TEOLOGIA EM FOCO

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A VINDA DO SENHOR - A NOSSA SUPREMA ESPERANÇA



TEXTO BÍBLICO
2ª Pedro 3.1-10 “Amados, escrevo-vos agora esta segunda carta, em ambas as quais desperto com exortação o vosso ânimo sincero; 2- Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador. 3 - Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, 4 - E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. 5 - Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste. 6 - Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio, 7 - Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. 8 - Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. 9 - O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânime para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. 10 - Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.”

INTRODUÇÃO
Pedro está chegando ao final da sua Segunda Epístola, e depois de ter advertido os crentes acerca dos falsos mestres e suas heresias, têm uma palavra de ânimo e de esperança firmada na certeza da volta de Jesus, pois foi Ele quem o prometeu.

Antes de concluir a sua Epístola, o apóstolo desperta o ânimo dos seus leitores, fazendo-os lembrar da gloriosa volta de Jesus. Se na sua primeira Carta Pedro incentivou que os cristãos tivessem esperança no meio das provações, nesta segunda ele conclama a Igreja a manter sempre viva a esperança futura, a despeito daqueles que desdenham da promessa de Cristo. Isso porque o retorno do Filho de Deus em poder e grande glória é a nossa suprema esperança. Estudemos esta lição em oração, pedindo ao Espírito Santo que faça arder dentro de nós o forte anseio pelo retorno de Cristo Jesus.

I. AQUELES QUE ZOMBAM DA VINDA DE CRISTO

1. Os escarnecedores dos últimos dias.
Pedro previne os seus leitores de que nos últimos dias viriam escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências. “Últimos dias” é uma expressão bíblica que alude ao período que começa com a ressurreição de Jesus e se estenderá até a sua volta, quando estabelecerá o seu reino e julgará toda a humanidade. Neste intervalo, segundo as Escrituras, muitos rirão da verdade (1ª Tm 4.1,2; 2ª Tm 3.1-9), num tempo marcado pela multiplicação da iniquidade.

2. O raciocínio herético.
A indignação de Pedro era porque os hereges estavam zombando da doutrina da volta de Jesus; brincando com a esperança futura dos crentes. Eles questionavam acerca do cumprimento da promessa da vinda de Jesus: Onde está a promessa da sua vinda? A pergunta maldosa queria dar a entender o seguinte: se Cristo não tinha vindo até aquele momento, Ele nunca mais o faria. Com isso, estavam dizendo que as palavras de Jesus não eram dignas de confiança (Mc 13.26,27; Lc 21.27). Raciocínio idêntico é disseminado em nossos dias, não somente entre os descrentes, mas até mesmo entre alguns círculos cristãos que interpretam as Escrituras de maneira não ortodoxa, não crendo que Jesus retornará.

3. O argumento falacioso.
Como é de costume, os falsos mestres apelavam a um argumento falacioso: algo que tem aparência de verdade, mas no fundo é uma enorme mentira. Eles diziam que, desde a antiguidade, a criação de Deus permanecia inalterada, dando a entender que, dentro da ordem natural do mundo, não haveria espaço para acontecimentos extraordinários e miraculosos, muito menos a Segunda Vinda de Cristo em glória. Esta afirmação está embasada numa visão de mundo eminentemente naturalista, que nega qualquer possibilidade de intervenção divina no universo.

“Os crentes esperam ansiosamente o fim da terra somente porque isto significa o cumprimento de outra das promessas de Deus - sua criação de novos céus e nova terra. O objetivo de Deus para as pessoas não é a destruição, mas a recriação; não é a aniquilação, mas a renovação. Deus irá purificar os céus e a terra com o fogo; a seguir. Ele irá criá-los novamente. Todos os crentes podem alegremente esperar pela restauração do bom mundo de Deus (Rm 8.21). Em uma bela descrição dos novos céus e da nova terra, os crentes têm a segurança de que será um mundo em que habita a justiça, porque o próprio Deus viverá entre o seu povo (Ap 21.1-4,22-27). Pelo fato de os crentes poderem confiar na promessa de Deus de lhes trazer uma nova terra, e por eles estarem aguardando estas coisas, eles devem viver imaculados e irrepreensíveis em paz. Em outras palavras, somente esta esperança poderosa pode nos instigar a viver com justiça. O reino de Deus será caracterizado pela paz com Deus; portanto, os crentes devem praticar a paz com Deus agora, preparando-se para vivê-la no reino. Não devemos agir como preguiçosos e ser complacentes somente porque Cristo ainda não retornou. Na verdade, devemos viver em ansiosa expectativa de sua vinda. O que você? Deseja estar fazendo quando Cristo voltar? É assim que você? Deve viver todos os dias” (Comentário do Novo Testamento de Aplicação Pessoal. Vol. 1. 1ed.  Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 758).

II. A CERTEZA DA VINDA DE JESUS

1. Ignorância deliberada.
Inicialmente, o apóstolo questiona o método empregado pelos acusadores do cristianismo ortodoxo. Ele afirma que os falsos mestres voluntariamente ignoram algo. Sem dúvida, uma das estratégias das seitas e heresias é exatamente selecionar algumas partes das Escrituras e desprezar outras. Como é frequente, tomam passagens bíblicas isoladas e fora do seu contexto para dar credibilidade às suas falsas doutrinas. O servo de Deus deve estar preparado para refutar este método interpretativo das Escrituras.

