TEOLOGIA EM FOCO

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

PASSOS PARA VIVER UMA MISSÃO UNIVERSAL - ROMANOS 15

 

Romanos 15.1-33 “Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. 2 Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. 3 Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam. 4 Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança. 5 Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, 6 para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. 7 Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus. 8 Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais; 9 e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te louvarei entre os gentios e cantarei ao teu nome. 10 E outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, com o seu povo. 11 E outra vez: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o todos os povos. 12 E outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e, naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão. 13 Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo. O apostolado e propósitos de Paulo. 14 Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros. 15 Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada, 16 que eu seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo. 17 De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus. 18 Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; 19 pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo. 20 E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio; 21 antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão. 22 Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco. 23 Mas, agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco, 24 quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia. 25 Mas, agora, vou a Jerusalém para ministrar aos santos. 26 Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. 27 Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais. 28 Assim que, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha. 29 E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude da bênção do evangelho de Cristo. 30 E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus, 31 para que seja livre dos rebeldes que estão na Judeia, e que esta minha administração, que em Jerusalém faço, seja bem-aceita pelos santos; 32 a fim de que, pela vontade de Deus, chegue a vós com alegria e possa recrear-me convosco. 33 E o Deus de paz seja com todos vós. Amém!” 

INTRODUÇÃO Este capítulo da continuidade a reflexão do anterior. Paulo vai nos ensinar como suportar e compreender os irmãos fracos na fé seguindo o exemplo de Cristo. Ele encoraja os irmãos em Roma com princípios de unidade da fé da paciência e do encorajamento entre os cristãos. Ele destaca que a obra missionária não é apenas um grupo específica, mas é para toda a igreja. 

I. SUPORTANDO A FRAQUESA DOS IRMÃO 

1. A importância da paciência e do encorajamento (vs. 1-3). Neste capítulo, Paulo continua o assunto que ele discorreu no anterior. Ele inicia dizendo que nós, os fortes espiritualmente devemos tolerar as fraquezas dos fracos e não fazer nada que possa desviar a sua fé. Cristo não agradou a si mesmo e de bom grado levou sobre si as nossas culpas. Devemos ter compaixão, compreensão, paciência e tolerância para com os irmãos que não entendem algumas das liberdades que temos em Cristo. Somos desafiados a vivermos não para nós mesmo, mas para glorificar a Deus em tudo que fazemos. Portanto, o cristão forte amadurecido pela Palavra de Deus deve ajudar e ensinar os irmãos fracos na fé. Fazer tudo que possa edificar seu irmão. Além disso, o apóstolo nos lembra em 1ª Tessalonicenses 5.14: “Exortamos-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.” O termo exortar do grego é παροτρύνω – parotrýno e significa admoestar, encorajar alguém. A exortação é evidente que é dirigido a toda a Igreja de Cristo. Paulo, nos ensina neste texto como devemos proceder em vários casos específicos, nesta difícil relação entre os irmãos na Igreja. 

2. A importância da unidade na fé (vs. 4-6). O apóstolo cita as Sagradas Escrituras, pois foram escritas para nosso aprendizado para que nos tornemos em um só pensamento e uma só alma para a união do corpo de Cristo, para que o Pai e a Jesus Cristo sejam glorificados. 

3. A importância do amor fraternal (v. 7). A oração de Paulo é para que Deus conduza os irmãos em Roma a um convívio de paz, harmonia e de amor fraterno. Ele exorta aos irmãos aceitarem uns aos outros (judeu e gentil), como Cristo nos aceitou. Ele nos recebeu sem nos julgar, sem olhar para o nosso passado em nossas falhas ou aquilo que estávamos fazendo de errado. Ele nos abraçou e cuida de nós, guiando os nossos passos pelo Seu Espírito Santo. 

II. A MISSÃO UNIVERSAL DO EVANGELHO 

1. Jesus o enviado do Pai. No verso 8 Paulo passa a mostrar que Jesus Cristo veio para ministrar aos judeus, em confirmação das promessas das Escrituras (v. 8). Seu objetivo primário era Israel, mas Ele também tinha um plano de salvação para os gentios. Deus cumpriu seu propósito enviando Jesus Cristo para salvar a humanidade, mas só os que creem serão abençoados (Jo 3.16). 

2. Os gentios no Reino de Deus (vs. 9-12). Paulo permanece fiel à tese fundamental de sua carta em Rm 1.16: “primeiro os judeus”, mas não somente eles! Ele citou vários textos do Velho Testamento para demonstrar o plano de Deus. Ele usa várias citações da Lei, dos livros Históricos, dos Salmos e dos Profetas para mostrar que sua pregação do evangelho de Jesus Cristo aos gentios era um cumprimento da profecia. 

3. O desejo de Paulo com a Igreja em Roma. (v. 13). O desejo de Paulo era Deus enchesse os cristãos de “alegria e paz” que fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Essas qualidades estão relacionadas com a esperança que Deus dá pelo Seu poder em ação. 

III. O APOSTOLADO E PROPÓSITOS DE PAULO 

1. O trabalho de Paulo entre os gentios (vs. 14-15). Paulo aqui passa e declarar o seu apreço sincero que tinha pelos irmãos em Roma. De maneira humilde, Paulo declara que não estava escrevendo para ensinar, mas sim para lembrá-los daquilo que eles já sabiam. O parecer abrangente “possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” admite que os cristãos de Roma formam um corpo capaz de agir e de conviver. Ele agora mostra-lhes o profundo interesse que tinha em seu bem-estar, embora nunca os tivesse visto. No verso 15, ele chama de meus irmãos. Isto é, para mostrar que ele não estava disposto a assumir autoridade indevida, ou dominá-la sobre sua fé. Desta forma, ele expressa o grande amor que tinha com irmão. 

2. O ministério apostólico de Paulo entre os gentios (Vs. 16-17). Paulo declara ser um ministro de Cristo para os gentios, ou seja, aquele que leva a Palavra da salvação para os não judeus. Paulo foi um exemplo notável de alguém que dedicou sua vida à propagação do evangelho de Cristo. Devemos ter consciência da importância da missão cristã e do chamado para espalhar a mensagem do evangelho no mundo. Ele afirma que os crentes gentios são a oferta aceitável a Deus, santificados e não imundos como alguns dos judaizantes acusadores de Paulo que chamavam os gentios de incircuncisos. 

3. V. 18b “... para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras.” A palavra obediência no grego hypakoe), que é excessivamente dócil; submisso; ato ou efeito de obedecer. As palavras de Paulo é para ordenar-lhes que creiam em Cristo, pois é poder de Deus “primeiro do judeu e também do grego.” (Rm 1.16). Nas palavras de Jesus Ele disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” (Jo 14.21). 

4. V. 19a “Pelo poder dos sinais e prodígios.” Pelos sinais e maravilha que o operava nas igrejas pelo poder o Espírito santo, Paulo demonstrou que Deus havia concedido a ele o poder apostólico (2ª Co 12.12). 

IV. OS PLANOS DE PAULO PARA IR ATÉ ROMA 

1. Planos e esperança para visitar Roma (v. 20-22). Paulo expressa o desejo de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, este foi o motivo apresentado pelo apóstolo para justificar o fato de ele ainda não ter ido até Roma. 

“Não tenho mais demora nestes sítios.” (Vs. 23). O apóstolo já havia concluído seu trabalho nesses lugares. Ele deseja passar por Roma e gozar da companhia dos irmãos, mas primeiro faria uma viagem para Jerusalém para pregar aos santos da igreja local. 

2. A generosidade de Paulo (v. 25-28). O motivo pelo qual Paulo faria esta viagem a Jerusalém seria para levar uma contribuição da Macedônia, Galaica e Acaia (2ª Co 8.1; 1ª Co 16.1-3), para suprir as necessidades dos irmãos mais pobres de Jerusalém. Essa contribuição era uma expressão de amor para os irmãos judeus, pois a generosidade faz parte dos salvos em Cristo (At 20.35). A Igreja generosa certamente será prospera e abençoada. 

