Mt
24.45-51
“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua
casa, para dar o sustento a seu tempo? 46 Bem-aventurado aquele servo que o seu
senhor, quando vier, achar servindo assim. 47 Em verdade vos digo que o porá
sobre todos os seus bens. 48 Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O
meu senhor tarde virá; 49 E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a
beber com os ébrios, 50 Virá o senhor daquele servo num dia em que o não
espera, e à hora em que ele não sabe, 51 E separá-lo-á, e destinará a sua parte
com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.”
INTRODUÇÃO
- A presente lição tratará da parábola
dos “dois servos” registrada em dois evangelhos sinóticos: o de Mateus e o de Lucas;
destacaremos desta narrativa o seu contexto e objetivo; veremos quais os
personagens que a compõe e o que eles significam; pontuaremos a palavra-chave
desta parábola que é a vigilância; e, concluiremos pontuando pelo menos três motivos
pelos quais devemos vigiar para aguardar a vinda do Senhor.
- Esta parábola se refere a um servo que
recebe a responsabilidade de administrar a casa, na ausência de seu senhor. Se
ele provar ser fiel e prudente, o senhor o recompensará generosamente ao
regressar. Mas, se for preguiçoso, indigno e descuidado, o senhor voltará
quando não estiver sendo esperado e lhe infligirá severa punição.
- Esta parábola foi proferida no sermão
escatológico ou profético de Jesus, sermão proferido logo após os discípulos
terem provocado o Senhor a respeito da beleza e majestade do templo de
Jerusalém, quando Cristo lhes disse, para espanto deles, que não ficaria pedra
sobre pedra que não fosse derribada daquela edificação que tanto orgulho dava
aos judeus (Mt.24:1,2).
- Diante de tal declaração, o Senhor,
então, é indagado pelos discípulos, quando já se encontrava no monte das
Oliveiras, quando aconteceria o que Ele havia profetizado e que sinal haveria
da vinda d’Ele e do fim do mundo (Mt.24:3), ocasião, então, em que Jesus começa
a revelar os fatos que ocorreriam no final dos tempos.
I.
A PARÁBOLA DE MATEUS 24.45-51
Sobre esta parábola é interessante
destacar que ela:
A. Consta no evangelho conforme Mateus 24.45-51
e Lucas 12.42-46.
B. Foi intitulada de parábola dos “dois
servos” o “fiel e o infiel”.
C. é uma parábola de cunho escatológico.
D. É extremamente exortativa quanto a
necessidade da vigilância para o retorno de Cristo.
Vejamos mais algumas informações a
respeito desta parábola:
1.
Contexto. O
contexto que levou a Jesus a contar esta parábola, foi quando saindo do templo
profetizou a queda deste (Mt 24.1,2); e, quando interrogado pelos discípulos
acerca dos acontecimentos futuros, o Mestre lhes falou da Sua segunda vinda a
terra (Mt 24.3-44).
2.
Objetivo.
Quando contou esta parábola aos seus discípulos, Jesus tinha como propósito
exortá-los a aguardar o Seu retorno a terra em vigilância, visto que será em um
dia e em uma hora em que eles não imaginam (Mt 24.36,42). Daí porque contou uma
parábola enfatizando a importância da fidelidade e da vigilância.
II.
OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA
Abaixo destacaremos algumas informações
sobre os personagens desta parábola. Vejamos:
1.
O senhor da parábola.
O senhor desta parábola é uma figura utilizada por Jesus para referir a si
mesmo. A ausência deste senhor e seu retorno repentino para seus servos (Mt
24.50), ilustra perfeitamente o retorno imprevisível de Cristo para buscar o
seu povo: “porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt
24.44). Na linguagem bíblica, a surpresa da volta de Cristo é ilustrada como o
ataque de um ladrão (Mt 24.43,44; 1 Ts 5.2,4; 2ª Pd 3.10; Ap 3.3; 16.15). O
Senhor espera encontrar os seus servos aptos para recebê-lo, como consideração
por Sua pessoa (Lc 21.36).
2.
Os servos da parábola. Mateus usa da palavra “servo” no grego “doulos” que quer dizer: “escravo” para
falar do funcionário do senhor desta parábola. Já Lucas usa a palavra “mordomo”
no grego “oikonomos” que significa: “pessoa que administra os assuntos
domésticos de uma família” (VINE, 2001, p. 447).
