo-se ultrajado e necessitando de víveres para sustento de seus homens,
não viu outro caminho senão o de obter por luta o que precisava. Foi impedido
em seu intento pela sábia e formosa mulher de Nabal, Abigail, que, ao saber da
disposição de Davi, foi ao seu encontro levando víveres (1º Sm 25.10-35). Abigail
foi usada por Deus para livrar Davi de um ato ilícito, movido pela inveja e
pelo orgulho pessoal.
- Davi deu ouvidos a Abigail e, assim, não
pecou. Muitas vezes, em nossa obstinação, Deus levanta homens e mulheres de
Deus para nos advertir e devemos ser sensíveis à voz do Espírito Santo. O fato
de Davi ter ouvido Abigail foi, aos olhos humanos, um contrassenso, pois jamais
um homem que chefiava um bando, como Davi, poderia escutar uma mulher, e, ainda
mais, uma mulher casada que desafiava seu próprio marido. Mas Davi estava
aprendendo a não andar segundo as circunstâncias, mas segundo a orientação do Espírito
Santo.
- Deus confirmou o gesto de Davi pelo fato
de Nabal ter morrido logo em seguida. Davi, então, tomou Abigail como sua
mulher, um outro gesto familiar de Davi que deve ser recriminado. Davi foi
levado a casar-se com Abigail pela sua formosura e pela sua beleza, sem
qualquer indagação a respeito da vontade de Deus quanto a este ponto. O fato de
Abigail ter sido usada por Deus para aplacar a sua ira e para impedi-lo de
pecar não implicava necessariamente em que Abigail seria uma boa mulher e uma
boa rainha para Israel.
Esta constituição de uma vida familiar ao
largo da vontade de Deus, trouxe enormes dissabores e problemas para Davi (1º
Sm 25.36-44).
- É importante salientar, ademais, que
Davi desposou Abigail porque estava sem mulher, já que Mical havia sido dada
por Saul a Palti, filho de Laís (1º Sm 25.44). Não vemos, assim, ainda, neste
momento, um Davi envolvido com a poligamia. Este fato, aliás, comprova que Davi
tomou Abigail movido pela autoestima ferida, pelo fato de ter sido desonrado
por Saul, que dera sua mulher para outrem, mais um sentimento totalmente
impróprio para a constituição de uma família. Logo em seguida, porém, cedeu à
poligamia, tomando também por mulher a Ainoã, de Jizreel, inserindo este mau
costume, visto que agindo por carnalidade, entre os reis de Israel e de Judá
(1º Sm 25.45).
10.
Davi retorna para o deserto de Zife. Davi retornou para o deserto de Zife,
para o bosque do outeiro de Haquila, certamente confiante que, após os
episódios que o haviam envolvido com o rei Saul, os zifeus não ousariam
denunciá-lo de novo a Saul ou o rei Saul não ousaria vir à sua busca novamente.
Ledo engano, porém. Os zifeus, ao saberem da chegada de Davi, uma vez mais
foram anunciá-lo a Saul que, esquecido do benefício que lhe fora feito por Davi,
resolveu ir ao encalço do filho de Jessé novamente. Desta feita, Davi não
deixou que Saul viesse às cavernas e, antes que ele ali chegasse, acampou-se no
deserto com seus homens, assim como Saul estava acampado com seus homens,
inclusive na companhia de Abner, comandante do exército de Israel.
- Davi, então, acompanhado de Abisai e de
Aimeleque, o heteu, desceu até o arraial do exército de Israel e os encontrou
dormindo. Abisai estimulou Davi a que permitisse que ele, Abisai, matasse Saul
(Abisai é um dos três primos de Davi, filhos de Zeruia, que tantos males
causariam a Davi…). Mas Davi se manteve fiel à lei e aos mandamentos do Senhor,
não permitindo que Abisai se levantasse contra o ungido do Senhor. Davi tomou a
lança e a bilha de água, que estavam na cabeceira de Saul e passaram para a
outra banda, sem que ninguém acordasse, pois Deus dera profundo sono a todos
eles.