2. Criador e Juiz.
Para comprovar a veracidade da promessa divina, Pedro apresenta dois argumentos bíblicos e históricos irrefutáveis, os quais são ignorados por aqueles que zombam da fé cristã. São eles: a criação do mundo pelo poder da Palavra de Deus e o julgamento diluviano (vv. 5,6). Tais exemplos evidenciam o poder do Criador e o cumprimento fiel à sua promessa, ao julgar os ímpios e salvar o justo Noé e a sua família. Somos lembrados de que Deus não criou o mundo e o abandonou à própria sorte, como defende o deísmo.

3. A promessa não retarda.
Até mesmo alguns crentes indagam o motivo da demora do retorno do Rei Jesus. Por isso, do verso 8, Pedro direciona uma palavra de ânimo e esperança aos amados irmãos. São três verdades bíblicas que todo crente deve guardar sem seu coração. Primeiro, o tempo de Deus é diferente do nosso: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia (Sl 90.4). Segundo, a promessa de Deus não está atrasada como muitos creem; o Eterno é soberano e trabalha de acordo com o calendário d’Ele. Ter fé implica confiar que Deus está conduzindo a curva da história da melhor maneira, não cabendo a nós duvidar ou questionar os seus desígnios. Terceiro, o Senhor é longânimo, e está dando oportunidade para que os pecadores se arrependam. Ele deseja que todos os homens sejam salvos (1ª Tm 2.4).

III - PREPARANDO-SE PARA A VINDA DO SENHOR

1. Alerta.
Uma vez que que a vinda do Senhor é certa, resta ao crente ter uma vida diligente, aguardando o glorioso Dia do Senhor, que virá como o ladrão de noite. Essa expressão alude à surpresa e à rapidez de um acontecimento inesperado, tal qual a ação do salteador noturno. Ela será brusca, repentina. Pedro está se lembrando das palavras do Senhor no Sermão do Monte quando promete voltar como um ladrão de noite (Mt 24.43). Somente os incrédulos e desavisados serão surpreendidos no dia da volta do Senhor. Os crentes, porém, apesar da surpresa do momento, não estarão desprevenidos, pois vivem como se o Senhor pudesse voltar a qualquer instante, num abrir e fechar de olhos. São como as virgens prudentes que, além das lâmpadas acesas, levaram azeite consigo, preparando-se para a chegada do noivo (Mt 25).

2. Conduta.
Aguardar a volta de Cristo não é uma atitude de mera passividade. Tal expectativa requer uma postura vigilante e santa (Rm 13.11-14; 2ª Co 5.1-11; Fp 3.17-21; 1ª Ts 5.1-11). Enquanto ansiamos os novos céus e a nova terra, somos instados a viver neste mundo incontaminados e irrepreensíveis (vv. 13,14). Fica evidente o contraste entre os crentes que aguardam a volta de Jesus, e os ímpios que desdenham do seu retorno glorioso. Enquanto os cristãos são aconselhados a viverem de maneira santa e piedosa, os ímpios são ensinados a procederem de modo imoral. Isso demonstra que as crenças de uma pessoa acerca das coisas futuras definem o modo como ela vive nesta terra. Aqueles que não acreditam em julgamento e vida futura vivem com base no lema "aproveite o momento". Enquanto isso, aqueles que acreditam que devem prestar contas ao Criador, o qual julgará todo ser humano, vivem a vida presente em santidade e temor a Deus; é uma vida feliz segundo o propósito de Deus.

3. A nossa responsabilidade.
Uma vez mais Pedro deixa transparecer em sua Carta a responsabilidade do cristão em relação a sua chamada e vida espiritual. A respeito dessa passagem, Roger Stronstad escreve: “Existe uma óbvia impressão de responsabilidade humana fluindo através das cartas de Pedro. Embora Deus seja aqu’Ele que faz preciosas promessas, e embora recebamos seu divino poder e chamada, a responsabilidade é acrescentada ao elemento divino. Uma vida moral e ética não se adquire instantaneamente após a conversão, antes, é um modo de vida consistente e cotidiano alcançado gradualmente” (Comentário Bíblico Pentecostal).

“Escarnecendo da Promessa da Vinda de Cristo.
Os escarnecedores dirigirão seu escárnio (2 Pe 3.4) à promessa da vinda de Cristo - em grego, parousia, palavra usada como termo técnico para indicar a visita de um rei ou imperador a uma província. Fazia-se, pois, uma grande celebração em sua chegada, para que todos pudessem contemplar-lhe a majestade. Mas Jesus deu à palavra novo significado. Ele virá para receber sua Igreja, para ser glorificado em seus crentes e estabelecer seu reino milenar na terra com os vencedores (Ap 3.21). Tentam alguns limitar o significado de parousia à volta de Cristo à Igreja. Contudo, um exame mais atento mostra que tem um sentido mais amplo: inclui tudo que é dito por Paulo nesta assertiva: 'Estaremos para sempre com o Senhor' (1ª Ts 4.17).

Indagam os escarnecedores com seus escárnios: 'Onde está a promessa da sua vinda, porque desde que os pais dormiram, todas as cousas permaneceram como desde o princípio da criação' (2 Pe 3.4). Sua atitude é semelhante a dos impenitentes do Antigo Testamento que zombavam das advertências a respeito da iminência do julgamento de Judá e Jerusalém: 'O Senhor não faz bem nem faz mal' (Sf 1.12). Assim o faziam, supondo ser o Senhor impotente para intervir nos problemas deste mundo (Na 1.3)” (HORTON, Stanley M. 1 e 2 Pedro: A Razão da Nossa Esperança. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 101, 102).

