I.
O
DESTINO DOS CRENTES ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO
Com “estado intermediário”, queremos dizer
a condição dos mortos no período entre a morte e a ressurreição; isto é, o
estado em que o espírito está sem o corpo. A Bíblia ensina que, após a morte, o
crente vai imediatamente para onde está o Senhor Jesus. Paulo diz: “Mas temos
confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2ª
Co 5.8); “Tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é
incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). O que Paulo está dizendo aqui é que, no
momento em que ele parte ou morre, naquele mesmo instante ele estará com
Cristo. Não há demora alguma entre a morte do crente e o seu comparecimento na
presença de Cristo; quando ele fecha os olhos neste mundo, abre-os logo no céu.
Jesus deu ao ladrão arrependido a jubilosa certeza: “hoje estarás comigo no
paraíso” (Lc 23.43). À luz de 2ª Co 12.2-4, as palavras “céu” e “paraíso” são
simplesmente dois termos para indicar o mesmo lugar. Isto prova, com certeza,
que o “seio de Abraão” (Lc 16.22), “o céu” e o “paraíso”, são o mesmo lugar. O
destino dos crentes após a morte é um estado de descanso e felicidade sem fim
(Ap 14.13); é um estado no qual os crentes estão verdadeiramente vivos e
plenamente conscientes (Lc 16.19-31; 1ª Ts 5.10).
II.
O
DESTINO DOS ÍMPIOS ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO
O destino dos ímpios é estar eternamente
separados de Deus e sofrer eternamente o castigo que se chama a segunda morte:
a eterna separação de Deus (Lc 16.26). Devido à sua natureza aterradora, é um
assunto muito pouco comentado nos púlpitos das igrejas modernas. Analisemos
aqui a passagem de Lc 16.19-31, onde o Senhor Jesus traz um ensino bem claro da
vida no além-túmulo:
A) Ao morrer o ímpio (o rico) achou-se no lugar de tormentos; v.23.
B) Ele não estava dormindo; viu Abraão e Lázaro; v.23.
C) O ímpio não estava mudo; falava normalmente; v.24.
D) Ele estava cônscio da sua condição deplorável; pediu misericórdia
numa época tardia e à pessoa errada; v.24.
E) Procurou lenitivo para o tormento que estava sentindo; uma ponta
de dedo molhado em água seria o suficiente para aliviar parte do seu tormento;
v.24.
F) A situação do ímpio foi invertida no além -túmulo; o rico que
nunca mendigara na terra, agora implora por socorro como o mendigo implorava as
migalhas; v.24.
G) Abraão lembra ao rico que "a vida de um homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui" (Lc 12: 15); v. 25.
H) Foi lhe dito que aquela situação é irreversível; é impossível
sair dali; v.26.
I) O ímpio lembrou de todos os seus cinco irmãos e mostrou o desejo
de que eles fossem advertidos, para que evitassem semelhante condenação; w.
27,28. Através deste ensino o Senhor Jesus elimina, assim, a possibilidade de
existência do purgatório ou de salvação após a morte.
III. O EFEITO DO PECADO NO SEU SER
Adão e Eva foram criados inocentes e santos. Agora,
tiveram um senso de vergonha, degradação e poluição. Perda da inocência
“abriram-se então, os olhos de ambos” (Gn 3.7). A inocência não pressupõe a
ausência do conhecimento intelectual do mal. Tal conhecimento inclusive é
benéfico e necessário para nós entendermos a natureza do mal. Inocência, porém,
quer dizer a ausência do “conhecimento experimental” do mal. Havia algo para
esconder. Estavam nus e não podiam aparecer diante de Deus na sua condição
caída. Foi este sendo de impropriedade que os levou a fazerem para si
vestimentas de folhas de figueira.
As folhas de figueiras de nada serviram para cobrir
a nudez do casal. Elas simbolizam o esforço das religiões e das boas obras em
favor da salvação do homem, sem levar em conta a justiça de Cristo. Batismo,
educação, filosofia, legalismo, dízimos, etc., nada disto repara a terrível
queda do gênero humano. Somente a graça de Deus, mediante a morte expiatória de
Seu Filho Jesus Cristo, pode salvar o homem que, pela fé, volta-se para Ele (Ef
2.8-9), pois “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22).