- Todos aqueles que aceitaram a Cristo
como Salvador são chamados de servos (Rm 1.1; 6.22; 1ª Co 7.22; 1ª Pd 2.16). A
estes o Senhor chamou, justificou, regenerou e santificou (1ª Co 6.11).
Portanto, se exige dos tais que aguardem o Seu retorno em fidelidade e
vigilância (Mt 25.21; 1ª Tm 4.10). Aos que procederem impiamente ainda que professem-no
como Senhor (Mt 7.21,22), ouvirão d’Ele, naquele dia, a seguinte frase: “Nunca
vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7.23); e
serão condenados por sua rebeldia, ao castigo eterno (Mt 8.12; 13.42,50; 22.13;
25.30; Lc 13.28). No entanto, será bem-aventurado aquele que for achado fiel e
vigilante: “Bem aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar
servindo assim” (Mt 24.46). Segue o alerta para todos nós que “se cremos em Sua
vinda, devemos nos portar de acordo com o que acreditamos. Essa esperança deve
governar a nossa vida no lar e impedir-nos de viver uma vida sem moderação e
sem disciplina. Se nos conscientizarmos da volta do Mestre, e deixarmos que
essa conscientização impere em todos os aspectos da nossa vida, então
viveremos” (LOCKYER, 2006, p. 300).
- Nos tempos antigos era um costume
comum que os senhores deixassem um servo encarregado de todos os assuntos da
família. O servo, descrito como fiel e prudente, corresponde aos discípulos,
aos quais foi atribuída por Jesus uma responsabilidade sem precedentes.
2.1.
O servo fiel (Mt 24.45). É dito que, se este servo ou mordomo foi fiel e
prudente no exercício da função que lhe foi confiada até ao retorno do seu
patrão. A fidelidade e a prudência são virtudes destacadas na Bíblia (Pv 12.22;
14.33; 14.35; 28.20; Mt 7.24; 25.23; 1ª Co 4.2; Ef 5.15).
- O servo que agir assim será tido por
“bem-aventurado” e, como recompensa, receberá privilégios e responsabilidades
aumentados: “Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens” (Mt
24.47).
2.2.
O servo infiel (Mt 24.48). Com a partida de seu senhor, este servo, em seu
coração, imaginou que, porque o seu patrão estava ausente e ia demorar a
voltar, decidiu comportar-se de forma violenta e pecaminosa. Sua deficiência se
mostrou tanto doutrinária “o meu senhor tarde virá” (Mt 24.48-b); quanto moral,
pois começou a “espancar os seus conservos, e a comer e a beber com ébrios” (Mt
24.49). Tal atitude revela-o como um “mau servo” (Mt 24.48). Quando da volta do
seu senhor, este servo infiel será punido severamente: “e separá-lo-á, e
destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”
(Mt 24.51).
III.
O SERVO FIEL (Mt 24.45).
- Nos tempos antigos era um costume
comum que os senhores deixassem um servo encarregado de todos os assuntos da
família. O servo, descrito como fiel e prudente, corresponde aos discípulos,
aos quais foi atribuída por Jesus uma responsabilidade sem precedentes.
1.
Significado de servo fiel.
- Significa que o servo tem constância,
perseverança; não pode desviar da tarefa a sua atenção. Seu conhecimento se
fundamenta na sabedoria do Senhor, que se demora em sua viagem. Sua sabedoria
não é apenas teórica, mas também é prática. Esse tipo de sabedoria se expressa
em atividades e ensinos positivos, em ajuda positiva a outros, em sua
inquirição espiritual. Assim sendo, ele ensinará, buscará, crerá e praticará a
verdade, encorajando os demais a fazerem o mesmo.
2.
Bem aventurança do servo fiel (Mt 24.46).
- Bem-aventurado aquele servo... Esta
palavra, bem-aventurado, com seus cognatos, é usada cerca de cinquenta e cinco
vezes no Novo Testamento, sendo uma das palavras que o Novo Testamento
expandiu, para dar-lhe um sentido mais alto e mais significativo. Sua raiz, no
grego clássico original, significa grande, e também era usada como sinônimo de
rico; mas quase sempre visava à prosperidade externa, e não a prosperidade
espiritual.
