“Naqueles
dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: 2 Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos céus. 3 Porque este é o referido por intermédio
do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas. 4 Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto
de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre. 5 Então, saíam a
ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; 6 e
eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mateus
3.1-6). “Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, a fim de
que João o batizasse. 12 Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que preciso ser
batizado por ti, e tu vens a mim? 15 Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por
enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o
admitiu. 16 Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os
céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. 17 E eis
uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt
3.1-6, 13-17).
1. O Batismo de Jesus (3.13-17).
1. O Batismo de Jesus (3.13-17).
Quando Jesus foi batizado no rio Jordão, os céus se
abriram, o Espírito Santo desceu sobre Ele como pomba e uma voz do céu
confirmou que Ele é o Filho de Deus. Cada um dos Evangelhos Sinóticos registra
esta informação; João menciona somente a descida do Espírito Santo, e não o
próprio batismo de Jesus. Cada escritor dos Evangelhos apresenta este
acontecimento-sinal para fazer certas declarações teológicas sobre Jesus.
Marcos, por exemplo, o inclui porque oferece oportunidade para afirmar a razão
de ele escrever — apresentar o “evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc
1.1). Lucas enfatiza a capacitação que Jesus teve em resultado da descida do
Espírito Santo (cf. Lc 4.1,14,18).
1.1. Jesus É Maior do que João Batista
(3.13,14).
Diferente de Lucas, Mateus ressalta o acontecimento
do batismo de Jesus e chama atenção especial ao fato de que quando Jesus pediu
para ser batizado por João Batista, este mostrou-se relutante em fazê-lo (vv.
13,14). O interesse de Mateus em escrever seu Evangelho inclui a cristologia,
mas ele também deseja afirmar quem é Jesus em relação a João Batista. Lembre-se
de que a audiência de Mateus era de orientação judaica, e talvez seus
integrantes estivessem se perguntando: “Como pode Jesus ser maior do que João
Batista se este o batizou?” (Note que a seita de João Batista perdurou por
muito tempo depois dele e Jesus; veja At 19.1-4.) De acordo com Mateus, Jesus é
maior do que João Batista; até o próprio João Batista reconheceu a
superioridade de Jesus e estava renitente em consentir o pedido do Messias.
1.2. Por que Jesus se Submeteu ao Batismo?
(3.15).
Há várias maneiras de responder. De acordo com
Lucas, era necessário para que Jesus recebesse o poder do Espírito Santo a fim
de cumprir sua chamada como Messias. Em Mateus, Jesus disse: “Assim nos convém
cumprir toda a justiça” (v. 15). Ele carecia de purificação de pecados? Não,
pois o Novo Testamento destaca que o entendimento que os primeiros cristãos
tinham de sacrifício exigia um sacrifício sem mancha nem pecado, como nos
sacrifícios judaicos. Jesus é apresentado como o Cordeiro imaculado de Deus e o
sacrifício pascal (e.g., Mt 26.17-29; Jo 1.29; Ap 5.6-8). Paulo também entendeu
que Jesus não tinha pecados (2 Co 5.21); portanto, a purificação de pecados não
é o ponto de debate para Jesus.
O frequente tema de Mateus — cumprimento — afiança
a resposta: para “cumprir toda a justiça”. A justiça para Mateus não é
meramente guardar normas e regulamentos. É verdade que Jesus não põe de lado a
ética de Deus, antes a intensifica (e.g., Mt 5.21-48). Contudo a verdadeira
justiça está baseada numa relação com Deus, que está implícita no seu perdão
misericordioso, e num recebedor arrependido que deseja cumprir a justiça de
Deus — e não no próprio entendimento que a pessoa tenha disso (Mt 5.20; 6.33).
Uma chave para cumprir a justiça de Deus é oferecer misericórdia quando ela não
é merecida (Mt 5.38-42; 18.21-35). Note que o pai terreno de Jesus, sendo homem
“justo”, não desejou expor Maria à vergonha pública quando ela achou-se grávida
(Mt 1.19). Esta identificação misericordiosa com os necessitados de
misericórdia, mitigada com um respeito ativo pela vontade de Deus, é
característica da justiça de Jesus conforme a apresentação de Mateus (cf. Mt
18.35).
No batismo Jesus se identificou com os carentes de
perdão, os quais, pela simples letra da lei, mereciam julgamento severo. Ele se
identificou tanto com eles que entrou na água de banho suja deles e ficou com
eles, apesar de Ele continuar pessoalmente limpo. Jesus cumpriu esta justiça
surpreendente por obediência ao Pai. O batismo é o catalisador que aplica em
nós a justiça misericordiosa de Deus, até os efeitos da cruz de Jesus e sua
ressurreição que dá vida (Rm 6.3-7; 1 Pe 3.21). Os cristãos se unem com Jesus
no batismo: Ele os encontra lá na água.
1.3. O Testemunho Divino no Rio Jordão (3.16,17).
Três coisas principais aconteceram neste evento: os
céus se abriram, o Espírito Santo desceu e uma voz do céu proclamou que Jesus é
o Filho de Deus. Cada um destes fatos reveladores merecem atenção.