3. O desejo missionário. “E bem sei que, indo ter convosco...” (v. 29). O desejo de Paulo é ir para a Espanha pregar as boas novas da salvação. Assim, todo o cristão deve querer ir. Esse deve ser o seu desejo ardente em pregar. Porém, aquele que não vai deve contribuir para que alguém vá fazer a obra missionária.

Lucas relata que Paulo foi a Roma, mas não da maneira que ele tinha planejado, ele foi como prisioneiro (At 28.16-31). Embora ele fosse dessa maneira, ele teve permissão para pregar o evangelho por pelo menos dois anos e também escreveu cartas aos santos de outras localidades. 

4. As orações dos santos (vs. 30-31). Paulo rogava as orações dos irmãos em favor dos planos que tinha para Jerusalém. Ele como um missionário vocacionado por Deus, expressou três preocupações: 1. Ser livre dos rebeldes na Judéia; 2. O sucesso da sua missão em Jerusalém; 3. Chegar em alegria a Roma.

“a fim de que eu possa chegar até vós” (. 33). Para que eu não seja impedido em minha viagem pretendida pela oposição na Judéia.

“pela vontade de Deus”. Este deve ser o objetivo de todas as nossas orações, que tudo aconteça na soberana vontade de Deus (Mt 6.10). Paulo “fez” a vontade de Deus; mas ele foi levado preso. 

CONCLUSÃO Quando vivemos de acordo com esses princípios, nos tornamos agentes de mudança em nosso mundo. Nossas vidas se tornam uma mensagem viva do poder do Evangelho. Relacionamentos são restaurados, comunidades são fortalecidas e a esperança brilha mais intensamente. Que possamos obedecer ao ide de Jesus, com corações generosos e mãos estendidas, mostrando ao mundo o amor transformador de Cristo em nossas vidas.

Pr. Elias Ribas Dr. em teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A TOLERÂNCIA PARA COM OS FRACOS NA FÉ - Romanos 14

 


Romanos 14.1-23 “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. 2 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. 3 O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. 4 Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. 5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. 6 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. 7 Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si. 8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. 9 Foi para isto que morreu Cristo e tornou a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. 10 Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. 11 Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. 12 De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. 13 Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. 14 Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. 15 Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu. 16 Não seja, pois, blasfemado o vosso bem; 17 porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. 18 Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens. 19 Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. 20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. 21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. 22 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. 23 Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.” 

INTRODUÇÃO. No capítulo 14 de Romanos, Paulo discorre sobre a vida cristão, a liberdade em Cristo e o amor fraternal. Ele ensina como lidar com as diferenças de opiniões e práticas entre os irmãos. 

I. JUDEUS E GENTIOS FORMANDO A IGREJA 

1. A ética judaica. O termo ética no hebraico é מוּסַר - musar e significa conduta moral, disciplina ou instrução. Ela tem origem no livro de Provérbios 1.2. A ética judaica está presente na Bíblia e está relacionada à religião, sendo inseparável desta. A ética judaica valoriza a justiça (Êx 23.1-2; Dt 16.18-20); evitar subornos (Êx 23.8), roubos e opressão (Êx 22.20; Dt 24.14); ao cuidado da viúva e do órfão; o comportamento demonstrando compaixão para com o escravo. Eles se reúnem todos os sábados nas sinagogas para aprendem as Sagradas Escrituras (At 15.21). Cultivam a prescrição dietética da lei de Moisés, que os judeus ainda hoje chamam de kash'rut (At 15.20,28). 

2. Salvação pelas obras? A seita dos fariseus ensinavam aos novos convertidos assim: “Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” Aplicar essa conduta judaica aos gentios era o mesmo que afirmar que a graça do Senhor não era suficiente. Isso reduziria o cristianismo a uma mera seita do judaísmo e além disso confundiria aquele com a identidade judaica. 

3. A ética dos gentios. A Igreja primitiva teve uma composição inicial de judeus, mas a inclusão de gentios se tornou um problema, pois eles tinham cultura, origens e étnicas diferentes. Eles foram transformados pelo poder do Espírito Santo, portanto deviam mudar sua maneira de viver, mas nem por isso estavam obrigados a viver como judeus (At 15.10,11). 

II. RESPEITABDO AS DIFERENÇAS 

1. Irmãs fortes e fracos na fé (v. 1). A Igreja em Roma estava dividida, porque havia irmãos fortes na fé e irmãos fracos na fé. Isto é, havia diferença entre vários tipos de crentes na igreja em Roma. Isto significa que há, entre os filhos de Deus, diferentes níveis de conhecimento e de fé. Há os crentes meninos, os maduros, os carnais, os espirituais, os fracos, os fortes etc. (Ef 4.14; 1ª Co 3.11; 1ª Co 8.11).

Os fortes na fé tinham maturidade na Palavra, mas eram tentados a desprezar os fracos; e os fracos, a julgar e condenar os fortes. Os fracos na fé tinham dificuldades de distinguir o certo do errado por falta do conhecimento. O “débil na fé” ou “fraco na fé”, de que Paulo falou, era aquele que ainda não tinha maturidade na fé. Na verdade, Paulo exorta os irmãos poque havia divergência entre eles.

A expressão “fraco na fé”, segundo Paulo, “atesta a falta ou incapacidade de compreender o princípio fundamental da fé e da justificação”, ou seja, a imaturidade.

[...] Segundo o professor Dunn, as tensões em Roma aconteciam “entre aqueles que se consideravam parte de um movimento essencialmente judaico – e consequentemente, viam-se obrigados a observar os costumes característicos e distintivos a um judeu e aqueles que compartilhavam a compreensão de Paulo sobre um evangelho que transcendia a particularidade judaica”. Portanto conclui James Dunn, caracterizar Romanos 14-15 como “uma discussão de ‘coisas não essenciais’.... é perder a centralidade e a natureza crucial da questão da auto compreensão do cristianismo primitivo” [STOTT. Pg. 432]. 

2. Quanto ao alimento (v. 2). A discussão na Igreja de Roma nos dias de Paulo era entre os irmãos que ainda estavam apegados as tradições judaicas como doutrina. Os legalistas consideravam a observância e as abstenções de alimentos e boas obras, seriam necessárias para a salvação. Mas na carta aos Gálatas (1.8-9) Paulo emite um anátema solene contra qualquer um que ouse distorcer dessa forma o evangelho da graça.

Paulo olha para aqueles que se recusam a comer carne por uma razão espiritual. Talvez eles tenham recusado a comer carne porque não era permitido na lei, e eles seguiram os regulamentos e tradições dietéticas judaicas. Assim o comer alimentos impuros e o violar o sábado encontrava-se no mesmo nível como as duas grandes marcas que denotavam a deslealdade com à aliança. Alguns irmãos estavam resolvidos a comer de tudo, pois a liberdade que Cristo lhe proporciona libertou-o de escrúpulos desnecessário com relação à comida; já outro, cuja fé é fraca, come apenas legumes. Paulo dirige-se a ambos com palavras sábias e precisas a respeito de um assunto que os dividia, a ingestão de certos alimentos tidos como imundos. Paulo declara que o ato de comer, em si, não é problema moral, mas a nossa atitude pessoal sobre o que se come, pode levar ao injusto julgamento de uns com os outros. O que o apóstolo desejava, em outras palavras, é que os cristãos romanos não julgassem uns aos outros por causa dessas coisas, mas se aceitassem mutuamente conforme Cristo ensinara. Cristo nos aceita do modo que somos. Paulo ensina que judeus e gentios devem amar uns aos outros, como também Cristo nos amou (Rm 15.7).

Alguns “líderes espirituais” hodierno com seu estilo ascético de conduzir a Igreja demonstra a falta de humildade e, uma falsa sabedoria que por sua vez provoca discórdias no meio da Igreja, destruindo assim a obra de Deus. Tudo que você comer, beber ou vestir, vem de Deus e devemos fazer com ações de graça e para engrandecer Sua glória: “Portanto, quer, comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a Glória de Deus” (1ª Co 10.31).

Somos imperfeitos. Se desejarmos, de fato, crescer e alcançar a perfeição exigida pela Palavra de Deus devemos acrescentar diariamente a nossa fé a virtude, e a virtude o conhecimento (2ª Pe 1.5). Ora, se ainda não chegamos à estatura de varões perfeitos, como poderemos julgar nossos irmãos por causa de coisas insignificantes como acontecia os crentes romanos? 