CONCLUSÃO.
Pedro conclui sua Segunda Carta admoestando os crentes a se precaverem contra o engano dos homens abomináveis. Para tanto, diz para crescerem na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Estes são os conselhos que sintetizam as duas Cartas dos apóstolos. Para estarmos firmes na verdade é preciso crescer na graça e no conhecimento, isto é, precisamos nos desenvolver espiritual e intelectualmente. Mas, sobretudo, é preciso que seja dada glória e honra ao Senhor Jesus, hoje e eternamente. Amém!

FONTE DE PESQUISA
1. ALMEIDA, Trad. João Ferreira, Bíblia Sagrada BÍBLIA SHEDD.
2. Comentário do Novo Testamento de Aplicação Pessoal - CPAD. 2010 - Vol. 1. 1ed.  Rio de Janeiro.
3. Comentário Bíblico Pentecostal.
3. HORTON, Stanley M. 1 e 2 Pedro: A Razão da Nossa Esperança. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 101, 102).
4. NASCIMENTO Valmir. Lição 13. 3º Trimestre de 2019 – 29-09-2019. A vinda do Senhor: A nossa suprema esperança. CPAD- R.J.


quarta-feira, 29 de abril de 2020

A CONDIÇÃO DO GENTIOS SEM DEUS


LEITURA BÍBLICA
Efésios 2.11-12: “Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; 12 - que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.”

Romanos 4.12-13: E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão. 13 - Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé. 14 - Pois, se os que são da lei são herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é aniquilada.

INTRODUÇÃO
Na presente lição, veremos que o autor de Efésios lembra aos gentios de que, antes da regeneração, eles eram incircuncisos e haviam experimentado cinco formas de privação: estavam sem Cristo, separados de Israel, alienados quanto à promessa, sem esperança e sem Deus no mundo (2.11,12).

Algo que precisa ser ensinado em nossos dias é a verdade que está descrita em Romanos 3.23-24: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” Portanto, todos os homens, antes da operação da graça redentora em seus corações vivem segundo as inclinações da carne, fazendo segundo a vontade do “príncipe deste mundo”.

Porém, quando aceitamos Jesus Cristo, passam a desfrutar as riquezas da misericórdia divina e grandeza do seu amor e sua graça!

I. CHAMADOS INCIRCUNCISÃO

Na era antes de Cristo, além de mortos espiritualmente, os gentios eram desprezados pelos judeus e identificados como incircuncisos (2.11).

1. O conceito de circuncisão.
Circuncisão é a remoção cirúrgica do prepúcio do órgão sexual masculino. Era prescrito na lei como o sinal externo de quem pertencia ao povo da aliança com Deus (Gn 17.10,11). O procedimento era realizado no oitavo dia de vida dos nascidos em Israel ou estrangeiros comprados a dinheiro (Gn 17.12). Quem não era circuncidado era tido como “incircunciso” e, portanto, excluído da aliança (Gn 17.14). A circuncisão tornou-se um sinal que distinguia os judeus dos demais povos gentílicos.

2. O significado religioso da circuncisão.
Seu significado religioso apontava para a santificação (Êx 19.5,6). Como a corrupção e as práticas idólatras estavam fortemente relacionadas com a sexualidade depravada, a circuncisão simbolizava a aliança de purificação requerida ao povo escolhido (Jr 5.7; Os 4.14; Gl 5.19). Era algo tão sério que os judeus recusavam-se até mesmo a comer com os incircuncisos (At 11.3).

3. Circuncisão e a fé são coisas excludentes.
“Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gl 5.2-6).

O ex-fariseus Paulo estava cônscio de que a circuncisão era o selo da fé de seu povo (Rm 4.11). Ele circuncidou a Timóteo, para não escandalizar os judeus (At 16.3), mas se recusou circuncidar Tito por duas razões:
1º Ele não era judeu.
2º Era necessário não ceder às exigências legalistas dos judaizantes (Gl 2.3-5).

Uma pequena cirurgia numa parte do corpo era de somenos importância. Mas os fariseus exigiam que os cristãos praticassem essa cerimônia da circuncisão como condição para a salvação (At 15.1-5). Porém, a sentença para os que deixam circuncidar a fim de salvar é: “Cristo de nada vos aproveitará (v.2); “está obrigado a guardar toda lei” (v.3); “separado a guardar lei” (v. 3); “separados estais de Cristo... da graça tendes caídos” (v. 7).
Os gálatas caíram da graça e aceitaram um evangelho anátema espúrio, misturado com a lei.

4. A circuncisão exalta a maneira e práticas religiosas.
O apóstolo refuta os judaizantes usando nomes pejorativos, e por fim, desqualifica a circuncisão da carne, recomendando um novo tipo de circuncisão feita no Espírito e não mais na carne.

“Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais” (Fl 3.3-4).

Segundo Werner de Boor a palavra “carne” aqui representa toda a religião produzida pessoalmente nas profundezas do coração e do estado de espírito. Essa “carne” pode ser sempre reconhecida no fato de que o ser humano continua voltado sobre si mesmo, confia em si mesmo e se gloria em si mesmo. “Carne” é sua natureza centrada em si mesma. Mesmo quando exerce a moral e a religião, o ser humano fica preso a seu eu, cultiva e gloria-o, até mesmo quando cita o nome de Deus.

“Tentando mostrar o erro de “confiar na carne”, Paulo refere-se a sua própria vida. Se fosse possível obter salvação através do cumprir regras, Paulo certamente teria sido bem-sucedido. Deste modo, ele não teria necessitado de Cristo. Enfatizando sua linhagem impressionante, Paulo afirma que ele era “irrepreensível” no que concernia à justiça legalista (Fl 3.6). Mas Paulo chegou à importante conclusão que ele era um pecador sem nenhuma esperança de salvação, até ao momento em que ele renunciou seus próprios esforços para receber a justiça pela fé em Cristo Jesus (Fl 3.7).