- Davi, então, clamou e chamou Abner à
responsabilidade, pois falhara em proteger Saul. Uma vez mais mostrava que, se
quisesse, poderia ter matado Saul e proclamou sua inocência novamente diante do
rei. Saul reconheceu que estava a pecar ao perseguir Davi daquela maneira e
ainda devolveu a lança do rei. Davi, então, disse que esperava que assim como
havia poupado a vida de Saul, Deus poupasse a sua própria e que o livrasse de
toda a tribulação. Saul abençoou Davi e cada um foi para o seu lado (1º Sm 26.14-25).
- Nesta segunda oportunidade em que Davi
poupa a vida a Saul, vemos a situação espiritual bem diversa de ambos. Enquanto
Saul sabia estar pecando, mas não se arrependia, pois continuava a pecar, Davi
não se iludia mais com relação a Saul. Não pediu a Saul qualquer gesto,
qualquer juramento para que não mais o perseguisse. Davi pôs-se unicamente nas
mãos do Senhor, pois vira que Saul chegara a um estado espiritual de completa
insensibilidade espiritual, nada mais se podendo esperar dele.
- Devemos ter este mesmo discernimento
espiritual de Davi. Não adianta querermos que as coisas melhorem para nós
mediante uma mudança de atitude por parte dos homens. Muitos, como Saul, estão
rejeitados e com suas consciências completamente cauterizadas, nada se podendo
esperar deles. Temos de esperar única e exclusivamente em Deus. Ele é o nosso
Ajudador, o nosso Redentor, Aquele que nos levará para o céu!
VI.
DAVI A SERVIÇO DOS FILISTEUS
1.
Davi volta para a terra dos filisteus e é acolhido pelo rei Àquis.
- Tendo chegado à conclusão de que tanto
Israel quanto Saul o aborreciam, Davi resolve ir para a terra dos filisteus.
Era aborrecido em Israel e, do jeito que as coisas iam, entendeu que não
faltaria oportunidade para que Saul o prendesse e matasse. Ir para a terra dos
filisteus seria a solução, pois o rei perderia a esperança de buscá-lo (1º Sm 27.1).
- Davi, então, foi, novamente, a Gate,
oferecer seus serviços a Áquis. Sua situação, agora, era bem diferente da
primeira. Em primeiro, não estava sem direção divina, como antes; por segundo,
era público e notório o aborrecimento de Israel e de Saul para com Davi, de
modo que não havia qualquer receio de que Davi fosse guerrear contra os
filisteus tendo o exército de Israel como seu aliado.
- Àquela altura, Davi tinha já seiscentos
homens, ou seja, seu “bando” crescera 50% durante todo o período de perseguição
e tribulação, numa demonstração da eficiência de sua liderança, o que
estudaremos na próxima lição. Como Davi havia imaginado, Saul, ao saber que
Davi fora para a terra dos filisteus, desistiu de persegui-lo.
- Áquis o acolheu e ainda lhe deu uma
cidade, como Davi havia pedido, a cidade de Ziclague, que, por causa disto,
passou a pertencer à família de Davi a partir de então, apesar de ficar na
terra dos filisteus. Davi ficou um ano e quatro meses a serviço dos filisteus.
É importante observar que esta é a única menção temporal do texto sagrado de
toda a fase da perseguição de Davi, cuja duração nos é desconhecida.
- Esta omissão bíblica é o que chamamos de
“silêncio eloquente”, ou seja, de um silêncio que fala muito. Este período
durou o tempo que Deus quis, não um tempo cronológico. Na fase da perseguição
de Davi, Deus mostra-nos que não devemos contar os dias aguardando as
promessas, impacientando-nos ou perdendo a nossa esperança (pois a sensação de
demora enfraquece a esperança – Pv 13.12), mas, sim, entender que, como nos
está reservada a eternidade, devemos, desde já, aprender a viver o “tempo de
Deus”, ou seja, a desfrutar da presença do Senhor e aumentar nossa fé e
esperança independentemente dos dias. Neste sentido, aliás, é que devemos
compreender a expressão de Moisés no Salmo 90, quando pede ao Senhor que
aprendamos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações
sábios (Sl 90.12). O “tempo de Deus” é “hoje” e, a cada dia, a cada momento, a
cada instante, precisamos confiar em Deus e descansar em Suas mãos. Davi
aprendeu isto, quando, ao se encontrar com Saul, deixar tudo nas mãos do Senhor,
pouco se importando pelos anos que já havia passado fugindo de Saul e sem se
importar com o quadro político cada vez mais adverso a uma tomada de poder por
ele, Davi, em Israel.