3. Outra marca era observância do sábado (vs. 5-6). “Um faz diferença...” (v. 5a). Esta expressão no grego κρίνει krinei, que significa que alguém consideraria um dia mais sagrado do que o outro. Isto acontecia com os judeus em Roma, que consideravam os dias de festas, lua nova, e sábados como especialmente sagrados. Eles mantinham, mesmo depois de se converterem ao cristianismo. Os judeus foram chamados para ser um povo santo e preparar a nação para a “realidade”, da qual seus ritos eram apenas a sombra até que viesse o Messias. Nos dias de Paulo alguns legalistas guardavam dias especiais. Tratava-se de dias especiais de festas segundo as leis cerimoniais do Antigo Testamento (Lv 23). Portanto, a páscoa, a festa de tabernáculos e as outras festas especiais dos judeus, é claro, desapareceram, e é perfeitamente claro que os apóstolos nunca tiveram a intenção de ensinar a guardar os dias de festas.

“outro considera iguais todos os dias.” (v. 5b). O apóstolo diz que “aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz.” Isto é, ele considera “todos os dias” como consagrado ao Senhor. Observe que Paulo também advertiu os irmãos em colosso dizendo: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados.” (Cl 2.16). As datas para observar as festas do Velho Testamento são determinadas por um calendário lunar. Portanto, as luas novas que marcam o início dos meses são importantes para estabelecer as datas corretas das festas. Para judeus, a ordem “dias de festa, lua nova e sábados” se refere as festas judaicas já mencionadas acima. Ao que tudo indica, a raiz principal do problema em Colossos foi com tradições e crenças judaicas e também algumas filosofias (Cl 2.8). Eles haviam confundido os cristãos em Colossos e queriam impor certos dias e festas como parte obrigatória do calendário da Igreja para serem considerados fiéis e aceitáveis diante de Deus. 

4. Vivendo um novo concerto. O profeta Jeremias já havia profetizado a chegada de um novo concerto (Jr 31.31) e o fim do sábado que se cumpriu em Jesus (Cl 2.14-17). Jesus afirmou “O sábado foi feito para o homem (Mc 2.27). O Senhorio de Cristo sobre o sábado abriu o caminho para a Igreja primitiva abandonar a obrigação de guardar o sábado. Afirmar que o Imperador Constantino, substituiu o sábado pelo domingo é um erro. A palavra domingo significa dia do Senhor, isto porque Jesus ressuscitou neste dia (Mc 16.9). Os cultos de adoração a Deus aconteciam no primeiro dia da semana (At 20.7; 1ª Co 16.2). 

5. Não contender. Os cristãos em Roma tinham opiniões diferentes sobre determinadas práticas, pois eles vinham de vários contextos. Paulo mostra que essas diferenças não poderiam dividir a comunidade cristã. Nosso dever é aceitar uns aos outros como irmãos na fé. Também não nos compete julgar o outro, pois quem nos julga é o Senhor. Paulo ordenou que os cristãos aceitassem os crentes fracos, mas não para discutir assuntos duvidosos. “Recebei-o” significa que devemos receber a cada irmão como ele é e não como queremos que ele seja. Não temos o direito de impor a ele a nossa maneira de ver o cristianismo, nem discutir na tentativa de convencê-lo do contrário (1ª Co 11.16; 1ª Tm 6.4). Devemos recebê-lo com amor sincero dentro da fraternidade cristã. 

III. PRATICANDO A LIBERDADE 

1. O que o apóstolo condena? (Vs. 4,10). Quem és tu que julgas o servo alheio?” (Vs. 10-12). O termo julgar no grego é κρίνω kríno que significa achar falta, ou condenar; julgar. Paulo não está condenando todo tipo de julgamento é evidente pelo contexto. Ele está ensinando como lidar com diferenças a respeito de doutrinas 'secundárias' dentro da Igreja, e ainda que devemos receber bem e não julgar ou menosprezar aqueles que têm opinião diferente sobre alguns que são fracos na fé.

“Nem o crente enfermo ou fraco e nem o mais esclarecido espiritualmente são a preocupação do apóstolo. Isso porque ambos agiam de forma diferente com o propósito de servir a Deus (vs. 6,7). O que ele condena é a crítica e não essas práticas: “Quem és tu que julgas o servo alheio?” (v. 4) “Mas, tu, por que julgas teu irmão?” (v. 10). A preocupação do apóstolo era evitar divisões na Igreja por causa de assuntos secundários.” [Esequias Soares da Silva. A tolerância para com os fracos na fé. Lições Bíblicas CPAD 2º Trimestre de 1998. CPAD]. 

2. Não colocar tropeço diante do irmão (vs. 13-15). Paulo sabe que nem um alimento é imundo, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. Porém, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (v. 13). No verso 14, ele faz alusão às coisas proibidas pela lei cerimonial dos judeus. 

3. Justiça, paz e alegria (vs. 16-17). Paulo relata dizendo que o reino de Deus não é comida e bebida. Não será pelo comer ou deixar de comer algo, que seremos santificados. As leis dietéticas não podem se transformar num meio de salvação. O próprio Jesus disse: “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.” (Mt 15.11). O reino de Deus não é a liberdade de comer ou beber alguma coisa, e sim a de participar da justiça e alegria no Espírito Santo (v. 17). 

4. Buscar o que contribui para a paz (v. 19). Quando servimos a Deus, agradamos ao Senhor e aos homens (v. 18). Desta maneira, promovemos a paz e a edificação da Igreja (v. 19). Nossas ações devem servir a Cristo e contribuir para o crescimento e desenvolvimento de outros cristãos. 

5. Tenhamos união e comunhão. “Não destruas por causa da comida a obra de Deus.” (v. 20). Não destruas quer dizer, não pôr abaixo ou demolir. Sejam maduros, não criem escândalo. Na verdade, para Paulo todas as coisas são puras: “Porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças” (1ª Tm 4.4).

Tens fé? Tem-na para ti mesmo.” Paulo não requer que o cristão forte abandone suas convicções sobre aquilo que não é condenado pela Lei. Ele ensina que cada cristão tenha um padrão inteligente e correto para sua consciência. Por outro lado, tudo que for feito com dúvida e sem convicção é pecado (v. 23).Embora os cristãos maduros tivessem de se abster de comer carne diante dos cristãos mais fracos, eles ainda podiam acreditar que Cristo lhes havia concedido a liberdade para comerem todos os tipos de alimentos (v. 2), ainda que reservadamente perante Deus (v. 6). 

CONCLUSÃO Neste capítulo Paulo nos ensinou a compreender os costumes e princípios, falando com amor com os irmãos que ainda são fracos na fé e que de maneira alguma nós, maduros na fé, devemos colocar pedras de tropeço no caminho desses pequeninos.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

terça-feira, 3 de setembro de 2024

O CRISTÃO E O ESTADO - ROMANOS 13

 


Romanos 13.1-14 “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. 2 Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. 3 Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. 4 Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal. 5 Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. 6 Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. 7 Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. O amor ao próximo, a vigilância, a pureza 8 A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. 9 Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 10 O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. 11 E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. 12 A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. 13 Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. 14 Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.” 

INTRODUÇÃO. No capítulo 12 da carta aos Romanos, Paulo abordou sobre a santificação e a vida no corpo de Cristo para os novos cristãos em Roma. No capítulo 13 de Romanos, ele nos conduz a analise detalha sobre o papel do cristão na sociedade. Ele nos ensina quanto ao seu relacionamento com Estado e a submissão a ele. O cristão deve ter compromisso com os deveres cívicos, pois é chamado a respeitar as autoridades governamentais reconhecendo que são designadas por Deus para manter a paz e a justiça. 