Adão e Eva não eram vitimas de um destino
inevitável. Eles eram livre, capazes de serem influenciado por motivos e
desejos, mas ainda com liberdade perfeita para seguir o caminho que lhes
agradasse. Mas, eles permitiram a si mesmos receberem algo que não era de Deus.
Não foi qualquer necessidade rigorosa, mas pela escolha determinada de sua
própria vontade, uma entrega voluntária dos seus corações à tentação, que os
levou a cometer o primeiro pecado.
Devemos lembrar também que como o pecado deveria
ser punido, isto é, a maneira e alcance da punição, não é para o homem culpado
decidir, mas foi determinado o decreto pelo próprio Deus, (Dt 9.5; Rm 6.23; Mt
25.41).
“Posto à prova, porém, o homem mostrou-se infiel,
desprezando a glória de que estava revestido, ao duvidar da bondade e da
fidelidade do Senhor, deixando-se seduzir pela mentira ilusória de Satanás (Gn
3.1-19). Assim, ao desobedecer a única proibição imposta por Deus (Gn 2.17), o
homem tornou-se pecador, colocando toda a criação debaixo da maldição divina
(Gn 3.19).
O pecado e sua consequente maldição causaram (leia
Gn 3 e Rm 8.22).
1. Quebra da comunhão com Deus e expulsão da sua
presença (Gn 3.23 e 24; Is 59.1,2);
4. O pecado é hereditário e extremamente
contagioso, havendo-se disseminado nas formas mais diversas, infames e vis (Rm
1.18-32).
5. O pecado leva o homem ao inferno (Rm 3.23; Gl
5.19-21; Mt 7.23; Ap 21.8).
O homem ao pecar fica
separado de Deus e debaixo da maldição (e juízo receberá o castigo). A Bíblia descreve dois efeitos do pecado sobre
o culpado; primeiro, é seguido por consequências desastrosas para sua alma;
segundo, trará da parte de Deus o decreto da condenação eterna.
Antes da queda, Deus e Adão estiveram em comunhão
um com o outro; depois da queda, essa comunhão foi quebrada ou interrompida (Gn
3.8-9). Nossos primeiros pais tiveram o sendo do desagrado de Deus para com
eles. Eles haviam desobedecido ao comando explícito de Deus para não comer da
árvore do conhecimento do bem e do mal, e foram culpados de um crime. Eles
sabiam que haviam perdido sua posição diante de Deus e que se achavam sob
condenação. Então, em vez de buscar a comunhão com Deus, tentaram fugir dele,
com vergonha (Gn 3.7-10), remorso e medo (Gn 3.10) e culpa, sentimento que
nunca experimentaram antes.
Sua consciência não lhes permitiu descanso, então
tentaram transferir a responsabilidade. Adão disse que Eva, a mulher que tu me
deste, o levou a pecar (Gn 3.12). Eva acusou a serpente (Gn 3.13). Eram
culpados, mas tentaram passar a responsabilidade para outros.
A sentença bíblica é sem
apelação. No Antigo Testamento diz que a alma que pecar morrerá (Ez 18.4). O
salário do pecado é a morte (Rm 6.23). Por isso, a morte foi uma consequência
direta do pecado de nossos primeiro pais (Gn 2.17).
A morte é um castigo, não uma
extinção da personalidade, e sim, o meio de separação de Deus. Há três fases
desta morte: morte espiritual, enquanto vive, mas não crê em Deus (Ef 2.1; 1ª
Tm 5.6); morte física (Hb 9.27); e a segunda morte ou morte eterna, que é a
separação e condenação eterna sem Deus (Ap 21.8; Jo 5.28-29).
1.
A
morte espiritual.
A morte espiritual é a separação entre a
alma e Deus. O pecado separa o homem de Deus; como consequência do pecado, o
homem morreu espiritualmente (Ef 2.1-5). A morte espiritual significa culpa e
também corrupção. O castigo anunciado no Éden, que recaiu sobre a raça, é
primariamente esta morte espiritual (Gn 2.17; Rm 5.21). Por ela, o homem perdeu
a presença, a comunhão intima e o desejo por Deus. Por estar morto
espiritualmente falando, o homem precisa ser revivido dos mortos (Lc 15.32;
105.24; 8.51).