- Os filósofos gregos empregavam o
vocábulo com o sentido de elemento moral, e algumas vezes indicaram, por meio
dele, aquela felicidade que resulta da bondade interior de caráter. Alguns
intérpretes acreditam que ouso que Jesus fez aqui reflete mais as ideias e
expressões hebraicas como aquelas que se encontram em Sl 1.1; 32.1 e 112.1, e
que o termo hebraico ashrê ou “quão
feliz” indica a condição de felicidade tencionada aqui. Pelo menos o Senhor
Jesus elevou todo o terreno da “felicidade” para um ambiente espiritual. A
verdadeira felicidade está associada à correta posição espiritual diante de
Deus. Esse mesmo termo é aplicado aos mortos que morrem no Senhor (Ap 14.13), e
esse uso do vocábulo é intensamente instrutivo. Assim sendo, o servo que se
ocupa de coisas espirituais, tanto para seu próprio benefício espiritual como
para alimentar os seus conservos, é um homem verdadeiramente feliz, pois em
certa medida está participando da vida de Deus.
3.
Responsabilidades futuras ao servo fiel (Mt 24.47).
- Este versículo reflete, bem
definidamente, a crença que aparece em várias porções do Novo Testamento, de
que àqueles que forem fiéis em seus deveres terrenos, receberão poderes
especiais de governo, além de outros altos privilégios, no reino de Cristo ou
no estado eterno.
- Os discípulos mostraram que tinham tal
conhecimento ao indagarem entre si quem seria o maior no reino de Deus e quando
requereram exaltadas posições, isto é, quando solicitaram o direito de se
assentar à direita ou à esquerda do rei Jesus, quando ele estivesse reinando. O
trecho de 1ª Co 6.2-3 reflete a mesma crença; “Ou não sabeis que os santos hão
de julgar o mundo...? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos...?” A
passagem de Ap 20.4 ensina as mesmas verdades concernentes à participação do
crente no reino milenar de Cristo.
-
O servo fiel é dedicado e “dedicação” significa “consagração aos deuses,
proclamação ou dito em público o destinatário de”. Assim sendo, o servo fiel é
aquele que demonstra publicamente que todas as suas atitudes são destinadas à
glória do Senhor, que tudo faz para a glória de Deus (1ª Co 10.31). O servo
está consagrado a Deus, vive em função do Senhor.
- O
servo também é dito ser “prudente”. A palavra grega “phronimos” (φρόνιμος), cujo significado é “ponderado, considerado,
sagaz ou cuidadoso, indicando um caráter cauteloso”. Este servo é uma pessoa
cuidadosa, que toma atitudes ou ações que revelam cautela, passos dados visando
sempre atingir objetivos bem delineados na sua vida.
-
Esta cautela, esta prudência só é possível porque o servo tem o conhecimento do
Santo,
pois a prudência nada mais é que a “ciência do Santo” (Pv 9.10). Não se pode conduzir
com cautela nos termos da vida se não tivermos conhecimento do Santo, se não
conhecermos ao Senhor Deus, pois Ele é proclamado como santo ininterruptamente
nos céus pelos serafins (Is 6.3), alguém que tenha comunhão com o Senhor Jesus,
que é o Santo (Lc 1.35).
-
Este servo fiel e prudente foi constituído pelo Senhor sobre a Sua casa, ou seja, não
estava ali por poder próprio, por merecimento. Muito pelo contrário, ele foi
constituído pelo Senhor. Ser “servo” é um privilégio, não é algo automático, nem
que decorra da existência da pessoa. Para se tornar servo, é preciso ser
“constituído pelo Senhor”.
-
“Constituído”
é a palavra grega “kathistemi”
(καθίστημι), que significa “designado, nomeado, conduzido, ordenado”. Somente
podemos nos tornar servos do Senhor se Ele nos nomear, se Ele nos designar para
tanto. Cristo diz ter nos nomeado para que vamos e produzamos fruto permanente
(Jo 15.16).
-
O servo é designado para a casa do Senhor, ou seja, deve servir na casa do
Senhor, a nos mostrar, portanto, que não se pode ser servo do Senhor sem que se
esteja na casa d’Ele, casa que somos nós, ou seja, o corpo de Cristo (Hb 3.6;
1ª Co 12.27). Precisamos, portanto, no servir a Deus, estar na igreja,
exercendo a função para a qual fomos vocacionais em prol dos conservos.
