TEOLOGIA EM FOCO: A GRAÇA

domingo, 9 de outubro de 2016

A GRAÇA



A questão suprema é o que a Palavra de Deus ensina sobre este assunto. A validez de uma doutrina depende totalmente de que a Bíblia ensina. A nossa única regra de fé e prática são as Escrituras somente e sempre. Para determinar o que é a verdade, e o que não é a verdade, a opinião humana, nem a filosofia humana, nem a sabedoria humana pode entrar nos nossos pensamentos. A única fonte infalível que Deus nos deu para saber a verdade é a Sua Palavra. Então, vamos ver o que Deus diz na Sua Palavra sobre a graça de Deus na salvação.

I.       DEFINIÇÃO DO TERMO

A doutrina da graça é extremamente importante no que tange o tema da segurança do crente. Infelizmente, a palavra graça (charis) não é um termo concisamente definido nas escrituras, como gostaríamos que fosse. Por essa razão, alguns se equivocaram quanto ao seu significado.

A graça de Deus é um dos temas dominantes em toda a Bíblia; aparece mais de cem vezes no Antigo Testamento e mais de 200 vezes no Novo Testamento. Além disso, ocorrem dezenas de vezes mediante palavras sinônimos, como o amor divino, Sua misericórdia e bondade.

A graça hessed, no hebraico; “Charis no grego; gratia”, no latim, tem um sentido de ser “favor imerecido”, “cuidado ou ajuda graciosa”, “benevolência”, concedido por Deus à humanidade. Esta envolve outros assuntos tais como: o Perdão; a Salvação; a Regeneração; o Arrependimento; e o Amor de Deus. É traduzida centenas de vezes como “misericórdia” e dezenas de vezes como “bondade, longanimidade”, etc. Portanto a graça é um favor desmerecido da parte de um superior a um inferior, ou seja é a benevolência de Deus em favo do homem.

Imerecido, porque, na verdade, por causa do pecado o homem perdeu todo e qualquer direito, ou privilégio junto ao seu Criador. Diz a Bíblia que “...o salário do pecado é a morte...” (Rm 6.23). Deus, contudo, sem qualquer mérito humano, mas unicamente, pela sua graça, quis prover um meio de salva-lo. E proveu.

Graça é um favor imerecido ou algo concedido livremente por DEUS, estendido livremente a pecadores indignos de recebê-lo, ou seja, para aquela pessoa que não merece. A graça é oferecida a todos nós por meio de Jesus Cristo, independentemente do nosso desempenho moral ou espiritual. Podemos dizer que graça é o amor de DEUS agindo em nosso favor, dando-nos livremente o seu perdão, a sua aceitação e o seu favor (imerecido) e sua misericórdia. A graça é motivada unicamente pelo amor e misericórdia de DEUS para conosco, e não por causa de dignidade ou merecimento de nossa parte”.

A graça pode ser definida como sendo o perdão imerecido que recebemos mediante o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Porém, muitas vezes significa mais do que isto. Pode ser definida como sabendo o desejo e o poder de fazermos a vontade de Deus. Somente através desta graça que nos é dada é que podemos cumprir a vontade de Deus (1ª Co 15.10).

O mais conhecido dos atributos de Deus e um dos mais amados da Igreja, porque não se trata do seu favor pessoal dispensado ao homem, é, sem dúvida a graça de Deus.

A graça é a resposta divina a toda deficiência humana e resulta em benefícios para todos nós. Esses benefícios são expressos através de salvação, misericórdia, benevolência, livramento, paz e alegria.
A graça é o amor de Deus em ação, trazendo-nos bênçãos em vez de castigo pelos nossos pecados. A graça divina opera amor e a misericórdia, justificando o homem diante de Deus. Portanto, devemos diligentemente desejar e buscar a graça de Deus (Hb 4.14).

A graça de Deus envolve dois aspectos. Um aspecto é o favor imerecido de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores. O outro aspecto se descreve melhor como um poder ou força ativa de Deus que refreia o pecado; atrai os homens a Deus e regenera os crentes. Nestes segundo aspecto, a graça de Deus opera juntamente com o Espírito Santo, criando uma força ativa para a obra da salvação efetuada no mundo.

II.    GRAÇA É ETERNA

“Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2ª Tm 1.9).