I. SBMISSÃO AS AUTORIDADE 

1. As leis romanas. Os judeus passaram sob o domínio de vários impérios mundiais e, no período do Novo Testamento, estava sob o jugo de Roma. Diante do cenário político, os judeus possuíam um profundo sentimento de revolta contra o governo romano por causa de seu domínio sobre as terras de Israel e porque eles eram pagãos, idólatras, cruéis e adversários da fé cristã. Paulo era um cidadão romano de nascimento, e chegou até mesmo a usar sua cidadania a seu favor em uma ocasião em Atos 25.9-11. Ainda assim, ele era judeu zeloso da lei de Deus (Fl 3.5). No entanto, o apóstolo parece ser bastante positivo em relação ao domínio romano. 

2. Autoridades instituídas por Deus (vs. 1-2). O contexto cultural era totalmente diferente em que os irmãos estavam vivendo em Roma. Em seus dias, os seguidores de Cristo viviam sob a opressão do Império Romano e muitos eram mortos, torturados ou lançados aos leões nas arenas para divertir ao povo. Mesmo assim, Paulo exorta a comunidade cristã, a sujeitar às autoridades superiores. Ele declara a razão por que devemos nos submeter às autoridades: “porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.” (v. 1). Esta palavra “ordenado” denota o “ordenamento” ou “arranjo” que subsiste em uma companhia “militar” ou exército. As autoridades, portanto, foram ordenadas para o bem social. “Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus.” (v. 2). Isto é, aqueles que se levantam contra o próprio governo, que procuram anarquia e confusão e que se opõem à execução regular das leis. É dito que estes resistem à ordem de Deus. Está claro, entretanto, que essas leis não devem violar os direitos de consciência ou se opor às leis de Deus. 

2. O propósito da autoridade (vs. 3-5). Mas como se sujeitar a Nero e a Herodes? Lembra que Paulo ensinou seu filho Timóteo dizendo: “sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores...” (1ª Tm 1.9a). Nero e Herodes não devem ser temidos, a não ser por aqueles que praticam o mal. Como seguidores de Cristo, somos chamados a respeitar e submeter-nos as autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. O apóstolo declara que a autoridade civil é ministro de Deus (v. 4), por isso, o crente deve orar a Deus pelas autoridades constituídas e submeter-se a elas (v. 5). A obediência às autoridades governamentais visava 3 coisas:

1º São nomeadas para o bem da sociedade; 2º Para punir os malfeitores; 3º e promover a paz e a ordem. 

3. O dever de submissão (vs. 6-7). “Não apenas esteja sujeito ao Império Romano (v. 5), mas pague o que for necessário para sustentar o governo. Paulo ensina os irmãos nada mais nada menos que obediência às leis, pagamento de impostos para o sustento das autoridades. Para Paulo o cristianismo e a cidadania andam de mãos dadas. O Mestre Jesus ensinou sobre isso, dizendo: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”. (Mt 22.21). No evangelho segundo Mateus 17.24-27, está escrito que os cobradores de impostos para o templo perguntaram a Pedro se o seu mestre não pagava o imposto. Pedro respondeu que sim, e Jesus pediu a Pedro para ir ao mar, lançar o anzol e tirar o primeiro peixe que subisse. Jesus disse que Pedro deveria abrir a boca do peixe e encontrar um estáter, que deveria ser dado por ele e por Jesus. Portanto, Jesus pagou impostos porque era esperado que todos os homens adultos em Israel o fizessem. O imposto anual do templo, era de duas dracmas, ou meio siclo, e era destinado a pagar as atividades e a manutenção do templo. É por isso que os cristãos devem pagar imposto, pois eles estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.” (v. 7). 

II. O AMOR AO PRÓXIMO, A VIGILÂNCIA, A PUREZA 

1. A dívida do amor (vs. 8-9). O cristão é ensinado a pagar todas suas obrigações, porém, existe uma dívida que nunca podemos pagar. Essa é a dívida de amor ágape. A raiz da palavra αγάπη é aγαπάω que é um verbo que significa amor altruísta ou amor elevado. É o tipo de amor que Deus tem pela humanidade. Este amor é incondicional, sacrificial e busca o bem estar do próximo. Este é o mandamento de Jesus que disse: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (Jo 15.12-13). Portanto, enquanto você viver neste mundo cultive o amor ágape, pois é a única dívida que o cristão nunca conseguirá quitá-la. O amor é a obrigação contínua de amar uns aos outros: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1ª Jo 4.19). 

2. O resumo da lei (v. 10). A lei de Moisés é composta por 613 mandamentos. Paulo resumiu em apenas um, o amor. Quando um doutor da lei pergunto a Jesus qual era o maior mandamento Ele disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-40). Jesus apresenta para o fariseu o único mandamento que está lidado “toda a lei e os profetas”, ou seja, a lei do amor está acima de tudo nesta vida. Paulo disse “toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Gl 5.14); está no cerne da lei de Cristo: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl 6.2). Na última ceia com os doze, Jesus diz o seguinte: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.” (Jo 13.34). João o apóstolo do amor diz nas Sagradas Escrituras: “Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo.” (1ª Jo 2.9-10). 

III. O DESPERTA DO SONO 

1. O tempo do despertar (vs. 11-12). “Conhecendo o tempo”. Paulo se refere ao tempo “anterior”, ou tempo da ignorância e escuridão, quando os judeus estavam na lei, agora é o tempo do “evangelho”, quando Deus “revelou” ao povo a Sua vontade de que eles sejam santos. Paulo retrata os cristãos em Roma, como pessoas que adormeceram, e que estão em estado de inercia.

A noite é passada...”. Ou seja, o amanhecer chegou, portanto, “desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.” (Ef 5.14). Os crentes precisam de um despertar espiritual em suas vidas. Diante da eminência volta de Cristo, precisamos de uma maneira diferente de pensar, de agir e de estar neste mundo. Paulo já havia explica a não se conformar com este mundo e ter uma mente renova (Rm 12.2). Portanto, acordem do sono da negligência. 

2. A conduta apropriada (vs. 13-14). “como de dia.” O homem sem Jesus está em trevas, anda segundo os desejos de sua carne, vivem “em glutonarias, bebedeiras, desonestidades, dissoluções, contendas e inveja.” (13.13). Mas quando ele tem um encontro com Jesus há uma mudança de reino: “Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor.” (Cl 1.13). Saiu das trevas, agora vive na luz, porque Jesus é luz é a luz do mundo (Jo 8.12). Paulo diz: “porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. 6 Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 7 Porque os que dormem dormem de noite, e os que se embebedam embebedam-se de noite. 8 Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor e tendo por capacete a esperança da salvação. (1ª Ts 5.5-8).

A teologia paulina ensina que, “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2ª 5.17) e o “todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.” (Gl 5.27). “Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Ef 5.8). 

CONCLUSÃO. O cristão é chamado à submissão e obediência as autoridades e ao cumprimento de seus deveres, não deve ser por medo, mas por amor Àquele que já nos salvou. Paulo destaca que o amor é o cumprimento da lei e que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Ele nos adverte a rejeitar as obras das trevas e a nos revestirmos das armas da luz, pois somos “a luz do mundo e o sal da terra” (Mt 5.13-14).

Pr. Elias Ribas - Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau -SC

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

VIVENDO UMA VIDA DE CONSAGRAÇÃO – ROMANOS 12

 


Romanos 12.1-21. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. 3 Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. 4 Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, 5 assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. 6 De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; 7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; 8 ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. O amor, o fervor, a humildade, a beneficência. 9 O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. 10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. 11 Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; 12 alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; 13 comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; 14 abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. 15 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. 16 Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos. 17 A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. 18 Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. 19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. 20 Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” 

INTRODUÇÃO. A carta aos Romanos é dividida em duas partes. Uma parte doutrinária (capítulos 1 ao 12), e a segunda (capítulos 12 ao 16), tratando da parte prática. O capítulo 12, Paulo enfoca a aplicação prática da mensagem do evangelho em nossa vida diária. É um apelo a fim de que os cristãos vivam uma vida de consagração a Deus. Também contém lições sobre como viver para agradar a Deus, servir ao próximo e praticar a doutrina da justificação pela fé. 

I. O CULTO DE ADORAÇÃO 

1. “Rogo-vos”. A palavra rogo conforme aparece no original grego, traduz parakaleo, que vem de duas palavras “para” “ao lado de”; e kaleo, o verbo “chamar”, traduzido no Novo Testamento por “exortar, apelar, recomendar, solicitar”. Paulo inicia o capítulo 12, exortando os irmãos a viver uma vida de santificação. 