-
A constituição na casa tinha uma finalidade, um objetivo, qual seja, o de
“dar sustento a seu tempo”.
O servo deve dar “sustento”, que é a
palavra grega “trophe” (τροφή), cujo
significado é “alimento, rações, comida”. O servo tem de alimentar os seus
conservos, manter a alimentação na casa do Senhor e tal alimentação tem como
elemento primordial a “palavra que sai da boca de Deus” (Lc 4.4; Mt 4.4).
-
É sinal de prudência, portanto, dar o devido valor à Palavra do Senhor, às Escrituras
Sagradas. Quem conhece a verdade é liberto (Jo 8:32) e a verdade outra coisa não
é senão a Palavra de Deus (Jo 17.17).
Quem é liberto permanece na Palavra e só
os que assim se portam são verdadeiramente discípulos do Senhor (Jo 8.31).
-
Mas esta alimentação não é tão somente a observância da Palavra de Deus ou até a sua
distribuição aos conservos. É também a execução de ações que confirmam esta
observância da Palavra, o que Nosso Senhor e Salvador denominou de “dar fruto permanente”
(Jo 15.16).
-
O propósito da nomeação do Senhor Jesus é o de “dar fruto permanente” e sabemos que
este fruto é o “fruto do Espírito” (Gl 5.22), “fruto de justiça” (Fp 1.11), o
fruto que nos faz ser conhecidos como servos do Senhor (Mt 7.16-20).
- A permanência e a constância são
características deste servo, por isso, quando o Senhor vier, achá-lo-á servindo
e, por estar servindo, e de modo agradável ao Senhor, será bem-aventurado.
-
Este servo, diz o Senhor Jesus, é o que agrada a Deus, pois Nosso
Senhor diz que este servo é bem-aventurado pois, quando o Senhor vier,
achá-lo-á servindo assim (Mt 24:46).
IV.
O SERVO INFIEL
(Mt 24.48-51)
1.
Características do servo mau.
1.1.
Despreocupação.
- Ele está dizendo alguma coisa “em seu
coração”, isto é, a si mesmo (Mt 24.48b). Ora, o que um homem diz a si mesmo é
às vezes muito mais importante do que o que ele diz publicamente. Ver
Provérbios 23.7; Mateus 9.3,21; Lucas 12.17; 15.17-19.
- Dentro dos recessos mais íntimos de
seu ser, porém, esse homem em particular está conversando perversidade,
irresponsabilidade. Somos lembrados de 1ª Pedro 3.20 e 2ª Pedro 3.4. Ele está
dizendo: “Vai transcorrer um tempo muito longo antes que o senhor volte. Nesse
meio tempo desfrutarei de alguma diversão mundana.”
1.2.
Crueldade.
- Que homem sádico é esse servo. Ele
começa a espancar os seus conservos. O contexto explica a palavra: o homem mau
não vai muito longe, porque de repente, e quando menos esperava, o senhor volta
(v. 50).
- A parábola contém uma advertência
especial para os crentes que têm cargos de responsabilidade que dizem respeito
ao cuidado dos outros, mas que usam a sua posição para adquirir vantagens
pessoais, tentando ser senhores, em vez de servos, exercendo uma tirania sobre
os que não os apoiam, e sendo indulgentes para com os que os apoiam.
1.3.
Leviandade no agir.
E começar a espancar os seus conservos,
e a comer e a beber com os ébrios (Mt 24.49).
O pastor Orlando Boyer, falando sobre o
mau servo, faz as seguintes observações.
O
mau servo.
1. Não é descrente, nem é agnóstico; é,
por profissão, um servo de Jesus Cristo. E crente que se refere a Cristo como
“Meu Senhor”;
2.
Acredita na segunda vinda de Cristo. A sua falta não consiste em negar a
volta de Jesus, nem em dizer que é para ser considerada figuradamente, mas em
declarar: “Meu Senhor demora-se”, ou: “Que meu Senhor virá é certo, mas não é
necessário preocuparmo-nos com tal evento agora”;
3.
Não diz abertamente com a boca que o seu Senhor demora-se, mas o diz “no seu
coração”.