Os céus
foram rasgados (cf. Mc 1.10). A palavra “abriram” expressa a ideia de
revelação. A experiência de Jesus é rememorativa à chamada do profeta Ezequiel,
que estava de pé ao lado do rio Quebar quando os céus se abriram; ele teve
visões de Deus e o Espírito de Deus entrou nele (Ez 1.1; 2.2).
A pomba
desceu. A associação do Espírito Santo com uma pomba era rara nas
escrituras hebraicas e judaicas até o tempo de Jesus. O símbolo da pomba
tornou-se imagem frequente no cristianismo. Em Gênesis 1.2, o Espírito pairou
sobre as águas, o que pode ser alusão a uma pomba, como John Milton presume tão
eloquentemente na sua obra Paraíso Perdido:
Tu dos primeiros
Estavas presente, e com
grandiosas asas abertas
Como pomba sentaste a
chocar o vasto abismo
E o tornaste grávido.
O Espírito Santo capacitou os profetas do Antigo
Testamento (e.g., Ez 2.2; Mq 3.8; Zc 7.12), e as profecias relativas ao Messias
prediziam uma acompanhante dotação do Espírito (e.g., Is 42.1,5; 61.1-3). Assim
Jesus recebe uma unção e capacitação especiais do Espírito Santo para proclamar
a mensagem de Deus e fazer maravilhas. A vinda do Espírito sobre Ele é sinal de
que Ele é o Messias, o Cristo (lit., “o Ungido”). Isto não significa que esta é
a primeira vez que Jesus foi envolvido com o poder do Espírito; Ele foi
concebido do Espírito Santo (Mt 1.20; Lc 1.35) e obviamente foi guiado pelo
Espírito ao ministrar no templo quando era menino (Lc 2.46-52). Nem significa
que Jesus foi “adotado” pelo Espírito no batismo e nesse momento tornou-se
Messias, pois Ele era o Filho de Deus antes do batismo (Mt 1.20; 2.15; Lc 1.35;
2.49; Jo 1.1,14,18; 3.16).
A voz do céu
falou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17; em
Mc 1.11 lemos: “Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo”; em Lc
3.22: “Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido” [ênfases
minhas]). Esta mensagem reflete duas passagens do Antigo Testamento: “Tu és meu
Filho; eu hoje te gerei” (Sl 2.7), e: “Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o
meu Eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meu Espírito sobre ele” (Is
42.1). O Salmo 2 descreve a entronização do rei Davi. No antigo Oriente
Próximo, quando o rei assumia o trono, era considerado o filho do deus
nacional, e assim o poder da deidade era investido no rei. Em sua coroação ele
era considerado “gerado” do deus. Israel também considerava que o seu rei
estava investido com o poder de Javé, o Deus deles.
A segunda parte da declaração da voz do céu alude a
Isaías 42.1: “Meu Servo/Filho, Meu Eleito/Amado, em quem minha Alma se deleita”
(tradução minha; veja também Gn 22.2). As palavras “servo”, “criança”, “filho”
(todas traduções do termo grego pais) assume sentido messiânico em
Isaías. “Amado” era usado como título messiânico nos círculos cristãos (cf Mt
17.5; Mc 1.11; 9.7; Lc 3.22; 2 Pe 1.17). A tradução do termo grego ho agapetos
(lit., “o Amado”) pela expressão “a quem eu amo”, ainda que leitura possível,
não trata a expressão como título messiânico. A palavra agapetos às
vezes se refere a um único filho ou filha (e.g., Gn 22.2,12,16; Jz 11.34; Mc
12.6; Lc 20.13).
A combinação de um salmo de entronização de Davi,
que identifica o rei como filho de Deus, e o uso do título “Amado, com quem
Deus se compraz”, acompanhado pela descida do Espírito Santo, mostra aos
leitores de Mateus que Jesus é o Filho messiânico de Davi, o Filho de Deus
capacitado pelo Espírito Santo para inaugurar o reinado de Deus e falar as suas
palavras.
O uso de Mateus de “Este é o meu Filho” em
vez de “Tu és o meu Filho amado” levanta uma questão: Jesus foi o único
que ouviu a voz, ou João Batista e/ou as pessoas também a ouviram? Não podemos
saber com certeza. Se a leitura “este” é original, então muitas pessoas a
teriam ouvido, e a ideia de que Jesus era o Messias teria se espalhado;
contudo, tal não foi o caso na primeira parte do seu ministério. De fato,
durante algum tempo Jesus a considerou informação confidencial. É inevitável
que o ministério de milagres de Jesus tivesse levado alguns a considerar a
possibilidade de messiado. É possível que a voz disse “este”, e os
circunstantes a ouviram; para Jesus teria tido o significado de “tu”, visto que
dizia respeito a Ele diretamente. Se a voz tratasse Jesus por “tu” e houvesse
espectadores que a ouvissem, então eles teriam tido a força de testemunhas
concernentes a Jesus.
Subsídios extras para a lição Jesus Cristo
Verdadeiro homem Verdadeiro Deus 1º trimestre/2008
Produzidos pelo Setor de Educação
Cristã