2. “Apresenteis o vosso corpo (v. 1). Paulo exorta o crente a oferecer o seu corpo (que é o templo do Espírito Santo (1ª Co 6.19)), como sacrifício ao Senhor. Isto significa que o apóstolo está nos exortando a apresentar tudo de nós a Deus. “Nem, tampouco, apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade.” (Rm 6.13).

O corpo é o instrumento da alma e do espírito, é o elemento exterior, é o meio pelo qual revelamos o nosso interior (2ª Co 5.10). A vida espiritual não pode estar desassociada de seu corpo: “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1ª Co 6.20). O mesmo corpo que no passado era instrumento para o pecado, agora é o templo do Espírito Santo (1ª Co 3.16,17), para servir à justiça (Rm 6.13). 

3. “como sacrifício vivo.” (v. 1). Ele faz alusão ao culto levítico do Velho Testamento, onde o israelita escolhia o melhor para sacrifício e oferecia a Deus. Não se trata de sacrifícios de animais, pois Cristo os invalidou (Hb 10.4,9,10). Trata-se de uma ilustração (sacrifício de louvor (Hb 13.15; Sl 50.14) e ação de graças (Sl 95.2; 147.7). O apóstolo Paulo explica a importância dessa prática cristã. Ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, é colocar tudo o que somos no altar do Senhor como uma adoração espiritual. 

4. Culto. A palavra “culto” no grego é latreia e significa “serviço sagrado, adoração”, de onde vem a palavra “liturgia”. O culto raciona é feito com entendimento, é a entrega total do crente em adoração ao Senhor. É muito diferente do culto do Antigo Testamento, onde se ofereciam criaturas irracionais.

A palavra racional no grego é logikos, derivado do logos, pode ser entendido como culto espiritual. Assim devemos oferecer a Deus um culto vivo e espiritual, isso significa que devemos servir a Deus com obediência e devoção. 

II. O MUNDO NÃO É PADRÃO PARA A IGREJA 

1. O cristão e o mundo (v. 2). O termo mundo no grego são kosmos e aion, que significa este século. O mundo é o sistema onde o “deus deste século” atua (2ª Co 4.4), pois é dito “que todo o mundo está no maligno (1ª Jo 5.19). 

2. Renovação da mente e discernimento da vontade de Deus (v. 2). Conformar no original grego é suschematizo que quer dizer: conformar-se com a mente e caráter de alguém; ao padrão de outro; moldar-se de acordo com.

Paulo exorta a não formar ou moldar na forma deste mundo onde o maligno atua. O cristão não deve ser moldado pelos valores do mundo, mas é dito é dito transformai-vos, ou seja, eles devem mudar pela renovação do entendimento.

A regeneração é obra do Espírito Santo no interior do homem, ou seja, “no espírito da vossa mente.” A regeneração do crente é uma mudança de pensamento ou uma mudança de opinião. E só pode ser verdadeiro se tiver uma genuína conversão e um verdadeiro arrependimento.

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano. E vos renoveis no espírito da vossa mente. 24- E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4.22-32).

“.... quanto ao trato passado...”. Refere se à sua conduta anterior ou hábitos de vida, deixe de lado tudo o que pertence à natureza corrupta e decaída. Tudo o que procedeu do pecado; todo hábito, costume e modo de falar e de conduta resultantes da depravação devem ser deixados de lado.

“E vos revistais do novo homem...”. O novo homem se refere à natureza nova, ou nova criatura, ou a nova criação” (2ª Co 5.17), e refere-se à condição depois que recebe um novo coração.

3. É uma mudança radical. Tudo se faz novo (2ª Co 5.17); nova vida (Jo 3.3-5); novidade de vida (Rm 6.4); novo alvo (Fp 3.14); novo testemunho (Gl 1.23-24); novo cântico (Sl 40.4); novo homem (Ef 2.15); novas bênçãos (At 3.19); nova incumbência (Lc 22.32). 

4. A vontade de Deus. Paulo destaca nesta parte do versículo é para que você possa provar, boa, agradável e perfeita” a vontade de Deus. Ele prescreve o que é agradável a Ele, e provê um padrão que é eticamente santo” (Mt 5.48). A vontade de Deus é que as pessoas vivam de forma santa, e em obediência a Palavra de Deus. Se tua mente for renovado, então está apto para conhecer e fazer a vontade do Senhor, pois este tipo de coração e mente é o que vai entender e provar, a vontade de Deus. 

II. O CORPO DE CRISTO (12.3-8). 

1. Os dons (Vs. 3-8). A palavra dom no grego dõron significa uma dádiva, um presente que nos é dado por Deus. Dõrea, presente grátis, charisma.

Nos versículos 1 e 2, o apóstolo está fazendo um apelo à consagração do cristão a Deus. Este é o assunto a respeito do qual o apóstolo está falando, para entrar no assunto “dons”. Ele passa a demonstrar os resultados práticos da mente renovada.

A humildade e a sobriedade de espírito convêm ao crente consagrado para poder exercer dos dons espirituais que o Senhor concedeu a cada um conforme a medida da fé. 

2. O cristão e o corpo de Cristo (vs. 4-5). O apóstolo nos ensina a importância da diversidade e da unidade dentro do corpo de Cristo. Ele faz alusão ao corpo humano que possui diversos membros com distintas funções e todos os membros formam um só corpo, “mas individualmente somos membros uns dos outros.” Isto é, a Igreja de Cristo é um corpo com diversidades de operações (1ª Co 12.6). Ele nos ensina que cada um de nós possui dons espirituais dados por Deus para edificação da Igreja. O Espírito Santo pode dar a uma pessoa fé, a outra o poder de curar, ou ainda o poder de fazer milagres ou de anunciar a mensagem de Deus. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (1ª Co 12.11). 

3. Dons de serviço ou da graça (charismata) (vs. 3, 6). No vs. 6 ele diz: “tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada”. São os dons dados a Igreja, ao corpo de Cristo, não a denominação, não exclusivamente à pessoa, mas ao corpo e para edificação da mesma (Ef 4.11-15). São vocações, inclinação, dons natos. São meios de cada personalidade e de cada temperamento.

A lista que Paulo escreve sobre os dons da graça devem ser um exemplário e não a totalidade deles, pois são inúmeros e não estão aqui sua totalidade. Neste capítulo de Romanos Paulo cita alguns dons de realizações incluindo alguns ministeriais. 

3.1. Profecia. “se é profecia, seja ela segundo a medida da fé” (v. 6). A palavra profecia no original grego προφητεία prophetia, que significa capacidade de interpretar o desejo dos deuses e é formada pela junção das palavras prophetes (à frente) e phanai (falar).

Como dom do ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na Igreja como ministros profetas. O profeta portador da mensagem pode ser definido como a capacidade de receber e transmitir uma mensagem imediata de Deus por meio de uma palavra divinamente ungida para uma situação específica. 

3.2. Ministério. “se é ministério, seja em ministrar” (v. 7). Do grego diaconia. Significa: “ministério, serviço”. A palavra diakonia aparece traduzida como ministério em 2ª Co 4.1; 5.18; 1ª Tm 1.12. O diácono é aquele que tem capacidade dada por Deus para ver as necessidades dos outros e supri-las. Assim como o pastor, eles são chamados para servir à Igreja do Senhor.

A palavra de Deus diz em 1ª Pedro 4.10-11 “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!”

A diaconia foi instituída para cuidar das necessidades físicas e logísticas da igreja, de modo que os presbíteros possam se concentrar no seu chamado da Palavra.

3.3. Ensino. “Se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (v. 7).” A palavra ensino do grego didaquê. Daqui vem a palavra didático. É a capacidade dada por Deus para expormos com clareza e convicção as verdades do ensino de Cristo. O ensinador que a Bíblia chama de mestre é um dom ministerial (cf. Ef 4.11) e também podemos classificar como um dom natural. Natural porque tem que desenvolver as técnicas de didáticas, para que os que escutam possam assimilar o e aprender o seu ensino. Por isso podemos também enquadrar como dom natural. 