Exteriormente, pretende crer na iminência da vinda do Senhor, mas no coração
diz: “Não será por muito tempo, talvez; não preciso preocupar-me sobre isso
agora”. Não é uma negação declarada, mas uma negação na prática. O resultado na
sua vida é: “Como imaginou na sua alma, assim é”; ele passa a conformar-se com
o mundo.
2.
A recompensa do servo mau (Mt 24.50,51).
- O julgamento do senhor contra o seu
mau será extremamente severo. Ainda pior do que esse horrível castigo será o
destino eterno do servo. Ele será designado a um lugar onde haverá pranto e
ranger de dentes (referência ao lago de fogo – Mt 13.42; 22.13; 24.51; Ap Ap
20.15). O julgamento futuro de Deus é tão certo quanto à volta de Jesus a
terra.
A Bíblia ensina que a existência do
homem não termina com a morte, mas que continua para sempre, ou na presença de
Deus, ou num lugar de tormento. A respeito do estado dos perdidos, na outra
vida, devemos notar os seguintes fatos:
2.1.
Jesus ensinou que há um lugar de castigo eterno para aqueles que são condenados
por rejeitarem a salvação (5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45,
47; Lc 10.16, 12.5; 2ª Ts 1.8,9).
- Trata-se da terrível realidade do
inferno, como o lugar onde o fogo nunca se apaga (Mc 9.43); O fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos (25.41); um lugar de pranto e ranger de
dentes (13.42,50); um lugar onde os perdidos ficarão aprisionados nas trevas
(22.13); e um lugar de tormento e angústia e de separação do céu (Lc 16.23).
2.2.
O ensino nas Epístolas é do mesmo teor. Fala de um julgamento vindouro da parte
de Deus. Da sua vingança sobre os que desobedecem ao evangelho (2 Ts 1.5-9).
Fala de uma separação da presença e da glória do Senhor (2 Ts 1.9), e da
destruição dos inimigos de Deus (Fp 3.18,19; ver também Rm 9.22; 1 Co 16.22; Gl
1.9; Hb 10.27; Jd 7; 2 Pe 2.4; Ap 14.10; 19.20; 20.10, 14).
2.3.
A Bíblia ensina que é inevitável o castigo dos malfeitores. O fato
predominante é a condenação, o sofrimento e a separação de Deus, eternamente. O
cristão sabe que essa doutrina não é agradável, nem de fácil entendimento.
Mesmo assim, ele deve submeter-se à autoridade da Palavra de Deus e confiar na
decisão e na justiça divinas.
2.4.
Devemos sempre ter em mente que Deus enviou seu Filho para morrer por nós, para
que ninguém pereça (Jo 3.16). É intenção e desejo de Deus que ninguém
vá para o inferno. Quem for para o inferno é porque rejeitou a salvação provida
por Deus (Rm 1.16; 2.10). O fato e a realidade do inferno devem levar todo o
povo de Deus a aborrecer e repelir o pecado com toda veemência; a buscar
continuamente a salvação dos perdidos, e a advertir todos os homens a respeito
do futuro e justo juízo de Deus.
3.
O destino dos perdidos.
A Bíblia descreve um quadro terrível do
destino dos perdidos.
3.1. Fala de “tribulação e angústia” (Rm
2.9), “pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13; 25.30), “eterna perdição” (2ª Ts
1.9) e “fornalha de fogo” (Mt 13.42,50). “Fala das “cadeias da escuridão” (2ª
Pe 2.4), do “tormento eterno” (Mt 25.46), de um “inferno” e de um “fogo que
nunca se apaga” (Mc 9.43), de um ardente lago de fogo e de enxofre” (19.20) e
onde “a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem
de dia nem de noite" (Ap 14.11). Realmente, "horrenda coisa é cair
nas mãos de Deus vivo” (Hb 10.31); “bom seria para esse homem se não houvera
nascido” (Mt 26.24; ver também Mt 10.28).
3.2.
Os crentes do Novo Testamento tinham nítida consciência do destino de quem vive
no pecado.
Por essa razão eles pregavam com lágrimas (ver Mc 9.24; At 20.19 nota) e
defendiam a Palavra infalível de Deus e o evangelho da salvação contra todas as
distorções e as falsas doutrinas.
3.3.
O sinistro fato do castigo eterno para os ímpios é a maior razão para levar o
evangelho a todo o mundo, e fazer o máximo possível para persuadir as pessoas
a arrependerem-se e a aceitarem a Cristo antes que seja tarde demais.
