TEOLOGIA EM FOCO: A GRAÇA DE DEUS

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A GRAÇA DE DEUS


I.         DEFINIÇÃO DE GRAÇA

A graça de Deus é um dos temas dominantes em toda a Bíblia; aparece mais de cem vezes no Antigo Testamento e mais de 200 vezes no Novo Testamento. Além disso, ocorrem dezenas de vezes mediante palavras sinônimos, como o amor divino, Sua misericórdia e bondade.

A palavra grega traduzida por graça “Charisno hebraico hessed, e no latim; gratia”, tem um sentido de ser “favor imerecido”, “cuidado ou ajuda graciosa”, “benevolência”, concedido por Deus à humanidade. Esta envolve outros assuntos tais como: o Perdão; a Salvação; a Regeneração; o Arrependimento; e o Amor de Deus. É traduzida centenas de vezes como “misericórdia” e dezenas de vezes como “bondade, longanimidade”, etc. Portanto a graça é um favor desmerecido da parte de um superior a um inferior, ou seja é a benevolência de Deus em favo do homem.

Imerecido, porque, na verdade, por causa do pecado o homem perdeu todo e qualquer direito, ou privilégio junto ao seu Criador. Diz a Bíblia que “...o salário do pecado é a morte...” (Rm 6.23). Deus, contudo, sem qualquer mérito humano, mas unicamente, pela sua graça, quis prover um meio de salva-lo. E proveu.

Graça é um favor imerecido ou algo concedido livremente por DEUS, estendido livremente a pecadores indignos de recebê-lo, ou seja, para aquela pessoa que não merece. A graça é oferecida a todos nós por meio de Jesus Cristo, independentemente do nosso desempenho moral ou espiritual. Podemos dizer que graça é o amor de DEUS agindo em nosso favor, dando-nos livremente o seu perdão, a sua aceitação e o seu favor (imerecido) e sua misericórdia. A graça é motivada unicamente pelo amor e misericórdia de DEUS para conosco, e não por causa de dignidade ou merecimento de nossa parte.

A graça pode ser definida como sendo o perdão imerecido que recebemos mediante o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Porém, muitas vezes significa mais do que isto. Pode ser definida como sabendo o desejo e o poder de fazermos a vontade de Deus. Somente através desta graça que nos é dada é que podemos cumprir a vontade de Deus (1ª Co 15.10).

A graça é a resposta divina a toda deficiência humana e resulta em benefícios para todos nós. Esses benefícios são expressos através de salvação, misericórdia, benevolência, livramento, paz e alegria.

A graça é o amor de Deus em ação, trazendo-nos bênçãos em vez de castigo pelos nossos pecados. A graça divina opera amor e a misericórdia, justificando o homem diante de Deus. Portanto, devemos diligentemente desejar e buscar a graça de Deus (Hb 4.14).

A graça de Deus envolve dois aspectos. Um aspecto é o favor imerecido de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores. O outro aspecto se descreve melhor como um poder ou força ativa de Deus que refreia o pecado; atrai os homens a Deus e regenera os crentes. Nestes segundo aspecto, a graça de Deus opera juntamente com o Espírito Santo, criando uma força ativa para a obra da salvação efetuada no mundo.

II.      A GRAÇA É IMERECIDA

1. A graça de Deus não está associada aos nossos méritos.
Na epístola aos Romanos o apóstolo Paulo diz: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6).

2. Igualmente, a graça não depende da obediência da lei.
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14).

3. Uma forma segura para destruir a graça de Deus, é misturá-la com algum mérito qualquer que seja.
“Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21).
“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4).
“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém” (Gl 6.18).

III.   GRAÇA É ETERNA

“Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2ª Tm 1.9).

A graça de Deus se originou na Eternidade, antes da criação do mundo (Ef 1.4). Eternidade é o tempo Kairós, o tempo de Deus. É um tempo sem dimensão onde Deus habita. A graça se originou ali, além do controle humano.