3.4. Exortar. “O que exorta, use esse dom em exortar” (v. 8). A palavra παράκλητος deriva do verbo παρακαλεω (parakaleu), que literalmente quer dizer “chamar para o lado”; e segundo o dicionário Strong significa: chamar para o (meu) lado, chamar, convocar, dirigir-se a, falar a (recorrer a, apelar a), conforto, instruir, exortar, pedir, encorajar, fortalecer e consolar.

A palavra exortar no latim Exhortationem significa: aconselhar; animar; encorajar. O verbo “exortar”, não significa repreender alguém ou reprimir. Antes de tudo, é o fortalecimento espiritual dos santos através da ministração de palavras de ânimo e encorajamento. Exortar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o crente proclamar a Palavra de Deus de maneira que ela atinja o coração, a consciência e a vontade dos ouvintes, estimule a fé e produza nas pessoas uma dedicação mais profunda a Cristo e uma separação completa do pecado. 

3.5. Contribuir. “O que reparte, faça-o com liberalidade” (v. 8). Do grego metadídomi, significa: “doar, compartilhar, investir”. É a capacidade dada por Deus para sabermos administrar bem nossas finanças e contribuir na obra de Deus. Todos nós devemos contribuir: “Cada um contribua…” (2ª Co 9.7), mas muitos têm este dom de contribuir (Rm 12.8) com liberalidade (com simplicidade) e de todo o seu coração. 

3.6. Presidir. “O que preside, com cuidado” (v. 8). Do grego próistemi, significa “ficar de pé na frente”. Aqui Paulo se refere ao dom ministerial na Igreja, também mencionado em Ef 4.11. Presidir ou liderar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o obreiro pastorear, conduzir e administrar as várias atividades da Igreja, visando o bem espiritual de todos. 

3.7. Misericórdia. “O que exercita misericórdia, com alegria” (v. 8). Do grego έλεος éleos da palavra hebraica hésèd. A palavra “misericórdia” tem origem latina e é formada pela junção de “miserere” (ter compaixão) e “cordis” (coração). A misericórdia, ou a compaixão, é aqui o amor profundo, a afeição de uma mãe pelo seu filho (Is 49.15), a ternura de um pai pelos filhos (Sl 103.13), um amor fraternal intenso (Gn 43.30). É a motivação de identificar-se com, e de responder às carências de pessoas aflitas ou necessitadas. “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).

Sua particularidade é que este dom revela o caráter de Deus. Deus é misericordioso. E nós, como seus filhos, também devemos ser.

Mas muitos têm este dom em sua vida (Romanos 12). A parábola do bom samaritano demonstra com clareza o dom de misericórdia (Lucas 10.29-37). Jesus o bom Pastor tinha misericórdia, o evangelista Marcos relata que: “E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Mc 6.34) 

III. O AMOR FRATERNAL EM AÇÃO 

1. O amor sem hipocrisia (v. 9). A segunda parte de Romanos 12, Paulo trata do amor fraternal, profundo, sincero e prático, sem hipocrisia, que deve existir no corpo de Cristo, isto é, um amor sem máscara, sem falsidade. “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.” (1ª Jo 3.18). O amor é a principal qualidade do verdadeiro cristão. “De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13.10). O amor é o maior mandamento: “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. 39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 40 Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-40). Este mandamento é uma referência à Shemá Israel, que diz “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4-5). 

2. A fraternidade (v. 10). Do gr. philadelphia, é a junção de duas palavras φίλος - philos significa “amor”, e αδελφός - adelphos, “irmão”. O termo descreve o vínculo estreito que deve existir entre os membros da Igreja de Cristo (1ª Ts 4.9; Hb 13.1; 1ª Pe 1.22; 2ª Pe 1.7). O amor no cuidado pelos necessitados e na hospitalidade que constituem-se no padrão para a família cristã. Todos seguidores de Cristo (judeus e gentios), que foram justificados pela graça, devem as suas vidas à misericórdia de Deus. Portanto, devemos viver como servos gratos, dedicando-nos ao amor fraternal. 

3.O amor cordial e humilde (v. 10).O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e diante da honra vai a humildade.” (Pv 15.33). Quão importante é a humildade para se obter honra. Você não obterá à verdadeira honra sem ela (Pv 11.2; 16.18; 18.12; 29.23). Quando você é humilde, você pensa antes de falar e você fala mansa e bondosamente, isto significa demonstrar apreço e consideração, com boa educação e gentileza. Filipenses 2.3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 

4. Entusiasmo divino (v. 11). A seara do Senhor é grande, os ceifeiros são poucos (Mt 9.37), precisamos trabalhar enquanto é dia antes que venha a noite (Jo 9.4). Não devemos, portanto, mostrar-nos lentos ou preguiçosos, para fazer a obra daquele que nos comissionou. O objetivo final do zelo capacitado pelo Espírito é servir ao Senhor. 

5. Trabalhar com alegria (v. 12). O crente não deve ficar perturbado com as aflições da vida, isto não pode ser empecilho para o trabalho cristão. O cristão deve trabalhar com animo e alegria. Deve ser pacientes na tribulação e perseverante na oração porque encontrará consolo, bem como de ajuda divina.

6. Praticai a hospitalidade (v. 13). O termo para hospitalidade é φιλοξενία philoxenia, que é uma combinação das palavras philos (amar alguém como a um amigo) e xenos (estrangeiro). A palavra philoxenia significa literalmente “amor a estranhos” e era um conceito muito importante para os antigos gregos, sendo considerada um princípio sagrado. No Novo Testamento, a hospitalidade é uma virtude ordenada e recomendada em toda a Escritura, e no Antigo Testamento foi especificamente ordenada por Deus. Hb 13.2 “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”. Gn 18.1-16 (Abraão hospedou a anjos) 1º Rs 17.9-24 (Viúva hospedou Elias) Lc 24.13-33 (Caminho de Emaús, os discípulos não sabendo hospedaram Jesus). 

IV. RESPOSTA CRISTÃ AS PROVOCAÇÕES 

1. Abençoem os que vos perseguem (v.14). Abençoai, do grego εὐλογία eulogia, que deu origem a palavra “elogio”, literalmente “falar bem de” alguém. No hebraico, a palavra bênção é ברכה barakeh que significa ajoelhar, abençoar, exaltar, louvar, agradecer, felicitar, saudar. Tanto no hebraico quanto no grego (eulogia) apresenta um sentido de concessão de alguma coisa material.

O homem carnal amaldiçoa, mas o crente em Jesus, abençoa, aqueles que nos prejudicam e nos fazem o mal. Em Lucas 6.28, Jesus nos ensina: “bendizei (eulogeó) aos que vos maldizem (kataraomai = amaldiçoar, execrar, condenar), orai pelos que vos caluniam”. 

2. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (v. 15). É um convite a colocar-se na pele do outro como expressão de caridade verdadeira. Regozijar-se com a alegria de outra pessoa, se alegre quando ele receber uma benção. Quando você realmente se alegra com a irmão que está se regozijando, você declara ao mundo que você ama realmente este irmão. Chorar com aqueles que choram, isto significa participar da tristeza de nossos irmãos e ajudar a carregar seus fardos. O grande sábio Salomão disse: “há tempo de chorar e tempo de rir.” Ou seja, haverá um tempo em que as pessoas enfrentarão dificuldades, situações que podem trazê-las aflição e lágrimas. O que fazer então? Devemos em primeiro lugar orar juntos e também chorar juntos. Quando os três amigos de Jó foram vê-lo, eles rasgaram suas vestes e choraram com ele (Jó 2.11-13). Quando Jesus foi visitar a família de Lázaro, ele chorou (Jo 11.35). 

3. Não sejam orgulhosos (v.16). O apóstolo relata aos Corintos que: “O amor não se ufana, não se ensoberbece” (1ª Co 13.4). A palavra ufana significa sentir-se ou tornar alguém orgulhoso, envaidecido ou ufano. O verdadeiro cristão não se orgulha de ter feito o bem, não fica contando seus feitos para todo mundo, não procura ser visto, mas alegra-se pelo fato de ter exercido o mandamento do Senhor, sabendo que a recompensa vem de cima. “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra.” (Ap 22.12).