V.
VIVENDO COM DISCERNIMENTO
1.
Vida dissoluta.
O versículo 49 chama a atenção para a
falta de prudência de alguém que começou a conduzir sua vida de maneira
dissoluta. Infelizmente, a postura do servo infiel de espancar os conservos,
além de comer e beber com os bêbados, revela um desejo que precisava apenas de
uma oportunidade para se manifestar. Tal comportamento nos lembra de um momento
anterior, no mesmo sermão, quando Jesus falou sobre os dias de Noé. O Senhor
disse que, naquele tempo, as pessoas “comiam, bebiam, casavam e davam-se em
casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca” (Mt 24.38). Em outras palavras,
as pessoas do tempo do “pregoeiro da justiça” (2ª Pe 2.5), viviam sem
compromisso algum com Deus, e foram surpreendidas pelo juízo divino (Mt
24.38,39). De igual forma, a vida dissoluta do mau servo, e de pessoas que se
comportam como ele, terão como destino um lugar onde haverá choro e ranger de
dentes (v.51).
2.
Vida santa.
Desde os tempos de Moisés, o povo de
Deus é exortado a viver uma vida de santidade (Lv 11.44,45), isto é, uma vida
separada e consagrada totalmente ao Senhor. Para o povo da nova aliança - a
Igreja -, a mesma vida de santidade também é requerida (1ª Pe 1.16), pois temos
mais luz e conhecimento em relação às coisas de Deus do que o próprio povo de
Israel. Por isso, precisamos viver uma vida com discernimento, sabendo separar
aquilo que, como santos e filhos de Deus, convém, ou não, fazer (1ª Co 6.12;
10.23). Hoje, mais do que em qualquer outra geração de cristãos, precisamos nos
lembrar de que, sem santificação, “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Devemos ter isso muito claro em nossos corações, lembrando também que o Senhor
Jesus Cristo pode voltar a qualquer momento (Mt 24.42).
3.
Administrando os bens.
Jesus contou a parábola dos dois servos
para que os ouvintes, e todos nós, optássemos em seguir o exemplo do servo fiel
e prudente, evitando o trágico fim dos hipócritas (v.51). A postura do servo
bom e fiel, que administra os bens de seu senhor conforme a justiça faz jus à
própria expressão "servo", visto que esta retrata o perfil de um
ministro dedicado, alguém que se sente satisfeito em cumprir o seu dever, que é
servir ao seu senhor. De forma semelhante, a Bíblia nos chama de despenseiros
de Deus e diz que devemos ser “bons” (1ª Pe 4.10), ou seja, eficientes e
dedicados. O apóstolo Paulo também falou sobre este assunto dizendo ser necessário
que “os homens nos considerem como ministros”, ou seja, “servos e despenseiros”,
isto é, administradores daquilo que Cristo coloca sob nossa responsabilidade,
requerendo apenas que cada um se ache, seja encontrado, fiel (1ª Co 4.1,2).
Portanto, mais que fidelidade e prudência, o Senhor requer de nós que sejamos
bons e fiéis administradores do que não é nosso (1ª Pe 5.2).
VI.
VIGILÂNCIA: A PALAVRA CHAVE DA PARÁBOLA
A palavra-chave desta parábola é
“vigiar”. Maclaren (apud Beacon, 2008, p. 169) observa que:
A. A ordem de vigiar, é reforçada pela
nossa ignorância da ocasião da Sua vinda (Mt 24.42-44).
B. A imagem e a recompensa de vigiar (Mt
24.45-47).
C. A imagem e a condenação do servo que
não vigiou (Mt 24.48-51).
O verbo “vigiar” quer dizer: “observar
com atenção; estar atento a; velar” (HOUAISS, 2001, p. 2860).
No hebraico o verbo é “shamar” que significa: “vigiar,
guardar”. No grego o termo é “gregoreo”
que significa literalmente “vigiar” e é encontrado em 1ª Ts 5.6,10 e em mais 21
outros lugares nos quais ocorre no Novo Testamento (por exemplo, em 1ª Pe 5.8).
É
usado acerca de:
A “Manter-se acordado” (Mt 24.43;
26.38.40.41).