Está claro que Paulo no início de sua vida teve somente um motivo para servir a Deus: Egoísmo. Tudo que ele fazia era para preencher um único propósito: o de fazer a si mesmo aceitável aos olhos de Deus. Ele estava preocupado somente consigo próprio e em sua justiça a ponto de consentir na morte de Estevão. Mas, depois de passar anos lutando para se fazer aceitável aos olhos de Deus através de uma obediência egocêntrica, ele desistiu de tudo em troca da justiça que pode vir somente através de um relacionamento com Cristo (Fl 3.8).

5. A circuncisão do coração.
O apóstolo reconhece que os gentios não faziam parte da circuncisão, mas com uma ressalva: o sinal dos judeus era apenas físico e realizado por mãos humanas (2.11b). A boa nova que Paulo traz é a de que a verdadeira circuncisão não se tratava de uma operação externa na carne realizada pelos homens, mas a que foi feita “no interior, a que é do coração... cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.29). Assim, em Cristo, o sinal de quem pertence a Deus não é a circuncisão nem a incircuncisão, mas sim “o ser uma nova criatura” (Gl 6.15).

Primeiro precisamos entender o termo empregado por Paulo. A palavra coração no Hebraico é leh. A raiz verbal significa “ganhar compreensão, criar juízo”. Quando Paulo fala de coração refere-se ao espírito onde está o controle do ser humano e a consciência. Paulo usa esta alegoria “coração” para mostrar que a salvação depende primeiramente da transformação do interior (espírito e mente) do homem.

O coração representa a força espiritual (Lm 3.41), como intimo da pessoa (Jr 17.10). Emprega a palavra para indicar a percepção (Jr 4.9); o pensamento (Ec 2.20); a memória (Sl 31.12) e a consciência (Jó 27.6).

O coração (consciência) é onde o homem toma todas as decisões da vida; o corpo é o invólucro da alma e do espírito, onde Paulo classifica como o “templo do Espírito Santo” (1ª Co 6.19; cf 1ª Co 3.16), e seremos julgados por meio do corpo, bem ou mal (2ª Co 5.10). Porém, nos dias de Jesus os fariseus se preocupavam mais com a exterioridade do que a pureza do coração (Mt 15.8-20). Portanto, exterioridade não é símbolo de salvação.

Esta passagem é uma advertência solene contra os perigos da presunção (soberba), confiança na justiça própria, e contra o formalismo que confia no batismo ou a ceia, nos dízimos como garantia em si mesmo da salvação daqueles que o recebem.

Judeu é aquele que o é interiormente no original grego kruptos ou kruphaios; que significa: (oculto; escondido; secreto; ocultar aquilo que não deve tornar-se conhecido).

Note que a circuncisão na Velha Aliança era no prepúcio do homem, ou seja, era na carne, mas, ficava escondida – era um sinal entre Deus e o homem. Da mesma forma a circuncisão no coração é um sinal entre o servo e o Seu Senhor. Ninguém pode ver por que é no secreto do seu coração.

Os fariseus pensavam que um judeu circuncidado não podia ser condenado ao inferno. A salvação para eles era no exterior e no cumprimento de suas tradições, porém Paulo diz que não a circuncisão é no oculto do coração, ou seja, na mente do cristão. É algo divino é do Espírito e o crente.

“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).

Existem pregações que a glórias é sempre para o homem. Os seus argumentos são infundados, e sem base bíblica ou pseudo revelação. Isto é perigoso, pois corremos o risco de voltarmos os rudimentos do mundo.

A circuncisão é um ato exterior e traz louvor dos homens e não de Deus. Os judeus que se convertiam a Cristo estavam colocando como meio de salvação a circuncisão e Paulo repreende severamente dizendo que a salvação não é o exterior, mas a circuncisão no coração. Judeu verdadeiro é o que é no interior, circuncisão válida é a que é feita no coração (Rm 2.25-29). Qualquer rito, sinal ou obra que fizemos se não for resultado da operação da graça de Deus em nossa vida, não tem nenhuma validade.

Os judaizantes ensinavam que a salvação era um processo longo e contínuo, dependente da realização de rituais específicos, e cada um deles trazia a pessoa mais perto de Deus. Paulo contradiz esta teoria enfatizando que a salvação é completa em Cristo; uma vez que em Cristo, nada mais é necessário. Paulo ainda usa o exemplo da circuncisão para explicar este ato. Mostrando que ela simboliza a circuncisão mais importante, que é no coração.

A salvação é mérito somente de Jesus: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Rm 3.24-25).

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6).

Ninguém nunca alcançará o padrão divino de absoluta perfeição moral e será digno de sua glória. Portanto, se houver alguma salvação, ela deverá acontecer pela graça e não as justiças humanas. Por isto Davi pede a Deus um coração puro: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e remove dentro de mim um espírito inabalável” (Sl 51.10). Enquanto que os fariseus exigiam exterioridade Deus pede o coração. Davi preocupa-se em ter um coração limpo e puro diante de Deus.

O Senhor não se contenta apenas com nossos lábios, mas quer nosso coração e toda a nossa confiança. “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradam dos meus caminhos” (Pv 23.26).