A graça de Deus se originou na Eternidade, antes da criação do mundo (Ef 1.4). Eternidade é o tempo Kairós, o tempo de Deus. É um tempo sem dimensão onde Deus habita. A graça se originou ali, além do controle humano.

III.  A GRAÇA NAS DISPENSAÇÕES

Dispensação é o período de tempo, no qual Deus se revela de modo distinto e particular ao ser humano. As diversas dispensações devem ser vistas, pois, como os sucessivos esparzimentos da luz da graça que o Senhor vem derramamento sobre a raça humana. A graça sempre esteve presente em todas as etapas de nossa história. Se Adão foi salvo na dispensação da consciência, o foi pela graça. Se Moisés e Arão foram salvos na dispensação da Lei, o foram de igual modo pela graça de Deus. Sem a graça, ninguém haveria de ser salvo. As dispensações, por conseguinte, têm de ser vistas como etapas da revelação de Deus, e não como modos distintos do homem se salvar. Pois, só há um caminho de nos salvarmos: aceitar integralmente a graça que nos oferece o Senhor. Em todas as dispensações, a graça sempre foi abundantemente dispensada. [As sete dispensações. Delavcir Batos].

IV.  A EXTENSÃO DA GRAÇA

A Graça de Deus não tem limites, é inesgotável, é abundante. Por isto ela envolve todo o mundo, é suficiente para predispor toda a humanidade a tornar-se merecedora da Redenção Divina, oferecendo-lhe a oportunidade de escapar da justa e inevitável condenação – “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23.) E, ainda, porque ele é o “Deus de toda a graça”, conforme está escrito em 1ª Pd 5.10, ele “...quer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1ª Tm 2.4). Nesse sentido, e para que isto pudesse acontecer foi que “...a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2.11).


V.    A GRAÇA COMUM OU UNIVERSAL

Deus não é apenas o Criador da Terra, do homem, e de tudo que nela há, mas, pela sua Graça Comum, ou Universal, ele é também, o Sustentador de todas as coisas, incluindo a existência do homem, conforme afirmou Paulo, em Atenas: “Porque n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos...” (At 17.28). Sem a Graça comum, ou Universal, que é um favor imerecido que ele quis e continua concedendo ao homem, não haveria vida sobre a terra. Deus, através de sua Graça Comum, abençoa todos os homens, crentes, incrédulos, ou ímpios. Foi o que o Senhor Jesus deixou claro, quando afirmou: “...porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45). Assim quer o homem saiba disto, ou não; quer reconheça, ou não a misericórdia de Deus; quer seja grato, ou não, na verdade a sua vida está nas mãos de Deus e é sustentado pela sua Graça. É ele, Deus, que controla o dia e a noite, que administra as estações do ano, que mantém a regularidade dos movimentos de rotação e translação da terra, que mantém o equilíbrio da cadeia alimentícia, que regula o sistema de defesa do corpo humano, entre tanto outros benefícios concedidos pela sua Graça Comum, ou Universal. Por isto, nós que conhecemos a Palavra de Deus, dizemos que: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim” 
(Lm 3.22).


VI.  A GRAÇA ESPECIAL

Ao contrário da Graça Comum que é extensiva e alcança, automaticamente, todos os homens, embora suficiente e esteja à disposição de todos, sua concessão não é automática, ela depende da aceitação do homem. Esta Graça Especial representa a provisão de Deus para a salvação do homem. Esta provisão foi realizada através do Sacrifício Expiatório de Jesus, na Cruz do Calvário, de onde “A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Esta Graça Especial, no que dependia de Deus, foi extensiva a todos os homens, conforme ensinou Paulo, dizendo que Deus “...quer que todos os homens se salvem...” (1ª Tm 2.4), porém, recebê-la, depende da aceitação do homem, conforme afirmou Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). Assim, receber a salvação, pela fé, é uma decisão do homem, pois “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).

“Em Isaías 55.1-3 lemos uma bela apresentação da graça: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Is 55.1-3 - RA).

A expressão traduzida para “fiéis misericórdia” em português é, em hebraico, graça. Assim, a, a possibilidade de bebermos de graça das águas é decorrência da “graça prometida a Davi”.

Por meio desses versículos, podemos dizer que a graça é recebida gratuitamente, assim como a água que bebermos.