Foram arruinados moralmente. Deus havia dito a Adão
sobre o fruto proibido: “no dia que dele comerdes, certamente morrerás” (Gn
2.17; Rm 6.23). Esta morte, em primeiro lugar, é morte espiritual ou uma
separação da pessoa de Deus; ela aconteceu no momento em que pecaram. Isto
implica também que se tornaram depravados. A palavra depravados do latim
“pravus”, significa torto e literalmente “depravatus” que quer dizer muito
torto. Pelo pecado de Adão toda a humanidade ficou sob o domínio de Satanás.
Se o corpo se torna depravado, a mente, então,
provavelmente vai ser afetada. O intelecto pode ficar desorientado
involuntariamente, por causa da deterioração do corpo físico. Porém, os membros
corpóreos se tornam servos da injustiça. O que não pode ser literalmente não
santo, pode ser usado de uma forma não santa.
Quanto as emoções, os desejos, apetites e paixões,
podem cair em desordem e anomalia involuntária. A humanidade, certamente, está
depravada fisicamente. Não existe saúde perfeita do corpo entre todos os seres
humanos que vivem neste mundo. Podemos dizer também que os apetites, as paixões
e as tendências do homem estão num estado de desenvolvimento doentio.
Só existe uma maneira do homem se tornar puro e
buscar a comunhão e a vida eterna com Deus. Deste assunto trataremos nos
próximos capítulos.
2.
A
morte física.
De acordo com as Sagradas Escrituras, a
morte física é o término da vida física pela separação de corpo e espírito.
Isto não significa aniquilação. A morte física não é uma cessação da
existência, mas, um rompimento das relações naturais da vida. É impossível
dizer exatamente o que é a morte em sua essência. A Bíblia a descreve como
“dormir” (Dt 31.16; Jo 11:11); deixar este tabernáculo (2ª Pe 1.14); descer ao
silêncio (Sl 115.17); expirar (At 5.10); tornar ao pó (Gn 3.19) e partir (Fp
1.23). Convém notar que a morte física, para o crente, deixa de ser uma pena ou
castigo, como acontece com o descrente. Para o incrédulo não só indica separação
entre o corpo e alma, entre o indivíduo e tudo quanto lhe é querido na terra;
mas, sobretudo, significa a separação eterna dele e Deus. Pois, sobrevindo-lhe
a morte física, esta sela o seu destino eterno. Do ponto de vista bíblico tanto
a morte física, como a morte eterna, é o resultado do pecado (Rm 5.12; 6.23).
Quando Deus disse: “certamente morrerás”
para a desobediência do homem, ele também incluiu o corpo. A morte física é a
separação entre a alma e o corpo. Devido ao pecado, veio a morte física. As Sagradas
Escrituras nos mostram a morte física como parte do castigo do pecado. “O
salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Este é o ensino de Gn 3.19; Nm 16.29;
27.3. Este ensino é também encontrado no Novo Testamento (Rm 5.12-21; 6.9-10;
8.3, 10,11; 1ª Co 15.12-23).
Não somente o pecado entrou no mundo, mas
“pelo pecado a morte”. O pecado paga aos seus servos; “o salário é a morte”.
Também que “o aguilhão da morte é o pecado” (1ª Co 15.5-6), ou “é o pecado que
dá a morte o seu aguilhão”. O pecado em geral produz a morte (Tg 1.15; Rm 6.16;
Tg 5.10).
A palavra morte do grego é (thonotos) que se refere à morte física
(separação do corpo da alma; Hb 7.13), ou a morte espiritual (separação do
homem de Deus; Jo 5.24), ou as duas juntas (conforme romanos 5.12).
Deus falou com Adão em Gn 2.17 “no dia em
que dela comeres, certamente morrerás” e em Gênesis 3.19 disse Deus: “No suor
do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado;
porque tu és pó e ao pó tornarás”.