6. A circuncisão e o cristianismo.
O Dr. William Barclay (professor da Universidade de Glasgow, Escócia) nos oferece um bom exemplo para ilustrar o ensino sobre a circuncisão. Ele diz que: se alguém se submete a cumprir alguns requisitos para adquirir a cidadania de um país, significa estar ele disposto a aceitar a demais leis daquele país. O que Paulo está dizendo é, que se alguém se submete à circuncisão, ou algum requisito da lei como meio de salvação, obrigatoriamente está assumindo o compromisso de observar toda lei. Quem pratica tal coisa já tem caído da fé, e a morte de Jesus não significa nada para tal pessoa: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”.

4. A circuncisão na Nova Aliança.
O assunto da circuncisão gerou discussões acaloradas entre judeus e gentios (Gl 5.2,3; Fp 3.2). Em Antioquia a questão ganhou muita dimensão, provocou intensos debates e culminou na convocação do Primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém (At 15.1,2,5,6). A deliberação dos apóstolos sobre o assunto, sob a orientação do Espírito Santo (At 15.28,29), passou a enfatizar que na nova aliança “a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3.3).

A igreja primitiva do primeiro século enfrentou problemas com os fariseus. Alguns cristãos de tradição judaica insistiam que todos os cristãos obedecessem a lei judaica. Os gentios deveriam ser todos circuncidados. As igrejas orientadas por Paulo e Barnabé, porém, ensinavam que o caminho da salvação era um só para todos os homens. Eles salientavam que a fé em Jesus Cristo, e não a lei judaica era o caminho para a vida eterna. Como consequência disso, houve dissensão na igreja.

No ano 49 d.C os apóstolos reuniram-se em Jerusalém para resolver um problema doutrinário, a saber: a salvação ocorre pela fé, não por obras ou pela observância da lei.

Os apóstolos tiveram muita preocupação de não permitir que as heresias, os falsos ensinos, penetrassem na Igreja. O primeiro ataque doutrinário lançado contra a igreja foi o legalismo. Alguns judeus convertidos ao cristianismo estavam instigando os novos convertidos á prática das leis judaicas, principalmente a circuncisão.

Em Antioquia havia uma igreja constituída de pessoas bem preparadas no estudo das Escrituras (At 13.1). Esses crentes perceberam a gravidade do ensino de alguns que haviam descido da Judeia e estavam ensinando certas heresias.

Os ensinamentos daquelas pessoas eram uma ameaça á Igreja. Então foi necessário constituir-se um Concílio para apreciar tais questões e tomar uma posição diante delas.

“Então, alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Alguns, porém, da seita dos fariseus que tinham crido se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés” (Atos 15.1, 5, 19).

Os judeus nunca se julgaram capazes de julgar a lei perfeitamente, mas queriam colocar um jugo sobre os discípulos, um jugo segundo Pedro que nem seus pais puderam levar, anulando a graça de Cristo.

“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos- um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também” (At 15.10-11).

Os fariseus convertidos ao cristianismo estavam perturbando os apóstolos e os gentios novos convertidos:

“Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras e transtornaram a vossa alma (não lhes tendo nós dado mandamento” (At 15.19, 24).

Devemos saber que:
·         Que nenhum rito em si tem valor espiritual; o valor está no seu significado.
·         Que é muito freqüente as pessoas entusiasmarem-se por rito (prática religiosa) e serem exigentes para esse rito seja observado do mesmo modo que eles mesmos o praticam.
·         Que procurem estudar a Bíblia para obter base escriturística para combater os ritos legados do passado.
·         Que o amor de Deus reine em nossos corações, para que as divergências internas desapareçam.

4.1. O parecer de Tiago neste concílio foi o seguinte.
“Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardar” (At 15.28-29).

Mesmo que alguns desses movimentos tenham surgido com objetivos nobres, buscando a restauração espiritual da Igreja, quase sempre finda por trilhar o caminho dos desvios doutrinários. Neste ponto, cabe uma rápida apreciação de um dos textos clássicos no Novo Testamento relativo ás fontes e aos perigos dos desvios da fé, explicitado pelo apóstolo Pedro (2ª Pe 2.1-3).

Os fariseus da era apostólica estavam acrescentando algo mais no evangelho de Cristo, mas neste concílio o Espírito Santo estava presente e orientava os apóstolos para que eles pudessem entender o verdadeiro sentido da graça de Cristo e não impor nem um encargo (leis) além do que já haviam aprendido com Cristo.

A independência da igreja é respeitada. As conclusões do concílio apostólico são escritas e enviadas como mandamentos de uma hierarquia, mas como conselhos importantes. O selo do Espírito Santo adiciona peso e harmonizaria possíveis divergências.

Encontramos neste contexto a narrativa que demonstra a importância para aqueles que têm o ministério do ensino ficar atentos a certos ensinos que contrariam a fé cristã. São muitas as fontes que ameaçam a Igreja.

Em muitas epístolas do apostolo Paulo, expressa abertamente o terrível combate contra o ferrenho farisaísmo, que ainda hoje, continua sendo, talvez, o maior problema das igrejas cristãs.

Os judaizantes tentavam arrastar os novos crentes para as práticas cerimoniais judaicas como prerrogativa para uma vida justa. Se pudéssemos ser salvos e levados a uma relação correta e legitima com Deus através do cumprimento de determinadas normas e regras, por melhor que sejam então Jesus nem precisaria ter morrido por nós.

Qualquer pessoa ou religião que ignora ou nega o sacrifício de Jesus como elemento único e suficiente para a salvação não pode ser considerado cristã.

4.2. Os judeus gloriam-se na religião.
“Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?” (Rm 2.17-21).

Justamente quando os líderes pensavam que ganhariam elogios, foram denotados. Paulo disparou: “Vocês, judeus, confiam na lei, em vez de confiar no Legislador, e ufanam-se de ter o monopólio de Deus. Vocês estão convencidos de que são uma parte dos eleitos privilegiados que “sabem” (sem sombra de dúvidas) o que Deus quer que se faça. E se isso não fosse ruim bastante, vocês “pensam” que são uma dádiva de Deus para os loucos e confusos. De fato, vocês “pensam” que sabem tudo, no entanto não sabem nada.

4.3. Os gentios não faziam parte do pacto da circuncisão e, por isso, estavam excluídos da aliança com Deus.
A ideia aqui é explicar o conceito espiritual que tais termos apresentam na Epístola. Nesse sentido, ao explicá-lo, atente para o seguinte texto: “No verso 11, Paulo lembra aos seus leitores gentios a condição desvantajosa de seu estado anterior ao evangelho. Gênesis 1–2 revela a unidade fundamental da raça humana em seu início. Após a queda (Gn 3) e o grande dilúvio (Gn 6–8), ocorreu a desintegração e a humanidade foi dividida em diferentes nações, Deus escolheu Abraão e seus descendentes judeus para serem o povo do pacto divino (Gn 12–50). A circuncisão dos homens judeus tornou-se um sinal exterior para lembrá-los de sua identidade e das responsabilidades que tinham neste pacto” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.414).

A respeito da circuncisão  no AT e NT.
“O Antigo Testamento efatiza a circuncisão tanto no sentido espiritual quanto no sentido carnal. O Novo Testamento valoriza somente o sentido espiritual ao atribuir-lhe um significado mais profundo, relacionando-a com a crucificação e a ressurreição de Cristo.”  Para saber mais: (Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p.423).

II. ESTRANHOS AO CONCERTO DA PROMESSA

Nessa parte, o apóstolo Paulo aponta a situação dos gentios: “Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa” (2.12).

1. Uma vida sem Cristo.
Ao descrever a história passada dos gentios, o apóstolo traz à memória que “naquele tempo”, isto é, antes da regeneração, eles viviam imersos no paganismo e, portanto, “sem Cristo”. Isso indica que a religiosidade dos gentios era incapaz de inseri-los na promessa messiânica de salvação (Jo 4.22). Também significa que eles desconheciam a Cristo, como também eram indiferentes às promessas acerca d’Ele e de sua obra (Hb 8.8-10).

1.1. O ministério sacerdotal de Cristo pertence ao Reino celestial. Ele ministra no céu, e não no tabernáculo de Moisés (vs. 1, 2, 5). Seu sacrifício foi algo eterno, não oferecido como dons segundo a lei (v. 3,4). Pois Ele é o Mediador de um novo concerto (v. 6). Esses tópicos são desenvolvidos mais adiante (Hb 8.7;10.18).

A citação de Jeremias 31.31-34 demonstra que mesmo no Antigo Testamento já era reconhecido que haveria de vir um outro ou segundo (v. 7) concerto.

1.2. O novo concerto é o mesmo melhor concerto do versículo (Hb 8.6). Esse pacto foi feito com os antigos Israel e Judá, mas é a Igreja que desfruta das bênçãos espirituais desse concerto. O concerto abraâmico, feito com Abraão e seus descendentes (Gn 17.7), que herdariam a terra (Gn 12.7; 13.14,15), continha também promessas espirituais (Gn 12.3), das quais a Igreja participa (Rm 11.11-27; G1 3.13,14). O novo concerto é, de fato, o cumprimento da redenção espiritual, prometida nos pactos de Deus com Abraão e Davi (Mt 26.26-29; Lc 22.20).

1.3. Existem quatro pontos característicos no novo concerto (Hb.8.10-12).
(1) A lei de Deus ser escrita na mente e no coração dos cristãos, em contraste com a lei de Moisés, escrita em tábuas de pedra;
(2) Os cristãos terem um relacionamento com Deus, em cumprimento à promessa em Levítico 26.12 (2ª Co 6.16);
(3) Todos conhecem a Deus - os fariseus e escribas não precisariam mais ensinar a complexidade da Lei ao povo;
(4) Deus perdoaria os pecados dos remidos e de seus pecados não se lembraria mais. O contínuo sacrifício de animais para expiação dos pecados cessaria.

1.4. Uma aliança melhor. A presença de um novo e melhor concerto (Hb 8.13), demonstra não só que o primeiro concerto não era mais suficiente (Hb8.7), mas também que foi tornado velho e perto de acabar. Na época em que o autor de Hebreus escreveu essas palavras, é possível que as leis cerimoniais ainda fossem observadas no templo em Jerusalém. Em 70 d.C., no entanto, o general romano Tito destruiria o templo, cumprindo essas palavras.

2. Separados da comunidade de Israel.
Ainda no versículo 12 o apóstolo salienta a desvantagem de os gentios não pertencerem à comunidade de Israel (2.12). Eles estavam excluídos não só dos símbolos externos, mas também não faziam parte do povo escolhido, e, consequentemente, não podiam usufruir dos privilégios da aliança de Abraão (Rm 9.4). A constatação cruel era a de que Deus não havia se revelado aos gentios, pois a chamada divina fora feita somente a Abraão e a sua descendência (Gn 17.17). Nessa perspectiva, a lei e as promessas pertenciam somente aos judeus e, desse modo, os gentios estavam fora do alcance das bênçãos prometidas a Abraão, a Isaque e a Jacó (Mt 22.32). Entretanto, o que os gentios precisavam saber era que por meio de Cristo, eles também se tornariam descendência de Abraão (Gl 3.29).

3. Alienados aos pactos das promessas.
Uma vez separados da comunidade de Israel, os gentios desconheciam totalmente os vários pactos que Deus estabelecera com os patriarcas israelitas. Esses pactos giravam em torno da grande promessa do advento do Messias (At 13.32-37). Dentre eles: o “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3), o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14) e o “pacto davídico” (2ª Sm 7.13-16). Esses pactos eram reiterações da promessa messiânica. Os gentios não tinham noção deles e, por conseguinte, estavam alienados de qualquer promessa ou esperança messiânica. Agora, uma vez regenerados em Cristo, é revelada a grandeza do amor divino.

4. De alienados da promessa, por meio do sangue de Jesus, os gentios tornaram-se herdeiros da maravilhosa promessa (Gl 3.29).
Os judeus consideravam Abraão como seu pai e fonte de suas bênçãos espirituais. Eles acreditavam que a simples ascendência física de Abraão os tornava justo. Paulo mostra que Abraão agradou a Deus pela fé e não por realizar obras da lei, uma vez que a lei não existia na época de Abraão. Ele também insiste que os verdadeiros filhos de Abraão, e herdeiros da bênção prometida, são aqueles que vivem pelo princípio da fé. Paulo apresenta as alternativas da fé (v. 11), e da lei (v. 12) como formas de justificação. Entretanto, ao invés de justificar, a lei mal diz (v. 10), pois faz exigências que ninguém pode cumprir.

4.1. O direito de estar diante de Deus vem somente pela fé. “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa, porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão” (Rm 4.13-15).

Abraão recebeu à promessa de Deus pela fé, muito antes que a lei de Moisés fosse enviada. A salvação não é obtida mediante a observação da lei. O legalismo muda o foco do poder de Deus, transferindo-o para a habilidade de alguns indivíduos em observar a lei. Com a lei surgiu um crescimento de consciência de pecado e ira de Deus. Por meio da fé é que se concretiza a promessa de Deus (2ª Co 4.6).

Os verdadeiros herdeiros de Abraão são os que recebem a promessa de Deus pela fé, assim como Abraão. Todos os que têm fé em Jesus Cristo são herdeiros da promessa de Deus. Os verdadeiros descendentes de Abraão não são aqueles que estão debaixo da lei, mas aqueles que têm fé (Rm 4.16-25).
A antiga condição dos gentios era desoladora: viviam sem Cristo, estavam separados de Israel e eram estranhos ao concerto da promessa.

“Falando mais especificamente sobre a alienação dos gentios, o apóstolo enumera as tragédias espirituais envolvidas neste estado. Primeiramente, estes efésios estavam sem Cristo (12; ‘separados de Cristo’, NTLH). Antes de ouvirem e responderem à palavra da graça, eles não tinham ‘parte ou parcela no povo messiânico’, fato que significava que eles não possuíam a esperança do Messias ou qualquer benefício que viesse junto com isto. Sua história era sem Cristo. Não há tragédia maior para o ser humano. Em segundo lugar, eles estavam separados da comunidade de Israel (12). A alienação é expressa aqui por apallotrousthai, que significa essencialmente ‘excluído da’ (BJ) e não mero afastamento temporário de uma agregação anterior.

Comunidade (politeia) tem dois sentidos: 1) estado ou nação; e, 2) ‘cidadania’, ou direitos de cidadão. O primeiro significado está de acordo com a exclusividade nacional dos judeus. Os gentios estavam fora da comunidade do povo de Deus, com exceção de alguns prosélitos” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A. (et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.139).

4.2. A lei nos serviu de aio.
“De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo para que pela fé fôssemos justificados. Mas depois que a fé veio já não estamos debaixo do aio. Porque todos são filhos de Deus pela fé em Cristo. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.24-29).

A lei de Deus nunca teve o propósito de justificar pecadores. Como “aio”, (gr. paidagogos), a lei foi dada como padrão para revelar a iniqüidade e a imperfeição humana.

O “aio” representa uma função única nas antigas famílias gregas e romanas. O aio, ou paidagogos, “tutor”, não era mestre, mas o guia e guardião que disciplinava a criança. No mundo romano, um escravo de confiança da família era encarregado de tomar conta do menino entre seis e dezesseis anos; levá-lo á escola e trazê-lo de volta para sua casa, supervisionando sua conduta. Semelhantemente, a Lei exercia apenas um papel disciplinar, servindo de aio para conduzir-nos a Cristo. Isso mostra a sua inferioridade em relação ao Evangelho. Sua função terminou com a vinda do Messias (Gl 3.25). Agora, somos livres da Lei, mas dependentes da graça de Deus.

Paulo descreve o poder do Evangelho em contraste com a lei. A lei conduziu Israel ao Messias, e Ele os tirou dessa maldição. Somos justificados pela fé, ficamos livres da lei, tornamo-nos filhos de Deus, somos um em Cristo, as divisões desaparecem, e somos também herdeiros da promessa, descendentes de Abraão. Depois que a fé veio não estamos mais debaixo do aio, ou seja, debaixo da lei.

A lei mosaica funcionou como tutor do povo de Deus até que viesse a salvação pela fé em Cristo. Agora que Cristo já veio, acabou a função da lei como supervisora. Por isso, já não se deve buscar a salvação através das provisões do Antigo Concerto, nem pela obediência às suas leis ou sistema de sacrifícios.

“E por isso é mediador de um Novo Testamento, para que, intervindo a morte para a remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro Testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento necessário é que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive”? (Hb 9.15-17).

A salvação agora tem lugar de conformidade com as provisões no Novo Concerto, a saber: a morte expiatória de Cristo, Sua ressurreição gloriosa e o privilégio de sermos chamados filhos de Deus por adoção. Na velha aliança não houve morte, e por isso não deixou de ter valor, mas no Novo Testamento houve morte, por isso tem validade.

A lei continua sendo o mestre, mas somente Cristo é o Salvador. A lei determina as justas exigências de Deus e revela que todas as pessoas são culpadas por serem incapazes de cumprir perfeitamente todas as exigências da lei. Aqueles que creem em Cristo não são mais considerados culpados, mas são contados como justificados perante de Deus.

A Lei impediu que a Fé fosse vivida na sua plenitude, para Paulo essa fé estava latente e haveria de revelar-se (3.23) em Cristo Jesus. O que nos justifica perante Deus é a Fé (3.24) e não o cumprimento da Lei. AIO significa Pedagogo ou alguém que educa até um determinado momento, após adquirirmos maturidade espiritual (Experimentar a fé) o AIO pode ser dispensado (3.25).

O sacrifício de Jesus e a fé que é contemplada diante do seu ato Vicário transforma todos, exatamente todos “UM EM CRISTO” (3.28). Cristo é o unificador de todas as raças, é aquele que destruiu a muralha da desigualdade tornando todos iguais perante Deus. Paulo finaliza o capítulo lembrando que todos que são descendentes de Deus em Cristo, são participantes naturais da Promessa feita a Abraão (3.29).

III. SEM ESPERANÇA E SEM DEUS

Agora Paulo passa a descrever a situação dos gentios que viviam “não tendo esperança e sem Deus no mundo” (2.12).

1. Desprovidos de esperança.
A palavra esperança traz a ideia de “confiança” e, nas Escrituras, o seu principal uso está ligado à confiança nas promessas divinas (Sl 130.5; Jr 17.7). Podemos afirmar que os gentios eram desprovidos dessa esperança por causa de parte da filosofia grega, que descartava a possibilidade de uma vida além-túmulo (At 17.18,32), e que, consequentemente, pudesse ser ditosa. Além dessa questão, embora Deus tivesse decretado incluir os gentios no plano da salvação, eles mesmos ignoravam essa promessa, e, por isso, não tinham em que sustentar qualquer esperança (1 Co 9.10). Como a esperança é a âncora para a alma, os gentios desprovidos dela padeciam de medo e incertezas (Hb 6.18,19; 2ª Co 7.10). Por conseguinte, a falta de esperança e de paz revelava a ausência de Deus.

2. Sem Deus no mundo.
A expressão “sem Deus” não significa que os gentios não serviam ou não acreditavam numa divindade (1ª Co 8.4; Gl 4.8). Ao contrário, eles eram politeístas e idólatras, pois acreditavam e adoravam a muitos “deuses”. Assim, por meio de seu paganismo, estavam alienados do Deus que havia se revelado a Israel (Êx 19.1-16). Isso significa dizer que suas vidas eram regidas pela falsa ideia de divindades pagãs que as mantinham escravizadas em densas trevas espirituais. Trata-se de uma descrição de um quadro calamitoso. Entretanto, e felizmente, esse quadro foi alterado pela intervenção dos desígnios eternos do verdadeiro Deus (Jo 17.3).

A antiga condição dos gentios era lamentável, desprovidos de esperança e sem Deus na vida caminhavam a passos largos para a perdição e ao inferno.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“A quarta tragédia espiritual, em consequência da anterior, é que estes efésios não possuíam esperança e estavam sem Deus (12). A ruína moral e espiritual de tais gentios era completa. Eles não tinham esperança do ‘triunfo final da justiça e amor divino; para eles, as questões finais da história do mundo eram sombrias, preocupantes e incertas. A época de ouro deles estava no passado e irremediavelmente perdida, ao passo que a época de ouro do povo judeu estava no futuro’. Alguém observou que precisamos de uma esperança infinita, que só a fé em Deus pode dar. Westcott repara no patético da estranha combinação sem Deus (atheoi, ‘ateus’) e sem esperança. Eles enfrentavam a natureza e a vida sem esperança, porque não tinham relação com o Intérprete da natureza e da vida. Wescott afirma que ‘os gentios tinham ‘muitos deuses’ e ‘muitos senhores’, e um Deus como ‘causa primeira’ nas teorias filosóficas, mas nenhum Deus que amasse os homens e a quem os homens pudessem amar” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A. (et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.139).

CONCLUSÃO
Noutro tempo éramos incircuncisos e estávamos excluídos da aliança com Deus. Separados de Cristo e de Israel vivíamos alienados ao concerto da promessa, desesperançados e longe de Deus. Um dia, porém, a magnitude do amor divino circuncidou os nossos corações, aproximou-nos de Cristo e de Israel, incluiu-nos na esperança da promessa e revelou a nós o único e verdadeiro Deus. Bendito seja o seu santo nome para sempre!

FONTE PESQUISA

1. ALMEIDA, Trad. João Ferreira. Bíblia Sagrada BÍBLIA SHEDD.

2. ANDRADE, Claudionor Correia de. Dicionário Teológico – CPAD – RJ.
3. ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. CPAD – RJ.
4. BAPTISTA, Douglas. Lições Bíblicas do 2° trimestre de 2020 – CPAD – RJ.
5. HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
6. HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD – RJ.