João testificou sobre o sangue e água não somente em seu evangelho como também em sua primeira epístola. No evangelho, ele apenas relatou o que viu, mas em sua carta, ele aplicou o fato. Ele da ênfase ao fato de que a água, o sangue e o Espírito são unânimes em testemunhar com respeito ao Filho de Deus. A redenção por meio do sangue e o infundir da vida eterna por meio da água são testificados, ratificados e aplicados a nós por meio do Espírito. Desse modo, é nos possível crer em Cristo e, assim recebermos a graça.

Em 1ª João 5.6-11, a palavra testemunho aparece várias vezes. O versículos 11 destaca: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho”.

No Filho de Deus está a vida eterna; quando O recebemos pela fé, recebemos a vida eterna e a graça, a qual é o cumprimento da aliança feita com Davi (Is 55.1) e é nos dada gratuitamente” (LAN, p.19-21).

VII.         AGRAÇA SALVADORA

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).
A graça e a misericórdia tem duas distinções importantes. Primeiro, a misericórdia é universal, a graça salvadora é particular. A misericórdia se baseia no mandamento universal de Deus para que se arrependamos (At 17.30). Mediante a este mandamento conclui-se que o pecador arrependido será perdoado. Existe uma oferta divina de misericórdia a toda a humanidade. Por esta razão, Deus nunca pode ser acusado de injusto por que alguns alcançaram a graça especial. Deus nunca rejeita um pecador arrependido.

Porém a graça, nunca foi oferecida a todo mundo. A graça não é uma oferta, mas um presente de DEUS que recebemos sem o nosso merecimento.

Se atentarmos bem para o texto, poderemos ver que a primeira declaração é que somos salvos pela graça de Deus, e este dom não vem de nós. Isto coloca de imediato a verdade, que o ato de salvar a humanidade procede de Deus. A salvação, portanto é uma dádiva de Deus para o homem. Não podemos pagar por ela. Nunca merecemos a graça de Deus e não há nada que possamos fazer para retribuir o favor de Deus.

“É difícil descrever resumidamente um assunto tão amplo e maravilhoso como este, mas um ponto que bem completamente a ideia da benção de Deus para nossas vidas é o fato mencionado por Paulo de que Cristo, além de pagar nossas dívidas (pecados), “cravou –as na cruz” (Cl 2.14). Esse fato retrata um costume entre os orientais.

Ao ser paga a dívida, o ex-devedor afixava junto à sua porta o documento de quitação, uma espécie de recibo, onde estava descritas cada uma das dívidas. Esse ato tinha por objetivo mostrar para todos que a dívida havia sido resgatada totalmente. Paulo refere-se a esse costume ao falar da conta dos nossos delitos diante de Deus, a qual ninguém poderá pagar, e que nos condenava. Porém, Jesus quitou essa dívida na cruz, e agora quem vem a Ele aceitando-o.mo Salvador e Senhor de sua vida tem os pecados perdoados.

O Espírito Santo nos revela, por meio do apostolo São Pedro, uma característica peculiar de Deus, quando o chama de “Deus de toda a graça” (1ª Pe 5.10). Essa expressão significa a profundidade da graça divina. No dizer do autor do hino 205 da Harpa Cristã, é “mais alta nuvens celestes, mais funda que o profundo mar”. É somente esta “toda a graça” que é capaz de anular os tristes efeitos do pecado.

Qual o alvo da graça de Deus? Não podia ser outro, senão o de salvar o homem (Ef 2.8-9; Tt 2.11-13). Um homem sem Deus é considerado na Bíblia como morto. É isso que está escrito em Efésios 2.5 diz: “Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos”. Ora, um defunto nada pode fazer por si mesmo, nem para ressuscitar, nem para renascer fisicamente, nem ainda espiritualmente. É então aí que atua a graça. Tudo é realizado pela bondade de Deus para que o homem não tenha nenhum mérito nisso. Isso fica bem claro no texto de Efésios 2.8-9: ‘Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras (ação humana), para que ninguém se glorie.

VIII.      A GRAÇA É IMERECIDA

A graça de Deus não está associada aos nossos méritos, mas diametralmente oposto, conforme Paulo esclarece em Romanos 11.6: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.

Igualmente, a graça não depende da obediência da lei: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14).

Uma forma segura para destruir a graça de Deus, é misturá-la com algum mérito qualquer que seja.
“Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21).

“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4).

“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém” (Gl 6.18).

Pr. Elias Ribas

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