IV.   A GRAÇA SALVADORA

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).
A graça e a misericórdia tem duas distinções importantes. Primeiro, a misericórdia é universal, a graça salvadora é particular. A misericórdia se baseia no mandamento universal de Deus para que se arrependamos (At 17.30). Mediante a este mandamento conclui-se que o pecador arrependido será perdoado. Existe uma oferta divina de misericórdia a toda a humanidade. Por esta razão, Deus nunca pode ser acusado de injusto por que alguns alcançaram a graça especial. Deus nunca rejeita um pecador arrependido.

A graça não é uma oferta, mas um presente de DEUS que recebemos sem o nosso merecimento.

É difícil descrever resumidamente um assunto tão amplo e maravilhoso como este, mas um ponto que bem completamente a ideia da benção de Deus para nossas vidas é o fato mencionado por Paulo de que Cristo, além de pagar nossas dívidas (pecados), “cravou –as na cruz” (Cl 2.14). Esse fato retrata um costume entre os orientais.

V.      GRAÇA COMUM

Jesus trouxe uma palavra que exemplifica muito bem o significado da graça comum: “porque Ele [Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45). O estado de pecado do ser humano o faz não merecedor de nenhuma bênção de Deus. Se Deus não derramasse sequer uma bênção sobre o ser humano não estaria sendo injusto e nem mau. Porém, observamos que não é assim que Deus age. Observamos claramente que Deus age com sua graça mesmo entre os maus como disse Jesus. Mas Deus faz muito mais do que fazer o sol nascer e a chuva cair para abençoar justos e injustos! A graça comum de Deus é muito amplamente derramada no mundo.

A graça comum é vista basicamente em três aspectos:
1. Provisão graciosa de Deus nas coisas naturais, tais como sequência das estações, semeadura e colheita (Mt 5.45).
2. Governo ou controle divino da sociedade humana como poder restrito do mal (Rm 13.1ss).
3. A consciência interna no homem entre o certo e o errado, entre a falsidade e a verdade, entre a justiça e a injustiça A graça comum ou geral ou universal é assim chamada porque toda a humanidade a recebe em comum. Seus benefícios são usufruídos pela totalidade da raça humana, sem distinção entre uma pessoa e outra.

Devido a natureza depravada do homem, ele é incapaz de por si mesmo procurar ou agradar a Deus. Por este motivo, Deus tem concedido a graça universal a todo o homem. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 211).

Esta “graça comum” não salva automaticamente o homem, mas revela-lhe a bondade de Deus e restaura a cada ser humano a capacidade de responder favoravelmente ao amor de Deus. À luz desta graça comum, correspondemos que nenhum homem pode se esconder atrás da desculpa de que ele não teve oportunidade de um encontro com Deus.

“Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” (Rm 2.4).

“Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se lhes o coração insensato” (Rm 1.19-21).

A “graça comum” concede a cada homem a capacidade de buscar a Cristo. A medida que o homem responder afirmativamente a esta graça que o atrai a Deus, ele concede aquela pessoa uma “graça especial”, que o ajuda a chegar cada vez mais perto dele. Então podemos dizer que nenhuma pessoa pode vir ao Pai sem este poder adicional (esta graça especial), que vence a escravidão decorrente da sua natureza humana depravada. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44).

Entretanto, devemos deixar claro que esta graça especial não garante a decisão da parte do homem, quanto à sua comunhão com Deus. A aproximar-se de Deus o homem recebe mais graça que o encoraja e o incentiva a aceitar a salvação. Uma experiência paralela temos na cura dos dez leprosos, mencionada em Lucas 17.14. A Bíblia declara: “Indo eles, foram purificados”. Assim opera a graça. Quanto mais o homem responde à graça de Deus. Porém a qualquer momento, o homem pode escolher resistir à graça de Deus, que naturalmente cancela a provisão de mais graça (At 7.51).

A quantidade de graça que o homem recebe, depende totalmente da sua própria decisão, e não do interesse ou vontade de Deus, (que já é manifesta).  Por esta razão, o apóstolo Pedro diz:


“Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2ª Pe 3.18).

Pr. Elias Ribas

Nenhum comentário:

Postar um comentário