OBS: “Kairos
(καιρός) é uma antiga palavra grega que significa ‘o momento certo’ ou
‘oportuno’. Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairos. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico, ou
sequencial, esse último é um momento indeterminado no tempo em que algo
especial acontece. É usada também em teologia para descrever a forma
qualitativa do tempo, o ‘tempo de Deus’, enquanto chronos é de natureza quantitativa, o ‘tempo dos homens’. Na
teologia cristã, em síntese pode-se dizer que chronos, o tempo humano (medido), é descrito em anos, dias, horas e
suas divisões. Enquanto o termo kairos,
que descreve ‘o tempo de Deus’, não pode ser medido, pois ‘para o Senhor um dia
é como mil anos e mil anos como um dia.’ (2ª Pe 3.8).” (WIKIPEDIA. Kairos.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kairos Acesso em 15 set.
2009).
- Davi, então, passou a atacar os
moradores de Canaã, com exceção dos israelitas, matando a todos que atacava e
trazendo os bens para o rei de Gate. Davi não deixava qualquer testemunha e o
rei de Gate gostou do seu trabalho pois, diante do aborrecimento que havia
entre Davi e Israel, achava que as circunstâncias político-militares levavam
Davi a não ter outra saída senão a de servir os filisteus para sempre (1º Sm 27).
2.
Davi não é aceito na batalha ao lado dos Filisteus. Um ano e quatro
meses depois que Davi estava a serviço do rei de Gate, há uma nova guerra entre
israelitas e filisteus. Davi encontrava-se entre os filisteus e deveria, pela
primeira vez na sua vida, guerrear contra o seu próprio povo. No entanto, Deus
não iria permiti-lo. Na verdade, quando Davi já estava preparado para a
batalha, os demais príncipes dos filisteus, ao saber que Davi se encontrava
acompanhando o rei de Gate, não permitiram que ele saísse à peleja, pois não
confiavam em Davi. Assim, Davi foi dispensado por Áquis e retornou para Ziclague.
Eram os filisteus, uma vez mais, sendo usados por Deus para impedir que Davi
pecasse ou fizesse algo que não fosse do agrado do Senhor e que o incompatibilizasse
com o trono de Israel (1º Sm 29).
2.1.
Ziclague havia sido saqueada pelos amalequitas. No retorno de
Davi a Ziclague, Davi, que já estava chateado com esta nova discriminação e
oposição surgida contra ele, tem uma notícia terrível. Enquanto estivera a
acompanhar Áquis, Ziclague havia sido saqueada pelos amalequitas e todas as
mulheres e filhos haviam sido levados cativos, assim como todos os bens móveis
roubados. O transtorno causado foi de tal ordem que chegou a haver até mesmo
uma rebelião interna entre os soldados de Davi, que, por pouco, Davi não foi
apedrejado por eles (1º Sm 30.1-6).
- Como ocorrera anos antes, de um só
golpe, Davi perdera sua família, sua posição e seus bens. Assim como saíra de
sua casa na corte de Saul com a roupa do corpo, só com a roupa do corpo estava
agora em Ziclague e, o que é mais grave, sem poder pedir ajuda a Áquis, que se preparava
para a guerra contra os israelitas, e com sua tropa dividida. Tudo porque Davi
não se esforçara em deixar de se envolver na guerra contra os israelitas.
Agira, uma vez mais, movido pelo ressentimento, pela mágoa, pela vingança. Não
só Deus o privara de guerrear contra Israel como ainda permitira que sua cidade
fosse saqueada na sua indevida ausência.
- Apesar destas dificuldades severas, Davi
não repetiu o erro do passado. Se saiu da corte de Saul sem direção, agora nada
faria sem recorrer ao Senhor. Apesar de sua angústia, esforçou-se no Senhor seu
Deus (1º Sm 30.6) e consultou ao Senhor, através do sacerdote Abiatar (1º Sm 30.7,8).
Deus mandou que fosse ao encalço dos amalequitas, pois tudo recuperaria e, só
após esta orientação divina, iniciou a caminhada para a batalha.
- No entanto, ao chegar ao ribeiro de
Besor, duzentos dos seiscentos homens pararam, sem condições de prosseguir.
Além de dividido, o bando de Davi estava esgotado física e psicologicamente.
Mesmo assim, Davi prosseguiu sua caminhada, deixando os duzentos guardando a
bagagem. No caminho, avistou um homem meio-morto, um servo egípcio de um
amalequita, que havia sido abandonado doente. Como era pessoa bondosa, parou
para dele cuidar e neste cuidado se encontrava a chave de sua vitória. O moço, recuperado,
disse onde estava o inimigo, que foi surpreendido enquanto celebrava sua
vitória.
- Davi tudo recuperou, matou a quase todos
os inimigos, salvo quatrocentos que conseguiram fugir sobre camelos,
recuperando a todos, inclusive seus familiares, bem como a todo o patrimônio e
ainda conseguindo grande despojo. Nesta ocasião, Davi estabeleceu a lei da
presa, algo que estudaremos mais amiúde na próxima lição, pois é assunto que
diz respeito à formação da liderança de Davi. (1º Sm 30.7-31).
- Ao chegar a Ziclague, Davi manda parte
do despojo aos anciãos de Judá, iniciando uma aproximação política que seria
fundamental para a mudança das circunstâncias que lhe eram desfavoráveis no
quadro da sucessão de Saul.
3. A
derrota dos israelita e a morte do rei Saul. Em 1º Samuel 31 vemos que o ataque
dos filisteus contra Saul foi bem-sucedido, a ponto de cercarem Saul e seu
filhos na batalha. A ponto de que tanto o rei quanto os seus filhos, acabaram
mortos.
Saul estava colhendo os frutos de uma
semeadura de desobediência, incredulidade e apostasia contra o Senhor.
- Sua história se destaca mais por ser
contrário à vontade e direção de Deus, do que a se render a ela.
- É realmente lamentável ver que um ungido
de Deus termine de maneira tão triste, até porque as consequências do juízo
atingiram também, aqueles que o cercam.
- A minha oração é que Deus tenha
misericórdia de nós, e nos dê um coração sensível a Sua vontade. Que em
sentindo o toque do Espírito, não resistamos, mas sejamos submissos a Sua
vontade, porque de fato ele é boa, perfeita e agradável.
- Somente quando nos rendemos a ela,
podemos experimentar o melhor de Deus para nossa vida. A melhor versão desta
vida para mim e para você, está escondida na direção de Deus.
- Veio a guerra e nela os israelitas foram
vencidos, sendo mortos tanto Saul quanto Jônatas (1º Sm 31), notícia que logo
chegou a Davi em Ziclague (2º Sm 1). O caminho começava a se abrir para Davi se
tornar rei de Israel, chegava o momento oportuno para Davi subir ao trono.
CONCLUSÃO.
- Deus está no controle de todas as
situações, Ele não nos abandonou ao acaso. Essa percepção tem sido ofuscada
pelo pensamento moderno acostumado a viver no tempo- kronos, isto é, pela compulsão frenética da vida que nos impulsiona
a agir, de preferência o mais rápido possível, afinal, para muito “tempo é
dinheiro”. Há aqueles que, como Saul, têm medo de ficar para trás, por isso,
querem tirar todo proveito do tempo kronos.
O cristão, como Davi, sabe que Deus está para além do tempo kronos (Sl 90.4). E guiado por essa
verdade, pode descansar, confiar no cumprimento exato das promessas divinas, a
depender da execução da Sua vontade no tempo kairós que Ele mesmo estabeleceu. Vivendo nessa dimensão é possível
esperar com paciência no Senhor, e a permitir que Ele dirija, pelo Seu
Espírito, todos os passos da existência.