A morte é o efeito ou consequência do
pecado: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos
pecaram” (Rm 5.12).
“Pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus” (Rm 3.23). A razão porque a morte passou a todos os homens é
porque todos pecaram. A morte passou a todos os homens, por um homem, no qual
todos pecaram. Pela ofensa de Adão veio o julgamento para todos os homens.
Imediatamente depois da transgressão Deus
disse a Adão: “tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19). O primeiro casal perdeu o
privilégio da imunidade à morte física. Embora eles não morressem no momento em
que comeram o fruto proibido, seus corpos ficaram sujeitos a mortalidade (Gn
3.16-19).
Em Gênesis 3.22-24, diz que o casal foi
expulso do jardim para não comerem da árvore da vida, porque Deus não quis que
os corpos caídos e depravados tivessem imortalidade, que teriam sido uma
penalidade mais rubra e mais profunda. A morte física foi uma penalidade do
pecado.
“Se, pela ofensa de um e por meio de um
só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da
justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).
Se pela desobediência de um homem veio a morte, mas pela a obediência de um só,
muitos se tornaram justo (gr. dikaiosune). Como resultado do ato de
desobediência de Adão, muitos se tornaram pecadores; da mesma forma como
resultado do ato de obediência de Cristo, muitos se tornarão justos.
Entretanto, para o cristão a morte física não é mais um castigo, pois, Cristo
sofreu a morte como castigo do pecado. Para o crente, ela se torna como um sono
para o corpo, e como um portal para a alma, através do qual ele entra em plena
comunhão com seu Senhor (2ª Co 5.8; Fp 1.21-23; 1ª Ts 4.13-14). Uma outra
tradução diz: “Pois assim, como por causa da sua relação com Adão todos os
homens morrem, assim também por causa da sua relação com Cristo eles serão
trazidos a vida novamente”. Falaremos da morte vicária de Cristo e da vida
eterna com Cristo mais tarde.
3.
A
morte eterna.
Quando a Bíblia diz: “A alma
que pecar, essa morrerá” (Ez 18:20). A consequência do pecado leva a morte
física e espiritual. Neste caso a Bíblia refere-se a separação eterna de Deus,
ou seja, a condenação eterna pelos atos praticados contra Deus. “E irão estes
para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (25.46).
A palavra grega para “eterna”
é “aionios” que quer dizer: sem começo e nem fim, aquilo que sempre tem sido e
sempre será, nunca termina, eterno. Por outro lado quando a Bíblia fala da vida
como recompensa pela justiça, isso significa mais do que existência, pois os
pecadores existem no inferno.
“Vida” significa viver em
comunhão com Deus e no seu favor – comunhão que a morte não pode interromper ou
destruir (Jo 11.25-26). É uma vida que proporciona união consciente com Deus, a
fonte da vida.
“E a vida eterna é esta: que
te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”
(Jo 17.3). A vida eterna é uma existência perfeita; a morte eterna é uma
existência má, miserável e desgraçada.
A morte eterna é simplesmente o auge, o
cume e a consumação da morte espiritual. É a separação eterna entre a alma e
Deus, juntamente com o remorso, isto é, a inquietação da consciência por culpa ou
crime que se cometeu e castigo eterno (Mt 10.8; 25.1; 2ª Ts 1.9; Ap 14.10-11).
O peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, isto significa morte no
sentido mais terrível da palavra. O homem tem sempre diante de si dois caminhos
a escolher: o do bem e o do mal. Tem sempre duas vontades: a própria e a de
Deus. Adão escolheu a vontade própria, em vez de escolher a de Deus. Ele fez
uma escolha egoísta, em vez de uma escolha altruísta. Escolheu a morte, em vez
da vida. Tudo quanto aconteceu a ele próprio e à raça humana são consequências
justíssimas da decisão que Adão tomou no Éden. Nenhuma pessoa pode escolher o
caminho do egoísmo, e queixar-se depois com os resultados. Ninguém pode
escolher a morte e queixar-se quando ela chegar. Não pode escolher o caminho da
perdição eterna e queixar-se por não chegar ao céu (Dt 30.11-20; Jr 21.8; Mt
7.13-29).
Pr. Elias Ribas