Paulo ensina que o amor é um conjunto de características a saber: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1ª Co 13.4-7). Onde há respeito há amor, onde as qualidades descritas acima estão presentes, há amor, e onde há esse tipo de amor há Deus. 

4. Não paguem mal por mal (v. 17). A Bíblia diz que toda a humanidade nasce com uma natureza pecaminosa por causa da desobediência de Adão e Eva e todos tem esta tendência de fazer o mal. Quando alguém faz o mal é comum termos a vontade de pagar com o mal. Embora a vontade de se vingar tenha raízes profundas, os verdadeiros cristãos resistem a ela. 

5. Façam o possível para ter paz com todos (v. 18). Existem pessoas nervosas e atribuladas que fazem uma tormenta com um copo de água. Porém o cristão deve manter a paz e a sobriedade, porque a paz é fruto do Espírito.

O ensinamento do apóstolo para nós é para garantir que qualquer conflito contínuo em nossa vida, o cristão não deve perder o equilíbrio, mas fazer tudo que puder para manter a paz. Se a humanidade agir de acordo com os princípios do evangelho, o mundo logo estará em paz. 

6. Se tiver com fome, dê comida a ele (v. 20). Este versículo é retirado quase literalmente de Provérbios 25.21-22. Se seu inimigo é carente, tenha fome e sede, faça-o bem e supra suas necessidades, pois é mandamento do Senhor Jesus: “Faça o bem aos que te odeiam.” (Mt 5.44). Paulo ensina que os irmãos não devem se vingar de quem lhes fez algum mal, a quem ele chama de “inimigo”, mas pagar o mal com o bem. 

“amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.” A linguagem figurada, de acordo com os comentários da Bíblia de Estudo Shedd, quer dizer “fazer o inimigo reconhecer o seu pecado, ficar envergonhado e, por fim, arrepender-se”. A Bíblia na versão “Nova Tradução na Linguagem de Hoje” traz um termo ainda mais esclarecedor para a metáfora: “porque assim você fará o inimigo ‘queimar’ de remorso e vergonha”. Portanto, agindo assim, estarás amontoando brasas de fogo sobre a cabeça dele. Retribuir o bem pelo mal (12.21) é a vingança do verdadeiro cristão; destrói o seu inimigo, fazendo com que ele se arrependa da sua maldade. 

7. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (v. 21). Este versículo segue exortações como “abençoai os que vos perseguem” (v. 14) e “não torneis a ninguém mal por mal” (v. 17). Jesus foi o exemplo perfeito de vencer o mal com o bem: “... pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1ª Pd 2.23). Jesus foi acusado de ser um homem sedicioso; falado como um enganador; acusado de estar em aliança com Belzebu, o “príncipe dos demônios” e condenado como blasfemador contra Deus, Ele não insultou aqueles que o censuraram, Ele não ameaçou punição, Ele não invocou a ira do céu. Ele nem sequer previu que eles seriam punidos; ele não expressou desejo de que fossem. Porém Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). A vingança não é um sinal de força, mas de fraqueza. O teu bem faz com que o inimigo, constrangido, deixe de agir malignamente contra ti e se torne teu amigo. 

CONCLUSÃO. Quando experimentamos a bondade e a misericórdia de Deus, a culpa é substituída pela graça abundante e a força do pecado pelo poder do Espírito Santo.

Vivemos no mundo sem ser do mundo, temos que ser “sal e luz”, de maneira que Jesus seja visto em nós e glorificado. E mais do que isso, com o nosso testemunho de fidelidade ao Senhor, conquistarmos os não-crentes para Cristo.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO - ROMANSO 11

 


Romanos 11.1-36 “Digo, pois: porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. 2 Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: 3 Senhor, mataram os teus profetas e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? 4 Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal. 5 Assim, pois, também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça. 6 Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. 7 Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. 8 Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono: olhos para não verem e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. 9 E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição; 10 escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e encurvem-se-lhes continuamente as costas. 11 Digo, pois: porventura, tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. 12 E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! 13 Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; 14 para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. 15 Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? 16 E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. 17 E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, 18 não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. 19 Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. 20 Está bem! Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. 21 Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. 22 Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado. 23 E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. 24 Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! 25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. 26 E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. 27 E este será o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados. 28 Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. 29 Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. 30 Porque assim como vós também, antigamente, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles, 31 assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. 32 Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. Hino de adoração. 33 Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 35 Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? 36 Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” 

INTRODUÇÃO O capítulo 11 de Romanos, Paulo conclui seu apelo evangélico à nação judaica. Ele ensina o relacionamento entre Israel, os gentios e o plano de salvação de Deus e que todos tenham a oportunidade de aceitar ou rejeitar o evangelho. 

I. A REJEIÇÃO DE ISRAELNÃO É COMPLETA 

1. Deus não rejeitou Seu povo (vs. 1-2). O próprio Paulo era a prova que Deus não havia rejeitado total e definitivamente o seu povo. “Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.” Essa afirmação estabelece a base que, apesar da aparente rejeição, Deus não rejeitou inteiramente Seu povo, mas preservou o remanescente israelita que permanecerem fiel a Ele. Os que creem são parte do povo da graça de Deus, isto é, este remanescente é evidência de que a aliança de Deus com Israel continua em vigor. 

2. O remanescente fiel (vs. 2b-5). Deus nunca expulsou Israel da aliança; pois Ele sempre teve entre eles um conhecido Israel de Deus.

Paulo cita 1º Reis 19.10 a 18, onde ele faz um paralelo com a passagem do clamor de Elias, contra toda a nação; e o ato de matar os profetas ele considerou como expressão do caráter do povo. O profeta acreditava que apenas ele havia sobrado e Deus lhe mostra que ainda existiam outros sete mil que não haviam se dobrado. O apóstolo explica que, assim como nos dias de Elias, também agora há um remanescente que crê. Ele aponta que, mesmo em meio à desobediência, há um remanescente fiel segundo a eleição da graça. 

3. A eleição da graça (v. 6-7). Paulo volta então a falar sobre a salvação pela graça, afirmando que Israel, buscando a justificação pelas obras da lei, não consegue alcançar (Rm 9.31-10.3). Os eleitos são os que alcançaram a justiça mediante a fé, enquanto que os judeus foram endurecidos temporariamente para que a salvação chegasse até eles por meio da graça de Deus. 

4. A cegueira parcial de Israel (vs. 7-11). Deus queria usar os Israel para um propósito maior, levar o evangelho ao nações. Mas eles rejeitaram essa missão. Então, Deus abriu a porta para os gentios, a fim de torna-los em vasos de honra, purificando e preparando-os para a pregação do evangelho. Os judeus adormeceram pela sua rebeldia e rejeição a Cristo.  Paulo afirma que eles tropeçaram, mas não caíram e que esse tropeço deles foi para levar a salvação aos gentios. 

II. A INCLUSÃO DOS GENTIOS E A RESTAURAÇÃO DE ISAREL 

1. A queda de Israel e a salvação dos gentios (vs. 11-12). Os israelitas foram chamados para serem missionários de Deus ao mundo, mas tropeçara, porém, não para ficar totalmente caída. Sua queda tinha um propósito, trazer salvação aos gentios. A salvação veio para os gentios, com o propósito de provocar o ciúme de Israel (At 13.45-51).

“E, se a sua queda é a riqueza do mundo.” A palavra “mundo” diz respeito à igreja, que veio a ser composta de povos gentílicos, e a sua incredulidade, a riqueza dos gentios. O cumprimento das exigências divinas por parte dos judeus enriquecerá o mundo, pois a porta da graça foi aberta a todos! 

2. A missão de Paulo aos gentios (vs. 13-15). Paulo glorifica seu ministério por sido escolhidos para aos gentios, com isso, ele sabia que provocava ciúmes em muitos dos seus irmãos na carne e salvar alguns deles. Portanto, o evangelho deve ser pregado aos gentios, que a barreira entre eles e os judeus deve ser quebrada, para que o evangelho possa ser pregado a todas as pessoas.

“Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo” (v. 15a). Paulo é o único escritor neotestamentário que emprega o termo καταλλαγή katallagē. Esta palavra é aplicada à reconciliação ou pacificação produzida entre o homem e Deus pelo evangelho. Eles são levados à união, à amizade, à paz, pela intervenção do Senhor Jesus Cristo. Israel desfrutou das bênçãos espirituais das promessas oferecida a eles no Antigo Pacto. Pela rejeição por parte dos judeus, eles caíram, e foram rejeitados, abrindo acesso aos gentios. 

“senão a vida dentre os mortos?” (v. 15b). Paulo usa estes termos para produzir recuperação dos judeus, e nenhuma linguagem comum poderia transmitir sua ideia. Portanto, ele usa, uma figura significativa e marcante. O apóstolo se refere à recuperação das nações da morte do pecado que ocorrerá quando os judeus forem convertidos à fé cristã na plenitude dos tempos. 

3. A analogia da oliveira (vs. 16-18). Paulo aponta para três estágios na história redentora: “ramos naturais quebrados”; “ramos da oliveira brava enxertados”; “ramos naturais” enxertados de volta.

A oliveira é o símbolo de Israel, Paulo usa neste contexto como uma ilustração de Deus com judeus e gentios. A oliveira é da família oléaceas e se originou na região do mediterrâneo, podendo chegar no máximo 10 metros. Sobrevivem por muito tempo, mais de mil anos. Em Israel existem oliveiras de 2.500 e que provavelmente presenciaram a passagem de Jesus na terra.

Neste texto Paulo usa duas metáforas: as primícias e a massa, e a raiz com os ramos.

“E, se as primícias são santas (v. 16).” Os israelitas eram obrigados a oferecer a Deus as primícias da terra, tanto em seu estado bruto, em um molho de grãos recém-colhidos (Lv 23.10-11). As primícias referem-se a Abraão e aos outros patriarcas, (Rm 9.5; 11.28). Toda a massa e os ramos referem-se a Israel.

“se a raiz é santa, também os ramos o são.” Os patriarcas são representados pela raiz da árvore. “A raiz é santa”, refere-se a todos, a raiz e os ramos é a consagração, dedicação, separação de Israel para Deus. 

4. Os ramos quebrados e enxertados (vs. 17-21). O zambujeiro da mesma família da oliveira, é também chamado de oliveira-brava, por não dar frutos ou por eles serem impróprios para o consumo.

Nós os gentios somos os ramos da oliveira brava, mas pelo infinito amor do Pai, fomos “enxertados” na Oliveira boa que é Cristo; em que Deus pagou pelos nossos pecados no Calvário e nos ofereceu comunhão com Ele sem a participação de Israel.

A Igreja eleita substituí a nação eleita e todos os que creem nas boas novas da salvação, recebem as bençãos da eleição. “E, pela cruz, reconciliar ambos (judeus e gentios) com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. 17 E, vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; 18 porque, por ele, ambos (judeus e gentio), temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.” (Ef 2.16-17).

5. A bondade e a severidade de Deus (vs. 22-24). Paulo persiste com os gentios individualmente a permanecer na bondade de Deus. Isto, é claro, envolve sua continuação na fé (v. 20). Se aqueles que foram enxertados na oliveira verdadeira, não continuarem na esfera da bondade de Deus, também serão cortados. Estas palavras do apóstolo fazem nos lembrar as palavras de Jesus: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta” (Jo 15.2a); “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora a semelhança do ramo” (Jo 15.6a). Portanto, devemos permanecer e dar frutos para não sermos cortados. 

“serão enxertados na sua própria oliveira!” Paulo se refere aqui aos judeus, se eles se converterem a Cristo, serão enxertados na própria Oliveira que é Jesus. Como sua incredulidade foi a única causa de sua rejeição, então, se isso for removido, eles podem ser novamente restaurados ao favor divino. 

III. O MISTÉRIO DA SALVAÇÃO DE ISRAEL 

1. A cegueira temporária de Israel (v. 25). Paulo escreve neste versículo 25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério”, ele deseja que eles compreendam um “mistério”. “mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gl 4.4-5).

“até que a plenitude dos gentios haja entrado.” Paulo trata agora de uma doutrina escatológica. O “mistério” é que a restauração de Israel se segue à salvação dos gentios no tempo do fim. O fim não poderá ocorrer enquanto isso não acontecer. Paulo diz “até que a plenitude dos gentios haja entrado”, isto é, até que Deus tenha completado, nesse mundo, os planos para a propagação das boas novas e cumprir-se-ão os seus propósitos entre as nações. O Senhor Jesus nos diz em Mateus 24.14 que o evangelho do reino deve primeiro ser pregado e, então, o reino dos céus virá, para que então Cristo implante seu reinado com Sua Igreja. 

2. A salvação futura de Israel (vs. 26-27). No versículo 26, Paulo continua a sentença iniciada no versículo 25. “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades”. Paulo citou a profecia do profeta Isaías, ele vai apontar aqui, para consumação do Reino de Cristo, o qual o remanescente de Israel, será libertado quando clamar por Cristo no monte das Oliveiras (Zc 14.4). Portanto, a expressão “todo o Israel” significa “toda a nação de Israel”. Este Israel parcialmente endurecido é distinto dos gentios (v. 25) e é, também, distinto do atual remanescente de crentes judeus, no futuro. Deus irá trazer uma salvação tão ampla ao povo de Israel a ponto de se poder dizer que “todo o Israel será salvo”.

Paulo relata que o endurecimento de Israel tem acontecido até que chegue a plenitude dos gentios; assim, todo o Israel será salvo. 

3. A aliança de Deus com Israel (vs. 28-29). Nos versículos 26-27, Paulo falo do novo pacto que o Messias inaugurará (Jr 31.31). Paulo continua a citando o texto de Isaías 59.21, entretanto faz também a citação da promessa de Jeremias 31.31, que indica que Deus fará um novo concerto com Israel. “Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias...” (Jr 31.33). Daqueles dias, se refere ao tempo do fim, quando a plenitude dos gentios tiver entrado.

“são inimigos por causa de vós”. A rejeição do evangelho pela nação judaica fez que eles se tornassem inimigos de Deus. Por causa dos pais é uma menção às promessas que Deus fez aos patriarcas. Deus não se arrepende de ter chamado a descendência de Abraão e lhe ter dado dons. Os homens podem ser infiéis, mas Deus nunca abandona Seu propósito. 

4. A misericórdia de Deus para todos (vs. 30-32). Seja um judeu ou gentio, todos carecem da misericórdia de Deus porque todos pecaram.

“os dons de Deus” aqui denotam os bens da aliança que Deus fez com Abraão e que constituíram a verdadeira distinção entre sua família e todas as outras famílias da terra.

Deus não rejeitou os Israel, porém, os gentios alcançaram a misericórdia por causa da desobediência da nação. A conclusão de Paulo é que Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. Portanto, não há diferença entre judeu e gentio e Deus tem misericórdia de ambos. O caminho da salvação está aberto para todos que desejam o dom da vida. É um dom que não se esgota no tempo e no espaço, mas sim para toda a eternidade. 

IV. DOXOLOGIA A SABEDORIA E O CONHECIMENTO DE DEUS 

1. A profundidade das riquezas de Deus (v. 33). O apóstolo descreve os atributos e propósito de Deus numa doxologia. As riquezas, sabedoria e ciência de Deus são insondáveis. 

2. A incompreensibilidade dos caminhos de Deus (vs. 34-35). Tudo isso ainda é difícil de compreender. Nenhum homem é suficientemente grande para observar todas as ações de Deus e segui-las uma a uma. Ele criou o plano da salvação pela fé, tanto para os judeus como também para os gentios. Paulo nos lembra que todas as coisas vêm D’Ele, por Ele e para Ele. Àquele que “opera tudo em todos”. 

3. A glória de Deus para sempre (v. 36). E todas as coisas acontecem conforme a vontade de Seus propósitos sendo assim, Ele deve ser louvado e, eternamente, glorificado.

Pr. Elias Ribas Dr. em trologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC