TEOLOGIA EM FOCO

sábado, 27 de novembro de 2021

A CONSAGRAÇÃO DO SACERDOTE

 


Levítico 8.1-13 “O Senhor disse a Moisés: 2- Traga Arão e seus filhos, suas vestes, o óleo da unção, o novilho para a oferta pelo pecado, os dois carneiros e o cesto de pães sem fermento; 3- e reúna toda a comunidade à entrada da Tenda do Encontro. 4- Moisés fez como o Senhor lhe ordenou, e a comunidade reuniu-se à entrada da Tenda do Encontro. 5- Então Moisés disse à comunidade: Foi isto que o Senhor mandou fazer; 6- e levou Arão e seus filhos à frente e mandou-os banhar-se com água;7- pôs a túnica em Arão, colocou-lhe o cinto e o manto, e pôs sobre ele o colete sacerdotal; depois a ele prendeu o manto sacerdotal com o cinturão; 8- colocou também o peitoral, e nele pôs o Urim e o Tumim; 9- e colocou o turbante na cabeça de Arão com a lâmina de ouro, isto é, a coroa sagrada, na frente do turbante, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés. 10- Depois Moisés pegou o óleo da unção e ungiu o tabernáculo e tudo o que nele havia, e assim os consagrou. 11- Aspergiu sete vezes o óleo sobre o altar, ungindo o altar e todos os seus utensílios e a bacia com o seu suporte, para consagrá-los. 12- Derramou o óleo da unção sobre a cabeça de Arão para ungi-lo e consagrá-lo.13- Trouxe então os filhos de Arão à frente, vestiu-os com suas túnicas e cintos, e colocou-lhes gorros, conforme o Senhor lhe havia ordenado.” 

Levítico 9.1,23,24 “E aconteceu, ao dia oitavo, que Moisés chamou a Arão, e a seus filhos, e aos anciãos de Israel. 23- Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram e abençoaram o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo. 24- Porque o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre suas faces.” 

INTRODUÇÃO

Iniciamos esta lição abordando a importância de se valorizar os escritos do AT, já que muitos os consideram como sendo uma mensagem ultrapassada para a Igreja, pois estamos vivendo uma nova dispensação. Esquecendo-se que muito do NT é explicado pelo AT. 

Agostinho escreveu que: “O Novo está contido no Antigo; o Antigo é explicado pelo Novo”. 

Podem-se destacar três figuras básicas na organização do culto no Antigo Testamento: os escribas, os levitas e os sacerdotes. Os escribas eram os escreventes, cuja principal função era copiar as Escrituras. Levitas são descendentes de Levi, um dos doze filhos do patriarca Jacó, filho de Abraão, o Pai da fé. Da tribo de Levi, Deus levantou a Moisés e Arão, para libertação e consagração do povo de Israel. Estabelecido o culto ao Deus Verdadeiro, Deus separou a tribo de Levi em duas classes: (1) Arão e seus descendentes para exercer o sacerdócio, e (2) os que serviam de auxiliares aos sacerdotes, conhecidos apenas como Levitas. Os sacerdotes, por sua vez, eram encarregados do culto divino. Atuavam como mediadores entre Deus e o povo. 

Assim, veremos como se deu a chamada dos filhos de Levi para o ministério sacerdotal. Entre outras perguntas, responderemos a estas: Quem eram os levitas? E por que a sua chamada foi necessária? Veremos ainda como eles deveriam exercer o seu ofício. 

À semelhança dos levitas, nós também fomos chamados a trabalhar na expansão do Reino de Deus. Nesse sentido, atuamos como nação santa, profética e sacerdotal, proclamando o Evangelho e intercedendo tanto pelos crentes quanto pelos que ainda não creem. Que o Espírito Santo nos ajude neste estudo. 

Nos sacrifícios e no sacerdócio temos uma figura do Senhor Jesus Cristo. Ele é perfeito sacerdote. Como sacerdote está diante de Deus para interceder por todos que foram alcançados pelo seu sacrifício. 

I. LEVI, A TRIBO SACERDOTAL 

Em primeiro lugar, vejamos quem foi Levi. Depois, constataremos quão zelosos foram os seus descendentes e como se deu a sua vocação ao ofício sagrado. 

1. O nascimento de Levi. Ao dar à luz a Levi, declarou Lia: “Agora, esta vez se ajuntará meu marido comigo, porque três filhos lhe tenho dado” (Gn 29.34). Por isso, a esposa desprezada de Jacó foi impulsionada a dar o nome de Levi ao seu terceiro filho. E, de fato, os levitas sempre estiveram ligados ao Senhor. Foi assim que o menino passou a ser contado entre os patriarcas das doze tribos de Israel (At 7.8). 

2. O zelo dos levitas. Levi, pelo que inferimos do texto sagrado, sempre teve uma postura zelosa e conservadora em relação à honra da família, haja vista o episódio envolvendo o estupro de sua irmã, Diná (Gn 34.25-31). Mais tarde, após a saída de Israel do Egito, os levitas juntaram-se a Moisés no combate à idolatria gerada pelo bezerro de ouro (Êx 32.26-28). Eram homens da maior firmeza (2º Cr 26.17). 

3. A vocação sacerdotal dos levitas. Não foi sem motivo que o Senhor escolheu a tribo de Levi como o berço de Moisés e Arão (Êx 6.14-27). De um lar tão piedoso, saíram homens e mulheres de comprovada piedade. Aliás, tinha o Senhor uma aliança particular com Levi e sua descendência (Ml 2.4,5). 

Tendo em vista o caráter santo e distintivo da tribo de Levi, aprouve a Deus separá-la para o sacerdócio (Nm 3.45). Nesse processo, o Senhor apresentou os levitas como resgate de toda a nação de Israel. Ao invés de cada família entregar o seu primogênito ao serviço divino, a tribo de Levi foi apartada das demais para dedicar-se inteiramente a Deus (Nm 3.12). Os levitas, pois, foram concedidos como dons a Israel, assim como os obreiros de Cristo foram entregues com o mesmo objetivo à Igreja (Ef 4.8-12). 

4. Acidades dos levitas. Quarenta e oito cidades destinadas para os levitas, por Moisés e Josué (Nm 35.1-8; Js 21). A tribo de Levi não recebeu qualquer parte da terra de Canaã como herança (Nm 18.20-24; 26.62; Dt 10.9; 18.1,2; Js 18.7). Para compensá-los por isso, eles recebiam os dízimos dos israelitas para seu sustento (Nm 18.21), e quarenta e oito cidades lhes foram destinadas, da herança das outras tribos. Dessas cidades os sacerdotes receberam treze (Js 21.4) e seis eram cidades de refúgio, para as quais os homens que acidentalmente matassem alguém podiam ir em busca de proteção (Nm 35. 9-34; Dt 4.41-43). 

II. O SUMO SACERDOTE 

Em todo o AT, vemos Deus sempre vocacionando pessoas para uma obra específica. O sacerdócio era um ofício que exigia a marca da unção para ser exercido. O escritor aos hebreus chega a dizer que esta honra é para quem Deus chama. 

1. O significado da palavra sacerdote. Significado de sacerdote. Sacerdote, no original hebraico כהן, koem são os sacerdotes na Torá, cujo líder era o Cohen Gadol, no grego ιερος / ἱερός hieros hierus, é sagrado no pensamento grego significa quem oferece sacrifícios. 

2. O que é o sacerdócio? O sacerdócio antes do Êxodo se caracterizava pelo ofício exercido pelo chefe de cada família, que tinha o objetivo de passar os valores morais e a noção do verdadeiro Deus de Israel; porém, com a instituição do Tabernáculo e seus diversos rituais tendo que ser cumprido na íntegra, houve a necessidade de se ter alguém responsável por oficializar essas liturgias. Vale salientar que, naquela época, o sacerdócio era hereditário e eles eram responsáveis em manter a pureza para intimidade com Deus. Em nossos dias, podemos comparar este ofício ao exercício ministerial, em que homens vocacionados por Deus exercem seus ministérios; fazendo a vontade de Deus e preparando os membros para o desenvolvimento do corpo (Ef 4.11-14). 

O sumo sacerdote de Israel teria de ser, obrigatoriamente, descendente de Arão, ungido, vitalício e servo de Deus. 

3. Descendente de Arão. Deus em sua soberana vontade escolheu Arão e seus filhos para exercerem o ministério sacerdotal. Não foi uma escolha por mérito da família de Arão.

O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). Por essa razão, o Senhor exigia que ele proviesse de uma tribo específica, a de Levi, e de uma família ainda mais específica, a casa de Arão (Êx 6.16-23). Assim, duplamente separado, tinha condições de apresentar-se como a maior autoridade espiritual da nação; era o símbolo da plenitude espiritual requerida pelo Deus de Israel (Sl 133.1-3). 

Constituído a favor dos homens nas coisas concernentes ao Altíssimo, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos pecados do povo (Hb 5.1). Portanto, ele fazia a intermediação entre o povo de Israel e o santíssimo Deus. Era sua responsabilidade também instruir o povo santo (Lv 10.10,11). 

4. O sumo sacerdote Arão. Por sua infinita graça, Deus separou uma família para que estivesse perante ele para interceder pela nação de Israel. O grande privilégio de Arão e seus filhos também trouxe uma grande responsabilidade perante Deus e diante da nação.

O sumo sacerdote foi escolhido para servir. Da mesma forma o próprio Jesus também veio ao mundo para servir (Mt 20.28). Serviu com a sua vida e com sua morte.

Ele se fez nossa justiça (2ª Co 5.21);

Ele se fez nosso advogado (1ª Jo 2.1);

Ele se fez nosso confessor (1ª Jo 1.9,10);

Ele se fez nosso intercessor (Hb 7.25);

Ele se fez nosso precursor (Hb 6.20);

Nossa garantia de entrar no céu pela sua morte (Fp 2.8). 

5. Ungido para o ofício. O Senhor determinou que o sumo sacerdote fosse ungido a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). Sob a unção divina, teria condições de tornar a nação israelita propícia diante do Santíssimo Deus (Hb 5.1). 

Moisés ungiu o tabernáculo e em seguida Arão (Lv 8.10, 12). Observemos que Arão foi ungido antes do sacrifício ser realizado. Um tipo do Senhor Jesus Cristo, que foi ungido no início do Seu Ministério (Lc 4.18), e antes de morrer na cruz. Todo israelita precisava de um sacerdote para poder chegar a presença de Deus, assim, em Cristo todo salvo tem a ousadia para chegar diante do Senhor. A unção sobre Arão era a aprovação e confirmação de Deus para que ele tivesse autoridade para exercer o ministério sacerdotal em favor de todos os crentes (Hb 7.21). 

6. Vitalício no cargo. A vitaliciedade do sumo sacerdócio está patente na história da família de Arão. Antes de este morrer, Moisés o desvestiu das roupas sacerdotais, para vesti-las em Eleazar, seu filho (Nm 20.23-29). Mais tarde o mesmo Eleazar seria substituído por seu filho Fineias (Js 24.33; Jz 20.28). Todavia, no tempo do Novo Testamento, a vitaliciedade já não era observada (Jo 11.49-51). Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2). 

7. Servo de Deus. Apesar da importância do cargo, o sumo sacerdote não era considerado infalível, nem estava acima da Lei de Deus. Sua obrigação era servir o altar e conservar-se puro, a fim de que o nome do Senhor fosse exaltado entre os filhos de Israel (Êx 28.43). O capítulo três de Zacarias descreve a dignidade do sumo sacerdote constituído sobre Israel. 

8. Duas qualificações são necessárias para um verdadeiro sacerdócio. 

8.2. O sacerdote deve ser compassivo, manso e paciente com aqueles que se desviam por ignorância, por pecado involuntário e por fraqueza (Hb5.2; 4.15; cf. Lv 4; Nm 15.27-29). 

8.2. Deve ser designado por Deus (Hb 5.4-6). Cristo satisfaz ambos requisitos. Cristo aprendeu pela experiência o sofrimento e o preço que com frequência se paga pela obediência a Deus num mundo corrupto (Hb 12.2; Is 50.4-6; Fp 2.8). Ele se tornou o Salvador e sumo sacerdote perfeito, porque seu sofrimento e morte na cruz ocorreram sem pecado. Por isso, Ele estava qualificado em todos os sentidos (Hb5.1-6), para nos prover a eterna salvação. (Bíblia de Estudo Pentecostal. 

III. O VESTUÁRIO SACERDOTAL 

Na descrição sobre o Tabernáculo, Deus fala a Moisés sobre as vestimentas sacerdotais nos mínimos detalhes. As roupas sacerdotais, além de mostrar o Ofício e a responsabilidade, apontavam para a autoridade Divina e suas funções, e para Jesus, o Sumo Sacerdote eterno. 

1. Linho fino e túnica branca. Estas peças traziam características que mostravam o quanto os sacerdotes deveriam primar pela santidade. O tecido feito de linho fino representa a realeza e a túnica Branca servia para que o sacerdote jamais se esquecesse de que sua vida deveria ser Santa. Nós, como sacerdotes, precisamos primar por uma vida de santidade e servir integralmente a Deus, pois somos Seus embaixadores. 

2. As orlas tinham companhias de ouro. As orlas da toga sacerdotal eram ornamentadas com companhias de ouro e romãs azuis que se alternavam. Como a romã tem muitas sementes é considerada símbolo de uma vida frutífera; já as companhias de ouro, eram usadas quando o sumo sacerdote ministrava no lugar Santíssimo, pois o barulho delas indicava que o sumo sacerdote não havia morrido. Tudo tinha uma mensagem, e precisamos atentar a estes detalhes a de cumprir com excelência o ministério do Senhor. 

3. O Éfode, o Urim e o Tumim. É necessário falar sobre dois acessórios sacerdotais que têm muito a ver com seu ofício. O Éfode era um corpete contendo 12 pedras de diferentes cores e tipos; simbolizando que o sumo sacerdote deveria carregar as tribos em seu coração, intercedendo por eles. Outro acessório da indumentária é o Urim e Tumim, que eram duas pedras usadas para consultar a vontade de Deus, pois ao sumo sacerdote cabia a tarefa de mostrar ao povo a soberana vontade de Deus. 

IV. A CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA 

1. O senhor Deus convoca toda a congregação. Para a realização do ato de consagração dos sacerdotes, Moisés convoca toda a congregação à porta da tenda da congregação (Lv 8.3), como o Senhor lhe ordenara. Todos eles foram lavados com água, símbolo da Palavra de Deus, e depois os vestiu. Uma simbologia perfeita do que acontece com os que hoje são chamados para o serviço do Mestre, pois são purificados pela lavagem da Palavra de Deus e vestidos com as vestes da salvação. Toda a congregação assistiu à cerimônia daqueles que estariam incumbidos do privilégio de responderem pelos interesses mais importantes perante o Senhor (Lv 8.5). 

2. O sacrifício de Arão. Mesmo sendo escolhido para ser o sumo sacerdote, Arão era pecador e necessário era o sacrifício para que pudesse estar diante de Deus pela nação de Israel: “Então fez chegar o novilho da expiação do pecado; e Arão e seus filhos puseram as suas mãos sobre a cabeça do novilho da expiação do pecado.” (Lv 8.14). Sabemos que pelo pecado do sacerdote era necessário um novilho (Lv 4.4). E para começar o seu ofício, Arão precisou ter os seus pecados expiados. Toda pessoa que queira servir a Deus tem que ter a experiência da regeneração: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.” (Tt 3.5). 

“Em seguida trouxe o novilho para a oferta pelo pecado, e Arão e seus filhos puseram-lhe as mãos sobre a cabeça.” (Lv 8.14).

V. A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES 

A palavra consagrar significa “separar para uso de”. A partir da consagração, o sacerdote seria separado para uso exclusivo de Deus, tendo que viver uma vida digna de sua vocação e fidelidade a Ele. 

1. A consagração dos filhos de Arão. Arão e seus filhos separados para o sacerdócio em Israel são uma figura de Cristo e sua igreja. A responsabilidade de Arão era superior a de seus filhos, mas os filhos de Arão também eram sacerdotes. A igreja de Cristo é chamada de sacerdócio real (1ª Pe 2.9). O sacerdócio da igreja é junto com Cristo, assim como o dos filhos de Arão era com seu pai. 

Enquanto a santificação é uma separação, a consagração tem o sentido de entrega a Deus. Em (Lv 27.28-30) vemos de forma bem clara que tudo que é consagrado ao Senhor passa a pertencer ao Senhor. 

Todavia, nenhuma coisa consagrada, que alguém consagrar ao Senhor de tudo o que tem, de homem, ou de animal, ou do campo da sua possessão, se venderá nem resgatará; toda a coisa consagrada será santíssima ao Senhor. 

Toda a coisa consagrada que for consagrada do homem, não será resgatada; certamente morrerá. Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. (Lv 27.28-30). 

Os sacerdotes eram consagrados ao Senhor (pertenciam ao Senhor), como nós hoje:

Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus. (1ª Co 6.20). 

2. O sangue nos sacerdotes. Após o sacrifício do animal. Arão e seus filhos estão juntos. Que bela figura de Jesus se identificando com os Seus após ter morrido e ressuscitado. Após a morte e ressurreição de Jesus, a Igreja pode ser morada de Deus, habitação do Espírito Santo. O sangue foi aplicado em Arão como também em seus filhos. O sangue que foi derramado à base do altar era imprescindível em todo o sacrifício pelo pecado (Lv 8.15). A consagração de Arão junto com seus filhos foi com o sangue do carneiro (Lv 8.23), significando que tudo que é oferecido a Deus ou útil para o serviço a Deus tem como fundamento o sangue do sacrifício. 

3. O segundo carneiro da consagração (Êx 29.19-35). Era necessário que outro animal inocente fosse morto. Segundo o Comentário Bíblico Beacon, “parte do sangue era colocada primeiramente na orelha direita, no dedo polegar da mão direita e no dedo polegar do pé direito”. O restante do sangue deveria ser derramado sobre o altar. Sem derramamento de sangue não há remissão de pecado (Hb 9.22). Tudo apontava para o Calvário, onde Cristo derramou seu sangue por nós.

Depois mandou trazer o outro carneiro, o carneiro para a oferta de ordenação, e Arão e seus filhos colocaram as mãos sobre a cabeça do carneiro. Moisés sacrificou o carneiro e pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita de Arão, no polegar da sua mão direita e no polegar do seu pé direito. (Lv 8.22,23). 

4. O azeite nos sacerdotes.

Óleo de oliva

Fazia parte da oferta de manjares (Lv 2.1), era usado como combustível para as lâmpadas (Mt 25.3,4). A beleza produzida pelo óleo pode sublinhar o seu uso na vida religiosa, porque os objetos consagrados ao serviço de Deus eram ungidos com óleo. O profeta (1º Rs 19.16), o sacerdote (Lv 8.12) e o rei (1º Sm 16.13; 1º Rs 1.34) eram ungidos com óleo por serem separados, ou consagrados ao serviço de Deus. O uso ritual era tão importante que se considerava ofensa, levando à excomunhão, usar o óleo santo da unção para fins comuns (Êx 30.32,33) e a pessoa que tivesse recebido tal unção devia ser obedecida (1º Sm 24.6). 

O profeta falava ao povo da parte de Deus, o sacerdote representava o povo diante de Deus e o rei estabelecia a lei de Deus.

A palavra para “unção” é Maseiah, e o Messias é, portanto, “o ungido”. Jesus reuniu em si mesmo a tripla função de profeta, sacerdote e rei. 

Muito simbolismo é envolvido nisto. O Óleo parece ter sido reconhecido como um dom de Deus; a oliveira que cresce num lugar rochoso produzirá abundância de Óleo. O óleo é, pois, associado com o dom de Deus e com o derramamento do Espírito feito por Deus. Jesus disse que o Espírito de Deus estava sobre Ele porque o Senhor o havia ungido (Is 61.1; Lc 4.16-21). 

Após o sacrifício oferecido no altar e o sangue ser colocado sobre Arão e seus filhos (orelha, mão e pé) o sangue e o azeite podem ser espargidos sobre eles. Antes Arão foi ungido sozinho, mas agora ele pode estar junto dos seus filhos. Após Sua morte e ressurreição Jesus pode se identificar com os Seus. Jesus veio para buscar o que se havia perdido e conceder ao homem desfrutar do que Ele sempre gozou junto com o Pai: “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.” (Jo 17.19). 

A santificação dos filhos de Arão aconteceu junto com o seu pai. A santificação da Igreja não acontece fora de Cristo. Todos os meios de purificação da alma que o homem inventa são totalmente inúteis diante de Deus. A santificação é oferecida por Deus ao homem através da obra que Jesus realizou e para que o homem possa dela desfrutar precisa ser um com Jesus Cristo. Toda a perfeição que o homem busca só é encontrada em Jesus. O homem só pode estar na presença de Deus com vestes santas, vestes dadas por Deus, para que não se esconda como fez Adão. 

5. Qual era o significado da unção de Arão como sumo sacerdote? O sumo sacerdote tinha deveres especiais que nenhum outro sacerdote tinha. Só ele podia entrar Santo dos Santos no Tabernáculo no Dia da Expiação anual para expiar os pecados da nação. Portanto, ele estava no comando de todos os outros sacerdotes. O sumo sacerdote era um retrato de Jesus Cristo, que é nosso Sumo Sacerdote (Hb 7.26-28). (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal - CPAD - pág.212). 

“Porque nos convinha tal sumo sacerdote santo, inocente, imaculado, separado dos pecados e feito mais sublime do que os céus, que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente, por seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre.” (Hb 7.26-28). 

6. Pormenores da consagração. Na cerimônia de consagração, primeiro acontecia a lavagem por completo, que simbolizava a purificação interna, depois se recebia as vestes sacerdotais, simbolizando a dignidade para o ofício e somente depois se derramava o azeite da unção, para representar a unção do Espírito Santo sobre a vida do vocacionado. Tinha também a aspersão do sangue de carneiro sobre a ponta da orelha direita e sobre o dedo polegar do pé direito (Êx 8.24). Este ritual deixa claro que o ouvido de Arão deveria estar sintonizado com a voz de Deus, assim como suas mãos deveriam se esforçar no desempenho da função sacerdotal e seus pés caminharem sem se cansar para cumprir com excelência sua vocação. 

7. Jesus e o sacerdócio perfeito. Todos os pormenores do Tabernáculo apontavam para a obra de salvação. Jesus não foi somente o sacrifício perfeito, mas também o Sumo Sacerdote por excelência. O escritor aos Hebreus, nos capítulos 4 e 5, mostra a superioridade de Cristo em relação aos demais sacerdotes: Jesus não pecou, cumprindo na íntegra a coroa que os sacerdotes usavam com a epígrafe: "Santidade ao Senhor". Destacamos ainda que o sumo sacerdote entrava uma vez por ano no Lugar Santíssimo para oferecer sacrifício pelo povo, enquanto Jesus abriu a porta, dando, aos santos, acesso ao trono de Deus por intermédio de Seu sangue. O sacerdócio de Cristo não é local, e sim universal. Em Cristo, converge todo o Tabernáculo. 

VI. A GLÓRIA E O FOGO DO SENHOR 

Após a consagração de Arão e seus filhos, Deus faz através de Moisés uma promessa: “porquanto hoje o Senhor vos aparecerá” (Lv 9.4). Tudo o que temos estudado no livro de levítico até agora se resume muito bem nessa promessa. Deus quer um povo santo para que possa conviver no meio dele. 

1. Comendo na tenda da congregação. Arão e seus filhos deveriam ficar sete dias na porta da tenda da congregação. Eram os dias necessários para a consagração deles. Deveriam se alimentar naquele local e fazer tudo o que fora ordenado, pois se assim não fizessem morreriam (Lv 8.35-36). Assim, aprendemos os princípios bíblicos sobre o cuidado, seriedade, zelo e preparo para o exercício do ministério. Os detalhes aqui apresentados não são exigidos hoje para os obreiros da Igreja, porém os princípios permanecem (At 6.1-3; 1ª Tm 3.1-13; Tt 1.5-9). 

A passagem bíblica de Levítico 8.31 ensina para a Igreja de Jesus que, como Arão e seus filhos, estamos também nos alimentandos do que há na tenda (a Palavra de Deus), e não podemos buscar outro alimento, porque se assim o fizermos morreremos. 

Devido o ministério sacerdotal ser consagrado a Deus (pertencer a Deus), em todo tempo eles eram sustentados por Deus. 

O Pr. Antônio Gilberto faz uma observação interessante sobre o assunto:

Os verdadeiros ministros da igreja são chamados e vocacionados pelo Senhor. O ministério pastoral não é simplesmente um cargo ou uma forma de se alcançar status seja ele qual for. Muitos querem viver da obra e não para ela. Quem exerce o santo ministério sem a direta chamada do senhor (o dono da obra) é um intruso e está profanando a obra de Deus. (Pr. Antônio Gilberto - Revista CPAD – 1º Trimestre 2014 - página 80). 

2. Fogo do Senhor. Quando tudo é feito conforme Deus diz que deve ser feito, então acontece o que encontramos em Levítico 9.24: “o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar”. Essa foi a confirmação de que Deus aprovou tudo o que fora feito. Ele mesmo acendeu o altar de Israel e agora a responsabilidade dos sacerdotes era manter o fogo aceso. A regra é simples: Deus acende o fogo no altar e aos Seus servos compete mantê-lo aceso. Infelizmente, o altar de Israel se apagou. Deus acendeu o fogo da Igreja no dia do Pentecostes. Como estamos hoje? 

Com a manifestação poderosa do Senhor queimando a oferta que estava sendo oferecida sobre o altar, o povo se prostrou com júbilo em adoração a Deus. Era um alarido que o povo manifestava, pois estava no seu lugar. O sacerdote Arão, seus filhos, os sacrifícios, o sangue do perdão, a unção, a tenda ungida, tudo para glória de Deus e alegria do Seu povo; assim, o Senhor se manifestou de modo grandioso, com fogo saindo da Sua presença. Deus hoje quer se manifestar de modo semelhante na vida de cada um dos Seus filhos, para que também venhamos nos prostrar em júbilo na Sua presença. 

V. DIREITOS E DEVERES 

Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual. 

1. Viver do altar. Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, desse mesmo altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção era o Senhor (Nm 18.20). Moisés, porém, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio aos que, acidentalmente, matavam alguém (Nm 35.6). 

2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao Senhor” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3). 

3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de ser uma referência espiritual, moral e ética para os filhos de Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se um péssimo exemplo aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1º Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor, pois Ele continua a exigir santidade de todo o seu povo (1º Pe 1.15). 

O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4; Hb 7.13-17). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal, pois recebemos a incumbência de proclamar o Evangelho e interceder pelos que perecem (1ª Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, através de nossa vida, venha o Reino de Deus a este mundo que jaz no Maligno. 

Temos em Cristo um Sumo Sacerdote perfeito que entrou uma vez o santuário celeste com o seu próprio sacrifício, realizando uma perfeita redenção e outorgando a todos os que creem a ousadia para entrar e permanecer na presença de Deus.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

FOGO ESTRANHO DIANTE DE DESUS

 


Levítico 10.1-11 “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara. 2- Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR. 3- E disse Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se. 4- E Moisés chamou a Misael e a Elzafã, filhos de Uziel, tio de Arão, e disse-lhes: Chegai, tirai vossos irmãos de diante do santuário, para fora do arraial. 5- Então, chegaram e levaram-nos nas suas túnicas para fora do arraial, como Moisés tinha dito. 6- E Moisés disse a Arão e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, para que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o SENHOR acendeu. 7- Nem saireis da porta da tenda da congregação, para que não morrais; porque está sobre vós o azeite da unção do SENHOR. E fizeram conforme a palavra de Moisés. 8- E falou o SENHOR a Arão, dizendo: 9- Vinho ou bebida forte tu e teus filhos contigo não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações, 10- para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, 11- e para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado pela mão de Moisés.” 

INTRODUÇÃO

O livro de Levítico diz respeito aos levitas e é um verdadeiro manual sobre as atribuições e responsabilidades dos sacerdotes de Israel. Orientações quanto ao que deveriam fazer e o que estavam proibidos de fazer, a fim de demonstrarem o zelo do Senhor e honrarem a Sua santidade diante do povo. 

Nesta lição, baseada no capítulo 10 de Levítico, destaca um caso fatídico de descumprimento por parte de dois sacerdotes das regulamentações já estabelecidas por Deus, e o castigo divino que se seguiu imediatamente. Estudemos e reflitamos atentamente, pois há muitas lições que se aplicam também a nós, Igreja do Senhor! 

I. O QUE É FOGO ESTRANHO 

Fogo estranho é a expressão bíblica utilizada para indicar o tipo de fogo trazido por dois sacerdotes e que foram rejeitados pelo Senhor (Lv 10.1-3). A Bíblia diz que Nadabe e Abiú trouxeram fogo estranho diante de Deus e acabaram sendo consumidos. 

Os dois sacerdotes tinham Nadabe e Abiú, tinham sido instruídas por Deus acerca de como proceder na ministração dos cerimoniais que faziam parte do culto no Tabernáculo. 

Levítico 10 fala sobre como os dois sacerdotes se colocaram diante de Deus para lhe oferecer incenso. Porém, Deus não se agradou do que aqueles homens fizeram, e identificou aquilo como “fogo estranho”, algo que o Senhor não lhes tinha ordenado. 

 II. OS PRIVILÉGIOS DE NADABE E ABIÚ 

Jesus disse que: “a quem muito é dado, muito será cobrado, e a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá” (Lc 12.48b). Então avaliemos as dádivas concedidas pelo Senhor aos dois filhos do sumo sacerdote Arão, para que então compreendamos o peso da responsabilidade deles diante dos demais levitas bem como de toda a congregação de Israel, e o porquê daqueles irmãos terem pago com a própria vida pela irreverência que demonstraram. 

1. Ascendência levítica.

1.1. Nadabe e Abiú procediam da tribo de Levi, a única tribo de Israel a qual Deus escolheu para oficiar no culto. 

1.2. Uma tribo de líderes espirituais, cujos filhos homens foram consagrados ao Senhor para o serviço no tabernáculo e, posteriormente, no templo. 

1.3. Era a tribo modelo por assim dizer, a tribo que Deus chamou para ser referência espiritual para as demais.

1.4. Estes irmãos nasceram numa família privilegiada por Deus! (Quantos hoje que nascem num “lar evangélico”, recebendo desde a mais tenra idade educação espiritual de boa qualidade, mas colocam tudo isso a perder tão logo alcançam a juventude? Ignoram para seu próprio prejuízo a criação que receberam junto à pais-pastores, mães de oração, irmãos músicos na casa do Senhor…). 

2. Ascendência arônica.

2.1. Nadabe e Abiú eram sobrinhos de Moisés e filhos de Arão, a quem Deus escolheu para encabeçar o sacerdócio de Israel. Não a outros, mas à família de Arão foi que Deus entregou o ofício sacerdotal, e tanto Nadabe como Abiú, além de seus outros dois irmãos Eleazar e Itamar, teriam, cada um por sua vez, o direito ao posto de sumo sacerdote, visto que este mais elevado cargo religioso seria passado de pai para filhos, por ordem de nascimento. Ou seja, se já eram levitas e sacerdotes, Nadabe e Abiú tinham diante deles um futuro ainda mais promissor! (Quantos de nós hoje temos uma “carreira que nos está proposta” (Hb 12.1), mas preferimos trocar as glórias do porvir pelo prazer efêmero do pecado?) 

3. Participara da glória de Deus.

3.1. Nadabe e Abiú viram ou tomaram conhecimento de muitas manifestações sublimes do poder de Deus:

A. Das pragas que caíram sobre o Egito ao maravilhoso livramento dos primogênitos hebreus por causa do sangue aspergido nas portas.

B. Viram a mão poderosa do Senhor fazendo o mar Vermelho dividir-se em duas bandas, entre as quais uma multidão de judeus passou a pés enxuto; nas mesmas águas do mar Vermelho viram o exército egípcio perecer afogado.

C. Viram o monte Sinai fumegar e tremer diante da maravilhosa manifestação divina na qual os mandamentos foram entregues a Moisés.

D. Viram sinais e maravilhas operados no deserto. 

3.2. Todas estas manifestações divinas que requeriam uma resposta reverente por parte dos adoradores de YHWH. Deus revelou-se grandioso, poderoso e temível (Dt 28.58), e não teria por inocente ao culpado. (Semelhante advertência está posta aos cristãos em Hebreus 6.4-6, quanto aos que receberam e viveram maravilhosas experiências com Deus, mas que desprezaram tudo indo após o pecado e a apostasia conscientemente. Há uma linha que quando ultrapassada não é possível mais voltar!). 

III. FOGO ESTRANHO NO ALTAR 

1. O incenso era coisa santíssima.

1.1. As regulamentações quanto ao altar do incenso, que ficava no primeiro cômodo interno do tabernáculo, o lugar Santo, estão no capítulo 30 do livro do Êxodo. Nos versículos 7 a 10 e 34 a 38 o Senhor dá a Moisés instruções quanto às responsabilidades de quem deveria oferecer regularmente este incenso e que essências deveriam ser usadas. E destaca-se: “O incenso lhes será santíssimo” (v. 36b, NVI). 

1.2. O uso desse superlativo, “santíssimo”, deveria servir para inspirar temor e profunda reverência naqueles que ministrariam culto ao Senhor no tabernáculo. Os irmãos Nadabe e Abiú, e qualquer outro oficial do culto jamais poderiam alegar inocência, ignorância ou desatenção, pois as orientações eram claras e objetivas! 

2. Fogo estranho – que é isso? A expressão “fogo estranho” pode se referir ao modo ilícito que os dois sacerdotes apresentaram o incenso a Deus. Talvez eles não tivessem observado a ordenança divina que regulamentava aquele procedimento. 

Deus havia prescrito o tipo de incenso correto que deveria ser oferecido, e proibido qualquer tipo de “incenso estranho”. Deus também havia indicado como o incenso deveria ser ascendido e queimado (cf. Êx 30.37). O incenso deveria ser queimado continuamente, de manhã e de tarde. As brasas para ascender o incenso deveriam vir do próprio altar (cf. Lv 16.12,13). 

O texto bíblico, porém, revela a imprudência daqueles irmãos: “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara” (v. 1). 

Então Nadabe e Abiú podem ter utilizado incenso errado, ou mesmo usado incensários inadequados; ou ainda ascendido os incensários com brasas de fogo de outra fonte, e não do altar. Nesse último caso, os dois sacerdotes teriam literalmente trazido fogo estranho diante de Deus. 

Discute-se a natureza deste “fogo estranho” oferecido pelos sacerdotes filhos de Arão, mas entre as respostas mais prováveis estão: 

2.1. O incenso não foi feito de acordo com as instruções de Moisés (Êx 30.34-38). 

2.2. O fogo não era proveniente do fogo que estava queimando no altar do holocausto, ou seja, trouxeram fogo de fora (Lv 16.12). 

2.3. A oferta foi feita no momento errado (Êx 30.7,8). 

2.4. Parece que Nadabe e Abiú estavam embriagados, daí o porquê das orientações quanto à proibição da ingestão de vinho logo em seguida a morte deles (Lv 10.8-10). 

2.5. Os filhos teriam assumido uma função que naquele momento cabia exclusivamente ao seu pai, o sumo sacerdote Arão (se assim o for, desonraram também o próprio pai, agindo com impaciência e atrevimento). 

2.6. Nadabe e Abiú foram mortos por terem entrado na presença de Deus com “fogo estranho” em seus incensários. O que seria o “fogo estranho”? Simplesmente as suas próprias obras. O incensário devia ser aceso, usando‑se para isso brasas tiradas do próprio altar do sacrifício. Nadabe e Abiú acenderam seus incensários com fogo que eles mesmos produziram, e foram mortos. O acesso à presença de Deus só pode ser através do altar; através do sacrifício de Cristo. 

Qualquer que tentar ter acesso à presença de Deus com base em suas próprias obras não subsistirá. As brasas tinham que ser tiradas do altar onde o cordeiro havia sido queimado. A adoração e o louvor, e as orações, que hoje oferecemos a Deus como incenso de aroma suave, só podem entrar na Sua presença se forem produzidas em nós pelo sacrifício de Cristo; pelo fogo que um dia consumiu a oferta: o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. 

2.7. O texto bíblico não revela objetivamente o que era o fogo estranho, mas fato é que aquela era uma oferta corrompida, maculada pela desobediência, imprudência, irreverência e desonra. Era um braseiro que não tinha conexão com o fogo legítimo de Deus no altar do holocausto. Christopher Wright comenta:

“O hebraico (zarâ) significa ‘estranho’, ‘vindo de fora’. Talvez tenham tirado [o fogo, isto é, as brasas] de fora do santuário e não do altar, como que dizendo: ‘Qualquer fogo serve’”. 

2.8. Para quem pensa que se pode adorar a Deus de toda maneira – “cada um tem seu jeito de adorar”, dizem alguns modernistas – o texto de Levítico 10 é um chamado à atenção. O Deus que disse a Moisés: “tira as sandálias dos pés porque o lugar que estás é santo” (Êx 3.5), e que deve ser adorado na beleza de sua santidade (Êx 28.36; 1º Cr 16.29), não tolerará que os adoradores se aproximem dele com irreverência. É preciso oferecermos a Deus um “culto racional” (Rm 12.1), com entendimento, com discernimento, para que não sejamos condenados pelo Senhor por banalizar o sagrado e trata-lo como coisa comum. 

3. A adoração deve ser do jeito que Deus quer e determinou. Jesus disse: “que o Pai procura aqueles que o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.23,24). Ou seja, nossa adoração deve partir do mais profundo do nosso ser, e não tornar-se cumprimento de meros ritos formalistas irrefletidos; e deve ser conforme a verdade de Deus, não segundo invenções de nossa mente. Deus deve ser adorado do jeito que Ele quer e merece, não do jeito que bem entendermos, com brincadeiras, irreverência ou misturando elementos de cultos pagãos com o culto santo do Senhor! 

4. Os falsos ministros de hoje. Que será que o Senhor está preparando para aqueles que transformaram a igreja em circo, o púlpito em picadeiro, os ministrantes em palhaços ou comediantes e o culto em verdadeiro show de humor? 

Que será que Deus fará aos que hoje transformaram o púlpito num verdadeiro balcão de negócios? Que será que Deus fará aos que colocam políticos descrentes para falarem ao rebanho do Senhor no culto do Senhor, tomando tempo e espaço na adoração da igreja? Que será que o Senhor, santo e poderoso, fará aos que usam e abusam de falsas profecias em nome do Senhor, dizendo e prometendo coisas que o Senhor não disse, alimentando falsas esperanças de pessoas leigas e sofredoras? Há muita gente hoje oferecendo “fogo estranho” no altar do Senhor. Mas “Deus não se deixa escarnecer. O que o homem plantar, isso também colherá!” (Gl 6.7). 

IV. LUTO NO SANTO MINISTÉRIO 

1. Fogo contra fogo. Vejamos que ironia: Nadabe e Abiú foram oferecer ao Senhor “fogo estranho” (v. 1), mas do Senhor saiu o fogo verdadeiro que os consumiu! (v. 2). Fogo contra fogo! O falso não prevaleceu diante do verdadeiro; o estranho não prevaleceu contra o autêntico; a imitação não prevaleceu diante do original! 

2. Os sacerdotes levaram um “foguinho”, mas Deus respondeu com um “incêndio” (v. 6). Este é o Deus que é “fogo consumidor” (Dt 9.3; Hb 12.29).

Digno de reverência. Wright explica a natureza desse fogo do Senhor, para que não pensemos também que se tratou de uma grande fogueira descontrolada que tomou conta do tabernáculo (o que teria causado um incêndio geral naquela tenda): 

2.1. “Foi provavelmente algo como a descarga elétrica de um relâmpago em vez de um grande incêndio, visto que suas túnicas [de Nadabe e Abiú] não foram destruídas, mas transformadas em mortalhas (v. 5)”. 

2.2. Se o fogo do Senhor manifesto a Moisés em Horebe queimava, mas não consumia a sarça (Êx 3.2), aqui o fogo do Senhor consumiu os sacerdotes, mas não as suas roupas nem o tabernáculo. O corpo foi atingido e derrubado ao chão, mas ao que parece as roupas sacerdotais ficaram intactas! Somente Deus pode atingir o mal com tal precisão. 

3. Julgamento muito pesado?

3.1. Para quem julgar demasiado o juízo de Deus contra aqueles dois irmãos pelo “simples fato” de oferecerem fogo estranho, deve-se novamente lembrar que o castigo é sempre proporcional não apenas ao erro cometido, mas também leva-se em conta a posição ocupada por aquele que errou e o grau de revelação que ele recebeu de Deus. 

3.2. Precisamos saber que, um mesmo pecado cometido por um ignorante e por um biblista terá punições diferenciadas, porque este sabia a vontade de seu Senhor e não a fez, enquanto aquele era ignorante dela. Tal proporção no julgamento é explicada pelo próprio senhor Jesus (Lc 12.47,48). 

Por esta razão é que Tiago, irmão de Jesus, adverte: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1). 

3.3. Os que receberam de Deus maiores privilégios, receberão de Deus maiores cobranças. Em virtude disso, como podem tantas pessoas cobiçarem posições elevadas na obra de Deus, quando não foram vocacionadas para tal posto? Por que há disputa nalgumas igrejas por cargos de liderança? Por que há pastores disputando rebanhos? Enquanto crentes continuarem encarando cargos como troféus e recompensas, ao invés de responsabilidades e vocação divina, continuaremos a ver “fogo estranho” sendo oferecido no altar do Senhor. Mas ele não deixará isto impune! O julgamento começará pela casa de Deus (1ª Pe 4.17).

3.4. O comentarista Christopher Wright destaca assim a gravidade do pecado de Nadabe e Abiú: “É como se um pastor cristão, ao celebrar a Ceia do Senhor, inserisse rituais ou objetos associados ao ocultismo”. Não é difícil ver sincretismo religioso em muitos cultos ditos “evangélicos” hoje em dia, onde são incorporadas crenças e práticas pagãs. Objetos de superstição, crendices oriundas de religiões não-cristãs e discursos em nada conectados à boa ortodoxia estão sendo oferecidos em muitas igrejas para perdição dos ouvintes e dos próprios falsos mestres (2ª Pe 2.1). 

Exemplo? Darei alguns: igrejas celebrando casamentos gays, ordenação de pastores homossexuais e pastoras lésbicas, líderes religiosos reclamando legalização de aborto e liberação da maconha, outros há que defendam relações sexuais entre jovens solteiros, e já há quem esteja deixando de cantar “Deus cuida de mim na sombra das suas asas” para cantar junto com os ímpios “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”. 

Que Deus tenha misericórdia de Sua Igreja e a proteja contra o falso fogo, nem que tenha que enviar fogo do céu outra vez para remover os que banalizam o verdadeiro culto ao Senhor! (Quem achar isso impossível nos dias da graça, lembrem-se do casal Ananias e Safira – Atos 5). 

4. O lamento é proibido para que a santidade de Deus seja exaltada.

4.1. Tão firme foi o castigo divino e tão séria era a lição que se deveria extrair daquele fatídico episódio, que Deus, através de Moisés, proibiu Arão e seus outros filhos, Eleazar e Itamar, de prantearem a morte dos filhos mais velhos, sob pena de também morrerem caso desobedecessem a ordem para não manifestarem luto (vs. 6,7). 

4.2. Parece insensível que o luto fosse proibido aos parentes? É que neste momento, as lágrimas e o luto demonstrariam um sentimento de perca maior pelos filhos do que pela glória e a santidade de Deus que foram ofendidas pelos sacerdotes Nadabe e Abiú. Deus estava querendo ensinar uma nova lição a Arão e a todos os levitas: o pecado dos líderes causa maior dano à santidade de Deus e à Sua reputação no meio do povo, do que o dano que é causado à família destes líderes quando eles são punidos por Deus. O amor a Deus acima de todas as coisas (Dt 6.5), inclusive da própria família, é novamente ressaltado, e agora não de modo teórico, mas prático! Foi uma lição amarga, mas necessária. 

4.3. Foi por não aprender esta Lição, que o sacerdote Eli veio a morrer logo após a morte de seus filhos, também sacerdotes como Nadabe e Abiú, devido eles estarem tratando com desrespeito as ofertas e os sacrifícios. O próprio Deus o confrontou: “Por que pisastes o meu sacrifício e a minha oferta de alimentos, que ordenei na minha morada, e honras a teus filhos mais do que a mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo de Israel?” (1ª Sm 2.29). 

4.4. Jesus também nos ensina que o amor a Ele deve estar acima do nosso apego à família: Lucas 14.26 “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.

4.5. Muitas vezes pecamos por excesso de condescendência, quando a compaixão leva-nos à frouxidão. O profeta Samuel quase escorregava nesse erro, quando Deus então lhe sacudiu: “Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel” (1ª Sm 16.1). 

Não raro hoje, muitos pais estão querendo ter mais dó de seus filhos do que Deus tem por eles; muitos líderes querem ter mais compaixão de seus liderados do que Deus tem por eles. Esta Lição extraída de Levítico 10 deve levar-nos a refletir seriamente: Deus é bom e amoroso, tanto quanto santo e zeloso! 

O luto

1. O povo de Israel teve a permissão de lamentar esta grande tragédia, mas Arão e seus dois filhos restantes foram proibidos de mostrar as marcas normais de luto: descobrir a cabeça e soltar os cabelos ou rasgar as roupas. Não deviam dar a Israel a aparência de questionamento ou lamentação por causa do julgamento de Deus. Moisés os lembrou de que o azeite da unção do Senhor estava sobre eles. O serviço de Deus não pode ser detido por questões pessoais. O incêndio seria ‘o fogo que o Senhor Deus acendeu. 

2. Privação pessoal, negação ou insultos a si próprio muitas vezes caracterizavam os ritos de luto. Os ornamentos eram tirados (Êx 33.4-6); os enlutados rasgavam suas vestes como símbolo de pesar (Gn 37.34). Frequentemente, o rasgar as roupas e vestir-se com sacos representavam pesar e humildade (1º Rs 21.27; Et 4.1; Jr 4.8). Pó ou cinzas eram colocados sobre a cabeça. A barba e os cabelos da cabeça eram arrancados (Ed 9.3) ou cortados (Is 15.2; Jr 7.29). Observava-se o jejum (2º Sm 1.12; Ne 1.4; Zc 7.5). Algumas práticas de luto eram expressamente proibidas a Israel, provavelmente por serem ritos pagãos. Os israelitas não se cortavam nem podiam fazer ‘marca alguma’ em suas testas em homenagem aos mortos (Lv 19.28; Dt 14.1). As regras para os sacerdotes eram particularmente mais severas (Lv 21.1-5, 10-12) (Dicionário Bíblico Beacon. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 277) e (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 1129). 

Nenhum de nós é perfeito e impecável – tais atributos são exclusivos de Deus. Entretanto, não podemos agir com atrevimento comparecendo ao Senhor para dar-lhe culto sem antes corrigirmos nosso coração diante dele. Jesus nos ensina, por exemplo, que se tivermos algo contra nosso irmão, devemos nos reconciliar com ele antes de oferecermos nossa oferta a Deus (Mt 5.23,24). Ainda mais quando somos conhecedores da Palavra, não podemos acalentar pecados, pois Deus dará a cada um segundo as suas obras (Rm 2.6). Sendo assim, que sirva para nós também o que Jesus disse a igreja de Éfeso: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.5).

Claudionor de Andrade. Fogo estranho diante de Deus. Lições bíblicas 3º Trimestre de 2018, CPAD Rio de Janeiro - RJ.