B. “Vigilância espiritual” (At 20.31; 1ª
Co 16.13; Cl 4.2; 1ª Ts 5.6.10; 1ª Pe 5.8; Ap 3.2.3; 16.15) (VINE, 2002, p. 323
– acréscimo nosso).
A palavra “vigiar” tem conotação
exortativa, visando chamar a atenção dos ouvintes a estarem prontos para o
retorno do Messias (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33-35; Lc 21.36; 1ª Pe 4.7).
VII.
QUAIS AS CAUSAS DA EXORTAÇÃO A VIGILÂNCIA PARA A VOLTA DE JESUS
A
Bíblia nos exorta a prática da vigilância por, pelo menos, três motivos.
Vejamos:
1.
A fragilidade humana.
Sabendo da fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos a estarem vigilantes,
para vencerem as tentações (Mt 26.41; Mc 14.38).
- Fomos perdoados e libertos dos nossos
pecados (1 Jo 2.12; Rm 6.22), todavia, ainda não estamos livres da presença do
pecado na nossa natureza humana. Isto somente se dará quando nosso corpo for
glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja (1ª Co 15.51-54). Até este
acontecimento, precisamos viver vigilantes, a fim de não sermos vencidos pelo
pecado (Rm 6.11,12; 1 Co 15.34). “Quem quiser ter um discipulado produtivo,
precisa disciplinar o corpo para não ceder às paixões” (ADEYEMO, 2010, p.
1192).
2.
A astúcia do Diabo.
Além da fragilidade humana, o crente precisa vigiar também porque “[...] o
diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem
possa tragar” (1ª Pe 5.8). Toda tentação é proveniente da própria natureza
humana (1 Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é
Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1 Ts 3.5; Tg 4.7).
- Precisamos estar vigilantes e
fortalecermo-nos no Senhor a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos
submetidos (Ef 6.10-18).
- Jesus exortou os crentes de Esmirna a
serem fiéis até a morte, mesmo diante das tentações do diabo (Ap 2.10).
- Da mesma forma, falou aos crentes de
Filadélfia, dizendo: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11).
3.
A vinda do Senhor será repentina. A necessidade da vigilância para o
retorno de Cristo se dá também pelo fato de ser um evento repentino. Diversas
vezes, Jesus exortou os seus discípulos sobre isso (Mt 24.36,42,44; 25.13; Mc
13.33; Lc 12.46). Infelizmente, não são poucos aqueles que têm a promessa do
Senhor como tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2ª Pe 3.4). Todavia, Jesus
nos assegurou que viria sem demora (Ap 3.11; 22.12,20). Estejamos vigilantes
para não sermos pegos de surpresa e sermos achados dormindo naquele dia (Mc
13.36; Lc 21.34).
CONCLUSÃO.
A
vinda do Senhor é certa. Devemos, portanto, aguardá-la vigiando em todo tempo,
demonstrando a nossa fé em obediência e prudência, afastando-nos do pecado que
antes praticávamos, a fim de não mancharmos as nossas vestes espirituais.
Vigiemos pois aquele dia e hora ninguém sabe.
Há pessoas que estão se conduzindo de
modo dissoluto e fazendo mau uso dos bens que o Senhor deixou em suas mãos. São
maus servos. Correm o risco de serem pegos de surpresa e acabarem lançados nas
trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Por outro lado, o
servo vigilante está preparado para a vinda de Jesus. Ele não apenas está
vigilante como prega sobre a vinda de Jesus, pois como bom ministro e
despenseiro sabe que é seu dever anunciar a vinda de Cristo. O vigilante guarda
o que tem, exercitando seus talentos. Ele administra com fidelidade os bens de
seu Senhor, sabendo que um dia será promovido às mansões celestiais.
FONTE
DE PESQUISA
1. ANDRADE, Claudionor Corrêa de.
Dicionário Teológico. CPAD.
2. HOUAISS, Antônio. Dicionário da
Língua Portuguesa. OBJETIVA.
3. GABI, Wagner Tadeu dos Santos. Liçoes
bíblicas. 4º Trimestre 2018. CPAD.
4. LOCKYER, John. Todas as Parábolas da
Bíblia. VIDA.
5. TOKUMBOH, Adeyemo. Comentário Bíblico
Africano. MUNDO CRISTÃO.
6. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
7. VINE, W.E, et al. Dicionário Vine.
CPAD.